Andamos em demanda. De nenúfar em nenúfar, de castelo em castelo, também, com o Céline a tiracolo ou a espetar-se numa vidraça. Um revés, ou nem por isso, soube-se que a padaria não confeccionará a dita festa de “passagem de ano”, muito menos essa porra denominada de reveillon(?), nem sequer sabe se vai passar de ano, tendo encomendado uma participação, nada insólita, diga-se, na twilightzone. Teremos regueifa no novo ano? E pão de água ou broa de milho? Haverá bolas de Berlim e natinhas ou pão com chouriço? E croissants que demoram 30m a deitar abaixo? E martini cerveja, por deus, e martini cerveja? Ninguém sabe. Na twilightzone tudo pode acontecer. É, aliás, defendido por alguns, que há muito tempo que por lá andamos… ah…aaah…aaaaah… (risos deles!) ponto.dezembro 30, 2008
sejam bem-vindos
Andamos em demanda. De nenúfar em nenúfar, de castelo em castelo, também, com o Céline a tiracolo ou a espetar-se numa vidraça. Um revés, ou nem por isso, soube-se que a padaria não confeccionará a dita festa de “passagem de ano”, muito menos essa porra denominada de reveillon(?), nem sequer sabe se vai passar de ano, tendo encomendado uma participação, nada insólita, diga-se, na twilightzone. Teremos regueifa no novo ano? E pão de água ou broa de milho? Haverá bolas de Berlim e natinhas ou pão com chouriço? E croissants que demoram 30m a deitar abaixo? E martini cerveja, por deus, e martini cerveja? Ninguém sabe. Na twilightzone tudo pode acontecer. É, aliás, defendido por alguns, que há muito tempo que por lá andamos… ah…aaah…aaaaah… (risos deles!) ponto.dezembro 28, 2008
asseguro-lhe que não irei... e continuo a comer frango de churrasco para provar que sou sublime

Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longemente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.
Batem asas de auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cor e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.
Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...
Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de oiro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...
Que droga foi a que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?
Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que ando delirante
Manhã tão forte que me anoiteceu.
Mário de Sá Carneiro, "Álcool"
dezembro 27, 2008
e agora algo completamente diferente
Stone Roses, "Elephant Stone". Quando a pop ainda era vadia e com rosas, afinal, de pedra.
dezembro 26, 2008
dezembro 24, 2008
numa esquina perto de si
click na imagem para aumentar (via depositodocalvin.blogspot.com)
Não é brasileiro é português do Brasil?
dezembro 23, 2008
andamos assim mas podíamos andar assado
Novas aquisições da casa, já desfloradas, ou previamente desfloradas, algumas são repastos antigos em falta na prateleira. Contam-se cinco novos livros da(s) especialidade(s) (sendo que, com tomates, toda a gente os poderia ler), mais alguns dicionários e “Salónica Cidade de Fantasmas – Cristãos, Muçulmanos e Judeus de 1430 a 1950”, de Mark Mazower com a chancela Pedra da Lua, numa excelente e cuidada edição de 2008; “Boris Vian por Boris Vian, Palavras e Aforismos”, edição da Fenda, onde o autor (por quem sempre tivemos considerável apreço) observa que “há duas maneiras de enrabar as moscas: com ou sem o seu consentimento”; mais um Dostoiévski, “O jogador”, edição de bolso resultante de uma colaboração inédita (e em conta) entre editoras portuguesas, a Assírio & Alvim, a Cotovia e a Relógio D’Água, da qual já tenho outros exemplares, entre os quais a “Íliada” de Homero, traduzida do grego por Frederico Lourenço, sem notas adicionais, o que exige, algum trabalho, dedicação e alguma glória, como com o Sporting. Destaca-se ainda um volume em falta (entre outros) encontrado por acaso e baratinho da “Nova História da Expansão Portuguesa – O Império Africano 1891-1930” coordenação de A.H. Oliveira Marques, direcção de Joel Serrão e Oliveira Marques, e “ A Europa e o Mar” de Michel Mollat Du Jourdin (este tipo tem nome de templário), da Editorial Presença, colecção dirigida por Jacques le Goff. Ah, e umas coisas em alemão para armar ao pingarelho. Poderiam ser sugestões. Poderiam. Mas não estamos aqui para sugerir nada. Para o Natal, que por acaso é depois de amanhã, pediu-se (para além da volta do menino Jesus) uma série de livros (e revistas) porno, edições javardas e antigas. A Internet tragou todo o glamour da pornografia, para além do facto de não propiciar ou permitir a colagem das páginas, como outrora...dezembro 22, 2008
no fim de contas é isto
dezembro 21, 2008
hoje amanheceu assim
Apesar de o impacte de Schopenhauer neste blogue ser cada vez menor, isso não compromete em nada o pessimismo constante a que o seu autor está sujeito ou, pelo menos, não o (des)acentua ou desobriga de alguma forma, sendo que o contrário também poderia ser considerado verdade. Eu também sei de coisas, que diabo. E apesar de tudo não vou ao psicotécnico. dezembro 19, 2008
dezembro 18, 2008
dezembro 16, 2008
o Joe Pesci não precisava destas merdas
dezembro 10, 2008
dezembro 09, 2008
hoje o dia foi assim
Monty Python
e a carpete, seguindo as directrizes do sr. Tom Waits, parece que precisa de um corte de cabelo. É de assinalar, em sequência passada e com repercussões, que o piano andou a beber (muito): não fui eu…não fui eu…
dezembro 05, 2008
“ a little riding, driving, eating, etc. (not forgetting smoke) fill up the day"
A frase título é de Edward Fitzgerald (citado por Sebald), por acaso um sr. inglês que traduziu no séc. XIX as "Rubaiyat" do poeta persa Omar Khaiyam (1048-1131). Encontrei uma vez num alfarrabista de Coimbra as “Odes ao vinho” um estrato (pensei à época) do longo poema traduzido (provavelmente do francês e muito provavelmente pouco consoante com o original), e fui a correr para casa (enquanto lia em andamento o que não é fácil, pior só mesmo correr depois de beber muito absinto), onde me fechei, sem saber muito bem porquê, mas tenho essa tendência para “fechar”, lendo vorazmente as cerca de (acho) 30 páginas e à noite, ainda a correr, lá me emborrachei com o sr. Omar. Se fosse hoje, com esse nome, ia ser difícil. Acresce que o sr. Omar também foi matemático, filósofo, astrónomo e frequentador de cortes, para além de ter conhecido alguma malta da famosa seita dos “Assassinos”, mas isso é outra história. Podem igualmente encontrá-lo no romance histórico "Samarcanda" de Amin Maalouf. Já agora sobre os “Assassinos”, podem consultar “Os Assassinos” de Bernard Lewis e ler “Alamut” (a sua famosa fortaleza) de Vladimir Vartol um sr. Esloveno com nome de basquetebolista amador. A tradução das Rubaiyat até está na net, vejam só, aqui. Quase me esquecia, a música da caixinha é Scarlet Arch dos srs. "And Also The Trees" e o som, como podem verificar, é muito semelhante ao das minhas cassetes antigas, algumas aliás, mais velhinhas que o tema. Guardo-as com muito carinho, muito mesmo, até que a fita desfaleça e rompa, como tudo na vida…
dezembro 02, 2008
Dezembro é um mês evidentemente amargo
E por assim dizer castiço. Aos repelões açordam-se os javardos na lareira dos centros comerciais e outros acotovelam-se nas ruas direitas deste país a babar-se constantemente para as vidraças translúcidas onde maduram os manequins e as meninas tutti frutti. Finalmente, depois de muito caminhar, uma rua… duas memórias de árvores recebem a mijadela atenta de um canino e seu dono. Ofegante, sento-me e observo um velhote a ler as notícias da semana passada, onde se enxergam em fundo baço numerosos destroços e alguns corpos estendidos, ou o que deles resta. Parece que essas ruínas e corpos, a mim pareceu-me pelo menos, não são (ou não foram) encaradas da mesma forma que outras ruínas e outros corpos em chãos diferentes, noutros locais. Talvez seja uma questão de proximidade ou de indiferença; talvez não passe de um lugar comum esmiuçado às postas em Telejornais com a duração de longas-metragens. Pensava nisto e já caminhava. De repente uma tristeza que ainda não era bem angústia percorreu-me a espinha, “a realidade ultrapassa qualquer ficção”, disse, creio que em voz alta. O rapazinho que me seguia com o olhar sorriu e abanou a cabeça ligeiramente, à laia de coitadito, exactamente da mesma maneira que um outro o fez há uns anos quando caí, a vinte à hora, de motoreta. Foi perto do mar e o rapaz olhava-me e oscilava a cabeça do alto do seu triciclo. Já refeito, relembrei uma frase de um texto do Alfredo: Essa tristeza que não é bem angústia e ninguém a colhe em seu seio. Quando finalmente aterrei na padaria já não tinha tanta certeza de ter vivido aqueles momentos, deambulando ao acaso no crepúsculo, nem sequer que Alfredo alguma vez tivesse escrito aquela frase. Ocorreu-me Dylan Thomas, não sei porquê, talvez pelo “em seu seio” e pedi três pães de água e uma Bohemia. “Bohemia não temos”, ainda escutei, seguido de um “não há direito, aquele golo anulado ao benfica”. Saí de campo com letra pequena e agarrado, por uns segundos até suspenso, ao cordel invisível que nos suporta a vida.novembro 28, 2008
estar sempre na vanguarda de qualquer coisa
Estamos, parece, na vanguarda da energia eólica no mundo. Mas não era disso que eu queria falar, nem da denominada “energia inteligente”. Todavia a realidade das fontes de energia renovável recorda-me, nos dias que passam, o ac(l)amado clube de formação, epíteto vulgaroide para Sporting e a marca global que, se diz, é o ac(l)amado Benfica. Duas faces da nova paginação actual que concorre para um léxico gramatical com aspirações, não à conspiração dos nossos sentidos, mas solenemente para um sólido e definitivo nada. A páginas tantas, voltam os moinhos de vento com D. Quixote e Sancho e uma mão cheia de, como dizer, um tal de “esférico à flor da relva e a entrar sempre na mesma baliza”.novembro 25, 2008
estava para aqui sem nada para escrever e a pensar no jogo de amanhã

novembro 21, 2008
não será exagerado afirmar que
Sobre o conto que entrelaça vários mundos, enciclopédias, espelhos e biografias, procurem-no e nunca mais vão parar. Quanto à citação, aqui na terra de hoje, teme-se pela sua veracidade opaca mas terrivelmente vazia.
novembro 19, 2008
na demanda do labirinto antigo
Por acaso estou farto de coisas que não nos fazem falta. E mesmo com os livros, exceptuando uma mochila maior, não pretendo encenar uma grande biblioteca. Conquanto, como é sabido, esta cresça para além do desejável, já que nada há a fazer contra o meu amor aos livros. Apesar disso “tenho todos os sonhos do mundo” e talvez por isso me custa observar o estado de degradação, para não falar de inapelável morte, do famigerado tupperware que nos aconchega e agasalha nestes dias. Nesse sentido, não é inédita a roupagem de algumas palavras. Como “democracia”. Esta à força de tanto ser “mimada”, repetida, aflorada, “sugerida”, defendida e patenteada, tornou-se presa fácil dessas nobres luminárias que nos pastoreiam os dias. Perdeu o sentido, ou ao repetir-se redunda num sinistro nada. Acontece o mesmo com outras, a saber: ambiente, património, desemprego, emprego, felicidade, consumo. Dir-se-ia que, de forma já não velada, se aculturou, parafraseando Baudrillard, o tupperware na totalidade. Vejam bem, a coisa já não é do domínio do fantástico, da ignorância ou da prostituição faminta das actividades. Já não é fantasmática, ou se quisermos, um conto dentro do conto. Já não existem barricadas, pois não?, bem o sabemos, ambos os lados ou mais, incorporados no mesmo invólucro, sofregamente necessários e dependentes, na realidade estruturados (muito bem estruturados) por ligações sanguíneas e jamais os elos de antigamente. Já não se trata de uma projecção. É tudo o que temos. Até isto que escrevo e mais o acrescento: às vezes um homem sente-se emparedado por ruínas.novembro 15, 2008
o abismo para além da porta
E eu desconfio, até de um aneurisma
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das cruzes,
Chora-me o coração que se enche e se abisma.
novembro 11, 2008
os dias de Saturno

"Melancolia", Dürer
Após o que me pareceu ser uma curta voltinha de bicicleta, pensei, embora sem fé que o sustentasse, dar à posta algo sobre as lombrigas que nos trespassam por estes dias. Os poleiros e outros abrigos redundam em silêncios opacos e gazeteiros pasmados. A polémica do sr. Pinho e da Sra. República da Madeira levaram-me, contudo, em contramão durante praticamente 500 metros e algum passeio à mistura. Irremediavelmente sem encontrar a padaria, pensei em voltar às pilhas de papéis, sim, porque algures entre milhares de papéis, ao que parece pilhas e pilhas a forrar um escritório, é Sebald quem nos revela, a páginas tantas do seu “Os anéis de Saturno”, encontra-se Janine sentada, completamente rodeada de papéis e livros, e a dado momento, parece a Sebald estar na presença do anjo da "Melancolia" de Dürer. Tudo isto me recordou um escritório no monte, lá longe, e também um barracão por onde se chegava da casa ultrapassando um pequeno matagal a que chamavam jardim, cheio de ferramentas, discos e malas de viagem repletas de livros de banda desenhada e de Cowboys. Se calhar, não me recordo, seria muito provável vislumbrar-se um anjo da melancolia.
novembro 06, 2008
Por exemplo: a tristeza no olhar…
Apercebo-me, algures, no lastro dos dias, que nos mapearam os afectos. Para além disso rompi superficialmente o dedo e filosoficamente perdi sangue. As crises, à escala da dependência global, questionam as instituições. Agora, e se calhar ontem, o sentido escorre numa promessa de regular uma tal de globalização. Na padaria diz-se que sim. Quando estas coisas ganham um nome arriscamo-nos a ser por elas violentamente esbarrados, sendo certo que estas acabam a servir de suporte ao reportório sem fundo dos políticos. Crise é outra das palavras. Em certa medida, um trajecto retórico sem substância, e independentemente de questões normativas, redundando num futuro inútil do resto; um constrangimento, como se diz na televisão, dependente do “apaziguar” ou do “correr mal” num desafio “difícil” da “ilha das cores”. Uma comichão na omoplata. Eu também vi um sapo a rasgar horizontes: numa iniciativa de afectos, com marcação homem a homem, normalmente num campo de batalha, ou como se diz, no teatro de operações.
novembro 03, 2008
uma estória: a "banquinha" da nossa esquina
Era uma vez, e não se sabia. Depois do sr. Eng, vestir a fatiota de vendedor ou correspondente comercial do Magalhães para a América latina, agora, logo agora, que se afirmava à tripa forra que não haveria pão para pançudos, tinha que aparecer um BPN (o banquinha) para engrandecer a veia estamos aqui para o que der e vier, e dar uma forcinha à banca da esquina, na qual, parece, era permitido jogar às cartas clandestinamente (a dinheiro e sem dar ciência) e a servir uns pipis de cepa caseira, não atendendo às santidades reguladoras (segundo consta, até tinham já uma sucursalzinha em Cabo Verde). Malandros. Ainda assim, num gesto de filantropia genial o sr. Eng mais uns quantos, adquiriram a dita banquinha, mas apenas e só a desdita. Explico: a banquinha faria parte de um grupinho jeitoso, com outras banquices e reportórios, alguns diz-se, até eram legais, davam lucro e tudo. Assim sendo, o grupo de filantropos, enlevados de tamanha galanteria, ficou apenas com o prejuízo (a banquinha) e deixou o resto (do grupinho) a esvoaçar no paraíso a que chamam de “liberal” qualquer coisa. O povo, frenético, clama já pelo sr. Obama, do 5º esquerdo, rapaz de potencial enriquecido pelo fogo da virtude, e que ainda por cima não bebe. E não é só na padaria. outubro 31, 2008
Novas oportunidades, benefícios e aprendizagens – estou aqui para passar o tempo e não matar ninguém: bruxo!
O sermão para as criancinhas grandes cá no nosso “burgo” ainda vai a sair para o adro. Melancólicos (os avinhados do Eça para não saltarmos mais atrás) julgam-se por estes dias “modernos”, “informados”, “livres”, “sinceros”, “inflamados” e com abertura suficiente, parece-me, para encaixar com glória o repasto que lhes é servido, obviamente porque o merecem. O que mais me impressiona é aquele olhar perdido, húmido e fatídico usado pelas nossas criancinhas grandes nas conversas. É claro que a sua religiosidade é branda e celebrada na instalação fantasmática do sr. Eng., com as propostas adjacentes e os trabalhos a solo das recriações tranquilas, retiradas do estrangeiro e com direito a estrangeirados actuais. O culto recorda-me, para não exagerar muito, a frase bacoca de um viajante estrangeiro no Portugal de setecentos, o sr. Saussure (estes eram muito tendenciosos e “civilizados” mas às vezes…), quando este observava toscamente que os portugueses “embora completamente ignorantes, gostam de se fazer passar por sabedores”. Na padaria, uma velhinha criança, reclamava a nossa atenção para as dádivas “à banca…à banca, com o dinheiro do povo”. Já o sr. José, divagava com primor, pelas avenidas avinagradas da política. Depois da matiné do pãozinho santo recolhi-me sem demora e, contra as prerrogativas em vigor, não enlouqueci. outubro 29, 2008
o dia a dias com o Chatwin e outros a tiracolo
Parara de chover e eu imaginava os dinossauros despreocupadamente a calcorrear a terra. Claro que relia "Na Patagónia" de Bruce Chatwin, obra que me acompanha na loucura mais desvairada dos dias, já ensebada na mochila. Retiro-a e leio, na companhia igualmente imaginária de W.G. Sebald, algures numa estação de comboios, talvez em Coimbra, talvez Milão, talvez Zurique, talvez perdido no condado de Suffolk, ou na gare de AUSTERLITZ, de qualquer modo, seguramente ainda longe da Patagónia, leio:
Parara de chover e chegara o momento de eu partir. As abelhas zumbiam à volta das colmeias do poeta. Os damascos amadureciam com a cor de um sol pálido. Nuvens de lanugem de cardo pairavam no ar, e carneiros brancos felpudos pastavam no campo.
A seguir, eu, ele, acenando ao poeta seguimos caminho: todos os dias, sem a certeza ou a relevância de sabermos a verdade, ou se por aí haverá ainda mais um SUL que nos aconchegue, nas palavras de Cendrars, a nossa tristeza.
outubro 28, 2008
aos amigos e amigas do inútil
Os Brasileiros, inúteis e copofónicos como nós têm coisas destas. Esta (1905 - antes da repressão do asséptico-com consequências conhecidas) recorda-me uma publicidade da Guiness (muito posterior) que insinuava as propriedades “saudáveis” da cerveja preta (verdadeira) até para as grávidas. Não duvido um segundo. Em outros segundos, sem o “diabo que aconteceu para criar uma montanha”, o inútil reafirma um: cheers…outubro 27, 2008
leva a tua luz e agarra o meu braço
Porreiro era uma passagem, em silêncio feliz, para uma qualquer Índia indefinidamente fora de voga. E já agora, enquanto o tapete rolante dos dias, em versão Barco do Amor, não nos consome a patetice por vozes únicas e passados longínquos, poderíamos formular uma nova história com base nos nossos únicos (e futuros) canastros. Afinal já sabemos muito disto, da margem que nos acolhe em quedas prodigiosas e aventuras que não lembram ao diabo. Por acaso, não recordo onde deixei o chocolate preto muito “valioso”, provavelmente estará adormecido numa estante, com os diabinhos do coro a ronronar os últimos sons de um disco do Espadinha noveleiro e disforme, a remoer-se à pala dos Ornatos. Em todo o caso, um Wagner discreto adormeceu a tarde mais cedo. Eu sabia. No café, o Zézinho desafiava qualquer um para uma onomatopeia em Superbocks ao desbarato: se não fosse o gesso e a perna partida era gajo para desmascarar o engenheiro sem assinatura. Verdade que o Toninho ainda lhe tentou vender uma promoção da TV Cabo, mas foi irremediavelmente corrido com os últimos tremoços da temporada, e nem o Guilherme Pop, nosso senhor, lhe valeu. Não temos onde nascer. outubro 25, 2008
outubro 24, 2008
Esqueçam as compilações e concentrem-se nos epílogos românticos da nossa desgraça
Dias antes, sem piedade de nós, o sr. Wolfowitz (amigo não colorido, diga-se, de Bush), presidente do FMI, já havia pedido desculpa por algum mal entendido e favorecimento à sua namorada coloridíssima, sem contar com as borradas coloridas do açougue que representa com “intuição”.
Na padaria pouco se sabe disto. O Benfica empata na Alemanha em jornada de liga dos cavaleiros de são torcato e mais, só mesmo o sr. Magalhães que afinal é um computador coloridamente situado perto de uma roseira. O sr. Carlos, atempadamente, insurgiu-se com tamanho galanteio e falta de rigor sobre outras demandas de importância inadiável e sob protesto não bebeu o martini. Ficou-se por uma cerveja.
PS: acabo isto com um raro: José Cardoso Pires, um anjo ancorado
o caso do telegrama e de uma entrevista que não vi e depois cheguei a casa
outubro 23, 2008
"não desistem...não desistem..."
outubro 20, 2008
"nunca seremos muitos"- lido algures na baixa-mar
outubro 18, 2008
Cocteau Twins- Bluebeard
Talvez a banda com o nome mais belo de que há memória. E com algumas musicas inesquecíveis.
outubro 16, 2008
como se diz por aí…uma maneira de estar na vida
Chove (oh diabo!) e a noite é acolhida na doença da música, and i`m lost in the bottom of the world, canta o Tom Waits com permissão para voar. Provavelmente ficarei perdido cá por baixo a acabar um estudo integrado nas horas mortas acerca do vinho tinto maduro. A escolha, baratinha, quase três euros no ponto verde(?), recaiu num Porca de Murça fácil como um domingo de manhã, acompanhado pelas questões mais prementes e irreflectidas acerca dos Diários e a Carta ao Pai de Kafka, pelo menos era nisso que eu pensava enquanto verberava sobre as potencialidades musicais da net (vulgo sacadisses) e mais qualquer coisa entre pataniscas. De resto, adivinhava-se um Olimpo na inspiração divina e amadora do gato, por estes dias de nome Patoca, em semana ou mês, anti literários. Vai daí, apeteceu-me uma Bohemia fresquinha e 200 episódios da Liga dos Cavalheiros (é uma cena inglesa, se não conhecem procurem) já com domingo à tarde incluído. Este último, pasme-se, desejo não atendido.
outubro 14, 2008
sem comissão de festas
Em passagem, duas tabuletas assinalam duas viperinas filas. Toda a gente se achega à primeira que diz “fila única para trocas”, bem parecida com uma outra ”fila única para carregamentos”. Todos se acercam da primeira, “única” e “fila”, enquanto eu, observando ambas descarrego o carregador em três beatas, uma ninfeta e duas escaxadinhas. Todas analfabetas. Entretanto o Sr. João, ou Carlos, não ouvi bem, arrazoava na fila errada (e certamente vestindo o dominó errado…), aproveitando a serventia do servidor da gleba (conhecido do Sr.) atrás da portinhola de vidro. Não tinha mais balas. Simulei em guarda com a atenção num sapateiro que fazia óculos para cavalos. Mas já era noite e o hábito era uma gravata. Aprumado.
outubro 13, 2008
um processo inútil de chegar a Borges sem passar em Kafka
Antes de recomeçar a morrer, na verdade, um processo sobre o qual nunca se desliga a máquina, gostaria de reafirmar a inspiração, em todo o caso comovedora e por isso confrangedora, que alguns livros nos propiciam. Na verdade não será tanto a inspiração mas um retiro, uma caixinha do mundo em ponto realmente pequeno e voraz. Reconhecer isto e voltar, torna impossível não (o) rebater. Refrear será, à falta de jeito, reflectir. Um saco cama de tormentas. A acreditar no silêncio mais vazio da cerveja e na jura de entremeio, imagina-se uma paranóia de alguém “fazer um chapéu de um [nosso] rim”. Qualquer coisa assim se apanha no invólucro ranhoso da nossa RTP2. Seríamos muito piores se não remoêssemos na crosta da ferida. outubro 11, 2008
"a ascensão irremediável das lavas do sobreconsciente"
Um conjunto inusitado de coincidências e espelhos, um encontro fortuito e inesperado com o Alfredo e, um outro não menos estranho com uma estante, levou-me, mais uma vez, à prateleira número 4 referente às obras de língua estrangeira e, por ordem alfabética, inesperadamente, à literatura espanhola. Localizei, sem delongas o Sr. Henrique Vila-Matas, por estas paragens erradamente colocado, já que se encontra disponível um pequeno espaço dedicado à literatura catalã, não necessariamente escrita em catalão, e retirei a “História Abreviada da Literatura Portátil”, edição Campo de letras de 2006, traduzida (e bem) por José Agostinho França. Não mais trabalhei. Comecei a ler. Escreveu, parece que escreveu, George Antheil, acerca do seu odradek (talvez Golem, talvez duplo, talvez uma projecção:
O inútil é belo porque é menos real que o útil, que se continua e se prolonga; ao passo que o maravilhoso fútil, o glorioso infinitesimal, fica onde está, é apenas o que é, vive livre e independente. Como a mera existência do meu odradek, que é esse alfinete que tenho diante de mim, espetado numa fita.
In “História Abreviada da Literatura Portátil”, Henrique Vila-Matas, página 54.
Ps- Dou comigo na rua (sim, parece uma rua), imaginando-me de máquina fotográfica (à minha direita) e fotografando-me.
outubro 09, 2008
Morte a(o) crédito!
Os Tones sem jeito proliferam agora na política portuguesa. Nem sempre foi assim. É como a falta de gajos com jeito para as gajas. Basta atentar na padaria, na rua e no autocarro. Simplesmente não colam. Relativamente (e nomeadamente) ao assunto da morte a crédito lancei no título um isco literário fácil (sim, é do Céline sem dion). O sistema finalmente come a própria cauda. Já não se trata de um corte (aliás, previsto nas entranhas do sistema), mas de um episódio que já assoma o âmago do bicho. Ora o bicho não é uma estrutura única, mas um conjunto bem calcetado de estruturas (leiam o Baudrillard). Como diz o Tim sem se rir: “gosto da praia à hora das gaivotas”. Diga lá Tim?
outubro 07, 2008
A páginas tantas como diria um amigo...
O desenlace foi o habitual nestas histórias. Confusão e pragas e sangue. Continuaram a beber e o vento soprava nas ruas e as estrelas que haviam estado na cúpula do firmamento jaziam agora a oeste rente à terra e aqueles jovens desentenderam-se com outros e foram ditas palavras que nenhuma outra palavra podia emendar e ao alvorecer o rapaz e o segundo–cabo ajoelharam-se junto ao rapaz do Missouri que se chamava Earl e chamaram-no pelo nome mas ele nada lhes respondeu (…) Não há na taberna alegria comparável ao caminho que lá conduz (…).
Ao caminho, sem sebes e desertos, pode sempre comprar-se por UM euro este e outros desvarios literários. Traduções limpinhas (esta do Paulo Faria está fabulosa e é cortesia da Relógio de Água editores – o sr. até com o autor contactou). As duas obras anteriores também são aconselháveis, para dizer pouco: “ O Pêndulo de Foucault” é um livro fabuloso do Sr. Humberto Eco, com a chancela da Difel, e o anterior “ O amante” da Duras é, disseram-me (a mim a gaja sempre me pareceu uma rosca de padaria velha), para se ler. Espere, proximamente, pelos idiotas. Na revista “Sábado”, às quintas(?). Eu cá não compro a dita e passeio sem mágoa nos dias, entre sebes e outras livrarias.
outubro 06, 2008
outubro 02, 2008
The Smiths - There is a light that never goes out
Disco pe(r)dido pelo anjo inútil para dedicar a alguém muito remarkable (e de corrida) num dia que pode parecer, mas não é, igual aos outros.
setembro 29, 2008
Para acabar de vez com o anjo...

setembro 28, 2008
Ainda é hoje?
setembro 25, 2008
Os últimos
setembro 24, 2008
À bolina
Perdidos
Perto da padaria, ia eu de bicicleta, encontrei o sr. Magalhães. Estava atordoado, por assim dizer, com tantas magalhisses que desbordavam dos cafés, na rua, na TV e “por todo o lado”, parece que é “um computador de andar na mão”, disse, antes de pedir, já dentro da padaria, um martini cerveja. Passei o martini e recordei o Magalhães da minha terra, amante de Carlsberg e amigo de cangostas e caminhos fora, com ou sem berg, irmão e filho de outros Magalhães, amigos dos altos e baixos como nós. Chegado a casa o Magalhães espevita-se na janela da TV. Recordo o Fernão (de Magalhães) a calcorrear as cangostas do mundo, muitos anos atrás. Agora o Magalhães (o esquecido) é nome de computador. Um terço, parece, de cepa nossa. Para não variar.
setembro 23, 2008
setembro 21, 2008
Das minhas cassetes: recordam-se?
The Cure: A strange day, LP "Pornography"(1982)
Em final de noite uma recordação, a anunciar o Outono que amarra inexoravelmente os nossos dias numa melancolia de cores únicas, com castanhas, dióspiros e folhas caídas, após um tinto alentejano suave. Aqui ao vivo, mas absolutamente actual?...
setembro 20, 2008
setembro 19, 2008
Monty Python - Olimpíadas de filosofia
Football
Para terminar, sem volta programada, com os posts sobre olimpíadas e futebol de cebolada.
setembro 18, 2008
A bigorna dos dias
É o sistema

setembro 17, 2008
Ontem também tivemos coisas boas
Em primeiro lugar, salientar que o Sporting de há 15/20 anos (e anteriores), chegaria a Barcelona, faria uma exibição fabulosa e perderia o jogo (eis o Sporting). Hoje (ontem), chega a Barcelona cheio de tiques e, parece, estratégia(s) (e sem Vukcevic) não joga nada, deslumbra-se não se sabe bem com quê e perde. Uma palavra para o “relatador” e o comentador de serviço, este último, uma alma capaz de expressões como um tal de “momento de recuperação alta”, encantados (sem o Barcelona jogar nada) com o “estádio”, o “Messi”, a “forma de jogar” e o “encontrão” parece que “ligeiro” e que resultou na grande penalidade. Uma miséria muito “nossa”.
setembro 15, 2008
Apetece-me logo beber milhões de cervejas...
Voltou o programa inóspito da Dona Fátima. Segunda-feira à noite (madrugada de terça), sem humor trilhado, recolhemos à consciência do “país que somos”. É preciso valorizar o “percurso” e os milhares de “excelências” que por aqui ruminam. A ciência e o ensino “lá está”, afiguram-se, de facto “uma questão importante”. Mais as percentagens. “Diga, diga, Sr. Dr.”, porque afinal o pensamento deve ser “sistémico” e “para pensar(?)”. Precisamos de um “salto qualitativo”. Desisti. Recordo apenas o erótico palavreado da Dona Fátima: “menos devagar mas está a penetrar”.setembro 14, 2008
Aborreço-me assim
Cheguei afogado em suor à padaria. Fechada. À porta, em final de pão, comentava-se a Madonna (em Lisboa, ai tanto povo) e o CR7 (parece que o tipo criou um logo) Ronaldo. Temos por cá então a Madonna e é uma festa para as televisões, jornais e rádios (vá-se lá saber porquê). Isto ajuda a senhora a vender os seus discos e os seus espectáculos, em ciclo vicioso, numa altura em que Portugal tem uns 30 festivais por ano. A “estrela” da “cabala” vai entrar muda e sair calada. Um bocado mais abaixo e ao lado, na Madeira, o Sr. Cristiano quis receber a “bota” perto dos “seus”, disse, acrescentando que seria, igualmente, uma homenagem ao “pai”. Entrou mudo e saiu calado (para os seus – quanto ao pai não sei), falou apenas para alguns e para a caixinha da TV, com uma vaidade pacóvia e tinebre, já para não falar do “esquecimento” da sua origem. Falta aqui o “Homem Tarte”, na pessoa (secreta) de Homer Simpson (ainda não viram o episódio?), para lhes atirar com umas tartes à cara.setembro 13, 2008
Bicicletas desportivas e de saúde
Remediei-me com a memória de uma Vilar com pedaleira dupla (acho), de ferro e com bebedouro. Foi a minha segunda bicicleta. Às voltas, com voltas, ao bairro, fiz umas 200000. Agora, para comprar uma ginga temos que tirar um curso, com vários módulos, e entrar numa espécie de centro bicicletal. Fiquei aterrado. Vou ao Pingo Doce comprar uma das baratinhas, ou...
setembro 11, 2008
O amanhecer da bola
“Não se trata (apenas) de morrer na praia”- avançou, “é uma questão civilizacional e muito nossa”. “Como?”, perguntei, sem perceber nada. “Voltamos ao jogo como uma das nossas belas artes: bonito, singelo, envolvente, ilusório e, claro, de preferência sem balizas, com falhanços estrondosos à frente e atrás, já para não falar no azar e na injustiça. A coisa, enfim, não é nova, é velhinha de anos e anos.”
Ainda me deu para esboçar, num gesto imperceptível, não sei bem, uma resposta, mas Alfredo continuou de dedo em riste: “A passeata e o desdém não são para aqui chamados. O jogo, esse, tem 90 minutos e o “mestre” lá no banco é, oh, é um cientista com o pé gelado e sem ícones que lhe valham. Nos últimos dez minutos quando se está a ganhar esquecem-se os escrúpulos e a beleza… e aquela última substituição foi uma prenda de anos, que foi aquilo afinal?”Antes de sair ainda teve tempo para me recordar “o europeu de 1984, o expoente máximo do desperdício”…”Não te levantas?”,concluiu, e saiu.
Quanto aos paralímpicos, queria eu dizer-lhe, depois da visita de um secretário de estado inexistente, e da partida com alguma fumaça, eis que chegamos à normalidade: dois pesos, duas medidas, a mesma bandeira.
E voltei a adormecer...
setembro 10, 2008
Mais uma vez deito-me às tantas
Assisto na RTP2 a um documentário sobre o 11 de Setembro. Imagens. Há dois dias apenas, em Braga, um túnel começava a perfurar a terra, um edifício desmoronava-se ceifando três vidas e, ali perto, alguém ameaçava um suicídio. O mesmo dia. Ali ao lado o anjo trabalhava ao computador e depois saia em direcção ao nada. Babilónia. Talvez se dirigisse a alguém. Ou à padaria. Na igreja as badaladas acompanhavam a voz leitosa do padre – disseram-lhe. O primeiro pensamento e o segundo, já agora, foram ir comprar vinho para o jantar. Depois, muito depois, ocorreu-lhe um poema do Walt Whitman, sem sorte que o valha:Alguém pensa que é sorte ter nascido?
Apresso-me a informar esse homem ou essa mulher que é igual sorte viver ou morrer, eu sei.
Morro com aquele que vai morrer e nasço com aquele que está a nascer, não
estou contido entre o meu chapéu e as minhas botas,
E examino os mais variados objectos, nenhum igual ao outro e todos bons,
Boa a terra e boas as estrelas e bons os seus complementos.
Não estou seguro de nada disto. Nada. Cheguei aqui num bote sem confirmação.
setembro 09, 2008
setembro 08, 2008
setembro 06, 2008
Dos cafés
setembro 04, 2008
Está a chegar o Outono?
Um homem está em casa e liga a televisão, note-se, liga a televisão e um acaso leva-o à SIC onde se expõe solenemente em debate o “problema” da segurança. “Portugal está a ficar mais perigoso?”, rejubila uma voz em off, uma, duas vezes, entre ligações directas, indirectas e em estúdio, rapidamente, sempre a capitalizar um efeito, digamos, abrangente. Sempre os mesmos e mais alguns, as “vítimas”, entretêm o telespectador incauto. Nas entrevistas, se por acaso alguma das tais “vítimas” não enriquece a “sentença” com algum sangue ou sofrimento, o dito jornalista, em directo, rebate com um “mas deve ter sofrido?"; tudo devidamente encaixado em demagogias de lupanar e vendetas à casa. É um jornalismo (sem reportagem e sem nervo) de pacotilha, sempre, mas sempre, mal falado, “espectacular” e deprimente. Solitário, experimento um discurso inflamado contra a parede branca. Abro uma cerveja e volto aos livros:As surpresas começaram aqui; assim que começaram, multiplicaram-se; surgiram em torrente: era como se, do modo mais estranho possível, todas tivessem sido mantidas na retaguarda, aglomeradas num denso novelo, à espera do entardecer da vida, do tempo em que o inesperado já não acontece à maioria das pessoas.
“A Fera na Selva”, Henry James
Nunca mais chega o Outono…
setembro 02, 2008
setembro 01, 2008
Foi você que pediu uma ideia?
Nós, por assim dizer, ainda não abandonamos o século XIX no que toca à vertigem das “ideias” quase sempre novas e quase sempre importadas. É um caminho em círculos que nos entretém através das gerações. Depois das férias é pior. Atente-se nas rentrée (comme ça) políticas: os discursos inflamados e morenos, os silêncios ensurdecedores, as acções ditas “desviantes” e as propostas “fracturantes”. Atente-se nas novidades desportivas e culturais, nas análises aguçadas e abrangentes, nos enredos sociais e psicológicos que necessariamente contextualizam as situações, sejam elas quais forem, esmiuçadas (e arremessadas) por técnicos devidamente especializados em quase tudo.
A ideia é essa…
agosto 30, 2008
Hoje amanheceu assim:
Um dia, à saída da visão terrífica,
Que eu erga o meu cântico de júbilo e louvor aos Anjos cúmplices.
"As Elegias de Duíno" (fragmento de A Décima Elegia), Rainer Maria Rilke
agosto 27, 2008
Um passeio em Madrid
Gostei mais da primeira (cinco a um para os outros). Como sportinguista aprecio o sofrimento e o desleixo. Queriam uma equipa pequenina a esfarrapar-se contra um golias de meia tigela, embalsamado numa fruteira ricaça de gosto duvidoso? O comentador, atento, ter-se-á referido a um “desleixo inconcebível”, o qual, nestes casos, parece, costuma “ser fatal”. O gajo deve ser do “glorioso”, esse mesmo que levou QUATRO a ZERO em 1996 disputando o mesmo troféu. A memória, curtíssima, resvalava, no mesmo sentido, num comediante “malucos do riso” que aventava curiosas vitórias do FCP contra o real de madrid, entre cervejas e o Mário Jardel. Isto na tasca do porcalhoto. Afinal, futebolisticamente (coisa que domino como o controlo dos meus intestinos), a primeira parte revelou-se inócua e fria nas nossas hostes: alguns maus jogadores; uma “grande penalidade” inexistente; um golo na própria baliza. Mais valia terem ido ao Prado ver a Maja.
Quantos querem?
Um regabofe, este Brasiu. Ainda lá chegaremos.
agosto 26, 2008
Partir...
Há quem diga que nos dias de hoje temos que pegar numa arma. Eu prefiro a mochila. A mim, Bruce Chatwin!...
agosto 25, 2008
Eduardo Prado Coelho
Cheguei ao primeiro aniversário da Morte de Eduardo Prado Coelho ainda antes dos jornais, pelo Portugal dos Pequeninos. O EPC era o “intelectual” do burgo. O “vai a todas”. Quando éramos putos, era da praxe a expressão “pareces o Eduardo Prado Coelho”, se alguém saltava a pocinha com uma “ideia”, ou congeminava umas secções de cinema francês. Sem me aperceber lá o fui lendo e escutando de mansinho. Nunca fui um admirador (ou grande conhecedor?), mas fazem falta gajos como o Eduardo Prado Coelho. Faz falta alguém para conversar, nem que seja baixinho.
agosto 24, 2008
agosto 23, 2008
Coisas do Rimbaud
agosto 21, 2008
Abancado como um anjo no barbeiro
"O Grito" Edvard Munch
Vivo atormentado. Sou, para além disso, como já o disse, um tipo anacrónico. Neste tempo único, mastigado diariamente por anátemas do mais fino terror, a brusquidão de um pensamento envolve terríficas ondulações. As marés vivas. No entanto, debalde. Chegadas à praia, desavindas, convidam ao desmaio das penumbras guarda-sol. É o tempo de fuga. Por isso, talvez, não tenho férias. Por isso e porque a falácia do deus menor não mo permite. A coisa sobe. Quero dizer, o investimento ou o PIB, graças, pois claro, ao empenho do Sr. Eng. Pergunto-me então, que livros para férias. Existem livros a carregar para férias com a maldição da casa às costas? Eu cá, sem milongas, leio todo o ano com a casa às costas. Carrego agora o Fiódor, uns livrinhos(?) (assim os denomina o João), do Tolstoi e do Henry James a chegar ao Kafka (pequeninas obras primas – entre outros, numa iniciativa DN e Quasi), passando por uma rebaldaria de calhamaços ligados por umbilical cordão à história e à filosofia. É todo um pé canhão de palavras na corda bamba. Todo o ano.
agosto 20, 2008
agosto 19, 2008
O olimpo português
O mundo português, a expensas de tanto remoer em noitadas mal dormidas, nuns tais de jogos olímpicos, apesar de durante quatro anos se estar a cagar para o desporto (sem futebol) e, sem perceber patavina da maioria dos ditos, deixa-se ir, morno como um leitinho, em demandas alucinatórias. Os jornais e a imundície simplória ajudam à festa. Sucede que nada disto remonta a ontem. A miséria da conversa tasqueira agarra-se a qualquer tronquinho. Ainda agora escutei um especialista de tasca afirmar que não tinha conseguido dormir porque tinha visto um filme de terror, pasme-se, “Espanhol”. “Gosto mais”, acrescentou o néscio, de “acção e comédia, mas com alguma história”. Um outro, mais refinado, observou a superioridade da “comédia de American Pie” e a “medalha da Vanessa”. Com torta, ou sobretudo por ela, a vidinha esvai-se em segundos enjaulados na sueca encartada do dia a dia. O chefe do comité, entretanto, demitiu-se. Sob custódia, os nossos valentes adormecem-nos as vacances num casco de “Amontillado”(se não leram Edgar Poe, dane-se) . É emparedá-los. 












