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dezembro 15, 2013

A Experiência pode ser educativa


A uma sugestão saída da pena de Barthelme nas suas 40 histórias: podem consumir as nossas drogas perigosas, sem dúvida, mas só para sobremesa – primeiro têm de mastigar muito bem a couve-flor, comer as verduras todas(...)

responde assim o paroxista Baudrillard: o avacalhamento ocidental, essa felicidade alimentada a hormonas e a farinhas animais, esse êxtase indolente e tecnológico, esse vírus interactivo que nós oferecemos [por exemplo] ao Leste em troca da sua abertura ao espaço democrático, é pior ainda do que...

uma dor como quando alguém nos pica o traseiro com um alfinete, isto é, uma tristeza que a longo prazo se revela pior, acrescenta Baldini, e diz mais, diz que: se nos safássemos, havia sempre alguém mais abaixo na cadeia que não conseguia. Essa pessoa gritava. Mais à frente tínhamos de nos esforçar para colmatar o espaço no tapete rolante para ela se sentir melhor, continua o Baldini, mas quem conta a história toda é o Fante.  Está tudo dito. 

setembro 29, 2012

Mas qual exposição?


Doug Dubois,”My Last Day at Seventeen” - encontros de imagem (Braga Parque); Braga (Inútil).

Não lembra ao diabo, mas lembrou não sei a quem. É aquela coisa de aproximar a arte, ou, para utilizar uma palavra nómada, a cultura (neste caso a fotografia), do centro comercial, enfim, das pessoas, a montanha vai lá, não sei se estão a ver. O braga parque, o local desta exposição, não é especialmente recomendável, mas encaixa no caminho da parquetematização, da simulação, do simulacro dos espaços e das vivências, como registou Baudrillard, simular é fingir ter o que não se tem. Ainda por cima é triste: quem vem de fora nem sabe ao que vem (braga parque é uma galeria?), nem tem que saber (conheço um caso concreto), e depois chegam ali e não acreditam. Outros, da cidade ou de perto, deslocam-se propositadamente, e lá chegados parece que não encontram o sítio, perdem-se procurando e exposição, ou abalroam-na. Os outros todos simplesmente passam. Ninguém vê nada. As pessoas circulam, vão à sua vida, fazem as suas compras, almoçam, e se lhes perguntarem, talvez digam: mas qual exposição?

abril 25, 2012

25 de Abril: nós oferecemos um (I)


Recentemente num autocarro urbano de Braga podia-se observar, numa caixinha azul junto ao motorista, um letreiro onde dizia: leia, nós oferecemos o livro, ou qualquer coisa parecida. Não cheguei a meter a mão na caixinha, absorvido que fui pelo generoso enlatado do autocarro, até bem ao fundo, como deve ser. Reflectindo, não pude deixar de pensar nesta coisa moderna de meter o livro pelas goelas abaixo dos mais (ou menos) incautos, numa espécie de exaltação efémera, ou evacuar de consciência, em contraste(?) com a vontade indómita dos funcionários (e manda-chuvas) camarários do Porto no despejo da escola (Es.Col.A.) da Fontinha, arremessando com sentido gosto livros (entre outros) pelas janelas.

Recordei-me, quase logo, de Baudrillard no seu livro “A sociedade de consumo*”, quando este se refere à cultura, a caminho (gradualmente) de perder a sua substância de sentido, comparando-a com a natureza, assegurando que nunca se glorificou tanto esta última como depois de estar destruída por todos os lados.



*A edição original é de 1970.

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