janeiro 31, 2008

Adágios da bola

Dizia-nos ontem, no programa A Liga Dos Últimos (único programa decente e sério da bola neste país) da NTV, um tipo novo, acervejadote, sobre a sua equipa em jogo:

Se se cortasse um presunto a um porco ele ainda corria mais que alguns que andam ali a correr com as duas pernas.


Tal se afigura válido para outras divisões, desportos e órgãos.

Hoje amanheci assim na Twilight Zone

janeiro 30, 2008

Dos Livros

Muitos escritores me acompanharam nos dias desiguais, ensopados agora numa memória que não lhes fará justiça. Debalde. São amigos, e sem eles ninguém poderá “ler ou escrever sem estar em perpétua dívida”, observa Virginia Woolf no prefácio ao seu "Orlando" (que agora (re)leio). Referindo-se, entre outros, a Sir Thomas Browne, Sterne, De Quincey e Emily Bronte.

Desta última, finalizei (por quanto tempo?) a leitura de "Wuthering Heights" (Alto dos Vendavais), com a chancela da Dom Quixote, numa tradução muito razoável e cuidada de Ana Maria Chaves. Deste Alto estaria tudo dito e redito nos anais mais ou menos amansados da literatura. Enquadramento de pena Romântica e um, diríamos, sentimento do mais fino romanesco.

Mas diríamos mais. Um conhecimento espantoso das relações humanas (e sociais, da época e não só), alicerçado numa dinâmica narrativa avassaladora, atravessada por verdadeiras personagens (Heathclifft e Catherine estão neste momento aqui comigo), situando-se a acção no Norte de Inglaterra, bem a Norte, a um passo do abismo ou do inferno. Tudo seria nada sem a imagem e o conhecimento da alma humana, plasmada nos corações, entre a felicidade fugaz e o inferno, e de nos colocar lá dentro sem trégua. Ah, e, pois sim, trata-se de uma belíssima história de amor. Emily teria 30 anos quando a terminou, apenas um ano antes da sua morte.
-Quer vir comigo, minha linda? Não lhe faço mal nenhum. Ali, não quer? Para si, sou ainda pior que o Diabo. Pois bem, há uma que não foge da minha companhia! Meu Deus, como ela é persistente! Oh, maldição! Tudo isto é indizivelmente mais do que a carne e o sangue podem suportar, mesmo tratando-se de mim. Heathclifft

Curiosamente ambos os livros atrás referidos foram adaptados ao cinema. Em 1939, Willian Wyler dirigiu o filme que em português se chamou “O Monte dos Vendavais”, protagonizado por Lawrence Olivier e Merle Oberon, tendo sido galardoado com um Óscar (em oito nomeações). Existe uma outra versão de 1993 de Peter Kosminsky, a qual não vi. Orlando”, o filme, foi realizado em 1992 por Sally Potter, e conta com um extraordinário desempenho de Tilda Swinton.

Hoje amanheci assim na Twilight Zone

janeiro 26, 2008

Interlúdio ou quando aprendi a voar

De uma tarde monótona e infinita que foi minha inventei uma noite

O meu império: a tua morte!
A minha espada: a de Borges que também não manejo
A minha amada: a voz sinistra dos pássaros em fuga
a cidade antiga e o campo aberto
A minha sede: barricas piratas
rum roubado nos mares do Sul
Antepassados loucos e cegos por um livro
O meu Livro: o mundo todo
mais as folhas do grande carvalho,
Sob o qual me sento
Indigno destas palavras.

Hoje amanheci assim na Twilight Zone

janeiro 25, 2008

Soltas no tasco

Talvez uma rubrica para o futuro, esta das soltas no bar, na padaria, nas paredes, na rua, no WC; ouvidas, lidas, cantadas, ditas, sussurradas, em livros, nas árvores. Em poemas. Ou talvez um diz que de tradição oral, perdida na memória. Diz que:

Algures na apneia
um pulmão refila…

M.N

Hoje amanheci assim na Twilight Zone

janeiro 24, 2008

Marinharnocturno

Este poema, fragmento perdido na memória, será reconhecido por alguns. Fez parte de navegações sem tempo ao desconhecido da esquina. E cantado. E soletrado. Até mesmo no jogo do apanha, ou de um cozido à portuguesa, ele lá estava. Mas apenas de noite. Do autor nada se sabe...

Aqui vai um pedaço, apenas um pedaço para uso de necrotério, sem vénia.


Sei quem és
Sei que habitas no limiar do sonho e da memória
Sei pensar-te
No abismo para além da porta
fui marinheiro de todas as viagens.

Hoje amanheci assim na Twilight Zone

janeiro 23, 2008

Um prefácio Inútil

Vivo abancado como um anjo no barbeiro
Rimbaud

Este prefácio tem origem numa calamidade de contornos inexplicáveis, à luz ajustada da razão: a amizade que me liga inexoravelmente a um tipo e ao seu cão cego de nome Nicha. Conheci-o, oh, num périplo sem memória, enquanto ele escrevinhava nas vidraças da vizinhança, ora bufando, ora escrevendo, ora desenhando. O encontro só terá sido possível por uma conjugação de factores que nada ficariam a dever a um autêntico jogo de espelhos, ao dar-se o caso de acreditarmos em coincidências ou mesmo em tramóias metafísicas. Chama-se Alfredo e o prefácio escapou de sua pena (trata-se na realidade de um aparo dos clássicos e não necessita do apoio de uma vidraça).

Prefácio

A Gabriel devo a vontade inata de estar quieto no meu canto. Chamo o Nicha e o bicho mal ouve falar no respectivo, foge a sete pés, não vá dar-se o caso de estarmos de partida para mais uma exploração ao subterrâneo da vizinha. Ou ao sótão do 4ºESQ.

O blogue em questão, sem embargo, absolutamente inútil, travestiu-se nos últimos meses de inusitada tempestade interior, à qual não será de todo alheia uma vontade indómita do autor para, pura e simplesmente, não fazer nada. Nada mais certinho.

Quanto ao umbigo do referido autor, proporcional à investida, acometeu-se de tosse avulsa e lá estourou em foguetório e velinhas, pois o sei, o sei muito bem, este virar-se-á à primeira estopada um bicho de carapinha com vários olhos e uns pés gigantescos como só se encontrava nas vetustas descrições dos antípodas. Este umbigo farfalhudo e conivente arremete-se à vida e sua poesia como uma das belas artes, poderia também arremeter-se ao assassínio, mas o Quincey já havia pensado nisso. Acredita-se que a própria terra tem um umbigo, variadíssimas religiões passadas e presentes cá andam para o provar, cada qual com a sua localização própria assinalada, mas sem excepções de relevo.

Quis o destino que o caldo se entornasse mas à superfície ainda restasse um pouco de vergonha. Daí o Anjo, mas Inútil pressupõe-se.

Mas fiquemo-nos pelas entrelinhas, não vá a vassoura varar o ar à busca de azeitonas nos caracóis loirinhos da costa. Bem hajam.

Ass: Alfredo e Nicha

Editorial Inútil

À boleia de alguns mais afoitos, acomoda-se este albergue blogue, em sentido figurado, ou quase. Por certo navegará à bolina em mares revisitados por outros. Passar-se-ão geografias e venturas de cariz virtualmente pessoal. Com vitupérios, ranhetas, Cossacos e Santos, por certo, na demanda de uma Senhora. Viagens, enciclopédias, ciclopes e pesadelos nocturnos. Suores frios e banhos Romanos, Turcos, Árabes e temáticos.

Folk e Lore com letra e música do próprio. Se subirmos, à direita, observamos alguns livros, folhetins, estampilhas, piões, selos, cromos, cornetas e vendettas. A seu lado, ainda no mesmo piso, mais um cabaré com livros, circo, BD e temperatura. E uma banda sonora imprópria.

Perde-se então o olhar num labirinto que já foi Grego, achando-se um espaço para edição e editoras, coisa séria que sai do corpo e prolonga-se na enxada. Mais ao fundo, já perdido na neblina, o nosso Barracuda, dois ou três templários, um corcunda e a pedra de uma belíssima catedral Gótica.

A oriente joga-se uma espécie de Pólo antigo com as cabeças dos nossos inimigos. Por todo o lado música, muita música, contos e fábulas que nos recordam um saguão. E uma roulote chamada Sandokan.

O espaço estará intermitentemente aberto a artigos de convidados e a publicações de originais (seja lá do que for).