março 30, 2013
março 29, 2013
março 27, 2013
A metalinguagem do reino monera
Companheiro de luta Passos, vamos mal quando não
sabemos se Passos se soletra Gaspar, embora já há muito que saibamos que se
soletra(va) Relvas de trás para a frente. Aliás, temos algumas dúvidas
relativamente a Pedro, não será Miguel, ou Vitor? Bom, talvez Passos se leia
Borges e Pedro se leia António, uma questão linguística que de qualquer modo o
senhor nunca iria compreender. De Borges – que já sabíamos que é companheiro – ficamos
também a saber que a sua empresa recebeu do Estado no último ano 300 mil euros.
Não só aconselha como negoceia com o governo, mas quem paga é o Estado.
Companheiros não faltam. Carvalho, para nossa surpresa(?) também é soletrado por Passos, facto que se confirma com a criação de um lugar para o ex-espião(?) Silva na Presidência do Conselho de Ministros, com efeitos a
partir de 1 de Dezembro de 2010. Por falar no companheiro de luta Silva
Carvalho, este não tinha um processo judicial contra Passos e Gaspar?
Quando escutamos os murmúrios ruminados do
companheiro de luta Cavaco, ficamos logo a saber que a evolução tem umas contas
a ajustar com algumas mioleiras estacionadas algures numa garagem craniana. Diz o companheiro Cavaco que a inflamação da glândula retórica trasladada de um
cortejo fúnebre político-partidário poderá não acrescentar um cêntimo à
economia. Muito menos aqui por casa, digo eu. Nestes momentos percebemos que os
beatos da linguagem económica ainda continuam no seu minúsculo reino monera,
assistindo ao naufrágio do corpo que infectam. Percebemos também a razão
visionária de Guy Debord (A sociedade do
espectáculo), quando este reconheceu a falha num sistema que talvez
libertasse momentaneamente as sociedades (industriais) da pressão na luta
(imediata) pela sobrevivência, mas que estas nunca se libertariam do seu (suposto) libertador. Por falar em libertador, ainda existem sociedades industriais? Aqui
por perto não se vê nada.
[fotograma de "Pamplinas Maquinista" (The General), Buster Keaton]
março 26, 2013
"Uma longa nota de rodapé para abrir um assunto sério"
O começo do “Ravelstein”, coisa que me escoltou
algures no fim-de-semana, é simplesmente fabuloso. Tomem lá o primeiro
parágrafo e é se querem.
É curioso que
os beneméritos da humanidade sejam pessoas divertidas. Pelo menos na américa é
com frequência este o caso. Quem quiser governar o país tem também de o
entreter. Durante a Guerra Civil, as pessoas queixavam-se das anedotas de
Lincoln. Talvez ele pressentisse que a seriedade estrita fosse bastante mais
perigosa do que qualquer piada. Mas os críticos consideravam-no frívolo e o seu
próprio Secretário de Estado o achava um brutamontes.(...)
"Ravelstein", Saul Bellow. Tradução de Rui Zink.
Teorema.
[ei seneca]
março 24, 2013
março 23, 2013
março 22, 2013
O continente dos mortos vivos [o verdadeiro Zombieland]
A questão zombie não é de somenos: existe, ou
existia, um estado com um sistema financeiro
muito particular, – este muito particular é o busílis da questão zombie – tão
particular que nos remete para peculiar
ao mesmo tempo que nos cabeceia em privado
e nos amortece com a sua fugacidade
íntima. Este sistema bancário,
perdão, financeiro, tinha uma dimensão muito superior à economia de um país(?)
chamado Chipre, ao qual supostamente pertencia, pormenor que durante longos
anos, especialmente nestes últimos de apuro (quase) generalizado, terá (supostamente)
escapado a todos os auditores, contadores, banqueiros, políticos, um fartote de
anémonas cipriotas e europeias, o que nos remete para o conceito de zombie em part-time, já que esta (nova)
extirpe, apenas zombieia em determinadas condições, normalmente por si ditadas,
oscilando entre o modo zombie e o modo mais ou menos zombie quando se trata de
assuntos irrelevantes como, por exemplo, aumentar impostos, diminuir salários, ou
criar paraísos fiscais, coisa que nunca passou pela nem cabeça de Baudelaire ou
De Quincey.
Estes e outros zombies em full-time, espécie muito em
voga nas sociedades ocidentais, já foram sobejamente retratados nos filmes de
Romero:
mas também do Carpenter:
A ilha de Chipre é pródiga em particularidades, estando
dividida desde 1974 entre os
cipriotas (Gregos) e os outros
cipriotas (Turcos), antes por lá governaram com aproveitamento, os ingleses, os
turcos otomanos, os venezianos e uma claque não oficial do Sporting. Um murete que
ninguém reconhece nem quando lá esbarra com a cornadura, faz o seu papel de
tampão. De um lado é a Europa, do outro, seja lá o que deus quiser. Entretanto,
parece que há gás natural por perto, arregaçam-se as mangas e limpam-se as
beiçolas da geoestratégia, enquanto se pede a uns que paguem (mais uma vez) a
merda dos outros: coisa que lá, como cá, não falta. Enquanto isso, zombies de
todas as extirpes assobiam ou não saem de cima. Estarão ao nível da série
Walking Dead (que é mais fraquinha, - então a 3ª temporada):
[palhaço]
março 21, 2013
março 20, 2013
E o que sobeja*, sr. Azevedo, é que o resultado de toda a produção caminha em sentido contrário (o seu sentido)
O trabalhador
aceita sob o eufemismo do contrato livre o que não passa de obrigações feudais,
porque em parte alguma encontra melhores condições. Como tudo se tornou
propriedade de um senhor, ele tem de ceder ou morrer de fome!
A empresa não
se preocupa com as necessidades da sociedade; o seu único fim é aumentar os
lucros do empresário. Daí as flutuações contínuas da indústria, as crises no
estado crónico, – cada uma delas deitando para a rua centenas de milhares de
trabalhadores.
“A conquista do pão” – La conquête du pain (pp.28), Kropotkine. Tradução de Manuel
Ribeiro. Guimarães editores.
(A edição original data de 1888. A primeira edição
portuguesa é de 1910.)
[*ligação à posta anterior]
[corte]
março 19, 2013
A verdade não está no que ele diz mas no que disso sobeja*
[calma]
*Não é por nada, mas acho que o Vergílio
Ferreira ia gostar deste título. Mas posso estar enganado. É o mais certo.
março 17, 2013
É a especialidade da casa, mas já não há
Mas a felicidade atinge o cúmulo quando se
persuadem que têm uma nova doutrina.
Erasmo (Elogio da Loucura)
Desliga
a sanfona e vamos mas é beber um copo.
M. Naco (Obras
incompletas até ver)
Companheiro de luta Relvas, sabemos que tem um plano.
Também por isso, há que ser previdente e não dar demasiada corrente eléctrica à
rádio televisão portuguesa, deixando-a em pousio, aguardando um assombro de luz
viscosa que a incendeie por geração espontânea. O que vemos é um fartote de
penumbra televisiva, quatrocentos golpes travestidos de galas, após o tombo
temos direito a uma série de furúnculos segregando arredores de ficção, acolá uma
tipa fala sobre fumo a sair de uma chaminé, diz que em Roma, e um outro com
aroma a alheiras perto de Mirandela, em estúdio um (ia-mos jurar) ser humano
dança enquanto entrevista um refugado e ali ao lado um painel de comentadores é
revezado por um grupo de babuínos, sem que ninguém note diferença. Depois de
tanta seiva um tipo já está a ferrar o dente ao sofá enquanto degusta a obra
integral de Rodrigues dos Santos, como penitência.
É verdade, existem dois canais de convívio, fora os
internacionais, no segundo estão sempre a aparecer leões, já os adoptámos de
cor e salteado, no dia seguinte à sua exibição tornam a aparecer os mesmos
leões mas a uma hora diferente, demonstrando-se assim que as suas reacções são
sempre as mesmas independentemente da hora, diz que (aquilo) é um documentário,
lá estão também as hienas para o provar. Por ali nunca se sabe quando vai
aparecer um tipo qualquer de uma universidade privada de Cucujães ou de Santa
Comba a debitar sobre os vestígios retardados do tv Rural e dos horizontes da
memória, esta homónima de rtp. É verdade que a ausência total de ideias rumina
sempre uma pergunta ou duas: que vamos meter entre o documentário dos leões e o
24horas? Quantas noites são, cinco? Mete-lhe um filme por noite e ficam aí cinco
noites, cinco filmes. E foi assim que voltaram os filmes ao segundo.
março 16, 2013
março 14, 2013
O ser humano como lugar público (ou como aos poucos também os micos, mirones, bufos e cuscos perderão a sua ocupação milenar)
RIOT. Uma tecnologia, no caso um software, criada com propósitos militares pela
empresa Raytheon, à venda a quem quiser pagar por ela. O que oferece? Tudo
sobre si: horários, hábitos de trabalho, alimentares, viagens, família, relações
pessoais. Como? Com os dados que lhe dá de bandeja. Big Brother, olha para mim.
Em cada fotografia tirada com o seu smartphone, que regista hora, data,
latitude e longitude, em cada posta do seu Facebook, no cruzamento dos seus mil
amigos desconhecidos com os seus familiares e colegas de escola, nos emails
profissionais e pessoais, quando passa na portagem, em cada compra com o seu
cartão de crédito, e com os seus cartões de cliente, nas ruas pejadas de câmaras
onde passeia com os seus miúdos e o cão, está aberta uma porta que jamais
voltará a fechar-se: a da sua vida (…).
Eugénia de Vasconcellos, jornal Público, versão em papel (13-03-13)
março 13, 2013
Ora bem, o discurso do filho-da-puta*
março 12, 2013
março 11, 2013
março 10, 2013
Também é frequente deliberarmos que naquele (outro) tempo é que era
(…) uma altura
em que muitos europeus acreditavam que existia qualquer formula infalível para
a realização de um multicentenário sonho de total e feliz desenvolvimento
individual na liberdade e no progresso, e em que o século XIX expôs perante os
olhos de milhões a sua prosperidade multifacetada e ilusória e criou a sua
miragem de conforto, segurança e felicidade para cada um e para todos, e tudo a
preços acessíveis e a crédito.
“A ponte sobre o Drina” (pp. 202), Ivo Andrić.
Tradução de Lúcia e Dejan Stanković. Cavalo de Ferro.
Pretender que
um grupo de indivíduos, mesmo os mais inteligentes e os mais bem-intencionados,
sejam capazes de se tornar a ideia, a alma, a vontade dirigente e unificadora
do movimento revolucionário e da organização económica do proletariado de todos
os países, é uma tal heresia contra o senso comum e contra a experiência
histórica que nos perguntamos, com espanto, como é que um homem tão inteligente
como Marx pode tê-lo concebido.
Bakunine, (“Oeuvres” - 1872) In “História do Anarquismo”
(pp.255), Jean Préposiet. Tradução de Pedro Elói Duarte. Edições 70.
[image]
março 09, 2013
Os cavalos também se abatem (II)
CAVALO – Se
soubesse a força que tem, não se deixava montar. Carne de cavalo: bom tema para
um homem que queira passar por pessoa séria, escrever um livro. Cavalo de
corrida: desprezá-lo. Para que serve?
In “dicionário das ideias feitas”, Flaubert. Tradução de José Fonseca do
Amaral. Estampa.
março 08, 2013
João Rocha (1930-2013)
Abri o olho para a bola era ele o presidente, então
as regras do jogo pareciam simples e o Sporting era o maior do mundo. Puto,
defendia o Sporting com unhas e dentes. Nessa altura sonhava-se com a cidade desportiva, vibrava-se com o futebol,
mas também com o hóquei, o ciclismo, o atletismo, o andebol. Não
necessariamente por esta ordem. Éramos mais que as mães: sócios, adeptos,
praticantes. Jogávamos sempre em casa. Por isso, ver jogos no Norte era perto
de Alvalade. Éramos diferentes. Agora já não sei.
[Juve]
março 07, 2013
março 06, 2013
As minhas cassetes 101: Sonic Youth
dirty boots are on - hi di ho
pinking out the black - dreaming in
a crack
Satan got her tongue - now it's
undone
I got some dirty boots - yeah dirty
boots
março 05, 2013
Estaminé anacrónico
Por uma lei
natural, o homem resiste às inovações, mas não vai até ao fim, porque, para a
maioria, a vida é sempre mais importante e mais iminente que as regras com as
quais se vive. Apenas os indivíduos excepcionais vivem um verdadeiro drama na
luta entre o antigo e o moderno. Para esses, o modo de vida está ligado íntima
e incondicionalmente à própria vida.
“A ponte sobre o Drina” (pp. 156), Ivo Andrić. Tradução de Lúcia e Dejan Stanković.
Cavalo de Ferro.
[imagem: extracto de uma das capas da edição Cavalo de Ferro]
março 04, 2013
E dantes as máquinas estavam sempre a avariar*
(GP)
Por exemplo, a indignação, não tarda, fará parte da
superestrutura onde enfileira o capital e alinha o (des)governo desta nação (assim
como outros (des)governos alinham noutras equipas do mesmo clube), e onde
alinham os estaminés políticos, vulgo partidos, vulgo mercearias da clientela
política com ramais de norte a sul. Os sindicatos e afins também alinham, notem
bem que estes se desmarcam de qualquer estrutura inorgânica civil, dos cidadãos, até que estas se tornam organizações
oficiais e passam a ser combatidas, basta atentar nos ódios de estimação à
esquerda com compartimentos dentro de compartimentos, tipo as matrioskas
russas, basta recordar a guerra civil Espanhola, para aqui chamada para nos
recordarmos das démarches dos camaradas comunistas para controlar o poder do
lado republicano (aniquilando os anarquistas e as cooperativas libertárias), e
basta escutar as pessoas durante a semana para sabermos que os que se dignarem a
votar o farão com a confiança e a sabedoria do ramerrame.
A Indignação terá
cartão próprio e hora marcada e será introduzida no normal funcionamento das
coisas e das instituições, por exemplo, o ex-presidente do BCP, o senhor Filipe Pinhal, lidera já o Movimento dos Reformados Indignados, e brevemente o senhor Dr. Relvas liderará o
movimento dos ex-governantes indignados que apenas arranjam grandes tachos, de preferência
em empresas com quem lidaram no exercício das suas funções governativas. E, por
exemplo, a este movimento, seguir-se-á um outro, o movimento do levantamento do
cheque da reforma antecipada por préstimos à nação, calhando já com o código de
reformado indignado. Entretanto, o ex-primeiro-ministro indignado seguirá as
sábias pisadas do ex-ministro Sócrates ou do ex-ministro Durão o qual, visivelmente
indignado com a falta de consideração indígena, se impôs uma temporada no limbo
europeu, e voltará ao nosso querido inferno para nos tentar pastorear a
indignação como presidente. O ex-presidente Cavaco, por exemplo, será então um
indignado das reformas encavalitadas umas nas outras, aguardando a análise
quimérica que fará justiça ao seu permanente silêncio de indignação. Ou será da
indignação?
[fotografia publicada originalmente no Tio]
* título retirado da letra de uma canção dos GNR: "Pós modernos" (1986)
março 03, 2013
Não fosse ali o acento circunflexo e começaríamos a análise à indignação antes da abordagem ao jogo de ontem, mas como podem ver as coisas andam todas ligadas…
e queremos ter trabalho!
O exame ao jogo de ontem fica à mercê (olha aqui um
circunflexo bem mostrado) do sumário do Cão. Bem vistas as coisas até existem
por aí outros fiéis amigos, ou anjinhos. Neste momento continuo a minha reflexão sobre a
temática da indignação. Desde logo o significado da palavra. Por exemplo, algumas palavras que esvaziaram de
sentido à força de servirem para tudo e o seu contrário, e que se tornaram
alegorias (ou folclore) de si próprias: ambiente, património, democracia, povo.
[queremos]
março 02, 2013
março 01, 2013
Diz que é uma espécie de comunismo utópico de reacção…
Sinto uma fúria
enorme contra esta gente que nos governa e nos governou, considero-os piores
que os salazaristas. As pessoas vivem no engano o tempo todo: porque têm
direito a voto e os jornais podem criticar o poder político julgam que isso
lhes dá algum poder soberano. O único poder que têm é o de irem colocar um voto
na urna de quatro em quatro anos para fazerem uma escolha num horizonte
limitado. A maneira suave com que age esta forma de ditadura é repugnante. É
preferível a clareza da repressão a esta maneira de nos tirarem a alma, a
honra, de fazerem de nós uns farrapos.
Paulo Varela
Gomes em entrevista ao “Ípsilon”, suplemento do jornal Público (01-03-13).
Em comum teremos, aparentemente, a tendência para um
certo anacronismo, acrescente-se o gosto pelo estudo da opinião dos visitantes estrangeiros
sobre Portugal até ao séc. XIX, projecto que oscilou e caiu da minha cabeça como
fruta madura sem ninguém que lhe valha, e pouco mais. Não tarda, terei que
deitar o olho ao seu “O Verão de 2012”, quem sabe ainda em 2013?
[ali]
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