dezembro 30, 2008

sejam bem-vindos

Andamos em demanda. De nenúfar em nenúfar, de castelo em castelo, também, com o Céline a tiracolo ou a espetar-se numa vidraça. Um revés, ou nem por isso, soube-se que a padaria não confeccionará a dita festa de “passagem de ano”, muito menos essa porra denominada de reveillon(?), nem sequer sabe se vai passar de ano, tendo encomendado uma participação, nada insólita, diga-se, na twilightzone. Teremos regueifa no novo ano? E pão de água ou broa de milho? Haverá bolas de Berlim e natinhas ou pão com chouriço? E croissants que demoram 30m a deitar abaixo? E martini cerveja, por deus, e martini cerveja? Ninguém sabe. Na twilightzone tudo pode acontecer. É, aliás, defendido por alguns, que há muito tempo que por lá andamos… ah…aaah…aaaaah… (risos deles!) ponto.

dezembro 28, 2008

asseguro-lhe que não irei... e continuo a comer frango de churrasco para provar que sou sublime


Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longemente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.

Batem asas de auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cor e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.

Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...

Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de oiro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...

Que droga foi a que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?

Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que ando delirante
Manhã tão forte que me anoiteceu.

Mário de Sá Carneiro, "Álcool"

bom dia


e bom passeio de domingo


dezembro 23, 2008

andamos assim mas podíamos andar assado

Novas aquisições da casa, já desfloradas, ou previamente desfloradas, algumas são repastos antigos em falta na prateleira. Contam-se cinco novos livros da(s) especialidade(s) (sendo que, com tomates, toda a gente os poderia ler), mais alguns dicionários e “Salónica Cidade de Fantasmas – Cristãos, Muçulmanos e Judeus de 1430 a 1950”, de Mark Mazower com a chancela Pedra da Lua, numa excelente e cuidada edição de 2008; “Boris Vian por Boris Vian, Palavras e Aforismos”, edição da Fenda, onde o autor (por quem sempre tivemos considerável apreço) observa que “há duas maneiras de enrabar as moscas: com ou sem o seu consentimento”; mais um Dostoiévski, “O jogador”, edição de bolso resultante de uma colaboração inédita (e em conta) entre editoras portuguesas, a Assírio & Alvim, a Cotovia e a Relógio D’Água, da qual já tenho outros exemplares, entre os quais a “Íliada” de Homero, traduzida do grego por Frederico Lourenço, sem notas adicionais, o que exige, algum trabalho, dedicação e alguma glória, como com o Sporting. Destaca-se ainda um volume em falta (entre outros) encontrado por acaso e baratinho da “Nova História da Expansão Portuguesa – O Império Africano 1891-1930” coordenação de A.H. Oliveira Marques, direcção de Joel Serrão e Oliveira Marques, e “ A Europa e o Mar” de Michel Mollat Du Jourdin (este tipo tem nome de templário), da Editorial Presença, colecção dirigida por Jacques le Goff. Ah, e umas coisas em alemão para armar ao pingarelho. Poderiam ser sugestões. Poderiam. Mas não estamos aqui para sugerir nada. Para o Natal, que por acaso é depois de amanhã, pediu-se (para além da volta do menino Jesus) uma série de livros (e revistas) porno, edições javardas e antigas. A Internet tragou todo o glamour da pornografia, para além do facto de não propiciar ou permitir a colagem das páginas, como outrora...

dezembro 22, 2008

no fim de contas é isto


A menopausa é quando a gazela que traz as crianças é abatida por caçadores bêbados.

Homer Simpson respondendo a Bart

dezembro 21, 2008

hoje amanheceu assim

Apesar de o impacte de Schopenhauer neste blogue ser cada vez menor, isso não compromete em nada o pessimismo constante a que o seu autor está sujeito ou, pelo menos, não o (des)acentua ou desobriga de alguma forma, sendo que o contrário também poderia ser considerado verdade. Eu também sei de coisas, que diabo. E apesar de tudo não vou ao psicotécnico

dezembro 17, 2008

dezembro 16, 2008

o Joe Pesci não precisava destas merdas

Soube que se aproximava o natal pela programação do “sozinho em casa” para o fim-de-semana. Fui-me logo e exclusivamente enroupar de terra do nunca. Longe.

dezembro 09, 2008

hoje o dia foi assim

 Monty Python

e a carpete, seguindo as directrizes do sr. Tom Waits, parece que precisa de um corte de cabelo. É de assinalar, em sequência passada e com repercussões, que o piano andou a beber (muito): não fui eu…não fui eu…

dezembro 05, 2008

“ a little riding, driving, eating, etc. (not forgetting smoke) fill up the day"

A frase título é de Edward Fitzgerald (citado por Sebald), por acaso um sr. inglês que traduziu no séc. XIX as "Rubaiyat" do poeta persa Omar Khaiyam (1048-1131). Encontrei uma vez num alfarrabista de Coimbra as “Odes ao vinho” um estrato (pensei à época) do longo poema traduzido (provavelmente do francês e muito provavelmente pouco consoante com o original), e fui a correr para casa (enquanto lia em andamento o que não é fácil, pior só mesmo correr depois de beber muito absinto), onde me fechei, sem saber muito bem porquê, mas tenho essa tendência para “fechar”, lendo vorazmente as cerca de (acho) 30 páginas e à noite, ainda a correr, lá me emborrachei com o sr. Omar. Se fosse hoje, com esse nome, ia ser difícil. Acresce que o sr. Omar também foi matemático, filósofo, astrónomo e frequentador de cortes, para além de ter conhecido alguma malta da famosa seita dos “Assassinos”, mas isso é outra história. Podem igualmente encontrá-lo no romance histórico "Samarcanda" de Amin Maalouf. Já agora sobre os “Assassinos”, podem consultar “Os Assassinos” de Bernard Lewis e ler “Alamut” (a sua famosa fortaleza) de Vladimir Vartol um sr. Esloveno com nome de basquetebolista amador. A tradução das Rubaiyat até está na net, vejam só, aqui. Quase me esquecia, a música da caixinha é Scarlet Arch dos srs. "And Also The Trees" e o som, como podem verificar, é muito semelhante ao das minhas cassetes antigas, algumas aliás, mais velhinhas que o tema. Guardo-as com muito carinho, muito mesmo, até que a fita desfaleça e rompa, como tudo na vida… 

dezembro 02, 2008

Dezembro é um mês evidentemente amargo

E por assim dizer castiço. Aos repelões açordam-se os javardos na lareira dos centros comerciais e outros acotovelam-se nas ruas direitas deste país a babar-se constantemente para as vidraças translúcidas onde maduram os manequins e as meninas tutti frutti. Finalmente, depois de muito caminhar, uma rua… duas memórias de árvores recebem a mijadela atenta de um canino e seu dono. Ofegante, sento-me e observo um velhote a ler as notícias da semana passada, onde se enxergam em fundo baço numerosos destroços e alguns corpos estendidos, ou o que deles resta. Parece que essas ruínas e corpos, a mim pareceu-me pelo menos, não são (ou não foram) encaradas da mesma forma que outras ruínas e outros corpos em chãos diferentes, noutros locais. Talvez seja uma questão de proximidade ou de indiferença; talvez não passe de um lugar comum esmiuçado às postas em Telejornais com a duração de longas-metragens. Pensava nisto e já caminhava. De repente uma tristeza que ainda não era bem angústia percorreu-me a espinha, “a realidade ultrapassa qualquer ficção”, disse, creio que em voz alta. O rapazinho que me seguia com o olhar sorriu e abanou a cabeça ligeiramente, à laia de coitadito, exactamente da mesma maneira que um outro o fez há uns anos quando caí, a vinte à hora, de motoreta. Foi perto do mar e o rapaz olhava-me e oscilava a cabeça do alto do seu triciclo. Já refeito, relembrei uma frase de um texto do Alfredo: Essa tristeza que não é bem angústia e ninguém a colhe em seu seio. Quando finalmente aterrei na padaria já não tinha tanta certeza de ter vivido aqueles momentos, deambulando ao acaso no crepúsculo, nem sequer que Alfredo alguma vez tivesse escrito aquela frase. Ocorreu-me Dylan Thomas, não sei porquê, talvez pelo “em seu seio” e pedi três pães de água e uma Bohemia. “Bohemia não temos”, ainda escutei, seguido de um “não há direito, aquele golo anulado ao benfica”. Saí de campo com letra pequena e agarrado, por uns segundos até suspenso, ao cordel invisível que nos suporta a vida.