agosto 31, 2020

A origem das espécies


Na ignorância antiga, chamemos-lhe assim, os que eram ignorantes queriam que os filhos deixassem de o ser. Havia a consciência da ignorância ser má. Hoje há uma ignorância agressiva, falsamente igualitária e é uma das razões porque cresce a pseudociência. Cresce a pseudociência, o desprezo pela privacidade, pelas mediações, pelo jornalismo — analisar um facto não em bruto mas mediado por um saber que lhe dá contexto. Estão contra a mediação do saber académico. (...) Como se pode ser melhor preparado sem ler? Há gente que faz cursos universitários sem ler. Dizem que lêem no computador. Uma treta. Ainda estou à espera que alguém leia Guerra e Paz no computador ou num telemóvel. Há muita complacência, muita cedência à ignorância e os resultados estão à vista. O aumento de partos em casa com más condições, o mito do nascimento natural com mortes, não tomar vacinas ou medicamentos, a substituição de tratamentos por mezinhas, ir ao curandeiro em vez de ir ao médico.

(diz JPP aqui)

agosto 18, 2020

Uma obra extra-humana


Céu e inferno são concepções sociais para uso da plebe - e eu pertenço à classe média. Rezo, é verdade, a Nossa Senhora das Dores: porque, assim como pedi o favor do senhor doutor, para passar no meu acto; assim como, para obter os meus vinte mil réis, implorei a benevolência do senhor deputado, igualmente para me subtrair à tísica, à navalha de ponta, à febre que vem da sarjeta, à casca de laranja escorregadia onde se quebra a perna, a outros males públicos, necessito de uma protecção extra- humana. 

Eis a questão

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agosto 17, 2020

Numa feira perto de si (II)


Uma edição Guerra e Paz (2006) candidata a uma das piores capas de sempre. Nem se consegue perceber o nome do autor. Bom, encontra-se por aí, mesmo sem óculos, numa dessas feiras perdidas nos claustros do esquecimento humano. Com máscara e tudo. Em análise...

Numa feira perto de si


Cerca de trinta e poucas páginas lidas de um trago. 

agosto 15, 2020

Coisas eternas



Viagem curta de carro para casa, esta música na rádio (numa versão mais hard?), o volume cada vez mais alto, a puxar um sentimento, recordações à barda. Deixem lá o tempo passar…

agosto 14, 2020

Fascismos



Os ecologistas (ambientalistas?) a reboque de uma greta de emergência.

Os camisas bem passadas (vários padrões), de marca: não existe comporta que os detenha.

O feminismo (a outra forma de machismo) que oferece várias faces, consoante a bolsa: à espera de uma boa devassa.

O lápis azul (e de outras cores) que tinge os livros de taxonomias: índex estimulante de fogueiras.

[As modas (não exclui os anteriores)].

Os bancos, se por lá andarem banqueiros.

A foice, se associada a um martelo: uma festa.

As dietas, se associadas a dietistas.

O politicamente correcto, mesmo escrito incorrectamente.

A questão da raça, da etnia, do clube e de outros brinquedos.

A ausência de leitura, se acompanhada de ignorância.

A academia, se acompanhada de ausência de leitura (ler acima). 

O medo, se este fizer todo o sentido.

O libertino, acompanhado de alguma fé.

A pobreza, se desprovida de dúvida.

A humanidade, enquanto manada: serena.

A falta (ou será ausência?) de humor. 

(...)

agosto 12, 2020

(Mais) Um policial que veio do frio


Passa-se, a acção, no fim do mundo, que é (quase) o mesmo que escrever Gronelândia. O nosso mundo é um eterno desconhecido, apesar de tudo. Não se trata de liga dos calmeirões em policiais, mas não é um bem-intencionado de trazer por casa. Se estivesse bem disposto escreveria thriller em recuperação após tortura. É assim o agente Maratse quando (lá calha) sente o cheiro da sua própria "carne esturricada, com o chinês a apertar-lhe as pontas daquele instrumento de tortura improvisado no peito, nas pernas e nos testículos". Mas o chinês nem sequer é para aqui chamado. A sério...