março 30, 2014

Sabe, também se pode ser avaro com o próprio corpo...

E assim cheguei a uma parte muito importante desta alegoria, sobre um incêndio numa livraria. Parecia-me tão importante que tudo o mais que escrevera até então não significava nada em comparação com aquilo. Ia justamente formular a ideia de que não se tratava de livros que ardiam, mas sim de cérebros, cérebros de pessoas, e ia recriar uma verdadeira noite de S. Bartolomeu, em torno desses cérebros incendiados, quando, de repente (…)

Knut Hamsun ("Fome").


A capa até escaparia, não fosse a frasezinha caída do céu (arrancada à má fila ao Thomas Mann), não fosse a menção ao nobel, não fosse a referência garrafal ao prefácio do Auster com direito a primeira página mais treze lá dentro, a fazer inveja ao Sarte na arte de reescrever o livro que se prefacia. Três autores, só na capa, a auxiliarem o moço entre as árvores. Lá dentro, antes do livro do Knut, sobra o Artaud, quando este escreve:
Aquilo que é importante, parece-me, não é tanto defender a cultura, cuja existência nunca impediu um homem de passar fome, mas sim o extrair daquilo que se chama cultura, ideias cuja força motivadora seja idêntica à da fome.

O Auster deveria ter ficado por aí, na citação que faz do Artaud. 

março 26, 2014

Come up and see me



Isto, que não é pouco, andou por aí, e eu devo ter ido trabalhar, ou quase. De qualquer maneira...longe, para não variar.

março 18, 2014

E apressou-se a ironizar para encobrir a nudez do vício


– A poesia é como o sol que faz crescer as eternas florestas e que gera culicídeos, mosquitos e melgas – disse Blondet. – Não há virtude que não venha acompanhada de um vício. A literatura também gera livreiros.

Balzac ("Ilusões Perdidas")
[fotograma de os 400 Golpes de Truffaut]

março 15, 2014

A Oeste nada de novo (ibidem)



Entretanto, depois do Sr. Gonçalves e do Sr. Rendeiro, o fundador do BPN, Sr. Oliveira e Costa, entre outros, também solicitaram a sua prescrição como beneméritos da ordem da nossa burrice, com o beneplácito dos nossos bolsos...vazios.  

março 10, 2014

Todo o reincidente leva já em si o reabilitante?*


Não sei se repararam na interrogação ao lado do leão? Não? Na verdade não é visível, de todo. Atentemos então na do título. Um tipo sai de casa a meio da tarde de domingo, deixa um livro e alguns pensamentos daqueles alienígenas para trás, toma banho mais cedo (não necessariamente por esta ordem), encontra a malta e começa a sportingar, meio caminho andado para um pacemaker, isto sem contar com os apitos. Vai daí começa o jogo, na verdade uma cena embrulhada em papel de batatal, chuta daqui e dali, marcamos logo um golo prontamente invalidado pelo apito e percebemos que o que se passava ali tinha um argumento, daqueles rapetas, previsível, com todas as mesmices que se impõem a filmes de merda, mas ainda assim um argumento, cuja única ideia verdadeiramente apalavrada com o cérebro seria: a equipa das listas verdes e brancas horizontais, neste caso vestida de tapete da páscoa à paisana pendurado à janela, não pode ganhar o jogo, ok? Em caso destes não nos resta outra alternativa do que pedir uma cerveja embrulhada em cigarros. Foi o que fizemos. Quando até um Pravda ou outro lhes reconhece o talento, quer dizer que está tudo encaminhado, não? 

[*frase título sacada de um cena do Cortázar, sem interrogação, e brisa leonina].

março 06, 2014

Em breve no tasco, com língua à casa


Começa assim:

Cuanto más de vanguardia es un autor, menos puede permitirse caer bajo ese calificativo. Pero, ¿a quién le importa esto? De hecho, mi frase tan sólo es un mcguffin y tiene poco que ver con lo que me propongo contar, aunque podría ser que a la larga todo lo que cuente acerca de mi invitación a Kassel y posterior viaje a esa ciudad termine por desembocar en esa frase precisamente.
      Como algunos saben, para explicar qué es un mcguffin lo mejor es recurrir a una escena de tren: “¿Podría decirme qué es ese paquete que hay en el maletero que tiene sobre su cabeza?”, pregunta un pasajero. Y el otro responde: “Ah, eso es un mcguffin”. El primero quiere entonces saber qué es un mcguffin y el otro le explica: “Un mcguffin es un aparato para cazar leones en Alemania”. “Pero si en Alemania no hay leones”, dice el primero. “Entonces eso de ahí no es un mcguffin”, responde el otro.
      El mcguffin por excelencia es El halcón maltés, el film más charlatán de toda la historia del cine. La película de John Huston narra la búsqueda de una estatuilla que fue el tributo que los Caballeros de Malta pagaron por una isla a un rey español. Se habla muchísimo, sin parar, en el film, pero al final el codiciado halcón por el que tantos incluso habían asesinado resulta ser sólo el elemento de suspense que ha permitido avanzar a la historia.