março 17, 2011

A minha flagrante incapacidade para aturar certas merdas: Parte I


A minha flagrante incapacidade para aturar certas merdas, não resulta de nenhum elemento fundamental exclusivo, nem enriquece os meus momentos de regalório privado um pouquinho que seja, mas como de um facto com “c” se trata, e ao qual não posso nem quero fugir, deverá ser abordado com alguma parcimónia. Em primeiro lugar o convívio politico que nos – salve seja – pastoreia, deriva directamente do povo que o serve, curvando a espinha e almejando-lhe o assento. Mais a mais, pela força do sistema de voto, confirma-se a fervência de um agrupamento cujas divergências não chegam sequer ao segundo prato. E logo aí tem-se a construção de todo um edifício.

Desse desatino, aparentemente camuflado, longas rapinagens nos infestam os dias, ali na TV e nos jornais, acolá, em cada centímetro de terra disponível para os seguidores do status quo, desde os coladores de cartazes, passando pelos informadores avulso de toda a verdade que afecta o grupo em questão - nós todos - não esquecendo aqueles que se marimbam por razões de hedonismo, e outros que emigram pelo cansaço e fundamentalmente pelo (suposto) devaneio da necessidade. Tudo mudo, dizem-nos, tudo para nosso bem, quase sem se rir, aborrecendo o seu pequeno cérebro de cachalotes de água doce, sem espermacete que nos ilumine a devassa. A páginas tantas a plebe julga-se presente, o que está provado, desde que seja em doses minúsculas nos seus delírios, e de preferência com benevolência de instâncias superiores acopladas aos seus gadgets, vulgo geringonças, repletos de amigos…

março 13, 2011

Rente ao fim:apesar da inutilidade da literatura

O invisível Sol parecia como esmagado por toda a parte, havendo apenas no lugar que ele ocupava verdadeiramente um extraordinário feixe de intensas espadas de fogo. O mundo parecia estar coroado pelo signo cintilante dos reis e das rainhas da Babilónia. O ar, concavo como um cadinho de ouro fundido, fervia luminosa e ardentemente.

“Moby Dick”, Herman Melville, edição Relógio de Água, Tradução de Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves.