julho 31, 2009

Os sermões do padre Inácio…

A banca do peixe abriu sem novidades. Num vagar próximo da languidez, e já servida a corrida ao tacho no estio, com direito à usual pisadura da silly season, o país progride, afinal, para o poço. A manada segue-o, deleitada. Não tarda Agosto, e nos blogues toma-se partido, claro. Contam-se espingardas, somam-se elogios, enterram-se adversários, tudo em nome da indispensável e legítima participação, da cidadania e, em última instância, da prossecução do interesse geral. Os blogues de Lisboa remetem o resto à paisagem sebosa e pitoresca da província. E, recentemente, uma apresentadora de televisão advogava a facilidade com que, em poucas horas, ora estamos a caçar gambozinos numa praia (ventosa?) do norte ora a apanhar uma “neve”(no norte?), estando a iluminada a referir-se à Figueira da Foz e à Serra da Estrela. Na blogosfesra, como na política, prevalece o direito a ligações desmedidas, a Miss qualquer coisa, ao atrevidote da linha, ao betinho que toma partido e ainda aquele tipo que estaca na mesma pastelaria. Em todo o caso, até se cruzam nas casas de banho, nos restaurantes e, nunca se sabe, nos corredores de um qualquer hemiciclo. São independentes; são fogosos; e estão presentes nas festas. Normalmente, escrevem ou escreverão livros, por exemplo, contendo as suas demandas profícuas dadas à estampa no blogue respectivo. Seremos felizes.
A tudo isto acresce a sinfonia da câmara rotíssima de Lisboa, com direito a debates entre golias agarrados à política e tertúlias de desagravo. A TV agradece e junta à ementa Benfica/CR9 mais um naco de interesse público para nosso repasto. Agradecemos e damos alvíssaras a quem nos encontrar longe, bem longe daqui, ainda mais a norte ou quem sabe a Oriente na corte de Prestes João.
No final tudo se resumo àquele diálogo que presenciei no café:
Ela: “Sabes quem fica em 2º na lista? [para a junta de freguesia]
Ele: “ Eu cá disso não sei nada, sou um colador de cartazes e de copos [com o candidato]… mas sei quem fica em 3ª lugar…”
Ela: “Sabes…quem?”
Ele: “A contabilista…a dos números”
Ela:” Não posso. Então e o Carlinhos, ele tem trabalhado tanto e é da Jota
Ele: “Não sei de nada…não sei de nada”
Ela:”Bem, apenas queria saber porque…bem, o meu interesse é pelo partido e pela freguesia. O que importa é tirar o gajo de lá. Até logo.”
Ele em sussurro: “ O que tu queres sei eu, e há muito tempo…ah…ah.”

Recordo sair do café e caminhar junto ao ínfimo passeio a que nos relegam. Surgiu em mim uma metáfora e depois encaixei um ou dois pensamentos sublimes. Enfim, a derrota. Ao chegar a casa pensava eu na junta da colaça, acho que é assim que se denomina, e acrescentei a minha ignorância automóvel ao último degrau: “Mas que merda é essa da colaça?”…

julho 25, 2009

Bom dia



...Em cassete, em vinil, CD, Mp3 e, ia jurar, em cartuchos...

Sem férias ao sul de qualquer norte e sem imaginar o que vem depois

“Fugir para quê? – continuava a filosofar. – Aqui está tudo tão poeirento, o ar tão abafado, esta casa está tão emporcalhada; nestas instituições por onde vagueio, por entre toda esta gente de negócios, há tanta azáfama dos ratos, as pessoas andam tão preocupadas e acotovelam-se tanto; em todas estas pessoas que ficaram na cidade, em todas estas caras que passam diante dos nossos olhos de manhã à noite está escrito de modo tão ingénuo e aberto todo o egoísmo, todo o descaramento simplório, toda a cobardia das suas almas mesquinhas, todos os seus corações de galinhas, que, francamente e para falar a sério, isto é um paraíso para o hipocondríaco. Tudo às claras, aberto, ninguém acha sequer necessário encobrir-se, como entre as senhoras por essas casas de campo ou essas termas no estrangeiro – portanto, graças à mera franqueza e simplicidade, tudo é muito mais digno de respeito…Não vou para lado nenhum! Nem que rebente aqui, não vou!...”
"O Eterno Marido", Fiódor Dostoiévski, Editorial Presença, Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra

julho 21, 2009

Um destes dias arraso com eles na gazeta das beiras


A estória dos contentores em Alcântara, ia jurar que por casualidade vinda a público, e por casualidade (passe o pleonasmo) enquanto a banda lá vai tocando mais umas notitas do BPN, com antigos ministros, assessores e amigos das obras no coreto, vem confirmar, vistas bem as coisas, e as cores (aqui não há lado de barricada - é tudo do mesmo!), o estado de pilhéria que grassa no seio apodrecido de um país falhado e triste. Não é apenas aí, no topo da lixeira, não. Principia, no medo e na devassa, em cada junta de freguesia, em cada metrinho de passeio público, em cada centro recreativo e desportivo e em cada estradinha municipal disputada ao milímetro com outras freguesias e vários mestres-de-obras; (re)começa, no compadrio, na cunha, na negociata e no cacique. E nisso não mudou nada. Nem no rotativismo (actualíssimo) balofo e serôdio que herdamos do século XIX, mas aí sempre havia o Eça (e outros) para contar, e agora temos a meia dúzia do costume, alinhada nas cores do costume, ou organizados em tertúlias de desagravo, e outros ainda a escrever nos subúrbios, deprimidos como cães amarelos, sobre entradas repentinas numa noite escura, repetidamente escura, e mais algumas páginas sobre a quermesse literária em voga e invejas de criar bicho. 
Ah, entrar, entramos, numa noite escura, e à medida que subimos no monte, à medida que escutamos o “toda a gente sabe o que se passa”, e nos falta o ar, mais e melhor compreendemos o infortúnio da escadaria que nos calhou em sorte. É claro que a rapina compensa, nesta vasta planície de idiotia, de pedinchice e do “mal o menos”, onde todos estão sempre prontos a baixar a calcinha em nome do “não há nada a fazer”. E jazem ali, aqui e acolá, incapazes, uns e outros, de discernir, para além da casita, do casório dos filhos e da machina da vizinha do lado, o estado de letargia de quem passa basicamente ao lado da vida; ou, quando muito, vai a Punta Cana. O pior é que depois levamos ainda com as canas e as estórias das puntas…

julho 18, 2009

Psychoflu

Do álbum "Psychocandy", 1985 (tenho em Cd, mas andei uns tempos a ouvir isto em cassete,ai andei, andei)
Sobre a gripe A e afins, entre a paranóia, a (des)informação massiva, a ignorância (como se verá) militante, e a vidinha asséptica podem ler aqui e aqui. Sucede que no nosso país (com ou sem gripe), deveríamos nos inquietar com outras coisas, algumas bem pequenas.
Ainda um destes dias, uma funcionária de uma superfície comercial (média), procurando ajudar a colega supostamente ocupada, lá veio cortar (e posteriormente agarrar) o fiambre com as luvas ensanguentadas da carne acabadinha de trinchar. Fez-me logo lembrar a rapaziada da cantina da universidade. A caminho de casa, junto a um vidrão, pilhas de lixo orgânico e alguns pares de sapatos ornamentavam o canteiro. Passos adiante, um concurso de arremesso de maços de tabaco vazios, fazia justiça a um final de tarde amarelecido e bilioso que já se adivinhava. Consta que ganhou o Costa. À pala das responsabilidades e dos diagnósticos avisados de doutores, isto é, o país todo, uma amiga com gripe, digamos, das normais, já sentiu na pele a ciência e os conselhos da matilha informada. Afinal, já são uns “bons cento e tal” dizia a Lurdes cabeleireira ao padeiro. “É preciso ter muito cuidado, menina”, respondeu este, enquanto coçava os tomates com uma foice. 

julho 16, 2009

As minhas cassetes 50: bom dia



The Killing Moon, do álbum "Ocean Rain" de 1984.
Lindo todos os dias, venha quem vier. E como dizia um amigo - "tem letra...tem letra".

Parecia de dia...

Depois de um estufado com um camião inócuo de vegetais, dei por mim a magicar na vida de todos nós, sem sinal algum que dignificasse esse momento. É certo que havia vinho, e branco, fresquinho a acolher a dor na mortalha de um final transvertido de novidade. É, sem dúvida, nos pontos finais e, ainda por cima parágrafos, que se congemina este pavor de viver. Não tenham medo. Não afecta nada se chove amanhã, ou se a revoada de silêncios nos consome em seu seio: copos cheios, leva-os o vento, e apesar de tudo a rapinar na noute, temos o embaraço do espelho e do tigre, quero dizer: os livros.

julho 13, 2009

Uma conspiração de super-patetas

O Benfica voltou à padaria. Afonso Tabuletas pediu “fogos”. Na SIC, o clube do milhafre vai dividindo o seu tempo entre abdominais do Cristiano Ronaldo e o “pequeno Martim”. Ontem, até um jogo de preparação passou em diferido (!) noite dentro, e durante o fim-de-semana ficamos a saber que alguns portugueses suiços gostam de bifanas e atrevem-se a fazer não sei quantos kms para ver o joelho do Mantorras acompanhado de salsichas na brasa (à Suiça) e que, outros ainda, vestidos à Sporting, estavam por ali para “apoiar” uma equipa portuguesa e beber uma “cervejinha”. A cervejinha ainda vai, mas aturar aquele repórter anafado e com graves problemas respiratórios, a desbaratar a língua indígena em pormenores de gravidade desconcertante, não é prato que nos ceve. Ou deva. 
À porta da padaria ficou o sr. Constâncio da banca de Portugal. Pela sua irrelevância, obviamente. Ninguém quer misturar os seus martinis e minis em lata, ou os seus devaneios entre galões e pãezinhos de água, com supervisões fantasmáticas (esta inventei eu) e roubalheiras de alta cilindrada. Isso não. A não ser que venham com a Merche Romero dentro de um bolo. “Assim marchavam”, sacudiu o Alfredo…

julho 11, 2009

Bom dia, Whiskey Bar

A primeira vez que ouvi Alabama Song, há muitos anos, foi assim:


A minha versão favorita:


O original - música de kurt Weil, letra de Bertold Brecht, simplesmente fabuloso:

julho 08, 2009

"Tá tudo, ou falta pintar?" *

"O Jardim das Delícias" (painel lateral), Hieronymus Bosch (1450(?)-1515)
 

* Expressão de saudação informal muito utilizada a Norte do rio Douro. Ou será impressão minha?

julho 07, 2009

Nestes dias de nada elevado ao quadrado televisivo

dizia-me o Alfredo que "notícia perfeita, perfeita, seria o Cristiano Ronaldo apanha gripe A depois de assistir às cerimónias fúnebres do Michael Jackson - em casa…".

As minhas cassetes 49: muitas vezes é apenas isto...


Conheci os Spaceman no Som da Frente do sr. Sérgio. Desses restos, germina ainda, muita da música que acompanha a banda sonora da minha cabeça. Sou anacrónico de betão. Este tema perdeu-se algures numa cassete sem tempo. Recuperei-o, e ao álbum, na candonga “amiga” recentemente. Uma verdadeira moca estratosférica que saiu cá para fora no álbum “Playing With Fire” em 1989, mas que ao vivo, bem, é simplesmente fabulosa. Dedicada ao mago Alan Vega dos “Suicide”: toca a procurar meus…

julho 05, 2009

Bom dia



"Um Eléctrico Chamado desejo" (1951), de Elia Kazan a partir da peça teatral de Tennessee Williams, com Marlon Brando, Vivian Leigh, Kim Hunter e Karl Malden.

Voltei a vê-lo ontem na RTP2: inesquecível

julho 04, 2009

As minhas cassetes 48


Israel foi lançado em formato single em 1980 depois do álbum “Kaleidoscope”. Fez parte (muito mais tarde) das minhas colectâneas caseiras em cassete, (que poderiam ser de apenas um autor ou vários) e acabou por sair depois em várias compilações lançadas pelos Siouxsie & the Banshees, que um dia, não se sabe bem como, deram à costa na Figueira da Foz...

julho 03, 2009

Ele sempre foi um “demitido”

Parece que o sr. Pinho vai de férias, segundo o próprio, “merecidas” (o que não sabemos é se serão no ALLGARVE). Ontem o sr. Pinho teve um “gesto” (assim ficará reconhecido para a posteridade), segundo alguns, “infeliz”, “irreflectido”, segundo o próprio, e “insultuoso” segundo outros, mais ou menos avisados. À noitinha um tal de Perestrello (uma anémona profissional de política) reconhecia em Pinho um “excelente técnico” talvez um pouco “impreparado” politicamente. Pensa-se: então porque cargas de água escolheram um tipo impreparado politicamente para a… política? Há uns anos que aturamos as patetices do sr. Pinho, e foram tantas, que um rolo de papel higiénico não chegaria para as registar e limpar. Basta recordar a sua estada e respectivos discursos na China, ou as famosas declarações do "final da crise",  para atestarmos que ele não é apenas um “impreparado”, ou um “inadequado” para o lugar: é um néscio sem qualquer ligação à realidade e, pior do que isso, sempre ostentou um profundo desprezo e enfado para com essa mesma “realidade” e as “coisas cá em baixo”. Parece, todavia, que é um bom condutor de bólides. Pode ser que o Real Madrid o contrate.
Acresce que, os ofendidos na (da) assembleia (e fora dela), os que se insurgiram contra aquilo que denominaram de “insulto ao hemiciclo” (ao deputado do PCP foi-o, concerteza), esquecem-se, esquecem-se sempre, das afrontas e das patranhas com que essa verdadeira ninhada de políticos, diária, semanal, mensal e anualmente, nos brinda, a todos (ou quase). Cá em baixo?... Por isso deixo-vos o nosso gesto:



julho 01, 2009

O Walkman (Sony) faz 30 anos!

(1979 - ?)
A mim, o Walkman (um caso em que o nome ultrapassou a marca - Sony – e se fundiu com todas as outras como o famoso Kispo) de cassetes acompanhou-me desde sempre, e ainda o usava no início do milénio (tenho esse último exemplar raro), embora já tivesse um de CD’s, como se dizia à época. Depois veio o Mp3, Mp4, o Ipod, e deixou-se de falar em álbuns (um por cassete de 60 – a melhor solução - ou dois para cassetes de 90m), para se falar em número de músicas (mas reconheço que fazem jeito). Gastei muita cassete e ouvido a escutar isto (e nem sempre as gravações eram boas):