novembro 30, 2009

Ir para fora cá dentro

Um gajo não se ausenta. Bem tenta não se ausentar, porque, para conhecer mundo, torna-se evidente que é necessário conhecer o quintal. Pelo menos o quintal. Bem, um tipo não se ausenta e mesmo assim não sabe de coisas importantíssimas, como robalos (e equipamentos(?)) oferecidos a amigos, e isto lá no interior, fica-se afinal sem saber se os ditos eram de mar ou de aviário, coisas que poderiam contribuir para uma análise sublimada do fim de semana, que com certeza ainda se prolonga, para alguns, claro, enquanto a gripe generosamente não se imiscui nos desígnios insuflados da nação, ali na esquina da XIX Cimeira Ibero-Americana. Parece que sr. Presidente da República se instalou com bagagens no hotel da tal cimeira, e levou, cito de cor, o mordomo, assessores, seguranças, a aia da presidenta, a casa civil em peso, alguns animais, e umas sandes na marmita para poupar no serviço de quartos. Note-se que a cimeira de Lisboa, afinal é em Cascais, razão mais que suficiente para o sr. Presidente se transferir de Belém e analisar logo a abrir a “crise e ambiente”, sendo que - como dizem os jornalistas -, sendo que, é certo e sabido que as conversas dos bastidores andam à volta do Di Maria, um tipo que, para brincar na horta com uma bola e de olhos nas couves, não há melhor.

novembro 27, 2009

Enquanto na blogosfera se discutem amiúde política e anonimato

Eu por acaso ia a passar quando o sr. Rodrigues disse aquilo. Aquilo para aqui não interessa. De qualquer maneira decidi-me por entrar na padaria, que não sendo a outra, é sua irmã aproximada na roupagem e conteúdo, não esquecendo o jornal Record que vela com assiduidade o balcão da dita. Quanto à falta da Sãozinha, crepita por lá uma morena anafada, mas respeitadora dos pães de água e do pãozinho de saúde, que não destoa, mas faltam as senhoras empoleiradas na varanda, as manquinhas a obstruir a passage e as mesas repletas de galões com a máquina dos cigarros em cima, para dar cor ao local. Ainda não tive vagar de espreitar os martinis (nas palavras do Careca) grossos, mas lá escutei a valsa programática do fim-de-semana: sábado dá-se o caso de uma prova de vinhos e passeata entre a tasca e a porta da tasca para fumar. Depois, temos noite de gala com o Sporting-Benfica, sem o “cheirinho de outros tempos” segundo o sr.Matias que trabalha nas finanças, e que por acaso é sportinguista. Domingo, caça ao tordo e malha no salão das máquinas, para ganhar vontade para um almoço lanche ajantarado sem final à vista. Queria comprar umas senhas, mas notei a ausência de sorteios para se ganhar um presunto ou um bacalhau à casa. Aguarda-se, pelo menos, um cabaz de Natal…

novembro 24, 2009

Ler outros blogues

Uma posta do Vidal no GEORDEN, que sempre seguimos, desta feita sobre uma conversa a que também assisti no passado domingo no Câmara Clara, programa conduzido pela afectada (mas apetitosa) Paula Moura Pinheiro, sobre a temática Território e Paisagem; ou apenas bricolage? Aqui.

Um novo blogue, ao que tudo indica, ainda em período de instalação, com o sugestivo nome de Diário de Um Cão, cujo canino (presume-se que seja apenas um) residente tem uma pena de se lhe tirar o chapéu. Façam favor de entrar.

novembro 20, 2009

Fiquei de fora

Depois de andar dias e dias a pensar na vida, que é como quem diz na morte da bezerra, ainda assim não vislumbrei qualquer nuance gratuita do tipo “vi a luz” ou “não sei bem o que foi, foi uma força”, elementos indispensáveis ao desenvolvimento de novos projectos; dinâmicas, por assim dizer, internas, mas potenciadas por algo exterior (a elas). Aconteceu-me uma vez, estava eu deitado na cama quando me deu um vaipe, um feixe de luz que cintilava junto à carpete (uma situação vivida também por aqueles gajos que avistam objectos não identificados, potencialmente extraterrestres, mas não o conseguem depois provar - é mais ou menos como a cena do processo face oculta), e cuja trombada (para utilizar uma expressão minhota de cariz não sexual), me levou dias mais tarde a matricular-me num curso universitário (mais um), geneticamente adaptado ao desemprego e áreas adjacentes. Muito depois, ia eu a pensar nisso, quero dizer nessa treta de ver luzes e elas sempre anunciarem algo de positivo, ou espiritualmente dinâmico, quando, ao pontapear uma pedra junto à casa do Marinho, uma luz arremessou-se como um lençol pequenino insinuando logo ali um germe de ideia que logo desaguaria num projecto. Coincidência. Ainda por cima tinha descoberto no mesmo dia que um tipo qualquer estava a ler o mesmo livro que eu, livro esse que falava sobre estranhas coincidências...

novembro 17, 2009

Nem sei que diga

primeira apresentação mundial de um treinador pela internet


primeira apresentação mundial dos...

novembro 16, 2009

Um poema de um poeta às vezes lembrado

"Onde é que te nasceu" – dizia-me ela às vezes – 
"O horror calado e triste às coisas sepulcrais? 
"Porque é que não possuis a verve dos Franceses 
"E aspiras em silêncio os frascos dos meus sais? 

"Porque é que tens no olhar, moroso e persistente, 
"As sombras dum jazigo e as fundas abstracções, 
"E abrigas tanto fel no peito, que não sente 
"O abalo feminil das minhas expansões? 

"Há quem te julgue um velho. O teu sorriso é falso; 
"Mas quando tentas rir parece então, meu bem, 
"Que estão edificando um negro cadafalso 
"E ou vai alguém morrer ou vão matar alguém! 

"Eu vim – não sabes tu? – para gozar em Maio, 
"No campo, a quieteação banhada de prazer! 
"Não vês, ó descarado, as vestes com que saio, 
"E os júbilos que Abril acaba de trazer? 

"Não vês, como a campina é toda embalsamada 
"E como nos alegra em cada nova flor? 
"Então porque é que tens na fronte consternada 
"Um não sei quê tocante e de enternecedor? 

E eu só lhe respondia: - "Escuta-me. Conforme 
"Tu vibras os cristais da boca musical, 
"Vai-nos minando o tempo, o tempo - o cancro enorme 
"Que te há-de corromper o corpo de vestal. 

"E eu calmamente sei, na dor que me amortalha, 
"Que a tua cabecinha ornada à Rabagas, 
"A pouco e pouco há-de ir tornando-se grisalha 
"E em breve ao quente sol e ao gás alvejará! 

"E eu que daria um rei por cada teu suspiro, 
"Eu que amo a mocidade e as modas fúteis vãs, 
"Eu morro de pesar, talvez, porque prefiro 
"O teu cabelo escuro às veneráveis cãs!" 

"Ironias do desgosto", Cesário Verde, Lisboa, 1874.

Bom dia



ah, pois...

novembro 15, 2009

É definitivo: passou a chamar-se sportingue

Depois de todo um processo cuja transparência nos remete para uma placa de cimento armado, omisso de profissionalismo, ainda nos brindam com o sr. Carvalhal de Braga, provavelmente para dar com a placa de cimento e respectiva regueifa. O sr. presidente do sportingue parece fadado para a burrice. Pura ilusão. É um gajo imposto pela banca para assegurar as dívidas do clube, com o olho nos terrenos da academia em Alcochete que com o novo aeroporto vão valer milhões. Não é por isso que academia rumou à SAD, ou vai rumar? 

novembro 14, 2009

Sportingueee

Enquanto degustava um filete de solha panado em farinha e ovo, acompanhado galantemente de arroz branco e salada de alface e de um tinto reserva de porte grosseiro a dar com o preço recomendado, assisti placidamente a mais um momento musical da autoria da selecção portuguesa sob a batuta do inenarrável prof. Queirós. Nada a obstar, recapitulando uma exibição de fino teor de lugares comuns, atravessando solenemente este fim-de-semana de horrores futeboleiros com passagens artísticas que começaram dias atrás na chafurda sportinguista a ruminar um profissionalismo de casa de putas semi-ambulante. O denominado projecto roquette, ele mesmo uma ideia ambulante e dissimulada sem qualquer afecto digno (sequer) de uma revista cor-de-rosa, trouxe-nos à fronteira do abismo com direito a montra de vaidades e projecção de egos para a eira. O bom ar dos intervenientes não apenas ressalva a sua condição de gente de bem como assegura a multiplicação da prole por muitos anos, e seguramente (como bons profissionais), augura algo de positivo num quadro de trabalho problemático e condicionado por factores, entre outros, exteriores e alheios…e exteriores e alheios.
 Como diria (ainda hoje) um jornalista da TVI, “dá-me ideias”; a mim dá-me ideias que está tudo fodido no Sportingue. Spooortingueee! 

novembro 13, 2009

É outra vez aquela coisa das “lavas do sobreconsciente”

Sistematicamente, sou alvo de pequenas, eu diria ínfimas, alucinações, as quais me permitem, apesar de tudo, ver uma quantidade de coisas a olho nu e por aí fora com rasgos de realidade (re)forçada. O meu gato acreditaria. Por exemplo, neste preciso momento, estando eu a tentar recordar uma data de coisas supostamente inesquecíveis, isto é, uma data de ideias e projectos supostamente infalíveis e por aí fora, dá-se o caso (incompreensível) de não recordar nadinha da coisa alguma e andar aqui a enredar e voltar a dar na esperança de ninguém perceber. Deu-se o mesmo quando há uns anos atrás depois de uma noite de copos, vinha eu para casa a escrever mentalmente uma data de poemas fabulosos, quando, ao subir umas escadas provisórias de madeira junto ao murinho da escola primária, tombei com todas as forças disponíveis nesse momento, abrindo um lanho jeitoso na canela e inaugurando uma colecção (futura) de escoriações de pele em forma de tampinhas. Vai daí, ainda pensei que foram os melhores poemas que nunca escrevi. No dia seguinte confirmei-o, não me recordando de nada, mas atestando com um sorriso o sangue nos lençois e uma tampinha de carne levantada…eh…eh…na canela.

novembro 11, 2009

Desencontros

Num desses intermináveis passeios que me costumam aconchegar os dias, dei por mim num local já largamente fora da cidade onde, para todos os efeitos, eu era um incógnito num sítio desconhecido. “Que boa oportunidade para desaparecer”, pensei então, recordando o escritor Andrés Pasavento que à chegada a Sevilha aproveita que um homem de fato às ricas apanhe o seu táxi para desaparecer, supostamente sem deixar rasto, convertendo-se no Doutor Pasavento, descobrindo depois que ninguém deu pela sua falta. Nesse romance, Doutor Pasavento, Enrique Vila-Matas recorda Robert Walser, esse grande escritor, desaparecido toda a vida, e que depois de entrar no manicómio de Herisau na Suiça, nunca mais escreveu, preferindo dar uns intermináveis passeios solitários, até que a morte chegou num dia de natal precisamente durante um deles. Pensei na encruzilhada de caminhos que por vezes se cruzam sem, provavelmente, nós sequer notarmos. Curiosamente, quando voltava, veio-me à cabeça, não sei bem porquê que, se uns desaparecem outros simplesmente não aparecem. Um exemplo dos que não aparecem é visível na ausência (neste caso penso que notada) de Obama durante as comemorações da queda do (tal) muro da vergonha em Berlim. Talvez por vergonha. Um desses muros (da vergonha), embora travestido de (supostas) boas intenções cresce a olhos vistos na fronteira dos E.U.A com o México. Outros erguem-se como cogumelos sempre imbuídos de um espírito altruísta e não segregador: na fronteira de Israel com a Palestina; no Rio de Janeiro; nos gigantescos condomínios fechados adornados de arame farpado em São Paulo; entre as duas Coreias; na ilha de Chipre e aqui ao lado em Ceuta, entre outros. Estuguei o passo com receio que não dessem pela minha curta ausência. Todavia, desaparecer neste mundo em que cada muro tem um significado distinto pareceu-me então uma excelente ideia. 

novembro 06, 2009

Qual é a coisa qual é ela: arrogância num leito de imbecilidade?

Resposta: Margarida Moreira, a senhorita algoz da DREN.
Finalmente foi-se.É  seguro que arranjará (se é que já não arranjou) um nenúfar propício às suas qualidades.

Estou a ficar farto: é o Público é o Sporting é o estado da tijoleira da cozinha

Ivone Rocha (advogada); Pedro Rosa Ferro (economista); José Assis (advogado). Eis o Espaço Público do jornal Público. A opinião, pois claro. Acresce um editorial sem erros ortográficos, correctíssimo, do ponto de vista da rectidão e do correcto, devidamente não assinado e lavrado por todos os silêncios que o acompanham. É claro que temos o resto do jornal, cada vez mais apagado e menos buscão. Temos a avançados ( e em idade avançada) o Vasco Pulido Valente, o (agora sóbrio) Esteves Cardoso, e (por enquanto) o Bartoon do Luís Afonso. Hoje aqui a carcaça inchou um euro e cinquenta pelo pasquim. Valha-nos alguma (cada vez mais rara) literatura no Ipsilon. Dava um conto para a liga de defesa dos leitores para que voltasse o Mil Folhas. O suplemento e o bolo. 

novembro 05, 2009

A caminho

As ruínas remetem sempre para algo que não desapareceu de todo. Neste sentido, eu era uma ruína. Ansiava pelo desaparecimento, mas sabia que só podia acabar por desaparecer a meias, convertido unicamente numa ruína. Olhei de novo para a a nuvem de pó. Disse para comigo que não entendemos nada das ruínas até ao dia em que nós mesmos nos convertemos nelas. Quanto ao comboio de alta velocidade, parecia uma metáfora de Espanha, porque avançava com força, isso era inegável, mas fazia-o como se o estivessem a empurrar para a frente por causa da sua recusa precisamente em avançar.

“Doutor Pasavento”, Enrique Vila-Matas, Teorema (pp. 59)

novembro 04, 2009

E eu que pensava que ele já tinha morrido

Morreu o Claude Lévi-Strauss,  o tal que a tal pensava que era o gajo das calças. Tinha 100 anos, e esta terra já não o merecia. É desta, Tristes Trópicos. É desta.

Tendências


Não se lobriga (a correr para o dicionário) logo. Não. Primeiro, em pleno preparo para a eleição legislativa, estava eu sentado a comer uma sandes de atum com tomate, alface e maionese, quando fui assaltado pela perplexidade (vetusta) causada por um rol de trafulhices notável, crescendo estas em solo arável e devidamente adubadas: olha, o caso do término de um jornal apresentado por uma senhora de boca grande e cara esticada, dada a depressões, por exemplo. Logo. Logo aí, entre cascas de maçã amarela deveria ter reconhecido o sorriso do cão. Segundo, ao constatar esse enfardamento de notáveis cabeças de alho chocho, acopladas a um focinho não menos idiota que o do sr. Luís aqui do bairro, deveria ter desconfiado e corrigido a maleita com um emplastro de Whisky. Desaparecer: estilhaçar-me na literatura, a conselho (e bem) do sr. Enrique Vila-Matas (arranjo sempre maneira de o por em qualquer lado). Mas não. Fiquei. Cravado de rebuçados e dúvidas, mas fiquei [dediquei-me, até à devassa, às características fisiológicas (e patológicas) mais apropriadas para a política em Portugal continental]. Em sétimo (o quarto, quinto e sextos são demasiado extensos), o meu jornal Público, corrido de lá para fora o sr. director Fernandes (um gajo que eu particularmente não apreciava – mas…nesta altura?) surgem agora uns assépticos editoriais sem assinatura, supostamente da responsabilidade de todos (e de ninguém). Cheira a esturro. Não sei se é da vizinha de cima se o que é, mas “tem tendência a melhorar” segundo o sr. Afonso do quiosque, “tem tendência a melhorar”. 


Adenda: (Case studies) sucatas case; freeport case; sobreiros case

novembro 01, 2009

António Sérgio (1950-2009)

Morreu o António Sérgio. Soube mesmo agora. Parece que o estou a ouvir. O gajo do Som da Frente que eu escutava religiosamente pela madrugada fora da 1h às 3 da manhã. O meu lastro musical. Foda-se. Foi-se o gajo da Hora do Lobo. O Lobo. Parece que estou a ouvir a sua voz. Vai-se a gente boa...