outubro 27, 2020

Nine Inch Nails - Hyperpower

É uma malha simplesmente fabulosa. Talvez a melhor solução para um (imaginário) genérico de um programa (imaginário) de rádio inútil...

outubro 22, 2020

Águas-Fortes Portenhas

 

Acordei, bebi água, e voltei aos lençóis. Dei uma vista de olhos aos jornais e enfiei de golada três “Águas- Fortes Portenhas” de Roberto Arlt. O mata-bicho do dia. Na verdade, esta história começa muitos anos antes, algures numa biblioteca.

Já não sei em qual foi: Barcelos, Braga? Conheci Roberto Arlt na estante correspondente à América do Sul, prateleira da Argentina. Ali estava ele, completamente desconhecido, solitário, a caminhar desesperadamente pelas ruas de Buenos Aires. Mas isso eu não sabia ainda. Encontrei os “Os sete loucos” por acaso, edição da Cavalo de Ferro, na capa um homem segurava uma rosa com a boca. Gostei da capa e li freneticamente o livro. Pesquisei. Não encontrei mais nada editado em português de Roberto Arlt. A vida continuou algures entre estantes, o tédio, e o ganha-pão necessário.

Acabou por sair uma nova edição da Cavalo de Ferro. Roberto Arlt passou a ser da casa. Entretanto saíram “Escritor fracassado e outros contos”, pela Snob, e “Águas-Fortes Portenhas” (Editora Exclamação) que vou consumindo aos tragos para não emborcar tudo de uma vez. São crónicas ou “notas” pintadas à mão enquanto Arlt vagueava por Buenos Aires, escritor caminhante, ou caminhante escritor, não se sabe bem.

Se pesquisarem no google e se lerem o posfácio desta edição encontram Arlt nascido em 1900 e falecido em 1942.  A crer em Alberto Caeiro uma biografia só tem duas datas: o nascimento e a morte. Entre uma e outra todos os dias foram de Roberto Arlt. A nós resta-nos o prazer de os tentar vislumbrar. 

A vida a passar por um canudo (actualização)

 (sequência)

(22/10/2020)

outubro 16, 2020

Stayaway to heaven (perdão, stairway)

Tornou-se um costume cool usar máscara nas ruas de Braga. Não é de agora. Imagino que em outras geografias o mesmo se verifique. São as mesmas pessoas que enfartam os centros comercias e outras grandes superfícies de distribuição, acotovelando-se, ora em corredores de parafusos, ora em galerias de cuecas de gola alta, não respeitando distâncias, mesmo as socialmente aceitáveis antes da coisa, resmungando ultrajes causados pela demora que as disposições impõem nas linhas de caixa. A imbecilidade é um bem de primeira necessidade, e os paradoxos que a definem não estão ainda ao alcance de um ser humano normal.  

Não se inquietem: as apps fazem parte das nossas vidas. Descarregar a nova app stayaway covid (que original - soa a Allgarve) controleira, é um afago carinhosamente descarregado (um milhão já o fez sem necessidade de cassetete). Não que a levem a sério, terá o mesmo destino das máscaras reutilizadas semanas a fio, com o nariz ao léu, ou desfeitas em fanecos que adornam os rostos como peneiras. A aparência é uma religião. Faz pandã com as modas e com o medo.

A imbecilidade escorre lá de cima (deixem passar) e gosta de viajar para o lado. É como as nossas vidas suspensas: lateralizam-se, futebolisticamente falando, mas não avançam. Dizem-nos o que comer e beber, são padroeiros da nossa saúde, definem regras de leitura, perseguem a pirisca, que se amanhe o piropo (os trolhas ficam com as vistas afectadas, deixai-os com os nudes e os vídeos do tik tok), o mundo avança com as proteínas disponíveis e a delação, com ou sem máscara, segue o seu curso.

A app é apenas mais troço desse caminho. Não se trata apenas de controlo, as pessoas já escancaram a sua vida nas redes, ou por uns tostões em passerelles televisivas; a questão é de princípio, inconstitucional até à medula, relacionada com as liberdades fundamentais, um dos pilares do Estado de Direito.  Não importa se uma larga maioria a aceita placidamente, ainda que, sem grande convicção. A partir daí o céu é o limite:

outubro 15, 2020

Irmão em Universo (deixem passar)

Álvaro de Campos nasceu em Tavira no dia 15 de Outubro de1890.


Ah! Ser indiferente!

É do alto do poder da sua indiferença

Que os chefes dos chefes dominam o mundo. 


Ser alheio até a si mesmo!

É do alto do sentir desse alheamento

Que os mestres dos santos dominam o mundo.

 

Ser esquecido de que se existe!

É do alto do pensar desse esquecer

Que os deuses dos deuses dominam o mundo.

 

(Não ouvi o que dizias...

ouvi só a musica, e nem a essa ouvi...

Tocavas e falavas ao mesmo tempo?

Sim, creio que tocavas e falavas ao mesmo tempo...

Com quem?

Com alguém em quem tudo acabava no dormir do mundo...

Álvaro de Campos, "Ah! Ser indiferente!"

outubro 14, 2020

Conquanto

 


Conquanto é uma conjunção concessiva (acho) e aparece amiúde no texto. Já lhe perdi a conta. Entretanto: trabalhar rodeada por pessoas dava-lhe uma sensação de companhia, conquanto não sentisse agora nenhum ansio de o fazer. Tem dias. 

outubro 13, 2020

Grilhetas

 

O Cristiano tem a coisa. Pasmo? Afinal a coisa tem uma relação de proximidade com a humanidade em geral. Mesmo a humanidade atlética e com algumas posses. Os especialistas dividem-se relativamente à coisa. Os políticos, consoante a geografia, também. A coisa segue o seu curso com determinação e algum enfado próprio das coisas. A sua invisibilidade é apenas aparente: vive no olhar de muitos de nós. Entre outras coisas, gostamos de ser pastoreados. Cada grilheta a seu dono.