janeiro 23, 2008

Um prefácio Inútil

Vivo abancado como um anjo no barbeiro
Rimbaud

Este prefácio tem origem numa calamidade de contornos inexplicáveis, à luz ajustada da razão: a amizade que me liga inexoravelmente a um tipo e ao seu cão cego de nome Nicha. Conheci-o, oh, num périplo sem memória, enquanto ele escrevinhava nas vidraças da vizinhança, ora bufando, ora escrevendo, ora desenhando. O encontro só terá sido possível por uma conjugação de factores que nada ficariam a dever a um autêntico jogo de espelhos, ao dar-se o caso de acreditarmos em coincidências ou mesmo em tramóias metafísicas. Chama-se Alfredo e o prefácio escapou de sua pena (trata-se na realidade de um aparo dos clássicos e não necessita do apoio de uma vidraça).

Prefácio

A Gabriel devo a vontade inata de estar quieto no meu canto. Chamo o Nicha e o bicho mal ouve falar no respectivo, foge a sete pés, não vá dar-se o caso de estarmos de partida para mais uma exploração ao subterrâneo da vizinha. Ou ao sótão do 4ºESQ.

O blogue em questão, sem embargo, absolutamente inútil, travestiu-se nos últimos meses de inusitada tempestade interior, à qual não será de todo alheia uma vontade indómita do autor para, pura e simplesmente, não fazer nada. Nada mais certinho.

Quanto ao umbigo do referido autor, proporcional à investida, acometeu-se de tosse avulsa e lá estourou em foguetório e velinhas, pois o sei, o sei muito bem, este virar-se-á à primeira estopada um bicho de carapinha com vários olhos e uns pés gigantescos como só se encontrava nas vetustas descrições dos antípodas. Este umbigo farfalhudo e conivente arremete-se à vida e sua poesia como uma das belas artes, poderia também arremeter-se ao assassínio, mas o Quincey já havia pensado nisso. Acredita-se que a própria terra tem um umbigo, variadíssimas religiões passadas e presentes cá andam para o provar, cada qual com a sua localização própria assinalada, mas sem excepções de relevo.

Quis o destino que o caldo se entornasse mas à superfície ainda restasse um pouco de vergonha. Daí o Anjo, mas Inútil pressupõe-se.

Mas fiquemo-nos pelas entrelinhas, não vá a vassoura varar o ar à busca de azeitonas nos caracóis loirinhos da costa. Bem hajam.

Ass: Alfredo e Nicha

Nenhum comentário: