março 23, 2016

Minudências


No Brasil, já se pede em surdina uma intervençãozinha dos militares. Num dos rodapés televisivos aludia-se a um entra e sai militar, coisa pouca, sem cobrança. Como se diz na minha terra: és bem filho do teu pai. Ora bem, cá no burgo, e não vai há muito tempo, também se falava de uma suspensãozinha da democracia. A senhora em causa falava de uns seis meses, para pôr tudo na ordem. Minudências. A memória vai encurtando tanto que deixará de existir, de todo. O resto, como a história, já se sabe, constrói-se de feição. 

março 22, 2016

Olho vivo


O facto de o estado português estar a montar uma base de dados de onde os padrões de consumo e estilo de vida podem ser facilmente retirados, viola tudo aquilo que a civilização moderna entende como aceitável ao nível da centralização de informação. É um enorme retrocesso civilizacional, embora sendo uma interessante peça de tecnologia. ("Minority Report", daqui)

março 21, 2016

O valente soldado Chveik


Tenho a edição de bolso da "Europa-América" (é só olhar para a imagem acima), encontrada num alfarrabista, em estado vegetativo mas como novo. A colecção de bolso da "Europa-América" foi, durante muitos anos, a única porta de entrada para alguma da grande literatura que se fazia por esse mundo fora. E é muito mundo. Pese às vezes as traduções, algumas vertidas da versão francesa ou inglesa. Não me parece ser o caso desta. Existe uma edição mais recente com a chancela "Edições Tinta da China", produzida com um bem torneado gosto estético e encadernação vigorosa, mas cujo preço nos levaria mais de um dia de trabalho a alcançar. Uma outra tradução foi feita com a chancela da "Vega", mas essa nunca tive a oportunidade de sentir ao vivo. Eu gosto bastante desse valente soldado Chveik, diz-nos o autor no prefácio, acrescentando: Ele não seguiu o exemplo do pateta do Eróstrato, que lançou fogo ao templo de Diana para ter o nome nos jornais e nos livros de leitura de primeira classe. Na minha opinião, isso já é muito bom!

Meu caro Jaloslav Hasek, não sabemos em que escola primária andou o senhor, mas não terá sido em Portugal, pois não? Na minha opinião, isso já é muito bom!


 Edição Tinta da China

A tradição já não é o que era, senhor Duchamp


As minhas outras (modestas) contribuições na blogaria: esta, esta e esta. Já se sabe que ser sportinguista é meio caminho andado para um pacemaker. Passeando por aí, duas postas do Cão, esta e aquela da forma que aspira a um fim. Sem dúvida. 

março 19, 2016

Por falar em folhetim

A alvorada do romance popular, ou romance-folhetim


Daqui para diante [primeira metade do séc.XIX], o romance passa a por em acção numerosos artifícios, que já deram lugar a um inventário e poderiam dar lugar a um sistema. Constitui uma combinatória de lugares-comuns articulados entre si segundo uma tradição que tem algo de ancestral, e de especifico(...). Passa a jogar com personagens prefabricadas, tanto mais aceitáveis e simpáticas quanto mais conhecidas, em qualquer dos casos virgens de qualquer penetração psicológica, como são as personagens das fábulas.  

março 09, 2016

A insustentável leveza de...Liedson


Fui amavelmente convidado, aceitei com enorme prazer. Farei parte dessa grande equipa, com uma grande massa associativa, que dá pelo nome de A insustentável leveza de Liedson (também se pode ler Sporting). Apenas posso prometer muito trabalho, de resto já se sabe: prognósticos só no fim do jogo. Falaremos do Sporting, mais mal do que bem. Falaremos do Benfica, sempre mal. Falaremos do Porto, cada vez menos conformados. 

E o Borat, não?

(clica na imagem) 
(Bartoon, in Publico, 09-03-15)

Um filme novo?

março 06, 2016

Quando é para falhar, falhámos

(jogo)

Levamos muito a sério o falhar, falhar muito, falhar melhor. Entramos no jogo a ver a banda passar. Do outro lado, a banda passava como podia. O golo foi uma obra-prima do acaso (ou do piço, como queiram), à imagem, aliás, do golo no jogo da taça. Sempre que podemos ajudamos o acaso. A partir daí o Tondela acreditou que estava ali para disputar o jogo, e nós acreditamos que vocês acreditavam que nós acreditávamos que vocês iam virar o jogo. Ao intervalo a cerveja estava boa.

Na segunda parte o União da Madeira fechou-se como pôde. As linhas de torres juntinhas, e pontapé com o pé que estava mais à mão. Às vezes esse pontapé que estava mais à mão servia para bater no adversário.  Entretanto o Sporting falhava golos, um, dois, três, com o Bryan a fazer-se a um papel num filme dos Monty Python: a vida de Bryan. Ali perto, ficava um penálti por marcar, e o Sanches revelava-se um dos expoentes máximos no ofício da tamancaria. Não ficará certamente muito tempo no Tondela, à imagem daqueloutro craque que dá pelo nome de Gonçalo Guedes.

O resto, já se sabe, cada vez falhámos melhor.   

março 04, 2016