abril 29, 2008
Do tempo único das padarias
abril 28, 2008
abril 26, 2008
Com este sol todo entardeço assim
O sogro morreu e deixou pouca coisa; ele indignou-se com isso, montou uma fábrica, perdeu nela algum dinheiro e retirou-se para o campo, onde pretendeu desforrar-se. Mas, como não entendia nada de agricultura do que de chitas, e porque montava os cavalos em vez de os pôr a trabalhar, bebia sidra às garrafas em vez de as vender em barris, comia as melhores aves de capoeira e engraxava as botas de caçar com o toucinho dos porcos, não tardou a aperceber-se de que mais valia abandonar toda a especulação.
”Madame Bovary” Gustave Flaubert
abril 23, 2008
E um dia mundial da couve-flor?
Hoje entardeço assim na twiligh zone
De repente, ou se calhar, não tão de repente quanto isso, a machina ganha vida e apodera-se, com um sorriso, da tarde toda. Não recuo. Atiro-lhe uma dedada mal sentida e resmungo-lhe em troca, com um sorriso desmaiado: ”máquina com vida própria? Que déjà vu bafiento”. Sentei-me e escrevi: “De repente, ou se calhar…"
abril 21, 2008
Esgoto a céu aberto
No anjo nunca se fala de política
Apodera-se de mim uma nostalgia selvagem, do tempo, ou sem ele, mas que perdura na memória, do pensamento. Já existiram (em épocas não muito remotas) políticos capazes de tal feito.
abril 20, 2008
Hoje amanheceu assim na Twilight Zone
abril 18, 2008
abril 17, 2008
abril 16, 2008
A anoitecer
Anoiteço com Robert Walser:
Aprende-se muito pouco aqui, há falta de professores, e nós, rapazes do Instituto Benjamenta, nunca seremos ninguém, por outras palavras, nas nossas vidas futuras seremos apenas coisas muito pequenas e subalternas.
Anoiteço ainda mais, e dá-me para me abster do mundo lá fora. Chove. Chovo com a chuva de encontro à vidraça. Nenhum sinal de que sairemos daqui tão cedo.
abril 14, 2008
Às voltas na noite
Estava a magicar em ver o mundo do meu canto do mundo, e dei por mim sem mundo para ver no meu canto, que já não fosse mundo para se ver. Tentei, à força, adjectivar o meu mundo e conforme, consubstanciar o outro. Acordei, não transformado num gigantesco insecto, mas, num caso real e concreto, de adjectivação possível. Bebi água, já de saída de um mundo para o outro, sem resultados visíveis a olho nu. Voltei ao whisky, sem pejo na garrafa.
abril 13, 2008
abril 10, 2008
Ainda sem amanhecer verdadeiramente...
“Ah”, disse o rato, “o mundo cada dia fica mais apertado. A princípio era tão grande que até me metia medo, depois continuei a andar e ao longe já se viam os muros à esquerda e à direita, e agora – e não passou assim tanto tempo desde que eu comecei a andar – estou no quarto que me foi destinado e naquele canto já está a armadilha em que vou cair”. “Tens de inverter o sentido da marcha”, disse o gato, e comeu-o.
"Pequena Fábula"
Franz Kafka
in "Párabolas e fragmentos"
Assirio & alvim
abril 08, 2008
Um nada cheio de vozes
Sempre fui um paroquiano da marquise. É um facto corroborado por um amigo meu. Nunca fui de festas, embora fosse a todas, com excepções consagradas na regra. Gosto de beber dez copos apenas com quem me apetece e, variadíssimas vezes, em lugares que não lembram ao diabo, embora este por lá apareça.
Ontem, entre dois copitos de whisky, revisitei “Bande à part” (1964), de Jean-Luc Godard, sem me recordar à melhor de duas, quando o teria visto. Fui à festa.
Há uns anos via os filmes todos. Este recordei-o ontem como um dos que, se calhar, não queria (re)ver. Fazia (o filme) todo o sentido, nos idos de 1964. Faria? A penugem cinematográfica regurgitava um novo olhar, espelhado depois no cinema americano, dizem. Recordei o Estrangeiro de Camus, apenas no desejo imediato do instinto. Alguma literatura, sem comensais, dormitava nas personagens, a literatura a carvão, rebocando um cinema. Prefiro, como sempre, os Italianos, e o Pierrot le fou…
Sem desligar o DVD, intrometi-me em conversas deveras triviais. Até ao fim.
abril 07, 2008
Hoje amanheci assim na Twilight Zone
Entre as resmas de livros que acompanham os meus dias e noites, apetece-me escrever algo sobre “O mal de Montano”, de Henrique Vila-Matas, escritor catalão, editado pela Teorema. Na verdade, não me seduz tanto falar sobre o livro mas sobre literatura. Talvez nem isso. O mal de Montano é o mal de Literatura, espécie de enfermidade literária de que muitos padecem e que pode assumir várias formas. Mais não digo.
Talvez tenta despertado para o mal da literatura ao ler Pessoa e a sua Tabacaria. Era um adolescente e um desavindo da vida. Nada novo. Planeava por esses dias arrojados roubos de livros. Já estava enfermo.
Refira-se, para que conste, que o mal vem de trás, e não será talvez um mal de literatura, mais um mal dos livros, solidamente erigido na banda desenhada da infância, nas trocas de livros ao fim-de-semana com os tios e com os amigos. Um apego doentio ao objecto, não apenas ao seu conteúdo. E um desejo desvairado que me escolta até aqui, no momento preciso em que escrevo. E escrevo o mal da leitura. Sou enfermo de ler e ler. Leio por vício e por prazer, e nos interstícios do vício, releio-o, outras vez. Leio em todo o lado e por todo o lado, leio tudo. Gosto particularmente dos panfletos que acompanham os medicamentos. São de leitura obrigatória.
abril 05, 2008
Cassetes piratas
abril 03, 2008
De costas forradas
Quero lá saber da benesse das matronas sobre os meus dias. E vá lá, ainda tenho um bom cão para a todas esfolar de proveitos. Quero lá saber dos impostos a sabre de obtusos, com o conluio ainda que malfadado dos inertes que bovinam nos nossos quintais. Mas porra, dizer mal, não reconhecer as matreirices técnicas de um Cristiano Ronaldo, a vomitar-se de futebol, e a borrifar-nos de arte, principescamente e à borla na TV dos nossos descontentamentos. Não admito.
Lá pelo rapazote não conseguir elaborar o mais leve propósito de uma ideia, isso nada significa quando sobejamente nos dignifica no insólito da sua arte. Inveja de alguns cabrões dessa Europa, aristocratas malfadados e mal desovados.
Mais a mais, a politicada (e não só) cá do burgo, não destila uma ideia há séculos e lá vai, no andor, às costinhas dos sobrecarregados.
Acabei de ver o Sporting, e com a procissão no adro, não se imagina melhor que um vai-não-vai de tormentas, a nossa carga em carrinha de caixa aberta.
abril 02, 2008
abril 01, 2008
Os dias quase noites
Renovo os dias com alguma música. Cada vez menos. Escutei, entre o trabalho da forca, ao computador, e um arranjinho sublime de frango assado com tomilho, cuja duração não inferior a 1h30m, cumulei com um arroz branco de cenoura e uma salada rápida mística; escutei, digo, parte do novo Portishead, Third.
Com um branco fresquinho em fundo baço, admirei a nova textura melódica. Dir-se-ia que renovaram