junho 25, 2017

Adoro os sinais de perigo


Antigamente fumavam erva de má qualidade, agora discutem Airbnb, regulamentação e startups de tuk-tuks e hostels onde se dorme no meio de mosquitada e móveis do Ikea. Portugal é atraente por causa do património histórico que é preciso cuidar (e que a indústria turística devia pagar a dobrar e com língua de palmo); o resto arranja-se.


(O sr. Viegas deve saber do que fala, não?, outrora diz que foi secretário de estado da cultura, assim mesmo, com letra pequena). 

Valete de trunfo

junho 19, 2017

E agora?


Não há rigorosamente nada de novo a dizer. Já tudo foi estudado, explicado e escrito na última década e meia. Houve comissões para todos os gostos e feitios. E foi feito muito trabalho sério. Faltou tudo o resto. Faltou pôr a tratar de incêndios florestais quem percebe de floresta. Faltou integrar prevenção e combate. Faltou ordenamento. Faltou pensar no longo prazo. E adiou-se o mesmo de sempre: fazer da floresta uma prioridade, fazer de um terço do território nacional uma prioridade.

Houve, ninguém nega, uma conjugação extraordinária de factores adversos, como já tinha acontecido em 2003: ao ar seco e temperaturas altas juntaram-se as trovoadas secas e o vento forte numa tragédia de dimensões inéditas no país que provocou pelo menos 61 mortos e 62 feridos, alguns em estado grave, no concelho de Pedrógão Grande.


junho 17, 2017

Quando a "mercadoria se contempla a si mesma num mundo que ela criou" *

(Braga, centro da cidade - 17-06-17)

Os turistas ainda vão pensar que é uma tradição da cidade de Braga: a exposição de pratos confeccionados. Pratica desenvolvida por um restaurante do centro da cidade, esta pode ser observada mesmo nas condições mais adversas, como hoje, aliás, mantendo-se o prato devidamente aquecido pela exposição aos raios solares. Uns bons 40 graus. Não se trata nesta, e nas outras vezes, apenas de um desperdício facilmente evitável, mas de um desperdício devidamente autorizado pelo parque temático, transformando-se num espectáculo (mais um) que converte a cidade numa projecção de si mesma. Não passa pela cabeça (não raro, caridosa) de ninguém, que aquela imagem possa ter outro tipo de influência em alguns estômagos, e respectivos bolsos, que por ali passam… vazios. Não. Os estômagos, assim como os bolsos vazios, aposto, aplaudem o espectáculo. Eles sentem-se parte dele e basta. Por mim, recusei tirar bilhete. Proponho que, no início da próxima exposição, participemos com as nossas mandíbulas de animais, outrora humanas, tornando o espectáculo ainda mais apetitoso. A exposição de um prato vazio será certamente aplaudida como mais uma (inovadora) instalação de arte contemporânea, desenvolvida por algum artista residente. 

(*Guy Debord)

junho 11, 2017

We'll share a drink and step outside

Continuo a inventar os meus dias. Faço de conta que sou. Socializo. Vou a debate. Horas existem em que acredito. Tudo somado sou eu mais um ou outro. Às vezes não dou conta. Estou ali. Aqui. Acolá. Estar nem sempre é ser visto.  O resto imagino que seja mais ou menos assim: