dezembro 29, 2013

Post mortem (III)


O saco de batatas em causa já se denominou eufemisticamente de: calças. A história começou nos idos oitentas mas a sobremesa verdadeiramente chegou à nossa mesa nos idos noventas. A criação, as visitas à feira, a selecção de tecidos, a escolha do padrão, de tudo isso já fui culpado, já para não falar de uma boa meia hora de propedêuticos à sexta e ao sábado, para que nada batesse certo. Ainda não tinha lido Baudrillard e já ruminava simulacros por todo o lado. A situação destas calças: tarimba. Sítio: aquele lugar recôndito algures no nosso cérebro, perto de Barcelos, quase Coimbra. Ainda tentei vesti-las mais uma vez na esperança de ser expulso do território para todo o sempre, mas aquele lustre não é para todos. Cabe sempre mais um.

[Foto GP, modelo devidamente registado] 

dezembro 27, 2013

Post mortem (II)


O casaco da casa mais conhecido como O Joy Division, assim denominado porque sim, após um concerto dos Death in June. Situação: fodida. Sítio, algures no centro de Barcelos cai uma cena, diz que através de uma luz branca. Não acreditei. Entrei e fui fulminado. Mil novecentos e noventa e nove. Será? Desaparecido em combate após várias batalhas nas trincheiras de várias festas, passou por um longo período de recuperação que lhe conferiu uma tez mais acinzentada, o que muito contribuiu para o seu mito, cujos seguidores (em grande número) vivem dentro da cabeça de apenas um homem. Diz que atormentado. Ainda teve préstimo para umas entrevistas. Obviamente sem resultados. Que o diga...

[Foto GP]

dezembro 26, 2013

Post mortem (I)


Ano(s) troca o passo noventa. Situação: [sempre] indefinida. Sítio: praia a norte (Minho). Modelo: original, talvez com laivos salva vidas, bolso preto a reforçar a diferença. Uma criação Inútil no desenho, com execução técnica (entre outras) da avó. Concorrente directo: uns azuizinhos às riscas brancas, ou branquinhos com riscas azuis, modelo barraca de praia, bolso totalmente azul (só podia ter sido gamado ao Fredinho), e cujo paradeiro já levou vários caçadores de tesouros e reputadas agências internacionais de detectives à loucura. Convenhamos. 

[foto GP, modelo devidamente registado]

dezembro 15, 2013

A Experiência pode ser educativa


A uma sugestão saída da pena de Barthelme nas suas 40 histórias: podem consumir as nossas drogas perigosas, sem dúvida, mas só para sobremesa – primeiro têm de mastigar muito bem a couve-flor, comer as verduras todas(...)

responde assim o paroxista Baudrillard: o avacalhamento ocidental, essa felicidade alimentada a hormonas e a farinhas animais, esse êxtase indolente e tecnológico, esse vírus interactivo que nós oferecemos [por exemplo] ao Leste em troca da sua abertura ao espaço democrático, é pior ainda do que...

uma dor como quando alguém nos pica o traseiro com um alfinete, isto é, uma tristeza que a longo prazo se revela pior, acrescenta Baldini, e diz mais, diz que: se nos safássemos, havia sempre alguém mais abaixo na cadeia que não conseguia. Essa pessoa gritava. Mais à frente tínhamos de nos esforçar para colmatar o espaço no tapete rolante para ela se sentir melhor, continua o Baldini, mas quem conta a história toda é o Fante.  Está tudo dito. 

Lembras-te querida?