fevereiro 23, 2014

Ei, this in my life now...


Não vi a primeira parte. Estive a bacalhoar, à bulha com um branco cuja frescura ainda perdura ali para os lados do maxilar direito. Cheguei aos dez minutos da segunda, mal sentado lerpei logo com um golo às três tabelas. Molhei o café no digestivo e reparei que o William estava a jogar. Menos mal, pensei. Beberiquei o caféstivo enquanto enrolava o décimo terceiro cigarro em seis minutos e quinze segundos. Inventa aí uma entrada de Carrillo ao Slimani, pensei em voa alta, imaginando um trocadilho para Mané. Entretanto, o Montero lá foi enfrentando com classe a sua própria angústia, provando que da nossa [boa] prosa ninguém se livra. Pelo menos isso.

fevereiro 16, 2014

Bóta gelo


Diz que a análise futeboleira é isto, mas nem sempre há um airbag que nos valha...

A arte como uma das belas-artes & companhia

Num livro de entrevistas, Pierre Cabanne pergunta-lhe a certa altura se se dedicava a alguma actividade artística nesses vinte verões que passou em Cadaqués. Duchamp responde que sim, pois todos os anos reconstruía o toldo que lhe servia para estar à sombra no seu terraço.
(Vila-Matas, Bartleby &Companhia)


Perguntem à Assunção Vasconcelos, perdão, à Joana Esteves, perdão, àquela pequenina, à Maria vai dar Sangue a Belém... 

(ali)

fevereiro 08, 2014

Coisa de labregos



O PRAXISMO-JAVARDISMO
Antes da REACÇÃO contra a revolução do 25 de Abril de 1974, não havia praxe em Lisboa. O espírito crítico de um escol cultural, prevalente na Universidade, tinha padrões exigentes. Ensino superior não queria dizer ensino inferior. Era uma elevação sobre a miserável circunstância dominante. A praxe era considerada – e bem -- COISA DE LABREGOS.
Em Coimbra, nos anos sessenta, após as críticas corajosas de Flávio Vara (“ O Espantalho da praxe…” 1958) e a chegada de uma geração mais desempoeirada, a praxe quase desapareceu. Reinstalaram-na depois com todo o seu fétido programa passadista.
A praxe é o abraço alcoolizado entre o ricaço marialvão, abrutalhado e analfabeto e o povoléu boçal e trauliteiro, folclorizando o servilismo medieval em vestes eclesiásticas. Ao fim e ao cabo, o velho Portugal alarve, mendigo, medievalóide e agachadinho, mas de telemóvel em riste.
Não se ponderem gradações entre um medievalismo civilizado e um medievalismo excessivo. Toda a praxe é desprezível. No estado a que as coisas, desgraçadamente, chegaram, proibir seria contraproducente. Mas há muitas formas de desencorajar. E os professores – que têm sido, aliás, de uma distracção cúmplice (mea culpa) – sabem isso bem.
Oxalá os estudantes se dêem conta de como foram inferiorizados e transformados em «jovens velhinhos» por uma súcia rasca.Tanto mais que a situação assume contornos sinistros e mafiosos. Ao que parece, com “omertà” e tudo. Um atavismo lusitano vem fazer de hífen entre a tradição siciliana e o nórdico Nacional-Socialismo. Pior que mera COISA DE LABREGOS.


 (texto de Mário de Carvalho sacado na pastelaria)