O homem é lobo do próprio homem
Acrescentava-se
muito bem escrito e estaria tudo dito. Fosse a nossa relação com o terra a terra assim e seríamos felizes,
aconchegados na nuvem do bem-estar, aquecidos nos claustros da ausência do
pensamento, ou isso. Sucede que o que inspira a nossa tormenta é o mesmo que alimenta
o nosso devaneio, não se lendo aqui como sonho, já que não há nada para
comandar, muito menos a vida, em cujo alicerce caótico fizemos ninho. Foi na
FNAC. Estava calor, como, aliás, é o costume dos novos espaços de choco, quando
o meu olhar encontrou esta capa, esta, ou a mesma em que se lê: Melhor livro
2009: “A minha primeira escolha é o WOLF HALL” – Vasco Pulido Valente/Público.
Ao lado da capa, ou em cima, talvez em cima, assinalava-se uma promoção daquele
tipo leve este livro por este preço que
mesmo assim não temos prejuízo e se o tivesse comprado antes teria sido
roubado. Pensei nisso uns segundos, lembro-me bem. Qual seria o ano? 2014, 2015? Talvez 2015. Por essa altura já esta obra de Mantel de vendia ao desbarato. Anunciada anos antes como vencedor do Booker (aliás não foi a única vez que ganhou), arribou aqui no burgo como um romance histórico cujas vendas seriam copiosas e certas. Todos sabemos como são os ditos romances históricos que por aí tresandam de leitores. Consigo imaginar menos os leitores. Ainda assim faço um esforço. Entretanto, a Civilização Editora seguiu o caminho desta obra de Mantel, o esquecimento. Esta e outros suas obras já não se encontram na maioria dos catálogos dos centros comerciais online: FNAC e WOOK, por exemplo, mas andam por aí em feiras, nos usados, em quiosques esquecidos, onde amigos as reconhecem e, por razões puramente humanitárias, as salvam do olvido fazendo-as chegar até nós. Foi mais ou menos isso que aconteceu recentemente. Daquela primeira vez (mesmo com referências) havia deixado passar a oportunidade. Mas nada sobrevive aos nossos devaneios. Nem mesmo os livros que não lemos. Não necessariamente por essa ordem.
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