janeiro 31, 2008
Adágios da bola
Se se cortasse um presunto a um porco ele ainda corria mais que alguns que andam ali a correr com as duas pernas.
Tal se afigura válido para outras divisões, desportos e órgãos.
janeiro 30, 2008
Dos Livros
Desta última, finalizei (por quanto tempo?) a leitura de "Wuthering Heights" (Alto dos Vendavais), com a chancela da Dom Quixote, numa tradução muito razoável e cuidada de Ana Maria Chaves. Deste Alto estaria tudo dito e redito nos anais mais ou menos amansados da literatura. Enquadramento de pena Romântica e um, diríamos, sentimento do mais fino romanesco.
Mas diríamos mais. Um conhecimento espantoso das relações humanas (e sociais, da época e não só), alicerçado numa dinâmica narrativa avassaladora, atravessada por verdadeiras personagens (Heathclifft e Catherine estão neste momento aqui comigo), situando-se a acção no Norte de Inglaterra, bem a Norte, a um passo do abismo ou do inferno. Tudo seria nada sem a imagem e o conhecimento da alma humana, plasmada nos corações, entre a felicidade fugaz e o inferno, e de nos colocar lá dentro sem trégua. Ah, e, pois sim, trata-se de uma belíssima história de amor. Emily teria 30 anos quando a terminou, apenas um ano antes da sua morte.
-Quer vir comigo, minha linda? Não lhe faço mal nenhum. Ali, não quer? Para si, sou ainda pior que o Diabo. Pois bem, há uma que não foge da minha companhia! Meu Deus, como ela é persistente! Oh, maldição! Tudo isto é indizivelmente mais do que a carne e o sangue podem suportar, mesmo tratando-se de mim. Heathclifft
Curiosamente ambos os livros atrás referidos foram adaptados ao cinema. Em 1939, Willian Wyler dirigiu o filme que em português se chamou “O Monte dos Vendavais”, protagonizado por Lawrence Olivier e Merle Oberon, tendo sido galardoado com um Óscar (em oito nomeações). Existe uma outra versão de 1993 de Peter Kosminsky, a qual não vi. “Orlando”, o filme, foi realizado em 1992 por Sally Potter, e conta com um extraordinário desempenho de Tilda Swinton.
janeiro 29, 2008
janeiro 28, 2008
janeiro 27, 2008
janeiro 26, 2008
Interlúdio ou quando aprendi a voar
O meu império: a tua morte!
A minha espada: a de Borges que também não manejo
A minha amada: a voz sinistra dos pássaros em fuga
a cidade antiga e o campo aberto
A minha sede: barricas piratas
rum roubado nos mares do Sul
Antepassados loucos e cegos por um livro
O meu Livro: o mundo todo
mais as folhas do grande carvalho,
Sob o qual me sento
Indigno destas palavras.
janeiro 25, 2008
Soltas no tasco
um pulmão refila…
M.N
janeiro 24, 2008
Marinharnocturno
Este poema, fragmento perdido na memória, será reconhecido por alguns. Fez parte de navegações sem tempo ao desconhecido da esquina. E cantado. E soletrado. Até mesmo no jogo do apanha, ou de um cozido à portuguesa, ele lá estava. Mas apenas de noite. Do autor nada se sabe...
Aqui vai um pedaço, apenas um pedaço para uso de necrotério, sem vénia.
Sei quem és
Sei que habitas no limiar do sonho e da memória
Sei pensar-te
No abismo para além da porta
fui marinheiro de todas as viagens.
janeiro 23, 2008
Um prefácio Inútil
Rimbaud
Este prefácio tem origem numa calamidade de contornos inexplicáveis, à luz ajustada da razão: a amizade que me liga inexoravelmente a um tipo e ao seu cão cego de nome Nicha. Conheci-o, oh, num périplo sem memória, enquanto ele escrevinhava nas vidraças da vizinhança, ora bufando, ora escrevendo, ora desenhando. O encontro só terá sido possível por uma conjugação de factores que nada ficariam a dever a um autêntico jogo de espelhos, ao dar-se o caso de acreditarmos em coincidências ou mesmo em tramóias metafísicas. Chama-se Alfredo e o prefácio escapou de sua pena (trata-se na realidade de um aparo dos clássicos e não necessita do apoio de uma vidraça).
A Gabriel devo a vontade inata de estar quieto no meu canto. Chamo o Nicha e o bicho mal ouve falar no respectivo, foge a sete pés, não vá dar-se o caso de estarmos de partida para mais uma exploração ao subterrâneo da vizinha. Ou ao sótão do 4ºESQ.
O blogue em questão, sem embargo, absolutamente inútil, travestiu-se nos últimos meses de inusitada tempestade interior, à qual não será de todo alheia uma vontade indómita do autor para, pura e simplesmente, não fazer nada. Nada mais certinho.
Mas fiquemo-nos pelas entrelinhas, não vá a vassoura varar o ar à busca de azeitonas nos caracóis loirinhos da costa. Bem hajam.
Editorial Inútil
À boleia de alguns mais afoitos, acomoda-se este albergue blogue, em sentido figurado, ou quase. Por certo navegará à bolina em mares revisitados por outros. Passar-se-ão geografias e venturas de cariz virtualmente pessoal. Com vitupérios, ranhetas, Cossacos e Santos, por certo, na demanda de uma Senhora. Viagens, enciclopédias, ciclopes e pesadelos nocturnos. Suores frios e banhos Romanos, Turcos, Árabes e temáticos.
A oriente joga-se uma espécie de Pólo antigo com as cabeças dos nossos inimigos. Por todo o lado música, muita música, contos e fábulas que nos recordam um saguão. E uma roulote chamada Sandokan.