novembro 30, 2019

"E para que precisamos nós de pregar os mortos?"


Entre um e outro mergulhar da pena no tinteiro, escreve Petrarca - "entre um mergulhar da pena no tinteiro e o rpóximo, o tempo passa: e eu apresso-me, esforço-me, e corro em direcção à morte. Nós estamos sempre a morrer - eu, enquanto escrevo, vós, enquanto estais a ler, e os outros, enquanto estão a ouvir, ou a tapar os ouvidos; eles estão todos a morrer".

novembro 25, 2019

New Order - Elegia



Em plena corrida, obra certamente do acaso, voltei a escutar isto. Poderia ser o genérico longo da meu programa de rádio que apenas existe na minha cabeça, em verdade, não precisaria de passar mais nada. Está por aqui tudo, desde o nascimento do universo até este momento em que escrevo em plena corrida, obra certamente do acaso...

Edição limitada, my ass



Existe por aí um móvel com os embaraços que ficaram a meio, ou no início, outros que se esqueceram, outros que apenas aguardam a sua vez. A minha des(organização) permite-me ser surpreendido a cada momento. Este último veio da generosidade alheia e está em trânsito para a estantina. Diz que é uma edição limitada. É como nós. Ilimitado só mesmo o riso que tudo isto nos causa.  

novembro 16, 2019

work in progress


Nos calhamaços a tiracolo é fundamental uma boa apneia, ainda para mais num asmático dado a cigarradas, por isso a ultrapassagem das duzentas e cinquenta milhas (páginas) é fundamental. É nesse ponto fulcral que o autor inevitavelmente deixa de nos surpreender, começando-se a sentir como nossa, a sua linguagem, a reconhecer os seus trejeitos, é quando surge aqui e acolá uma miudinha desconfiança relativa à montanha de palavras que se acumulam nas páginas, um tempo de decisões sombreadas por um possível enfado. Não é este o caso. Essa meta mental (mental para mim) neste caso particular, foi sinceramente ultrapassada com alguma satisfação, confundindo-se com o prazer de uma prova de fundo. Não são os manejos que o salvam, são as entrelinhas que ditam essa vontade de continuar, um aquecimento da alma muito próximo do cérebro, e algumas frases que nos injetam estupefacientes em quantidade suficiente para continuar sem aguadeiros. Será, sem dúvida, o estilo que mundanamente insinuei como maneios, que nos move, mas igualmente a aventura da reconstituição histórica que não se perde no estilo primevo de alguns nossos confrades que confundem época com lição, não se delimitando em imagens a dar para o filme americano de adereços devidamente homologado em máquinas de imediatismo, ou em devaneios de trazer por casa. Ficamos a degustar um espinho cravado sobre a vida, a política, o manejamento (deixem seguir esta) da palava. Os diálogos são fabulosos. O melhor é tomarmos um comprimido que isso passa. Mais umas milhas (na quatrocentas e tal navegamos) e chegaremos lá. Mas não sabemos bem onde.

novembro 07, 2019

leaving meaning.

Resultado de imagem para leaving meaning

Este álbum é uma banda sonora para um filme ainda não realizado – ia escrever feito, mas não me parece apropriado debater a ignorância. Sem filme, sem grande ou curta metragem, até agora, claro, teremos forçosamente que dar-lhe o benefício da dúvida da realidade, mas qual realidade?, e aqui não falamos de países, de zonas, de hemisférios, mas de algo que, sendo interior, quando se mistura com o ar, forma uma epiderme potencialmente explosiva. À volta dessa epiderme estamos nós; nós e a arte descrita por Maiakowski algures num poema. Maiakowski se tivesse durado mais uns invernos, talvez pudesse visitar incógnito Portugal, talvez, e assim percebesse que a morte é uma inimiga de classe, principalmente daqueles que não comem, e não comem porque não têm comida, nem sabem plantá-la, ou colhê-la, ou procurá-la, nem nada sabem de politica a não ser o que lhes dizem,  seria mais ou menos assim um canto da Europa ainda antes da primeira guerra mundial, um canto rural do esquecimento, e muito depois ainda cheiraria: a dor, sem qualquer arte que a pudesse violentar para acalmar os deuses que desciam dos ceús. Que disco fariam os Swans em Portugal? Sinceramente não sei, sei que uma vez os vi e ouvi sentado em plumas, que é o mesmo que as cadeiras do grande auditório (é assim que se chama?) da casa da música. Ficamos conversados. Perdão, sentados. Maiakowski, olha para Portugal. Deixa-te disso.

novembro 06, 2019

novembro 04, 2019

Homo homini lupus


O homem é lobo do próprio homem

Acrescentava-se muito bem escrito e estaria tudo dito. Fosse a nossa relação com o terra a terra assim e seríamos felizes, aconchegados na nuvem do bem-estar, aquecidos nos claustros da ausência do pensamento, ou isso. Sucede que o que inspira a nossa tormenta é o mesmo que alimenta o nosso devaneio, não se lendo aqui como sonho, já que não há nada para comandar, muito menos a vida, em cujo alicerce caótico fizemos ninho. Foi na FNAC. Estava calor, como, aliás, é o costume dos novos espaços de choco, quando o meu olhar encontrou esta capa, esta, ou a mesma em que se lê: Melhor livro 2009: “A minha primeira escolha é o WOLF HALL” – Vasco Pulido Valente/Público. Ao lado da capa, ou em cima, talvez em cima, assinalava-se uma promoção daquele tipo leve este livro por este preço que mesmo assim não temos prejuízo e se o tivesse comprado antes teria sido roubado. Pensei nisso uns segundos, lembro-me bem. Qual seria o ano? 2014, 2015? Talvez 2015. Por essa altura já esta obra de Mantel de vendia ao desbarato. Anunciada anos antes como vencedor do Booker (aliás não foi a única vez que ganhou), arribou aqui no burgo como um romance histórico cujas vendas seriam copiosas e certas. Todos sabemos como são os ditos romances históricos que por aí tresandam de leitores. Consigo imaginar menos os leitores. Ainda assim faço um esforço. Entretanto, a Civilização Editora seguiu o caminho desta obra de Mantel, o esquecimento. Esta e outros suas obras já não se encontram na maioria dos catálogos dos centros comerciais online: FNAC e WOOK, por exemplo, mas andam por aí em feiras, nos usados, em quiosques esquecidos, onde amigos as reconhecem e, por razões puramente humanitárias, as salvam do olvido fazendo-as chegar até nós. Foi mais ou menos isso que aconteceu recentemente. Daquela primeira vez (mesmo com referências) havia deixado passar a oportunidade. Mas nada sobrevive aos nossos devaneios. Nem mesmo os livros que não lemos. Não necessariamente por essa ordem. 


Coisas que se vão ouvindo por aí: Jonathan Bree