junho 29, 2012

A selecção natural portuguesa [made in Sporting]

É que não me sobra o tempo, senão todos os dias via futebol. Bom teatro, grande comédia, próspera indústria. In Tempo Contado

Então percebi. Qualquer equipa do mundo que quiser contratar o cu de chumbo Veloso terá que acoplar o farsolas do Moutinho. Foi a partir desta premissa que Bento começou esta selecção, aqueles dois pelo meio, mais o assistente de cabeleireiro Raúl. O cu de chumbo só joga com o farsolas, o qual joga em qualquer lado e a qualquer hora (menos no Mundial de 2010, sabemos bem porquê farsolas!), e o assistente de cabeleireiro só joga em Inglaterra às vezes, mas engana bem. À sua frente, fica a outra porção da Geração Academia (Sporting) que dispensaria apresentações não fôssemos nós distraídos. O Cristiano. E o outro, o cachupa Nani, amigo do cu de chumbo, o tal que vem acoplado ao farsolas. Produtos Alvalade XXI, sítio onde o Bento começou a esmiuçar o risco ao meio nos juniores e depois nos segundos lugares da Liga. O cachupa sonha ser o Cristiano. Jogaram no United e tudo. O Cachupa até é o Cristiano mas com menos abdominais, menos remates, menos jogo de cabeça, menos golos e menos ginásio. O cristiano às vezes vai com o cachupa comer cachupa à casa da mãe deste, e tá tudo dito. Mais à frente, ao meio (não vamos contar com o suposto velocista de Barcelos que não tem culpa) joga o carteiro Postiga, e às vezes o armário Almeida (que para aqui também não é chamado). O carteiro nunca há-de ser o carteiro Postigol, pela tal razão de que para ele não há balizas, jogue de costas, ou de frente, a gosto, pressionando, ou não. Gostamos do carteiro, mas também gostamos que o carteiro jogue noutra equipa que não a nossa. Adivinharam, o Bento, por acaso, até treinou o carteiro no Sporting. Isto está mesmo tudo ligado. Olhando para a defesa, apenas nos interessam dois + um. Do lado direito, o sarrafeiro gingão Pereira, que por acaso o Sporting vendeu por um carapau e dois sugus, enganando os Valencianos, bom de ver. O outro dos dois é o tio Pepe, um privilegiado que treinou em Alvalade e não tinha lugar, bom de ver. O um é o nº1, o mãozinhas Patrício, um gajo que para jogar a extremo só lhe faltam os dois pés. Mais um produto Alvalade XXI. Mas o pior é acordar no dia seguinte, com um saco de realidade ultra fodida às costas…como diz o Cão

junho 28, 2012

As minhas cassetes 90: Morphine



You see I met a devil named Buena Buena
And since I met the devil I ain't been the same oh no
And I feel all right I have to tell ya
I think it's time for me to finally introduce you to the
Buena buena buena buena good good good



 "Buena", in Cure for Pain (1993), Morphine.

junho 26, 2012

Enquanto não …fui



Tudo isto é óbvio. O que me interessa é o despertar pela manhã. O progresso do que me é familiar ao pouco estranho, ao bastante estranho, ao completamente alheio e, finalmente, ao extravagante. É o trajecto, não a chegada, que importa; a viagem e não o desembarque.


“O velho expresso da Patagónia”, Paul Theroux. Tradução de Nuno Guerreiro Josue. Quetzal.

junho 24, 2012

Amanheceu assim (eventualmente)



Quando muito "a chupar do garrafão" é o mais mais perto (que poderemos estar) do S. João...


e noitou assado:


junho 23, 2012

À procura dos glifos da selecção portuguesa



Quando observamos o Postiga em campo percebemos que o futebol (ainda) não se joga com balizas. Mesmo depois de chegados a tão inequívoca conclusão, continuamos a acreditar que é possível, talvez pelas resmas de literatura que vamos consumindo, ou consequência de outros consumos, mais antigos, amigos do entorpecimento ou do sonho mais alucinado. Depois, cada jogo assume-se como uma simulação de estratégia, enganando não apenas adversários (treinador incluído), como os nossos próprios jogadores (treinador incluído), e todos nós (incluindo cada treinador que existe dentro de cada um). Na verdade, a conjugação de vários indeterminismos, o desconhecimento total dos jogadores relativamente uns aos outros, esse enigma a que se refere o Maradona, mais o facto de estar por ali o Cristiano e mais dois ou três dependendo, conferem a cada jogo uma quantidade de factores extra, totalmente inusitados, e que nos transportam para aquela cena dos universos paralelos do Fringe. E aí, meus amigos, tudo é possível. Basta escutar os jogadores e treinador no final dos jogos para perceber que a Olivia Dunham pode ser a outra Olivia Dunham.

junho 20, 2012

As minhas cassetes 89: The Church




Sometimes when this place gets kind of empty,
Sound of their breath fades with the light.
I think about the loveless fascination,
Under the milky way tonight (...)

"Under the milky way", in Starfish (1988). The Church.

junho 16, 2012

Na padaria o silêncio nunca foi de ouro

Nem o silêncio nem o colar da Miquinhas. E pelos vistos, nem os anéis do Sr. Silva. A Custódia antes de estar entrevadinha, costumava pavonear-se (verbalmente claro), que era só querer, só querer, e faria uma vista, oh se faria, na procissão da Senhora da Agonia, que ouro era coisa que não lhe faltava. Na padaria, em permanência, ficou apenas uma tristeza miudinha e o Mendes a falar da sua época. O Tabuletas, faz tempo, não pede “fogos”, e um cortejo de gajos novos, ronda, cheira-lhes a Martini, pedem fiado. Envergonham-se.

Ali perto, o café do Zé passa-se, vende-se ou, em último caso, atira-se juntamente com uma vida, pela borda fora. À sua frente, o café do burro, aguenta, tem tempo, sucursais. “Até ver”, repete-nos a se Lurdes, “até ver”. Adiante, não muito, no das putas, ficaram alguns alegretes, avulso, a consultar os classificados que os levariam ao paraíso da alcova, houvesse dinheiro. Foram-se as putas, ficaram as torres, vazias, escuras, como estranhos insectos erguidos para o céu. Taipam-se os últimos negócios, que se faz tarde. E os restos passeiam-se pelo centro comercial, a nova praça das nossas dores. Ninguém protesta. É a vidinha.

Mas à noite custa mais. É que por aqui o silêncio nunca foi de ouro.

junho 15, 2012

O papagaio de Flaubert*

Os dois dialogavam, ele debitando à saciedade as três frases do seu reportório, e ela respondendo-lhe com palavras já sem sequência mas em que o seu coração se desafogava. Lulu, no seu isolamento, era quase um filho, um namorado. Ele subia-lhe pelos dedos, mordiscava-lhe os lábios, agarrava-se-lhe ao lenço; e, como ela inclinava a testa abanando a cabeça como as amas, as grandes abas da coifa e as asas do pássaro agitavam-se em conjunto.”

“Um coração simples” (pp.39), in Três contos, Gustave Flaubert. Tradução de Pedro Tamen. Relógio de Água.

*Retirado do título de um livro de Julian Barnes, por sinal uma verdadeira obra-prima contemporânea, verdadeiramente inesquecível, pelo menos para mim, que é o que interessa, não é?

junho 12, 2012

As minhas cassetes 88: New Order



There's no sense in telling me
The wisdom of a fool won't set you free

"Bizarre love triangle", in Brotherhood (1986). New order.

junho 11, 2012

Salvem os bancos II [fogo Paul...afinal toda a gente sabia?]


Oh, uau, outro resgate à banca, desta vez em Espanha. Quem poderia ter previsto isto?

A resposta, claro, é: toda a gente. Na verdade, toda a história está a começar a parecer-se com um número de comédia: uma vez mais a economia derrapa, o desemprego cresce, os bancos ficam em apuros, o governos apressam-se a salvar - mas de algum modo, apenas os bancos são salvos, não os desempregados (...)

Paul Krugman (sacado daqui)

junho 10, 2012

Salvem os bancos [limpem o tesouro]


Um Tesouro Público, sentindo Dois Braços a esvaziá-lo, exclamou:

- Senhor Presidente, solicito uma votação!

- Parece-me que estás ao corrente das formas parlamentares de discurso - disseram os Dois Braços.

- Efectivamente - redarguiu o Tesouro Público - estou bastante familiarizado com as formas legais de roubar.

"O tesouro e os braços", in Esopo emendado & outras fábulas fantásticas, Ambrose Bierce. Tradução de Fernando Gonçalves. Antígona.

parasite

junho 08, 2012

As minhas cassetes 87: Mercury Rev



Holes, dug by little moles, angry jealous
Spies, got telephones for eyes, come to you as
Friends, all those endless ends, that can't be
Tied, oh they make me laugh, and always make me
Cry, until they drop like flies, and sink like polished
Stones, of all the stones i throw(...)

"Holes", in Deserter's Songs (1998), Mercury Rev.

junho 06, 2012

Ray Bradbury (1920-2012)

Morreu Ray Bradbury, autor do fabuloso e inesquecível “Fahrenheit 451” (de leitura indispensável), e do igualmente inesquecível “A morte é um acto solitário” (“Death is a lonely business”), entre outros.

"Quando estávamos isolados, cada um para seu lado, apenas sentíamos furor. Abati um bombeiro que tinha vindo queimar a minha biblioteca, há vários anos. Depois, tenho andado sempre fugido. Quer juntar-se a nós, Montag?

“Fahrenheit 451” (pp.146), Ray Bradbury. Tradução de Mário Henrique leiria. Livros do Brasil/Público

Ray

junho 05, 2012

Curiosamente W.G. Sebald andou por lá a ver os cemitérios (mas o motivo era Napoleão)

Em suma, [o visitante] não imagina facilmente a mão branca delicada de um Edward Gibbon a segurar na caneta, sentado à mesa de uma villa caiada de branco sobre o porto de Bonifácio, de onde contemplava serenamente os conflitos hiperbólicos do Império Romano em declínio. Não, no tempo de Séneca, tal como no futuro, a Córsega não é uma boa escolha para a tranquilidade. O próprio Rousseau, que procurava bons selvagens, pensou seriamente em mudar-se para lá. Mas depois pensou melhor. Tente Lausana, Monsieur Gibbon.”

“Napoleão - uma vida política” (pp.24), Steven Englund. Tradução de Pedro Elói Duarte. Edições 70.

placa

junho 03, 2012


Nunca aquela cabeça fora tão poética como no momento em que ia cair.

Recuperação pós polvo



[sábado noite] Aparição de cassetes e o raio. Num ecrã algures via-se o sr. Adams, supostamente num eterno verão (patego) de 69. Cerveja fuga e aparição de cassetes, CDs e o raio.

junho 01, 2012

A oeste nada de novo?


Enquanto não se comemora (injustamente) o dia mundial do paio do lombo, temos que nos contentar com a disponibilidade. Hoje calhou em sorte o dia mundial da criança, o que inclui as crianças portuguesas e outras de locais ainda mais exóticos, não todas, porque a data varia (supostamente) de país para país.

Nem de propósito, esta semana soubemos (em terra tão apreciadora de rankings) que mais de 27% das crianças portuguesas vivem em situação de carência económica, e sem consideração alguma pela proximidade do dia, ainda nos informa(ra)m que o pior está para vir.

Entretanto, enquanto não se vislumbra (que se saiba) um dia mundial, ou nacional do desempregado/a, ficamos a saber que o desemprego continuou a subir em Abril, sobretudo entre os jovens, e que o governo decidiu rever em alta as previsões para o desemprego. Este ano, a taxa deverá chegar aos 15,5%, cálculos oficiais, porque a realidade, essa, não vem nas estatísticas. Nada mau.

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