novembro 28, 2008

estar sempre na vanguarda de qualquer coisa

Estamos, parece, na vanguarda da energia eólica no mundo. Mas não era disso que eu queria falar, nem da denominada “energia inteligente”. Todavia a realidade das fontes de energia renovável recorda-me, nos dias que passam, o ac(l)amado clube de formação, epíteto vulgaroide para Sporting e a marca global que, se diz, é o ac(l)amado Benfica. Duas faces da nova paginação actual que concorre para um léxico gramatical com aspirações, não à conspiração dos nossos sentidos, mas solenemente para um sólido e definitivo nada. A páginas tantas, voltam os moinhos de vento com D. Quixote e Sancho e uma mão cheia de, como dizer, um tal de “esférico à flor da relva e a entrar sempre na mesma baliza”.

novembro 25, 2008

estava para aqui sem nada para escrever e a pensar no jogo de amanhã


Mesmo em dias de cozedura incerta, acredito na velocidade do nosso mal-estar: tudo passa. Mesmo assim esboço um incorpóreo sorriso quando me deparo com a “polémica” que dramatiza o “caso” dos professores e não o “estado do ensino”. Brilhante como sempre, o governo, este ou outro qualquer, prima pela relevância da reforma, ou, se quisermos, da pungente necessidade de mudar. Ao arrepio de modernidades sem pança, bracejo contra essa mundana, nas palavras de Baptista “com casa quase à borla em Lisboa” Bastos, idiossincrasia. Primeiro, a metamorfose encaixa um rolo de simplicidades para os putos, com árvores estatísticas que nunca mais acabam. Depois a cena dos profs (como agora se denominam). Lembro-me nos setentas quando os pais de um amigo pedirem “licença” ao Sr. Professor (à época) que era director da escola para julgar a necessidade de um BETA para os filhos, pese o facto de lhes encherem a barriga diariamente com notas de 100 escudos, na altura (uma fortuna) de cor azul. O trajecto foi de 80 a -8. Mas ainda hoje existem os Srs. Professores (oh, da velha guarda!), os professores e os outros, já para não falar da malta das aulas extracurriculares que trabalha para caralho (andando de nenúfar em nenúfar) por tuta-e-meia. O abrir da porta do 25 de Abril trouxe quase logo a liberdade, democracia e o multibanco com o crédito a reboque. Não éramos menos que os outros. A guloseima espirrou um rato. Ainda nesta vida, o professor redundou num repasto de proactividades, eficiências e competências alargadas, devedor de um profundo paradoxo: como acompanhar o comboio europeu (e de leste, acrescento) rapidamente e sem se notar que não irá ter qualquer reflexo no futuro desses putos, como aliás já se verifica? Note-se: já se verifica. Quando os pais ainda arranhados pela liberdade, adormecidos ainda no banho maria da ignorância em grau satisfatório, mas já castigados pelo consumo, repararem que não se verifica o “não somos menos que os outros” e que vivem um logro e que os putos pouco sabem e nem interessa muito o que sabem ou deixam de saber, cá estaremos para ouvir as sentenças soporíferas dos nossos analistas, e já os políticos (actuais) estarão a milhas e virão outros. Não sei se já repararam mas os políticos emanam da sociedade e esta não tem (já agora alguma vez teve?) elites ou coisa parecida. O resultado são uns tipos forjados no marketing e pouco mais (uma fatiota sempre ajuda). E também ajuda alguma burrice para “comunicar” as suas “ideias”. Quanto aos profs (eu não sou prof meus – meu deus o que sou eu afinal que já não me recordo?) mas ainda recentemente me deparei com essa espécie exótica e firme do Sr. Professor (com letra grande), na caixa geral de depósitos e no café, essa raríssima arara à imagem de um Sr. Eng, ou do Sr. Dr., das quantas ainda existe. Ainda existe. Ainda passa à frente dos outros. É que, não sei se sabem, ainda se baixa a bolinha para alguns, ainda se cospe na sopa de outros, e o respeitinho ainda é (para alguns) muito bonito. 

novembro 21, 2008

não será exagerado afirmar que

um vago castanho trémulo conspira em diatribes vestindo as árvores lá fora. Tendo por hábito (ou vício) ler várias obras ao mesmo tempo, e necessariamente de temáticas diversas, foi sem surpresa que detectei um outro fenómeno sub-reptício embora a ele inteiramente ligado. As leituras “variadas” são consequência (esperada) e prolongamento dos livros espalhados entre envelopes, canetas, jornais e, por exemplo, pastas de chocolate preto; associadas a uma curiosidade mórbida prima da angústia que sentiu uma vez Almada Negreiros ao entrar numa livraria ou biblioteca. O fenómeno é outra coisa. É um poder infinito associado a um conjunto de ligações e matrizes que acompanham os livros desde sempre. Isto sem falar das referências, das semelhanças, do permanente reescrever e das viagens. À bulha com “Os Emigrantes” de Sebald, entrelacei-o sem saber muito bem porquê, com outra (sua) obra “Os Anéis de Saturno” a que já aqui aludi. Facto é que esta me terá levado a Thomas Browne (o qual dificilmente se encontra aqui no burgo) e a Bioy Casares num jantar com Borges e espelhos e uma enciclopédia e Uqbar. Hoje, olhando esse “vago castanho trémulo” abri num acaso de milénios o livro “Ficções”, com a chancela da Teorema, e lá está o primeiro conto (que eu havia lido na Obra Toda, editada parece-me, pelo Círculo de Leitores) denominado “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”. Leio que Hume notou definitivamente que os argumentos de Berkeley não admitem a menor réplica e não causam a menor convicção. Este ditame é absolutamente válido para a Terra; absolutamente falso em Tlön.
Sobre o conto que entrelaça vários mundos, enciclopédias, espelhos e biografias, procurem-no e nunca mais vão parar. Quanto à citação, aqui na terra de hoje, teme-se pela sua veracidade opaca mas terrivelmente vazia.  

novembro 19, 2008

na demanda do labirinto antigo

Por acaso estou farto de coisas que não nos fazem falta. E mesmo com os livros, exceptuando uma mochila maior, não pretendo encenar uma grande biblioteca. Conquanto, como é sabido, esta cresça para além do desejável, já que nada há a fazer contra o meu amor aos livros. Apesar disso “tenho todos os sonhos do mundo” e talvez por isso me custa observar o estado de degradação, para não falar de inapelável morte, do famigerado tupperware que nos aconchega e agasalha nestes dias. Nesse sentido, não é inédita a roupagem de algumas palavras. Como “democracia”. Esta à força de tanto ser “mimada”, repetida, aflorada, “sugerida”, defendida e patenteada, tornou-se presa fácil dessas nobres luminárias que nos pastoreiam os dias. Perdeu o sentido, ou ao repetir-se redunda num sinistro nada. Acontece o mesmo com outras, a saber: ambiente, património, desemprego, emprego, felicidade, consumo. Dir-se-ia que, de forma já não velada, se aculturou, parafraseando Baudrillard, o tupperware na totalidade. Vejam bem, a coisa já não é do domínio do fantástico, da ignorância ou da prostituição faminta das actividades. Já não é fantasmática, ou se quisermos, um conto dentro do conto. Já não existem barricadas, pois não?, bem o sabemos, ambos os lados ou mais, incorporados no mesmo invólucro, sofregamente necessários e dependentes, na realidade estruturados (muito bem estruturados) por ligações sanguíneas e jamais os elos de antigamente. Já não se trata de uma projecção. É tudo o que temos. Até isto que escrevo e mais o acrescento: às vezes um homem sente-se emparedado por ruínas.

novembro 15, 2008

o abismo para além da porta

Custa-me pensar que alguém escreva, sem contar com o meu colega gato, “àcerca”, sem uma cerca por perto, num livro de “aconselhamento” académico. Não sei onde, mas algures, deve encontrar-se o último traço da cerca e, amiúde, vários jovens sobem à última árvore. Enquanto colho as tangerinas, diospiros e castanhas, e mais além salto uma fogueirita, sonho com o prazer imenso e irrazoável do dias a dias. Entretanto os livros estão pendurados na corda de secar. Recordo a sobremesa com ênfase no Fernando Pessoa e seus amigos imaginários. Por lá terão passado desapercebidos, Baudelaire, Whitman e o sr. Rimbaud, sem contar com a madame Bovary e o porteiro das desoras com o Sr. Borges a tiracolo. Nem o Yeats conseguiu assomar. Pudera. Fiquei nas Berlengas da tasca com o Cesário de sempre:

E eu desconfio, até de um aneurisma
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das cruzes,
Chora-me o coração que se enche e se abisma.

novembro 11, 2008

os dias de Saturno


"Melancolia", Dürer

Após o que me pareceu ser uma curta voltinha de bicicleta, pensei, embora sem fé que o sustentasse, dar à posta algo sobre as lombrigas que nos trespassam por estes dias. Os poleiros e outros abrigos redundam em silêncios opacos e gazeteiros pasmados. A polémica do sr. Pinho e da Sra. República da Madeira levaram-me, contudo, em contramão durante praticamente 500 metros e algum passeio à mistura. Irremediavelmente sem encontrar a padaria, pensei em voltar às pilhas de papéis, sim, porque algures entre milhares de papéis, ao que parece pilhas e pilhas a forrar um escritório, é Sebald quem nos revela, a páginas tantas do seu “Os anéis de Saturno”, encontra-se Janine sentada, completamente rodeada de papéis e livros, e a dado momento, parece a Sebald estar na presença do anjo da "Melancolia" de Dürer. Tudo isto me recordou um escritório no monte, lá longe, e também um barracão por onde se chegava da casa ultrapassando um pequeno matagal a que chamavam jardim, cheio de ferramentas, discos e malas de viagem repletas de livros de banda desenhada e de Cowboys. Se calhar, não me recordo, seria muito provável vislumbrar-se um anjo da melancolia.

novembro 06, 2008

Por exemplo: a tristeza no olhar…

Apercebo-me, algures, no lastro dos dias, que nos mapearam os afectos. Para além disso rompi superficialmente o dedo e filosoficamente perdi sangue. As crises, à escala da dependência global, questionam as instituições. Agora, e se calhar ontem, o sentido escorre numa promessa de regular uma tal de globalização. Na padaria diz-se que sim. Quando estas coisas ganham um nome arriscamo-nos a ser por elas violentamente esbarrados, sendo certo que estas acabam a servir de suporte ao reportório sem fundo dos políticos. Crise é outra das palavras. Em certa medida, um trajecto retórico sem substância, e independentemente de questões normativas, redundando num futuro inútil do resto; um constrangimento, como se diz na televisão, dependente do “apaziguar” ou do “correr mal” num desafio “difícil” da “ilha das cores”. Uma comichão na omoplata. 
Eu também vi um sapo a rasgar horizontes: numa iniciativa de afectos, com marcação homem a homem, normalmente num campo de batalha, ou como se diz, no teatro de operações. 

novembro 03, 2008

uma estória: a "banquinha" da nossa esquina

Era uma vez, e não se sabia. Depois do sr. Eng, vestir a fatiota de vendedor ou correspondente comercial do Magalhães para a América latina, agora, logo agora, que se afirmava à tripa forra que não haveria pão para pançudos, tinha que aparecer um BPN (o banquinha) para engrandecer a veia estamos aqui para o que der e vier, e dar uma forcinha à banca da esquina, na qual, parece, era permitido jogar às cartas clandestinamente (a dinheiro e sem dar ciência) e a servir uns pipis de cepa caseira, não atendendo às santidades reguladoras (segundo consta, até tinham já uma sucursalzinha em Cabo Verde). Malandros. Ainda assim, num gesto de filantropia genial o sr. Eng mais uns quantos, adquiriram a dita banquinha, mas apenas e só a desdita. Explico: a banquinha faria parte de um grupinho jeitoso, com outras banquices e reportórios, alguns diz-se, até eram legais, davam lucro e tudo. Assim sendo, o grupo de filantropos, enlevados de tamanha galanteria, ficou apenas com o prejuízo (a banquinha) e deixou o resto (do grupinho) a esvoaçar no paraíso a que chamam de “liberal” qualquer coisa. O povo, frenético, clama já pelo sr. Obama, do 5º esquerdo, rapaz de potencial enriquecido pelo fogo da virtude, e que ainda por cima não bebe. E não é só na padaria.
Não são inúteis, não…