novembro 21, 2008

não será exagerado afirmar que

um vago castanho trémulo conspira em diatribes vestindo as árvores lá fora. Tendo por hábito (ou vício) ler várias obras ao mesmo tempo, e necessariamente de temáticas diversas, foi sem surpresa que detectei um outro fenómeno sub-reptício embora a ele inteiramente ligado. As leituras “variadas” são consequência (esperada) e prolongamento dos livros espalhados entre envelopes, canetas, jornais e, por exemplo, pastas de chocolate preto; associadas a uma curiosidade mórbida prima da angústia que sentiu uma vez Almada Negreiros ao entrar numa livraria ou biblioteca. O fenómeno é outra coisa. É um poder infinito associado a um conjunto de ligações e matrizes que acompanham os livros desde sempre. Isto sem falar das referências, das semelhanças, do permanente reescrever e das viagens. À bulha com “Os Emigrantes” de Sebald, entrelacei-o sem saber muito bem porquê, com outra (sua) obra “Os Anéis de Saturno” a que já aqui aludi. Facto é que esta me terá levado a Thomas Browne (o qual dificilmente se encontra aqui no burgo) e a Bioy Casares num jantar com Borges e espelhos e uma enciclopédia e Uqbar. Hoje, olhando esse “vago castanho trémulo” abri num acaso de milénios o livro “Ficções”, com a chancela da Teorema, e lá está o primeiro conto (que eu havia lido na Obra Toda, editada parece-me, pelo Círculo de Leitores) denominado “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”. Leio que Hume notou definitivamente que os argumentos de Berkeley não admitem a menor réplica e não causam a menor convicção. Este ditame é absolutamente válido para a Terra; absolutamente falso em Tlön.
Sobre o conto que entrelaça vários mundos, enciclopédias, espelhos e biografias, procurem-no e nunca mais vão parar. Quanto à citação, aqui na terra de hoje, teme-se pela sua veracidade opaca mas terrivelmente vazia.  

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