janeiro 30, 2014
janeiro 28, 2014
janeiro 26, 2014
Post mortem (IV)
Diz que foi na baixa idade média
da minha vida – nessa altura as trevas tinham um sabor especial e brevemente
desembocariam em indumentária a preceito – que recebi a minha primeira aparelhagem
a sério: duas bufadeiras de cassetes, gira-discos, rádio digital, garagem para
colocação de material diverso, duas colunas de som fabulosas e seis ou sete
botões que faziam as delícias das pontas dos meus dedos e inveja aos atónitos
parceiros de musicol (quase todos imaginários). Tudo enfarpelado num único
espaço geográfico em forma de caixa,
cor preta, tampo de vidro e… rodinhas. O significado daquele objecto começou a encaixar no mundo como um abraço que se
prolongava do meu corpo, deixando o objecto
de ser objecto para ser sujeito e
suplemento vitamínico, um caso de adição cuja desmama nem queiram saber. A
partir daí as coisas ficaram a mesma merda só que com grande banda sonora e
todos os sonhos do mundo. E a avó lá estava para trocar o objecto por escudos.
Ou contos. Porque as coisas custa(va)m dinheiro. A cereja em cima do bolo medrou
várias vezes, num processo quase evolutivo que descambou no objecto que encima
o outro: um leitor de cassetes com auscultadores. Ali ao virar da esquina
temporal.
[foto GP]
janeiro 23, 2014
janeiro 22, 2014
Com o atraso possível, dificilmente sigo uma linha recta [não é Maistre?]
Sabemos que vamos morrer e que estaremos mortos tanto tempo como não estivemos
à espera para nascer. É banal dizer-se que a vida é um intervalo ou uma
passagem ou um instante. Não é. A vida é uma excepção generosamente comprida à
regra nem triste nem alegre da inexistência. A vida está para o nada como o
planeta Terra está para o sistema solar a que pertence. Sim, pode haver vida
noutros planetas. Mas será uma vida que vale a pena viver? Ou que apenas vale a
pena estudar? Sabemos que temos muito tempo de vida: muito mais do que
precisamos. O direito à preguiça e à procrastinação está consagrado na nossa vida
e faz logo, à partida, parte dela. Sabemos que somos obrigados a pensar, errada
e repetidamente, que o tempo em que estamos vivos é importante. E que as nossas
noções de declínio ("dantes é que era bom; os jovens de hoje não sabem o
que perdem") são lugares-comuns de todas as gerações antes de nós. Sabemos
que não há ninguém que não envelheça, desde o bebé que nasceu neste segundo até
ao velho que, por ter morrido agora mesmo, deixou de envelhecer. A vida é uma
eternidade, por muito que seja bonito fingir o contrário. Chega e sobra para o
que queremos fazer. A oportunidade de existir é-nos oferecida. O resto é merda
ou ouro. Sabemos que estamos cá para cá estar. E que não haverá segunda
oportunidade. O luxo é saber que podemos enganar-nos. É saber que podemos
perder tempo. O tempo é o luxo que a nossa vida não só desrespeita como
desmerece.
Miguel Esteves Cardoso (in Público 17/01/2014)
janeiro 19, 2014
janeiro 18, 2014
E comer um fruto é saber-lhe o sentido*
(cliquem que a coisa cresce)
17 de Janeiro de 2014. E assim acontece(u). O arco-íris até já desbotou (na última): vai ser difícil chegar ao pote de ouro.
[fotos GP]
[*sacado ao sr. Caeiro]
janeiro 16, 2014
janeiro 12, 2014
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janeiro 10, 2014
janeiro 05, 2014
janeiro 02, 2014
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