dezembro 21, 2009

Entretanto soou um telefone...

Foi assim uma conjugação entre uma livraria e uma caminhada (pelo caminho mais longo que me ocorreu) para facilitar a digestão tardia, aproveitando para ver se encontrava coentros, e uma chuvada repentina e infinda, que me levaram a procurar abrigo numa sacada de um prédio novo. Ali fiquei. Apeteceu-me bruscamente ler o livro que trazia na mala. Nos ouvidos: chuva e Galaxie 500. Um homem passeava à chuva um cão minúsculo aproveitando os restos de areia da construção. Finalmente podia ler: “Chovia.«Quase me admira», pensou o homem ali postado, «que tenha comigo um chapéu-de-chuva»“, lia-se. Olhei o meu guarda-chuva com duas ou três varetas partidas e percebi logo que me acolhia num desses momentos únicos que muitas vezes deixamos passar. Olhei mais uma vez para a capa de “O Ajudante” de Walser e decidi-me por seguir viagem. Parei logo a seguir ainda com os Galaxie, desta vez ao lado de um bar. Dois ou três pensamentos ruins assolaram esse momento. E um impulso indescritível carregou-me para casa.

dezembro 16, 2009

As ruínas não circulares

Estava a tentar ver televisão quando me sobreveio dos confins da memória o meu antigo recreio. Na minha primeira escola primária, em verdade, uma escola proveniente do aproveitamento de uma antiga casa do século XIX, em pleno centro da cidade, e em que orgulhosamente participei no seu encerramento na década de 1970, no final da segunda classe, deparei com meu primeiro recreio. Não seria propriamente um pátio, no sentido a que este normalmente está associado, mas um campo de terra rectangular, para onde nos levavam umas escadarias de pedra que desciam de ambos os lados das traseiras do edifício. Um gigantesco rectângulo parecia-me à época, já infestado nas margens de arbustos e ervas daninhas, com um centro pelado pelas correrias e jogatinas de futebol e, à margem, junto à casa, igualmente desgastado pelas meninas, nos seus jogos. Nessas incursões, vi jorrar sangue a primeira vez a sério, e não posso esquecer as tentativas frustradas de fuga à reguada conectadas por um medo miudinho que (ainda) ultrapassava o respeito. Para além disso, podia-se sonhar à tripa forra, não apenas na escola e no recreio, mas no caminho de casa, cheio de curvas que o adiassem, gelados de coca-cola e batoques e, depois, finalmente o rio. Encontrei igualmente um recreio, ou melhor um pátio, no romance de Vila-Matas, “Doutor Pasavento”, uma “pérola condensada do tédio escolar”, diz-nos Vila Matas, adoptando Robert Walser em Jacob von Gunten, quanto este escreve que «O pátio ficou abandonado como uma eternidade rectangular». De um lado a recreação e do outro o tédio, a terra versus o cinzentismo? Não me parece tão simples. De qualquer forma, a esta distância, e segundo o arquétipo actual, toda a gente iria querer um pátio, limpinho; todavia, creio ainda assim que, a minha antiga escola primária, e não apenas o edifício, ficaram abandonados na sua eternidade rectangular.

dezembro 11, 2009

Momentos Ferrero Rocher: apetece-me algo

Soube apenas hoje que o sr. Vara foi à televisão para ser entrevistado pela sra. Judite. Viva o luxo. O senhor em causa, que se saiba, não tem (de momento) nenhum cargo público ou político, seja ele qual for, achando-se pendente a sua qualidade de administrador de BCP, antes que as necessidades especiais o potenciem para algo. Então? Uma conferência em horário nobre, uma cadeira disponível na televisão pública, a propósito de quê? E os outros arguidos ou interessados neste e noutros processos? Silêncio. 
A propósito, o ex. ministro da agricultura, Jaime Silva, depois de um trabalho memorável à frente e atrás do ministério (e como aluno bem comportado), já foi absorvido pela cooperativa europeia das necessidades especiais: chefe de gabinete do comissário europeu para a Agricultura e Desenvolvimento Rural. Número dois. Pelo mesmo caminho vai o inexcedível sr. Constâncio do banco de Portugal, exímio regulador de bacoradas e taxices (e tachices) mais ou menos incontroláveis, em trânsito para: putativo vice-presidente do BCE, candidatura apresentada pelo sr Eng. Entretanto, escrevem-se livros: jornalistas; ex polícias; gajos da bola; actrizes e actoras; seguranças; amigos do amigo; gajos com experiências… 

Onde será que já vimos (e vivemos) este filme?

A crise económica europeia (…) repercutiu-se em Portugal como possivelmente nenhuma até então, sendo agravada pelo ambiente de pessimismo e de profunda descrença nos governantes e nos modos de governar que permeabilizava as classes dirigentes. A depreciação da moeda, a falência de alguns bancos, o aumento da dívida pública, a contracção nos investimentos, tudo isto acentuado pela gravidade da boataria circulante, a agitação das ruas e a momentânea instabilidade governativa, implicaram um longo ciclo depressivo, que persistiu durante quase toda a década de… 1890.
A.H. Oliveira Marques, “Breve História de Portugal”

Agora mesmo na rádio



ainda por cima está sol e assim um gajo não envelhece...

dezembro 10, 2009

Abancado como um anjo no barbeiro

Ainda hoje, enquanto me refugiava da revoada de pseudo informação que nos impingem pelos ecrãs (e não só) disponíveis por todos os lados; ainda hoje, à chuva, com os carros a bater chapas de água para cima de mim e, pouco depois, num centro comercial que me arrepiava a espinha, pese todo o calor artificial; sim, ainda há bocado, pensando num texto do Sebald e num outro do Vila Matas, e seguidamente, quando fazia que lia um jornal, sentado grotescamente num café com o tamanho de um ringue de futsal, e chovia (ainda) lá fora, simplesmente apeteceu-me…desaparecer.

(adenda: Este texto, curiosamente, desapareceu por momentos num desfalecer momentâneo do velhinho computador. Entretanto, saído do seu coma, presumivelmente por pouco tempo, ainda assiste mais um destes inúteis momentos, talvez o último, e exulta, com barulhinhos tremendos, ao lado dos seus irmãos mais novos, máquinas portáteis, em actualização. Gosto deste velhinho computador.)

dezembro 06, 2009

dezembro 04, 2009

Pere Ubu se quiserem



para escutar com o volume alto...e já agora ver a merda do clip.........................................

dezembro 03, 2009

Da ignorância filosófica inefável

Sendo certo que, dá a ideia que o Sporting não está na sua casa doméstica.

Rui Santos, a comentar, mesmo agora, o Sporting-Heerenveen na SIC. Sendo que, nomeadamente, no sentido em que…

dezembro 01, 2009

Papas de sarrabulho e rojões

Ontem, as senhoras primeiras damas passearam-se por Sintra. Os jornalistas fizeram perguntinhas. Hoje, daqui a bocadinho, acaba a cimeira ibero-americana. A questão fulcral: será que a Shakira canta?, entretém os últimos entusiastas. Mais logo, ali ao lado, o tratado de Lisboa é, digamos, inaugurado, depois de devidamente imposto pela democracia. O sr. Zapateiro vai estar por lá. Sussurram-me a questão fulcral: será que o sr. Eng. irá evocar o dia de hoje a Zapateiro?... Não sabemos.
Entrementes, tudo isto se passa por Lisboa e arredores. A norte, para que se saiba, é dia de papas. 

novembro 30, 2009

Ir para fora cá dentro

Um gajo não se ausenta. Bem tenta não se ausentar, porque, para conhecer mundo, torna-se evidente que é necessário conhecer o quintal. Pelo menos o quintal. Bem, um tipo não se ausenta e mesmo assim não sabe de coisas importantíssimas, como robalos (e equipamentos(?)) oferecidos a amigos, e isto lá no interior, fica-se afinal sem saber se os ditos eram de mar ou de aviário, coisas que poderiam contribuir para uma análise sublimada do fim de semana, que com certeza ainda se prolonga, para alguns, claro, enquanto a gripe generosamente não se imiscui nos desígnios insuflados da nação, ali na esquina da XIX Cimeira Ibero-Americana. Parece que sr. Presidente da República se instalou com bagagens no hotel da tal cimeira, e levou, cito de cor, o mordomo, assessores, seguranças, a aia da presidenta, a casa civil em peso, alguns animais, e umas sandes na marmita para poupar no serviço de quartos. Note-se que a cimeira de Lisboa, afinal é em Cascais, razão mais que suficiente para o sr. Presidente se transferir de Belém e analisar logo a abrir a “crise e ambiente”, sendo que - como dizem os jornalistas -, sendo que, é certo e sabido que as conversas dos bastidores andam à volta do Di Maria, um tipo que, para brincar na horta com uma bola e de olhos nas couves, não há melhor.

novembro 27, 2009

Enquanto na blogosfera se discutem amiúde política e anonimato

Eu por acaso ia a passar quando o sr. Rodrigues disse aquilo. Aquilo para aqui não interessa. De qualquer maneira decidi-me por entrar na padaria, que não sendo a outra, é sua irmã aproximada na roupagem e conteúdo, não esquecendo o jornal Record que vela com assiduidade o balcão da dita. Quanto à falta da Sãozinha, crepita por lá uma morena anafada, mas respeitadora dos pães de água e do pãozinho de saúde, que não destoa, mas faltam as senhoras empoleiradas na varanda, as manquinhas a obstruir a passage e as mesas repletas de galões com a máquina dos cigarros em cima, para dar cor ao local. Ainda não tive vagar de espreitar os martinis (nas palavras do Careca) grossos, mas lá escutei a valsa programática do fim-de-semana: sábado dá-se o caso de uma prova de vinhos e passeata entre a tasca e a porta da tasca para fumar. Depois, temos noite de gala com o Sporting-Benfica, sem o “cheirinho de outros tempos” segundo o sr.Matias que trabalha nas finanças, e que por acaso é sportinguista. Domingo, caça ao tordo e malha no salão das máquinas, para ganhar vontade para um almoço lanche ajantarado sem final à vista. Queria comprar umas senhas, mas notei a ausência de sorteios para se ganhar um presunto ou um bacalhau à casa. Aguarda-se, pelo menos, um cabaz de Natal…

novembro 24, 2009

Ler outros blogues

Uma posta do Vidal no GEORDEN, que sempre seguimos, desta feita sobre uma conversa a que também assisti no passado domingo no Câmara Clara, programa conduzido pela afectada (mas apetitosa) Paula Moura Pinheiro, sobre a temática Território e Paisagem; ou apenas bricolage? Aqui.

Um novo blogue, ao que tudo indica, ainda em período de instalação, com o sugestivo nome de Diário de Um Cão, cujo canino (presume-se que seja apenas um) residente tem uma pena de se lhe tirar o chapéu. Façam favor de entrar.

novembro 20, 2009

Fiquei de fora

Depois de andar dias e dias a pensar na vida, que é como quem diz na morte da bezerra, ainda assim não vislumbrei qualquer nuance gratuita do tipo “vi a luz” ou “não sei bem o que foi, foi uma força”, elementos indispensáveis ao desenvolvimento de novos projectos; dinâmicas, por assim dizer, internas, mas potenciadas por algo exterior (a elas). Aconteceu-me uma vez, estava eu deitado na cama quando me deu um vaipe, um feixe de luz que cintilava junto à carpete (uma situação vivida também por aqueles gajos que avistam objectos não identificados, potencialmente extraterrestres, mas não o conseguem depois provar - é mais ou menos como a cena do processo face oculta), e cuja trombada (para utilizar uma expressão minhota de cariz não sexual), me levou dias mais tarde a matricular-me num curso universitário (mais um), geneticamente adaptado ao desemprego e áreas adjacentes. Muito depois, ia eu a pensar nisso, quero dizer nessa treta de ver luzes e elas sempre anunciarem algo de positivo, ou espiritualmente dinâmico, quando, ao pontapear uma pedra junto à casa do Marinho, uma luz arremessou-se como um lençol pequenino insinuando logo ali um germe de ideia que logo desaguaria num projecto. Coincidência. Ainda por cima tinha descoberto no mesmo dia que um tipo qualquer estava a ler o mesmo livro que eu, livro esse que falava sobre estranhas coincidências...

novembro 17, 2009

Nem sei que diga

primeira apresentação mundial de um treinador pela internet


primeira apresentação mundial dos...

novembro 16, 2009

Um poema de um poeta às vezes lembrado

"Onde é que te nasceu" – dizia-me ela às vezes – 
"O horror calado e triste às coisas sepulcrais? 
"Porque é que não possuis a verve dos Franceses 
"E aspiras em silêncio os frascos dos meus sais? 

"Porque é que tens no olhar, moroso e persistente, 
"As sombras dum jazigo e as fundas abstracções, 
"E abrigas tanto fel no peito, que não sente 
"O abalo feminil das minhas expansões? 

"Há quem te julgue um velho. O teu sorriso é falso; 
"Mas quando tentas rir parece então, meu bem, 
"Que estão edificando um negro cadafalso 
"E ou vai alguém morrer ou vão matar alguém! 

"Eu vim – não sabes tu? – para gozar em Maio, 
"No campo, a quieteação banhada de prazer! 
"Não vês, ó descarado, as vestes com que saio, 
"E os júbilos que Abril acaba de trazer? 

"Não vês, como a campina é toda embalsamada 
"E como nos alegra em cada nova flor? 
"Então porque é que tens na fronte consternada 
"Um não sei quê tocante e de enternecedor? 

E eu só lhe respondia: - "Escuta-me. Conforme 
"Tu vibras os cristais da boca musical, 
"Vai-nos minando o tempo, o tempo - o cancro enorme 
"Que te há-de corromper o corpo de vestal. 

"E eu calmamente sei, na dor que me amortalha, 
"Que a tua cabecinha ornada à Rabagas, 
"A pouco e pouco há-de ir tornando-se grisalha 
"E em breve ao quente sol e ao gás alvejará! 

"E eu que daria um rei por cada teu suspiro, 
"Eu que amo a mocidade e as modas fúteis vãs, 
"Eu morro de pesar, talvez, porque prefiro 
"O teu cabelo escuro às veneráveis cãs!" 

"Ironias do desgosto", Cesário Verde, Lisboa, 1874.

Bom dia



ah, pois...

novembro 15, 2009

É definitivo: passou a chamar-se sportingue

Depois de todo um processo cuja transparência nos remete para uma placa de cimento armado, omisso de profissionalismo, ainda nos brindam com o sr. Carvalhal de Braga, provavelmente para dar com a placa de cimento e respectiva regueifa. O sr. presidente do sportingue parece fadado para a burrice. Pura ilusão. É um gajo imposto pela banca para assegurar as dívidas do clube, com o olho nos terrenos da academia em Alcochete que com o novo aeroporto vão valer milhões. Não é por isso que academia rumou à SAD, ou vai rumar? 

novembro 14, 2009

Sportingueee

Enquanto degustava um filete de solha panado em farinha e ovo, acompanhado galantemente de arroz branco e salada de alface e de um tinto reserva de porte grosseiro a dar com o preço recomendado, assisti placidamente a mais um momento musical da autoria da selecção portuguesa sob a batuta do inenarrável prof. Queirós. Nada a obstar, recapitulando uma exibição de fino teor de lugares comuns, atravessando solenemente este fim-de-semana de horrores futeboleiros com passagens artísticas que começaram dias atrás na chafurda sportinguista a ruminar um profissionalismo de casa de putas semi-ambulante. O denominado projecto roquette, ele mesmo uma ideia ambulante e dissimulada sem qualquer afecto digno (sequer) de uma revista cor-de-rosa, trouxe-nos à fronteira do abismo com direito a montra de vaidades e projecção de egos para a eira. O bom ar dos intervenientes não apenas ressalva a sua condição de gente de bem como assegura a multiplicação da prole por muitos anos, e seguramente (como bons profissionais), augura algo de positivo num quadro de trabalho problemático e condicionado por factores, entre outros, exteriores e alheios…e exteriores e alheios.
 Como diria (ainda hoje) um jornalista da TVI, “dá-me ideias”; a mim dá-me ideias que está tudo fodido no Sportingue. Spooortingueee! 

novembro 13, 2009

É outra vez aquela coisa das “lavas do sobreconsciente”

Sistematicamente, sou alvo de pequenas, eu diria ínfimas, alucinações, as quais me permitem, apesar de tudo, ver uma quantidade de coisas a olho nu e por aí fora com rasgos de realidade (re)forçada. O meu gato acreditaria. Por exemplo, neste preciso momento, estando eu a tentar recordar uma data de coisas supostamente inesquecíveis, isto é, uma data de ideias e projectos supostamente infalíveis e por aí fora, dá-se o caso (incompreensível) de não recordar nadinha da coisa alguma e andar aqui a enredar e voltar a dar na esperança de ninguém perceber. Deu-se o mesmo quando há uns anos atrás depois de uma noite de copos, vinha eu para casa a escrever mentalmente uma data de poemas fabulosos, quando, ao subir umas escadas provisórias de madeira junto ao murinho da escola primária, tombei com todas as forças disponíveis nesse momento, abrindo um lanho jeitoso na canela e inaugurando uma colecção (futura) de escoriações de pele em forma de tampinhas. Vai daí, ainda pensei que foram os melhores poemas que nunca escrevi. No dia seguinte confirmei-o, não me recordando de nada, mas atestando com um sorriso o sangue nos lençois e uma tampinha de carne levantada…eh…eh…na canela.

novembro 11, 2009

Desencontros

Num desses intermináveis passeios que me costumam aconchegar os dias, dei por mim num local já largamente fora da cidade onde, para todos os efeitos, eu era um incógnito num sítio desconhecido. “Que boa oportunidade para desaparecer”, pensei então, recordando o escritor Andrés Pasavento que à chegada a Sevilha aproveita que um homem de fato às ricas apanhe o seu táxi para desaparecer, supostamente sem deixar rasto, convertendo-se no Doutor Pasavento, descobrindo depois que ninguém deu pela sua falta. Nesse romance, Doutor Pasavento, Enrique Vila-Matas recorda Robert Walser, esse grande escritor, desaparecido toda a vida, e que depois de entrar no manicómio de Herisau na Suiça, nunca mais escreveu, preferindo dar uns intermináveis passeios solitários, até que a morte chegou num dia de natal precisamente durante um deles. Pensei na encruzilhada de caminhos que por vezes se cruzam sem, provavelmente, nós sequer notarmos. Curiosamente, quando voltava, veio-me à cabeça, não sei bem porquê que, se uns desaparecem outros simplesmente não aparecem. Um exemplo dos que não aparecem é visível na ausência (neste caso penso que notada) de Obama durante as comemorações da queda do (tal) muro da vergonha em Berlim. Talvez por vergonha. Um desses muros (da vergonha), embora travestido de (supostas) boas intenções cresce a olhos vistos na fronteira dos E.U.A com o México. Outros erguem-se como cogumelos sempre imbuídos de um espírito altruísta e não segregador: na fronteira de Israel com a Palestina; no Rio de Janeiro; nos gigantescos condomínios fechados adornados de arame farpado em São Paulo; entre as duas Coreias; na ilha de Chipre e aqui ao lado em Ceuta, entre outros. Estuguei o passo com receio que não dessem pela minha curta ausência. Todavia, desaparecer neste mundo em que cada muro tem um significado distinto pareceu-me então uma excelente ideia. 

novembro 06, 2009

Qual é a coisa qual é ela: arrogância num leito de imbecilidade?

Resposta: Margarida Moreira, a senhorita algoz da DREN.
Finalmente foi-se.É  seguro que arranjará (se é que já não arranjou) um nenúfar propício às suas qualidades.

Estou a ficar farto: é o Público é o Sporting é o estado da tijoleira da cozinha

Ivone Rocha (advogada); Pedro Rosa Ferro (economista); José Assis (advogado). Eis o Espaço Público do jornal Público. A opinião, pois claro. Acresce um editorial sem erros ortográficos, correctíssimo, do ponto de vista da rectidão e do correcto, devidamente não assinado e lavrado por todos os silêncios que o acompanham. É claro que temos o resto do jornal, cada vez mais apagado e menos buscão. Temos a avançados ( e em idade avançada) o Vasco Pulido Valente, o (agora sóbrio) Esteves Cardoso, e (por enquanto) o Bartoon do Luís Afonso. Hoje aqui a carcaça inchou um euro e cinquenta pelo pasquim. Valha-nos alguma (cada vez mais rara) literatura no Ipsilon. Dava um conto para a liga de defesa dos leitores para que voltasse o Mil Folhas. O suplemento e o bolo. 

novembro 05, 2009

A caminho

As ruínas remetem sempre para algo que não desapareceu de todo. Neste sentido, eu era uma ruína. Ansiava pelo desaparecimento, mas sabia que só podia acabar por desaparecer a meias, convertido unicamente numa ruína. Olhei de novo para a a nuvem de pó. Disse para comigo que não entendemos nada das ruínas até ao dia em que nós mesmos nos convertemos nelas. Quanto ao comboio de alta velocidade, parecia uma metáfora de Espanha, porque avançava com força, isso era inegável, mas fazia-o como se o estivessem a empurrar para a frente por causa da sua recusa precisamente em avançar.

“Doutor Pasavento”, Enrique Vila-Matas, Teorema (pp. 59)

novembro 04, 2009

E eu que pensava que ele já tinha morrido

Morreu o Claude Lévi-Strauss,  o tal que a tal pensava que era o gajo das calças. Tinha 100 anos, e esta terra já não o merecia. É desta, Tristes Trópicos. É desta.

Tendências


Não se lobriga (a correr para o dicionário) logo. Não. Primeiro, em pleno preparo para a eleição legislativa, estava eu sentado a comer uma sandes de atum com tomate, alface e maionese, quando fui assaltado pela perplexidade (vetusta) causada por um rol de trafulhices notável, crescendo estas em solo arável e devidamente adubadas: olha, o caso do término de um jornal apresentado por uma senhora de boca grande e cara esticada, dada a depressões, por exemplo. Logo. Logo aí, entre cascas de maçã amarela deveria ter reconhecido o sorriso do cão. Segundo, ao constatar esse enfardamento de notáveis cabeças de alho chocho, acopladas a um focinho não menos idiota que o do sr. Luís aqui do bairro, deveria ter desconfiado e corrigido a maleita com um emplastro de Whisky. Desaparecer: estilhaçar-me na literatura, a conselho (e bem) do sr. Enrique Vila-Matas (arranjo sempre maneira de o por em qualquer lado). Mas não. Fiquei. Cravado de rebuçados e dúvidas, mas fiquei [dediquei-me, até à devassa, às características fisiológicas (e patológicas) mais apropriadas para a política em Portugal continental]. Em sétimo (o quarto, quinto e sextos são demasiado extensos), o meu jornal Público, corrido de lá para fora o sr. director Fernandes (um gajo que eu particularmente não apreciava – mas…nesta altura?) surgem agora uns assépticos editoriais sem assinatura, supostamente da responsabilidade de todos (e de ninguém). Cheira a esturro. Não sei se é da vizinha de cima se o que é, mas “tem tendência a melhorar” segundo o sr. Afonso do quiosque, “tem tendência a melhorar”. 


Adenda: (Case studies) sucatas case; freeport case; sobreiros case

novembro 01, 2009

António Sérgio (1950-2009)

Morreu o António Sérgio. Soube mesmo agora. Parece que o estou a ouvir. O gajo do Som da Frente que eu escutava religiosamente pela madrugada fora da 1h às 3 da manhã. O meu lastro musical. Foda-se. Foi-se o gajo da Hora do Lobo. O Lobo. Parece que estou a ouvir a sua voz. Vai-se a gente boa...

outubro 30, 2009

As minhas cassetes 59: curtam-me o cabelo destes gajos



e curtam estes gajos a dançar no meio das gajas…e curtam a música e as gajas saídas de um sarcófago dos anos oitenta. Curtam o gajo de fato…curtam…o gajo a seu lado num tapete rolante...

Como os sonhos e os espelhos

Devo a uma confluência mefistofélica ocorrida entre um fogão e a parte eléctrica de um edifício (no qual aparentemente habito), um conjunto de convulsões tenebrosas (do ponto de vista alusivo ao ambicionado marasmo que por aqui se pratica). Terá sido durante a execução de um estufado espantosamente composto e aromático, para não dizer mais, que, sofregamente, o destino murmurou a sua mão raquítica mas omnipresente. Pensei logo num espelho. E depois recordei um sonho nocturno da noite passada. Depois ainda, matutei (por deferência) no J.L Borges, tendo em conta a cópia (para não dizer plágio) do meu pensamento. Mas que porra. Que escrúpulos: ”tenho lá culpa de pensar em cenas já pensadas ou escritas pelo Borges…”. O pior veio depois. Uma desculpa esfarrapada por apreciar leões (olha o Sporting e a juba leo), mas sobretudo tigres e mais tigres. Como o Hobbes. Como este. E como este.  

outubro 27, 2009

Dias de árvore

Era uma estranha forma de melancolia. Era. Subir às árvores no recreio do colégio e ficar a guardar o forte. E olhar. Simplesmente olhar. Uma vez deixei o Luís subir à minha árvore durante um recreio. Estava sol. O Luís estava esquisito. Perguntei-lhe qualquer coisa. Não sei bem se sobre o que ele tinha. Sei que ele respondeu que estava triste porque uma novela tinha acabado. Não sabia bem porquê. Era um vazio. Eu experimentei depois muitas vezes a mesma sensação ao terminar um livro. Talvez por isso (ao contrário do Marcelo Rebelo de Sousa), prolongo a leitura. E até releio. O que interessa é que nesses dias de árvore enxerguei pela primeira vez essa estranha forma de melancolia.  

outubro 26, 2009

dos dias a dias

Tu estás aqui

Estás aqui comigo à sombra do sol
escrevo e oiço certos ruídos domésticos
e a luz chega-me humildemente pela janela
e dói-me um braço e sei que sou o pior aspecto do que sou
Estás aqui comigo e sou sumamente quotidiano
e tudo o que faço ou sinto como que me veste de um pijama
que uso para ser também isto este bicho
de hábitos manias segredos defeitos quase todos desfeitos
quando depois lá fora na vida profissional ou social só sou um nome e sabem
o que sei o
que faço ou então sou eu que julgo que o sabem
e sou amável selecciono cuidadosamente os gestos e escolho as palavras
e sei que afinal posso ser isso talvez porque aqui sentado dentro de casa sou
outra coisa
esta coisa que escreve e tem uma nódoa na camisa e só tem de exterior
a manifestação desta dor neste braço que afecta tudo o que faço
bem entendido o que faço com este braço
Estás aqui comigo e à volta são as paredes
e posso passar de sala para sala a pensar noutra coisa
e dizer aqui é a sala de estar aqui é o quarto aqui é a casa de banho
e no fundo escolher cada uma das divisões segundo o que tenho a fazer
Estás aqui comigo e sei que só sou este corpo castigado
passado nas pernas de sala em sala. Sou só estas salas estas paredes
esta profunda vergonha de o ser e não ser apenas a outra coisa
essa coisa que sou na estrada onde não estou à sombra do sol
Estás aqui e sinto-me absolutamente indefeso
diante dos dias. Que ninguém conheça este meu nome
este meu verdadeiro nome depois talvez encoberto noutro
nome embora no mesmo nome este nome
de terra de dor de paredes este nome doméstico
Afinal fui isto nada mais do que isto
as outras coisas que fiz fi-Ias para não ser isto ou dissimular isto
a que somente não chamo merda porque ao nascer me deram outro nome
que não merda
e em princípio o nome de cada coisa serve para distinguir uma coisa das
outras coisas
Estás aqui comigo e tenho pena acredita de ser só isto
pena até mesmo de dizer que sou só isto como se fosse também outra coisa
uma coisa para além disto que não isto
Estás aqui comigo deixa-te estar aqui comigo
é das tuas mãos que saem alguns destes ruídos domésticos
mas até nos teus gestos domésticos tu és mais que os teus gestos domésticos
tu és em cada gesto todos os teus gestos
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como
a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas
perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
perdoa eu revelar que há muito pagas tão alto preço por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui

"Tu estás aqui", Ruy Belo, in "Toda a Terra"

outubro 23, 2009

E se perdêssemos tempo com outras coisas?


Normalmente demoro 30 anos a comentar assuntos e temáticas prementes e/ou supostamente pertinentes, a seu tempo actuais. Cansa-me a insana vaidade dos claustros que polvilham os ecrãs, esses palcos irreversivelmente postiços. Aprecio coisas humanas. Em cada dia que passa, e apesar de tudo, prefiro experimentar nojo (sinceramente) sentido pela amálgama de nadas que nos soletra a cada instante e repetidamente um mundo vertiginosamente devasso, decrépito e claustrofóbico, ainda assim demasiado humano, onde manifestamente e com prazer me incluo, a esse outro, asséptico, branquinho, ameno e irremediavelmente velhaco, alicerçado em supostas preocupações com o universo, e a putativa presunção de saber o que é melhor para todos. Incluo neste último, esse mundinho de azulejos de casa de banho e energias (pindericamente) renováveis (com cigarrinhos à mistura no avião e pedidos de desculpa) do sr. engenheiro que governa este país; e um outro mundinho, aquele do somos todos pares desde que na realidade todos estejam em concordância com aquilo que eu digo, essa eterna vanguarda do melhor para todos. Saramago deveria saber que a bíblia não é um livro de história, mas refastela-se na poltrona do seu lado do mundo, o melhor, para ele claro. O problema é quando este (seu suposto mundo) se torna o tal melhor para todos. O escritor (que aprecio e muito no Memorial) chegou àquele ponto da vida em que nos pode mandar a todos (e bem) para o caralho. Ou enlouquecer se lhe aprouver. O resto é conversa afiada que ajuda, e muito, a esquecer rapidamente (por exemplo) as palavras daquele gajo com nome de aviador da 1ª guerra mundial, o delegado sindical dos patrões, o sr. Van Zeller, que afirmou não ser possível cumprir o acordado em concertação social, isto é, conceder uns majestosos 25€ de acréscimo ao salário mínimo de 450€, a esses opulentos dos operários. Os tais que o sr. Saramago defende das impudências da cruz.  

outubro 21, 2009

Gosto bestialmente deste gajo

Sabem como é que o Holden Caulfield, isto é, o Salinger, bem, eu prefiro Holden, acaba “À Espera no Centeio”, sabem? Assim:
“Nunca contem nada a ninguém. Se contam, acabam por ter saudades de toda a gente”
Gosto bestialmente deste gajo, o Holden, quer dizer, o Salinger. Gosto mesmo do Holden.

outubro 19, 2009

“E o que eu tenho de fazer é ficar à espera no centeio e apanhar todos os que desatarem a correr para o abismo”


Confesso que ando às voltas com aquela coisa da literatura contemporânea. Essa merda não quer dizer nadinha, claro. Inutilmente, o (meu) anacronismo clássico resulta agora numa indisfarçável queima de pestanas, pálpebras e até de sobrancelhas a dar a dar para um gosto mais ou menos duvidoso. Para não dizer popular. Nas artes plásticas (ou pélvicas), baliza-se sempre a coisa sem grandes espasmos de nomenclatura até chegar à instalação, coisa vulgaríssima, mas ruinosa do ponto de vista do incrédulo visitante. Podem sempre ler o sr. Augusto França. Na literatura (e nem sequer estou a falar do burgo - a porca torce o rabo até desfalecer - anatomicamente falando). Um gajo mastiga o William Golding enquanto descasca uma banana, e facilmente se enriquece com as tais férias a ler o Ulisses do Joyce, plano insano que remonta ao (meu) modernismo de 1991/2 (e entretanto já lá - me - estão a segredar o sr. Bellow, e um tal de “Herzog”, e eu a pensar, sei lá bem porquê, num outro gajo (Inglês) que vivia no México Debaixo do Vulcão). “Lê isso, lê isso”, dizem-me na penumbra, e eu encaixo um Herzog, ai se encaixo, mas em alemão, só me dá para aí, numa televisão pequenina (Grundig - era uma Grundig), a passar o Aguirre o Conquistador, ui… e o Klaus Kinski, parece que o estou a ver, com uns olhos azuis de criar bicho, de macaco a tiracolo…no meio da água de um caraças de um rio…vê-se bem que é a merda de um rio na América latina… “Herzog o realizador?”, questiono. “Não idiota. O do livro do Below”. 
Mas afinal como se chega ao Salinger, um gajo com nome de pistoleiro fatela? Chega-se à boleia do Enrique Vila-Matas, esse parasita literário que eu considero mais do que o meu gato. Na verdade, o gato não é bem meu, mas não interessa para o caso. Se eu escrevesse, isto é, se eu alguma vez abandonasse os graffitis no meu fato de treino Converse (de cor cinzenta), gostaria de escrevinhar como o gajo. Muito mais, muito mais mesmo, do que rabiscar como o Lobo Antunes nos seus cadernos de receitas do hospital Júlio de Matos. O Salinger ermitão é um gajo difícil de (lá) chegar. É um gajo americano, mas com o caralho de uma alma meio mexicana, ou coisa pior. É um bicho sem mato que o valha. O gajo é mesmo bom. Ou era. Quando o encontrei, por um acaso, não estava em Nova Yorque. Estava em casa (numa das trezentas em que já vivi) a aturar o meu vizinho louco barrido do 2ºandar, espécime rançoso a dar para o coleccionador de garrafas de plástico que juntava religiosamente na sacada entre latas de atum vazias, e, diz-se, tratados de economia política anacrónicos, forjados na pastelaria editora da rua. Era cruel. Mas eu nem sequer tinha pena do gajo, afinal até lhe achava graça enfiado no seu sobretudo nojento, ou (no verão) naquele fatinho de fino corte, igualmente nojento. Mas lá que estava presente quando eu cheguei ao J.D. Salinger lá isso estava.

Adenda: frase título retirada da obra "À Espera no Centeio", J.D. Salinger, Difel, 2005,pp.187.

Ah! Tinha-me olvidado: O cristianinho está a milhas disto



O Maradona não pisca nada de nada de transições, sejam elas quais forem, mas, pelo menos (pelo menos), não rumina artificialidades de cepa duvidosa como o professor Queirós. À parte disso (à parte disso), não esconde a costela pornográfica, o que não é assim tão pouco. Abram-se os armários. É abrir os armários…

outubro 17, 2009

De volta


Só que em vez da pistola trago um machado (achei que a pistola ficaria melhor na fotografia).

outubro 09, 2009

Estava a pensar em literatura contemporânea mas não resisto ao registo boçal nem ao húmus

Lamenta-se a insuficiência de espaço (na capa) para aceder a todos os protagonistas que, de uma forma ou de outra, mas sempre com trabalho e responsabilidade, contribuíram para o estado de gangsterização (é assim mesmo que se escreve) em que se encontra o país chamado, e bem, Portugal. Leia-se o deprimido e visionário (que ninguém lê, nem lembra ao diabo), Raul Brandão. Leia-se:

Roubar já não se chama roubar. Este homem que comanda uma frota da Baía a Tunis, é um financeiro e um poeta [Atente-se, por ex, no Paulo Teixeira Pinto, ex Millennium]. Faz a fome e a fartura. Arruína um povo – e enriquece. Uma revolução, dois, três navios vão pelos ares…Mais negócio, melhor negócio. Este médico, este advogado, este honrado comerciante, exploram-te. Enriquecem. Desçamos na escala: ali à esquina levam-te a carteira com uma nota de dez mil réis. A isto se chama roubar.

Sacado do “Húmus” (1917) de Raul Brandão que por vezes, não raras, assoma a bocas de esgoto armadas em picheleiros da mudança.

As minhas cassetes 56



Bom dia

outubro 08, 2009

Olha ali na estante o prémio Nobel da literatura: Herta Müller

Por acaso temos por cá um exemplar da obra de Herta Müller. Trata-se de “A Terra das ameixas Verdes”, editado com a chancela Difel, conseguido algures num supermercado PLUS, ao quilo. Ainda ninguém o leu. Na hierarquia de leituras anda para aí perdido mas sem escoriações a assinalar. A sua compra terá resultado, dizem-nos, de alguma “visão”, ou quem sabe, femininamente, “intuição”. Em todo o caso, e mesmo não determinando as nossas leituras pelos prémios que recebem, e sabendo-nos anacrónicos, assinale-se inutilmente e em primeira-mão (estamos sempre em directo com Estocolmo), a nova Prémio Nobel da Literatura, Romena de nascimento , vivendo desde 1987 na Alemanha. A Terra das Ameixas Verdes começa assim:
“Emudecemos e tornamo-nos desagradáveis, disse Edgar, falamos e tornamo-nos ridículos”
Entretanto, vou ali tentar colocar um calço na máquina de lavar que abana por todos os lados…

Às vezes é apenas isto



Bom dia

setembro 29, 2009

Já começou



ainda o sangue não chegou ao rio e as bandeirinhas já se desfraldam ao vento que passa. Extravagâncias se anunciam. No café Portugal e na padaria, pelo menos, já se desanuviou o ambiente...

setembro 25, 2009

Enquanto o país estoira o Sporting não joga nada e é verão o ano todo…


o Alfredo decide dedicar-se à filosofia, na senda de Ignatius, o rapaz da "Conspiração de Estúpidos" que o senhor John Kennedy Toole escreveu antes de decidir fechar a porta. Mas não contem a ninguém...

setembro 22, 2009

Também me parece

À hora X, no café Portugal
À mesa Z, é sempre a mesma cena:
Uma toupeira ergue a mãozinha e acena…
Dois pica-paus querelam, muito entusiasmados:
Que a dita dura dura que não dura
A dita dita ditadura – dura desdita!
Um pássaro canta diz isto assim é pena
E um senhor avestruz engole ovos estrelados.

"Rua 1º de Dezembro", Mário Cesariny

setembro 21, 2009

As transições defensivas em campanha eleitoral


Com o desemprego a substituir-se ao diabo nos nossos pesadelos, uma engenhoca de escutas entretém o rebanho em vésperas de nada. Na padaria jura-se a bom jurar que a maquineta era um gravador potentíssimo parecido com aqueles onde se metiam as cassetes para jogar no velhinho ZX SPECTRUM. Ora o partido tende para o engenheiro ora para os sr. Presidente, um “um senhor”, outro “um senhor”. Esta aflição de encher o bandulho com retalhos da vida de um país servidos na sopa televisiva ainda vai no adro, e quando o andor chegar ao nicho (ou no dia seguinte), perplexos ficarão os frequentadores da padaria, e os outros todos, acordando para a realidade crua, servida nas mesmas televisões entre os restos eleitorais, novas amizades, mudanças súbitas de orientação e alguns cumprimentos aos vencidos e parabéns aos (justos vencedores). Até lá, como se verá, nem uma ideia, nem debate sério, assomará à portinhola das coisas aqui em baixo. Qualquer assunto pertinente, qualquer problema concreto do país e dos nativos será devidamente amordaçado e obviamente colocado na prateleira dos acessórios (justamente sancionado com o respectivo cartão), enquanto no tabuleiro da devassa, dos interesses instalados e por instalar, se faz aquilo que se deve fazer numa campanha eleitoral, a saber: jogar à macaca com os jornalistas e o povinho; prometer nova equipa e estratégias não esquecendo o trabalho, muito trabalho; simular umas faltas, insultar o adversário, pedir desculpa, sondar o árbitro, dar uns cacetes e levar outros; dar umas entrevistas prometendo fidelidade e amor eterno ao clube enquanto se negoceia à socapa com outras cores, porque nunca se sabe o dia de amanhã; e ainda, se possível, jurar a pés juntos que lhe estão a fazer a folha. Ora, para economização da inteligência e outras javardices já temos a manada do futebol. Força Sporting!

setembro 17, 2009

Vai ficar lindo à grande vitesse

Saio no próximo apeadeiro, vão ver. E não será bonito. Coisa velha de anos, esta de engalanar a festarola das urnas com obras do máximo porvir. Coisa velha. Coisa a sair do guarda-fatos repleto de bolinhas de naftalina, cujo invólucro é um barraco dos mais lamentáveis que existem. Entra frio; chove; caem as telhas; estala no estio, sem ir a lado algum. Mas, os tipos, apenas aparentemente abandonaram o enlevo dos modelos: há 120 anos era o Belga (viajem com o Conrad no coração das trevas) ontem era o Finlandês. Calou-se o louro. Veio o advento Fontes Pereira de Melo, versão junta de freguesia: o TGV. Não o programa, mas todo um programa. A modernidade. O barraco estala e rejubila, na padaria o TGV anda de papagaio em papagaio até se estatelar no programinha da SIC, ainda a meia de leite vai a meio. Em território de automóveis, de betão e de auto-estradas esvaziadas, onde se encerram linhas de caminhos-de-ferro tão necessárias num país minúsculo (bastaria um bom conjunto de redes sub-urbanas, regionais e nacionais - inter cidades e alfa pendular), e em que cerca de 90% das mercadorias são transportadas por via rodoviária, persevera-se na ligação (supõe-se que rápida) a essa tal de Europa. Essa ligação presume-se(?) que exista já, depois de tantos anos a encher o bandulho com os anais e os sacos de dinheiro europeus. Já pintamos o barraco. Entretanto o tema caciquismo (de uns que é o mesmo que de todos os partidos do rotativismo), assoma à praça pública. Logo aí, expira o modernismo de fancaria. Importar-se-á, como veremos, mais um modelo. Mais uns retoques no barraco. Vai ficar lindo.

setembro 11, 2009

Estudos na minha terra - parte II: o "nosso político"

“Os políticos da geração moderna compreenderam e aceitaram a lição (…) O sistema da violência foi abandonado como inútil, e começou, com êxito, o dúctil método da habilidade. O Conde d` Abranhos, com a sua alta intuição, sentiu que se estava preparando uma nova política, que, condizendo com o seu temperamento, seria o elemento natural em que a sua fortuna medraria como num terreno propício. Ele bem sabia que o governo nada perdia do seu poder discricionário – mas que apenas o disfarçava. Em vez de uma forte patada no país, clamando com força: - Para aqui! Eu quero! – os governos democráticos conseguem tudo, com mais segurança própria e toda a admiração da plebe, curvando a espinha com doçura: - Por aqui, se fazem favor! Acreditem que é o bom caminho!
Tomemos um exemplo: o eleitor que não quer votar com o governo. Ei-lo, aí, junto da urna da oposição, com o seu voto hostil na mão, inchado do seu direito. Se, para o obrigar a votar com o Governo o empurrarem às coronhadas e às cacetadas, o homem volta-se, puxa de uma pistola – e aí temos a guerra civil. Para que este brutalidade obsoleta? Não o espanquem, mas, pelo contrário, acompanhem-no ao café ou `taberna (…)paguem-lhe bebidas generosamente, perguntem-lhe pelo pequerruchos, metam-lhe uma placa de cinco tostões na mão e levem-no pelo braço, de cigarro na boca, trauteando o hino, até junto da urna do Governo, vaso do Poder , taça da Felicidade! Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um País, com o aplauso do cidadão e em nome da liberdade."

“O Conde d`Abranhos – Notas biográficas de Z. Zagalo –“ Eça de Queirós.
Obra apenas publicada postumamente (1925). Recorde-se que o autor morreu em Paris corria o ano de 1900.

setembro 05, 2009

O voto inútil

Já rabeia na padaria o bichinho das eleições. Um conjecturável comunista (filho de um verdadeiro marxista), rapaz de pedinchices e de pouco trabalho, aceitou (presume-se que) abnegadamente, dois bonezinhos e uma bolsinha com as cores de uma lista (nos antípodas do seu pensamento filosófico político) candidata à junta de freguesia. Cheira a vitória e não convém defraudar os “amigos”. Recebida a lembrança, avança com um sorrisinho e sentencia humildemente: “voto nas pessoas, não nas cores”. Ele presumivelmente nem vota. Mas carece, precisa muito, de continuar a gravitar perto daquelas mesas, a aparar as migalhas, cuidadosamente, e a receber vitupérios pela frente e à canzana. E para quê? Neste caso particular, pasme-se, apenas para poder andar por aí. Sentir-se entre afeiçoados. Digno. Mais próximo do centro da mesa, balofos avinhados em álcoois mais ou menos respeitáveis, esses sim, correm por dentro, farejando o bolo, a possível sinecura. A escudela pode ser sua. Estes, quanto a social-democracia, socialismo ou física nuclear, apenas lhe adivinhando os dentes rebolam de imediato para outro assunto: bola, o preferido; o Liedson na selecção (continua a ser bola, mas de carácter histórico filosófico); ou a possível lambidela política no encerramento do jornal das sextas na TVI (a rubrica da actualidade). Três segundos após o início de qualquer destes temas, pode advir um quarto ou quinto, de preferência começado por:” diz que” ou “ouvi na televisão” ou “como diz o outro”, ou ainda, quando (na melhor das hipóteses) assoma um pensamento efectivamente próprio, ou é intransmissível ou principia com o creditado “vi num documentário”. Foi assim que um tipo de andar aligeirado pelo Favaios, improvisou que qualquer um que se naturalize português, deveria, para além dos pressupostos legais (a versão original era: “as cenas que têm que ser cumpridas”), fazer um teste sobre cultura e história portuguesa, “como fazem na América” (esta é a parte do documentário). Assentimos. Mas talvez fosse interessante começar por fazer os testes aos nativos. Teríamos um país mais esvaziado. E, como explicava outro dia na padaria um Ucraniano a dois papagaios de ventre dilatado e semblante abigodado:”porra, vocês não sabem nada da vossa história. Até eu estudei os descobrimentos portugueses, e outras coisas”. O ventre maior, generoso, condescende com um sorriso de néscia bonomia, ao mesmo tempo que coloca as mãozinhas gordurosas em concha atestando: “ah…ah, a minha escola já foi há muito tempo..eh…eh…há muiiito tempo, fiu”. 

setembro 02, 2009

Estudos na minha terra - parte I: o povo vota no povo

"Estudando desapaixonadamente a nossa vida social, revelam-se-nos nela os seguintes sintomas, entre outros, pouco lisonjeiros:
Falta de iniciativa; espírito quase constante de hesitação, que não exclui alguns raros impulsos energéticos no começo, mas seguidos em breve de abandono da empresa começada (excitabilidade esgotável). – Incapacidade progressiva para o trabalho e sobretudo para o trabalho intelectual persistente, a que se liga muitas vezes a consciência de inaptidão (an instinctive consciousness of inadequacy before us, Beard). – Pusilanimidade na vida pública manifestando-se principalmente na incapacidade de ter opinião independente; ou ao contrário, afirmação exagerada de ideias revolucionárias, de que se está longe de conhecer os fundamentos. – Grande pressa em chegar às posições mais altas a que se pode aspirar; como que se receia (para empregar a frase vulgar) que o mundo fuja. – Predomínio dos sentimentos egoístas sobre os colectivistas; falta de espírito de generalidade. – Espírito excessivo de imitação (tipificado é a neurose de imitação, latah dos malaios ). Insânia moral frequente, manifestando-se em formas múltiplas. – Pessimismo, hipocondria e fatalismo social; o primeiro levando a nação a considerar-se como irremediavelmente perdida; o segundo fazendo-a considerar a sua sorte como dependente de condições fora da sua vontade. – Alternando com esse pessimismo e a desconfiança de todos e de tudo a que ele leva, confiança momentânea, que faz aceitar como salvador o primeiro charlatão ou a primeira nulidade que se impõe por quaisquer circunstâncias externas; sonhos absurdos de grandeza, que tornam mais dolorosa a triste realidade quando ela se impõe com a brutalidade dos factos (…)
"

Francisco Adolfo Coelho, “Esboço de um programa para o estado Antropológico, Patológico e Demográfico do Povo Português (
1890), in Adolfo Coelho, Obra Etnográfica;

Adenda: Estudos para o preâmbulo insano que nos acompanhará durante a carniça da campanha eleitoral até às urnas, sempre com o pensamento em mente - pleonasmo em gracejo do Alfredo – de que os governantes, e agora mais que nunca, emanam desse tal de povo.

agosto 28, 2009

Belíssimo Alfredo


“As minhas pernas estão a ficar mais finas e o meu estômago mais proeminente”. Quem disse isto, enquanto pontapeava uma lata de cerveja choca para cima de um disco da Janis Joplin não foi o Jim (Douglas) Morrison, mas o meu amigo Alfredo, desesperado com as (des)construções desvairadas da cidade, essa “panóplia de betões cinzentos, esquecida de qualquer sabedoria”. A barba cresce-lhe farfalhuda. Alfredo recusa o tempo da dor e esmaga uma camisola de fancaria com o Che. Isto depois de eu o ter encontrado na iminência de uma escadaria com pouco mais de 20 anos, num atravessamento estreito, com os candeeiros a irradiar uma luz fantasma, amarelecida e repleta de sombras antigas. Foi depois de uma caldeirada (eu diria espanholada), de safío, com mais espinhas que a nossa existência, que galguei a espaços cada recanto da minha (nossa) paróquia. Dei comigo, e com a paróquia, encostados na praça velha, a relembrar o filme “Cinema Paraíso”, naquela parte em que o nativo dizia, já velhote, entre os muitos automóveis: “a praça é minha, a praça é minha”. Recordei esse Alfredo (projectista com a idade do velho cinema) com o puto. Um filme para toda a terra assistir: “Belíssimo Alfredo”. 

agosto 26, 2009

O triunfo dos porcos

Andam por aí indivíduos cheios de "princípios". E, à parte disso, decididos a governar; ou, pelo menos, a ter poder. Qualquer poder. Nem que seja um número três para a junta de freguesia, sempre são uns trocos e uma roupagem para laborar nas azenhas e subterrâneos da tachice. Esse poder meus caros, o tal poder, o status loja dos trezentos, contamina as deambulações erráticas do nativo, pega-se, com a força, assim mesmo, da epidemia (sem linha 24 que a valha), até contaminar os derradeiros refúgios da inteligência. É uma minúscula (e suposta?) vantagem de expressar o “eu”, a sublimação derradeira do cacique até às entranhas da fístula social. O fim da linha da cagadeira. E ainda assim, assemelhando-se, muito de perto, ao culto do (pseudo)canudo, do veículo com estofos de cabedal (último a sair), cunhado ou irmão da viagem imprescindível à punta das canas, da casa a 25 anos; sinónimos, aliás, do mais selvagem dos individualismos europeus, alicerçado na insipiência nativa: a sobeja da malga de sopa a escorrer pela camisa; o olhar baço e cobarde que assiste à sua putrefacção; (muito) bacalhau a encher o prato e a substituir o ruído cognoscível da sardinha para dois (naquele tempo!). Naquele tempo é hoje. Um século XIX (para não recuar mais), reconhecível nos urinóis políticos e nos debates abstémicos. Um enfado prazenteiro. A inexistência de qualquer mundo. E, no fundo, como uma onda, ou se quiserem, uma vaga de fundo, à benfica, essa inexplicável ténia que escuta fado, vai à tourada, e termina com dores nas cruzes…  

As minhas cassetes 53

agosto 23, 2009

A matéria invisível

“Cuidado com os micróbios, pequeno” - grita uma senhora empoleirada na janela às coisas cá de baixo. Mais à frente, encontro a manquinha a entrar na padaria e noto, sem grande pesar, que tudo está na mesma. Por isso mesmo, ando escondido a escutar coisas antiquíssimas como o 1º álbum dos Clair Obscur, o “Counterpoint” dos In The Nursery, e uma merda que me faz confusão como é que lá cheguei de tão fraquinha: os Negativland. Na verdade, ao fundo da rua já estou a mudar a paparoca para o velhinho “A Um Deus desconhecido” e a preparar uma investida caseira baseada nas (minhas e próprias – assim mesmo) conclusões sobre “A sociedade de consumo” de Jean Baudrillard. Entretanto não acabo os contos da senhora dos pavões, não vou à pesca, não jogo futebol com os amigos e não me lembro de ir à missa. Por outro lado, consumo carradas de obras sobre a temática deslumbrante: cidades e urbanismo; viajo por catedrais góticas e encontro em cada esquina variadíssimos escritores a dar a sua esmolinha para a causa. Descubro outra e outra vez que tudo está ligado quando encontro o Marx perto do Camillo Sitte e o Corbusier num engarrafamento com Hugo (não é o do circo) e Wells.
Acresce ainda que, finalmente, consegui livrar-me de uma das minhas (muitas) alergias (e reacções extemporâneas), esta última resultando em cerca de 325 borbulhas, dispostas, ora em camadas nas pernas, ora aleatoriamente nos braços e na barriga (soube por um espelho que também as carregava às costas). Parece que a coisa foi o resultado de 3 ou 4 dias de sol, colhido entre as 17h e as 19h, maioritariamente preenchidos na água. Odeio areia quente e odeio sol. Mas gosto de água. Gosto de água. Vai daí conclui-se, não vejo outra cena, que esta alergia, e temo que muitas outras, será causada pela denominada matéria invisível, uma cena que o Thomas Browne, segundo parece, já se debruçava…


Imagem: "Sunrise with Sea Monsters", John Mallord William Turner, (1775-1851)

E agora uma cena quase actual parecida [sussurram-me] com cenas passadas

agosto 22, 2009

Por aqui também não faltam candidatos a figurantes seja lá para o que for

«Eles lá têm tantas raparigas bonitas de que não precisam que lhes chamam figurantes e não as usam para nada que não seja darem coisas às pessoas e depois tirarem fotografias com elas. Tiraram-me uma fotografia com ela. Não. Eram duas. Eu no centro com uma de cada lado e eu com os braços à volta da cintura delas e a cintura delas não era maior do que uma moeda de cinco cêntimos.»

"Um encontro tardio com o inimigo", retirado da colectânea de contos "Um bom homem é difícil de encontrar", de Flannery O´Connor. Tradução de Clara Pinto Correia. O livrinho está mesmo aqui ao lado...

agosto 21, 2009

É provável que nos voltemos a encontrar

A coisa havia começado assim: “É por um acaso que escrevo quando o copo de cerveja está (já) a meio”. Minutos antes desta enigmática sentença, recordo-o bem, estava eu a reflectir na problemática sempre pertinente da disposição táctica do Sporting, sem esquecer a inusitada e deslumbrante ausência de laterais com o mínimo de categoria, quando uma luz, a início, dir-se-ia, um lampejo praticamente imperceptível, mas depois insinuando-se frenética e ofuscante, pulsou no meu cérebro. Curiosamente, agora que a tento recordar (a pulsão logo aí terá degenerado em ideia – é sempre assim), recorrendo a meios pouco ortodoxos, destapo, não sem algum desnorte, a capinha de sombras verdadeiramente tenebrosas que nos salpicam os dias. Nem o percebemos. Entretanto, nesta reconstituição histórica recente para chegar à tal ideia, recordo essoutros momentos fatídicos em que tudo se ganha e tudo se perde num segundo: uma ideia assombrosa; um poema irrepreensível; um reconciliamento intimo; uma palavra desencaminhada; um projecto grandioso a três fases; um capítulo inteirinho da tese. Seguidamente, tudo se esfuma, entre uma antiga passagem estreita que culmina numa escadaria de madeira que dá passagem para a cangosta, e uma queda, nocturna e grave, que esfacela uma canela. Chegados à marquise, alguém ressona, e o vento dá de mansinho nas vidraças forradas a cortinados com renda, evocando todas essas vozes que já não recordamos. No dia seguinte talvez cheire a rosca e café com leite. Está tudo em camadas no mundo. É provável que nos voltemos a encontrar.  

imagem: "A persistência da memória", Salvador Dali, 1931

agosto 17, 2009

Na Jamaica os Ferraris são assim


Este senhor, de nome Usain Bolt, correu os 100 metros em Berlim em 9.58 (nove segundos e cinquenta e oito centésimos! – assim mesmo, com o tal ponto de exclamação que alguns querem correr daqui para fora) e, no final, sem qualquer pejo, terá pedido para soprar ao balão. Note-se, note-se bem, que praticamente nenhum órgão (excluindo o meu fígado), seja de informação, seja de recreio imediato, salientou a façanha, preferindo os lamparinas e o futebol clube pinto da costa como vitrina para os nativos e emigras de fancaria lusitana que vestem a famosa camisolinha de alças, vulgo, sport. A excepção foi o meu pasquim Público, onde o sr. Fernandes rumina uns editoriais e deixa passar tudo que tenha boa figuração (desde que não seja contra o seu armário liberal maciço). Da volta a Portugal nadinha, que os lamparinas já não correm, enfarpelados de Ferraris, com canastro de caracóis. Ganhou o Nuno e ainda por cima português Ribeiro. Mais a mais, só Jamaica: