agosto 30, 2008

Hoje amanheceu assim:

Um dia, à saída da visão terrífica,
Que eu erga o meu cântico de júbilo e louvor aos Anjos cúmplices.

"As Elegias de Duíno" (fragmento de A Décima Elegia), Rainer Maria Rilke

agosto 27, 2008

Um passeio em Madrid

"Maja Desnuda", Goya
Na segunda parte o Sporting ganhou dois a zero aos parolos do real madrid (assim mesmo com minúsculas). 
Gostei mais da primeira (cinco a um para os outros). Como sportinguista aprecio o sofrimento e o desleixo. Queriam uma equipa pequenina a esfarrapar-se contra um golias de meia tigela, embalsamado numa fruteira ricaça de gosto duvidoso? O comentador, atento, ter-se-á referido a um “desleixo inconcebível”, o qual, nestes casos, parece, costuma “ser fatal”. O gajo deve ser do “glorioso”, esse mesmo que levou QUATRO a ZERO em 1996 disputando o mesmo troféu. A memória, curtíssima, resvalava, no mesmo sentido, num comediante “malucos do riso” que aventava curiosas vitórias do FCP contra o real de madrid, entre cervejas e o Mário Jardel. Isto na tasca do porcalhoto. Afinal, futebolisticamente (coisa que domino como o controlo dos meus intestinos), a primeira parte revelou-se inócua e fria nas nossas hostes: alguns maus jogadores; uma “grande penalidade” inexistente; um golo na própria baliza. Mais valia terem ido ao Prado ver a Maja.

Quantos querem?

O Brasil é um país fabuloso. E divertido. Leio hoje no Diário de Notícias (sem link), que para as eleições municipais registaram-se seis candidatos com o “apelido de Obama". Temos então o “Obama de Belford Roxo”, a “Epaminondas, o Obama Brasileiro”, ou um tal de “Davi, o Obama de Assentamento”, etc. etc…
Um regabofe, este Brasiu. Ainda lá chegaremos.

agosto 26, 2008

agosto 25, 2008

...

Quando o Chiado ardeu todo, faz hoje 20 anos, eu estava de férias em família numa praia do Norte. Aquilo não me pareceu distante. Pareceu-me, recordo-o, uma infâmia. 

Eduardo Prado Coelho

(1944-2007)

Cheguei ao primeiro aniversário da Morte de Eduardo Prado Coelho ainda antes dos jornais, pelo Portugal dos Pequeninos. O EPC era o “intelectual” do burgo. O “vai a todas”. Quando éramos putos, era da praxe a expressão “pareces o Eduardo Prado Coelho”, se alguém saltava a pocinha com uma “ideia”, ou congeminava umas secções de cinema francês. Sem me aperceber lá o fui lendo e escutando de mansinho. Nunca fui um admirador (ou grande conhecedor?), mas fazem falta gajos como o Eduardo Prado Coelho. Faz falta alguém para conversar, nem que seja baixinho.

agosto 23, 2008

Dos outros

Sobre o desastre (imprevisível???) da linha do Tua ler mais aqui. Esta bosta tresanda…

Coisas do Rimbaud

O abancado do título postado anteriormente é verdadeiro. Ao anjo, sozinho, ou não, falta-lhe a muleta inútil. Ou a tabuleta se quiserem. Quanto ao barbeiro, já lá não ponho os pés vai fazer um ano em Setembro. O meu barbeiro é o de Sevilha. Relativamente a intervenções, meus caros, já estamos bem servidos no “plano político” para esbanjar o nosso tempo e torrar-nos os miolos. De resto, tirem-me também daqui a “metafísica” a física e o balde de água fria dos vossos corações. Não sou sublime. Para que conste. 

agosto 21, 2008

Abancado como um anjo no barbeiro

"O Grito" Edvard Munch

Vivo atormentado. Sou, para além disso, como já o disse, um tipo anacrónico. Neste tempo único, mastigado diariamente por anátemas do mais fino terror, a brusquidão de um pensamento envolve terríficas ondulações. As marés vivas. No entanto, debalde. Chegadas à praia, desavindas, convidam ao desmaio das penumbras guarda-sol. É o tempo de fuga. Por isso, talvez, não tenho férias. Por isso e porque a falácia do deus menor não mo permite. A coisa sobe. Quero dizer, o investimento ou o PIB, graças, pois claro, ao empenho do Sr. Eng. Pergunto-me então, que livros para férias. Existem livros a carregar para férias com a maldição da casa às costas? Eu cá, sem milongas, leio todo o ano com a casa às costas. Carrego agora o Fiódor, uns livrinhos(?) (assim os denomina o João), do Tolstoi e do Henry James a chegar ao Kafka (pequeninas obras primas – entre outros, numa iniciativa DN e Quasi), passando por uma rebaldaria de calhamaços ligados por umbilical cordão à história e à filosofia. É todo um pé canhão de palavras na corda bamba. Todo o ano.

Foi há 40 anos...

"A primavera de Braga?"- perguntou...

Hoje amanheceu assim...

agosto 19, 2008

O olimpo português

O mundo português, a expensas de tanto remoer em noitadas mal dormidas, nuns tais de jogos olímpicos, apesar de durante quatro anos se estar a cagar para o desporto (sem futebol) e, sem perceber patavina da maioria dos ditos, deixa-se ir, morno como um leitinho, em demandas alucinatórias. Os jornais e a imundície simplória ajudam à festa. Sucede que nada disto remonta a ontem. A miséria da conversa tasqueira agarra-se a qualquer tronquinho. Ainda agora escutei um especialista de tasca afirmar que não tinha conseguido dormir porque tinha visto um filme de terror, pasme-se, “Espanhol”. “Gosto mais”, acrescentou o néscio, de “acção e comédia, mas com alguma história”. Um outro, mais refinado, observou a superioridade da “comédia de American Pie” e a “medalha da Vanessa”. Com torta, ou sobretudo por ela, a vidinha esvai-se em segundos enjaulados na sueca encartada do dia a dia. O chefe do comité, entretanto, demitiu-se. Sob custódia, os nossos valentes adormecem-nos as vacances num casco de “Amontillado”(se não leram Edgar Poe, dane-se) . É emparedá-los.

agosto 18, 2008

Perdidos

Sem pistas e sem rumo o jantar demandou, por fim, um melão a suspirar os “nossos melões”. Puro desvario. Sem mais, o bacalhau optimizado (passe o acordo ortográfico) ressurgiu ainda como o âmago do repasto. O verão não é forte. Sonho com a padaria do costume e o invólucro nefasto sem deuses que o valham. Entretanto, a dona Custódia não foi ao Pontal. Era longe. O Sr. Eng. voltou, animado, com as hostes e os sacos de propaganda a estrumar o quintal. Das esquerdas, mais à frente, depois da festivalada, ainda a meio gás, ruminasse (diz-se) três ou quatro investidas ao capital de nome próprio.
Acossado, e com o Alfredo a congeminar outros paradeiros, escolho um vinho impróprio para consumo. Mais, mais tarde, uma cerveja despida de intenções. E, depois, o domínio dos Deuses!

agosto 16, 2008

Pato enlatado

Não é por causa de medalhas mas do desplante destes presumidos atletas (supostamente) de alta competição. Agora até não funcionam porque de manhã, parece, “só estou bem na caminha” (palavras do veraneante em Pequim, Marcos Fortes). É trazer esta canzoada toda das férias Chinesas. 
Por falar em Chinocas, aquilo tresanda a fancaria, desde a cerimónia de abertura, às roupagens televisivas, passando pelas fuças inóspitas da soldadesca e da suposta abertura ao exterior, não esquecendo os 700 patos (à Pequim) todos os dias consumidos na aldeia olímpica. Interessante.
Uma gigantesca loja dos 150 e um logro do tamanho dos patos: nós! 

Para acabar de vez com o verão - Death In June: death of the West

agosto 12, 2008

Um PS (não confundir com partido socialista – existe tal?):

“Não tenho ouvido Death In June”, dizia-me Alfredo à saída da padaria, com a Dona Custódia a assinalar que não ia de férias por volúpia emigrante. “Nem eu”, disse-lhe(s). 
Mas em compensação, acrescento, como muitos croissants do Minipreço, chouriço das beiras e algum queijo. De peras maduras e farinhentas passo. Acresce muito polvo, muito peixe e bananas da Madeira. Sinto-me pendurado numa corda de material incerto a puxar para o duvidoso. Tudo regado com algum vinho e outros placebos alcoólicos. Milhões de dólares não chegam para pagar esta inoperância inalada a cada segundo. Dos ecrãs, bem se vê, morre-se. Aqui, as películas juntam-se na madrugada infame de cada palavra. Vi-o também (julgo) numa série da TV. 
Todas as impossibilidades da vida enroscadas num part-time! 

A música a esmiuçar a noite

Não sei como, recordo os Go-Betweens e ouço-os num soslaio emocionado entre membranas de fumo a pesar na brancura da sala. Sem desejar mais, digo a Alfredo (alguém mais terá escutado?) que gostaria de ter tudo do Jeff Buckley, Neil Young e do Nick Drake. Bebo mais uma cerveja enquanto não recordo outros. 

agosto 11, 2008

Bulgakov nas mãos de uma donzela

Hoje, para falar verdade, senti o pecado da inveja. Observem: à minha frente, escarrapachada encontrava-se uma belíssima donzela que lia (lia, pasme-se - já não é pouco) “Margarita e o Mestre”, grandiosa obra de Bulgakov. Eu que, como Almada, já senti o peso da impossibilidade de tudo ler, eu, nesse preciso momento, morri mais um bocadinho, porque pretendo reler a dita. Continuo a epopeia de “ Os irmãos Karamázov” (já no II volume), entrecortada com Tolstoi, alguma poesia e tentações filosófico/históricas. Acabo o dia sem ir à padaria. Num mercadito lá encontro o pão sem o nosso de cada dia. Já agora, releio os panfletos dos medicamentos, entre mortalhas de revistas de tempo ambíguo. A casa de banho rumina prazeres incertos de todos os dias. Mais a mais, as cãs asseguram a volúpia das horas.

agosto 10, 2008

Com dois dias de atraso mas com muitas leituras às costas

Ruy Belo (1933-1978)

Por motivos nada alheios ao escriba, entre viagens curtas de rapina, apenas agora relembro o esquecidíssimo poeta Ruy Belo a um Portugal “que verdadeiramente não existe”. Ruy Belo morreu a 8 de Agosto de 1978 (30 anos). Parece que a partir de agora (embora já com várias reedições das suas obras) os meliantes do regime finalmente lhe deitaram a unha. Lá está a impagável Inês Pedrosa e adivinho outros. Nada contra se lerem os poemas. 

MORTE AO MEIO-DIA

No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol

No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente

E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol

Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe,
atenta a gravidade do momento

O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz
pois a areia cresceu e a gente em vão requer
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia

A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer

in “Boca Bilingue” (1966)

agosto 07, 2008

Livros

Além das reflexões sobre as nomeações e as modificações no serviço que podiam resultar daquela morte, o próprio facto da morte dum amigo provocou, como sempre, em todos quantos souberam da ocorrência, um sentimento de alegria: não fui eu, foi ele quem morreu.

“A morte de Ivan Ilitch” de Lev Tolstoi
Edição: Diário de Notícias/Quasi
Tradução: Adolfo Casais Monteiro

Na praia ou no campo. Em casa, na rua, ou simplesmente no autocarro. Um mês inteiro de borlas em livros com o DN. Excelentes obras e boas traduções. Escolha o freguês. 

agosto 06, 2008

Das noites

"É com esta garra que se desenha o Morto", terá dito.
O outro recuou. Até hoje.

agosto 04, 2008

Diz-se...

Ela fazia covinhas quando sorria. Ele gostava. À parte disso, diz-se, tinham todos os sonhos do mundo…

agosto 02, 2008

O regabofe eterno

Com o país a banhos e a padaria a meio gás, eu e Alfredo vagueamos resolutos sem destino ou rota. Na verdade praticamente não saímos de casa. Da colina, a casinha desprende-se sem freio e, por vezes, dizem-nos, por vezes, deixa mesmo de ser vista. É desse ponto, num canteirinho com vista para uma parede branca que vos escrevo. À minha esquerda, dois pássaros resistem numa intifada inútil contra o betão. Coisas importantíssimas aqui assomam trazidas, diz quem o sabe, pelo vento. Importantíssimas como a "plataforma de reflexão estratégica" do ex. eterno presidente da JSD e ex. candidato a presidência dos seniores: "construir ideias", elucida-nos Passos Coelho. 
Parece também que o Moutinho quer sair do grandíssimo Sporting, alegando (a palavra não é minha), motivos pessoais. Vá lá não são psicológicos. Na padaria o Adolfo refila que o deviam por a apanha bolas durante o resto do contrato. Alfredo, terá acrescentado, sem mérito, diga-se, que o cagãozinho se não fosse o clube andava a vender bolinhas nas praias do Algarve. Mas isto já se passou há uns 2 ou 3 dias. 
Acresce, segundo fontes próximas, que andam aí uns tipos a roubar carros e que um tal de “Magalhães” terá voltado à pátria. Mais, só a pancadaria e bebedisse entre rissóis e panadinhos, que de Rio Tinto terá alastrado a toda a nação lusa.
Raciocínio teve o sr. Presidente da República, oh se teve, quando afirmou enlevado numa reunião do Star Tracking (com uma colecção de talentos(?) a assistir) que “ Os portugueses não devem desistir e devem acreditar nas suas capacidades”. Já estamos mais descansados!