março 31, 2018
março 22, 2018
Quem nos protege desta gente?
(daqui)
Não fosse a falta de tempo (e sobretudo de paciência) ter-me-ia deleitado em risota escarnida. Esta soberba de delimitar as nossas vidas demagogicamente encapotada de preocupação com a saúde, daria pano para mangas do nosso pensamento. Não valerá muito a pena. Não tarda chega cá no paquete. Quem nos protege desta gente?
março 21, 2018
Leituras
andava a (tentar) ler isto (depois explico se me der para aí):
desaguei (mais seriamente?) aqui:
... andando por acoli a (re)cheirar o libertino (após as entrevistas, ficando em falta a biografia):
sempre a reboque de novas demandas, sem destino, absolutamente diletante, para não dizer outra coisa....
março 20, 2018
Perder teorias*
(The Velvet Urderground & Nico, 1966)
Se, por exemplo, “There she goes again” é um produto (vamos
assim chamar-lhe) do seu tempo e de uma geografia musical que viajava entre as
ilhas britânicas, cruzando o Atlântico (não necessariamente por esta ordem), até
respirar melhor junto ao Pacífico numa cavalgada de novos pioneiros; “Venus in
furs”, por outro lado, sempre me pareceu sem prazo de validade, projectando-se
no tempo e no espaço, sem necessidade de bater à porta dos herdeiros ou da
memória. É claro que, se calhar, “Sunday Morning” (embora aqui também se
consiga – muitos anos depois é sempre mais fácil – proceder a uma localização
temporal ) ou “Heroin” também sejam bons exemplos da projecção e influência da
música dos Velvet Underground nas décadas e gerações seguintes, mas (e) também
por isso mesmo, mais palpáveis, imediatas e (agora fala o meu ouvido), mais
cansadas de tanto batidas. Não falo sequer (de propósito) das cantadas pela Nico, pois logo
sobrevoam imagens de pistas de dança em Viana, Braga, Barcelos, com bolinhas de
cores projectadas no dancing nocturno ou na matinée de todos nós. São lindas e
é tudo. É claro que, se quisermos, “The Black Angel’s death song” e (sobretudo)
“European Song”, são o anúncio (não confundir com prenúncio) da nova era (uf, o
que ainda tivemos que esperar) do noise e da distorção, Spaceman 3, para não me
espetar agora com os (intelectuais) Sonic Youth, vieram para nos salvar, e o silêncio
nunca mais foi igual. Quer dizer, as juventudes sónicas, as paisagens da distorção
dos oitentas, noventas e por aí fora, lá se foram lambuzar, é certo, mas nestes
temas (o sr. Cale está bem presente em ambos), temos o docinho da estranheza,
da libertação, tudo muito lá para o fim, como se fosse a travessura radical para
os meninos se divertirem. Em “Venus in furs”, de acordo com o meu ouvido e
experiência psicomotora musical, já lá está tudo, deixando ainda espaço para uma
quantidade enorme de coisas que, não estando, acabarão (com o tempo) por estar, porque anunciam, projectam, desbravam
tanto caminho que depois a catana fica em suspenso, danada, pelo pouco trabalho
que tem de realizar. Os Velvet Underground são o primeiro projecto artístico
pós-moderno e Andy Warhol (que ainda recentemente se passeava por Braga na pele
de um sósia cagadinho) é o pai, ou o tio, da cultura pop, seja lá isso o que
for. Talvez esse “pop” afinal se sobreponha a Venus in Furs. Ou não. Agora vou
ver se o chão da cozinha já secou…
* título sacado de um livro de Vila-Matas, talvez o único do autor que não acabei. Espera aí, foi esse e aquele outro do Kassel não convida não sei a quê, escrito após uma cena qualquer pós-moderna. Isto anda tudo ligado por correntes ínfimas. Não?
março 19, 2018
março 15, 2018
Isto está visto
Gosto de entrevistas. Gosto de ler entrevistas a escritores
e a escrevinhadores. Alguns são verdadeiros escritores de entrevistas. Dão bem
com os reposteiros, com o branco das paredes, assentam bem com tal ou tal
soalho. Um António Lobo Antunes fica sempre bem, e já praticamente só o leio em
entrevistas, ou numa ou outra página em que o acaso lírico me visita, fora
isso, quase nada. Deu-me ultimamente para ler dois livros com entrevistas: “O
Crocodilo que voa – entrevistas a Luiz Pacheco”, e “Roberto Bolaño: Últimas
entrevistas”. O primeiro é organizado e introduzido por João Pedro Jorge, o
biógrafo de Pacheco. Nas entrevistas, Luiz Pacheco joga naquela posição de
artilheiro (assim o denomina o português futeboleiro de Brasil), disparando em várias
(quase sempre as mesmas) direções, devidamente ajudado por um meio campo ávido
de sangue. Pacheco daria (na minha modesta imaginação) uma rede social ainda
não inventada, cruzamento do faice
com o buque, uma app Pacheco, que a bombar, seria um caso sério para passar o tempo.
Assim começou ele a escrever. De Bolaño, não sei porquê, gosto dos olhos
tristes, uns olhos que escondem uma ambição desmedida, freak, mas desmedida,
ambição essa que, por exemplo, se projecta na megalomania insano jornalística
de 2666 (que eu fui lendo em casa, na
praia e por aí – livro comprado por 3€ numa feira em Guimarães), livro (ou
livros?) editado após a sua morte, resgatado através de um corte e cose
discutível, claro, defraudando (será?) a ideia do seu autor de o dividir em
cinco postas correspondendo a cinco livros, cinco vezes mais dinheiro, em
princípio, para os seus filhos. Muito mais nos conta Marcela Valdes na sua
pojante introdução, enquanto (imaginamos nós – sem grande deleite), se masturba
com o calhamaço 2666, edição americana, acho. Na sua última entrevista, concedida a
Mónica Maristain (gosto deste nome: Maristain), da Playboy (a sério) edição
mexicana, a páginas tantas, a entrevistadora julgando estar perante um miss
universo, chuta “o mundo tem remédio?”,
sem se rir, tudo isto tem, supostamente, um contexto, e Bolaño calmamente responde:
“o mundo está vivo e nada vivo tem remédio. Essa é a nossa sorte”. A edição da
revista data de Julho de 2003. Bolaño
morre a 15 de Julho de 2003.
Imagem de um crocodilo (na verdade trata-se de um jacaré) a voar. Está visto
março 11, 2018
O paraíso das roçadoras
Não, não se trata de um filme porno, mas parece que ninguém
sabe ao certo até onde e quando deve ir a roçadora. Enquanto chove as costas
folgam. Esperemos que desta vez não se sacuda a água do capote. Entretanto, ficamos a saber de um resgate muito apropriado
para aconchegar as nossas consciências. A coisa, parece, teve honras de espaço
televisivo. Como não poderia deixar de ser. Lá fora, e nos nossos cafés ao balcão, não se fala de outra
coisa: a lista dos mais ricos do mundo, segundo a forbes. Parece que o número
de bilionários saltou 18% para 2.208 pessoas, contra 2.043 no ano passado. Duas
mil, duzentas e oito pessoas. O Pavilhão João Rocha sem casa cheia, ou uma boa
casa para o Belenenses num dia de sol. Somadas, as fortunas, dão para um gajo
arranjar um problema sério na hora de pagar a renda da casa, ou de dar uma
gorjeta. Todos os anos levamos com este festim de empreendedorismo jocoso. Talvez
porque, ao contrário dos cifrões, se tivéssemos que contar as pessoas do outro lado da balança, a cifra resultante tivesse que ser devidamente aconchegada por
mais uns quantos resgates caninos.
março 10, 2018
Mergulho lento
Ontem fui com um amigo ao Hard Clube
ver os Slowdive. Não sou verdadeiramente um fã, mas gosto de os ouvir quando
calha. Nem sempre calha. Deu para (tentar) sacudir as últimas semanas de
trabalho. Deu para beber um copo, para conversar e apanhar uma molha. A zona à
volta do Hard está cada vez (como é que se diz agora?) trendy. Restaurantes e cenas gourmet mais ou menos copiadas de todo
o lado onde existem cenas gourmet ou trendy. Difícil é encontrar um tasco
para beber uma cerveja a preços que os indígenas possam pagar. Mas anda muita
gente na rua a treinar o inglês, lá isso anda. Ainda bem. E ainda bem que apesar do alerta
laranja o rio não lhe deu para saltar as margens. Seria um mergulho lento com um final muito trendy.
março 02, 2018
Anfibiologia
Ainda conseguiu voltar à superfície e pôr outra a vez a cabeça fora de água. Então deram-lhe mais uma bordoada com a pá do remo, sólida e certeira, bem no alto da cabeça. Ao mergulhar definitivamente, engolindo água e sentindo-se ir para o fundo, teve um último pensamento lúcido: "que felizes devem ser os anfíbios!"
mário-henrique leiria
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