junho 30, 2009
Sempre gostei de andar de (comboio) regional à janela
junho 29, 2009
Se já verifiquei o prazo de validade?
Boris Vian (10/3/1920 - 23/06/1959)
Deve estar a fazer anos que apanhei um autocarro com Amadis Dudu e reparei que o tipo tirava, segundo recordo (já foi há muito tempo), 2 bilhetes e meio para saltar a meio entre a segunda e a terceira paragem. Era Outono e estávamos em Pequim. Para falar verdade, eu estava numa cidadezinha, algures no noroeste peninsular, e folheava um livro cujo título era “O Outono em Pequim”, embora também aí não se estivesse em Pequim e provavelmente nem fosse Outono. O Sr. que tinha escrito o livro estava morto. Chamava-se Boris Vian, e naquele momento arremeteu contra mim com um autocarro fluorescente, um trompete e duas embalagens de “livros fora de prazo” (não resisti a colocar aqui o título de um livro –sem livro- que um amigo meu não anda a escrever). No dia 23 de Junho passado cumpriram-se 50 anos após a sua morte. O dia é irrelevante. Passou-me, como (nos) passam (ainda hoje mo disseram) até as mortes mais íntimas que já carregamos. Tudo passa; mas entretanto vai-se lendo e já aqui trouxe o Sr. Vian à nossa irrelevante companhia. Lembro-me de uma parede em Coimbra onde se lia que a vida é água a correr. “Corre atrás dela”, alguém acrescentou. Mais a mais, se calhar nem isto (fica):
Vou ser sincero – uma vez sem exemplo –
Ora bem:
Ficarei feliz quando se disser
Ao telefone – se ainda houver
Quando se disser
V como Vian…
Tenho muita sorte que o meu nome não comece com Q
Porque Q* como Vian, seria humilhante.
“O Fundo do Meu Coração”, Boris Vian, in “Cantilenas em Geleia”, Relógio D’Água, tradução de Margarida Vale de Gato
* Em Francês, a letra é praticamente homófona da palavra queue, que significa “cauda” e é também calão para “pénis” – nota do tradutor
junho 28, 2009
Bom dia
que ninguém jamais disse.
Tu não atendes nenhuma
Senão aquela palavra
que do fundo brotará
como um fruto entre os ramos.
Há um vento que te toca.
Coisas secas e re-mortas
Te chocam e vão no vento.
Membros, palavras antigas.
Tu tremes pelo estio.
"TU SEI COMO UNA TERRA", Cesare Pavese, tradução de Jorge de Sena
junho 27, 2009
junho 26, 2009
junho 25, 2009
A questão pertinente da marcação das eleições legislativas e autárquicas
“Não foi para isto que viemos”, dizia-me o Alfredo à saída da padaria. Fiquei sem saber ao que ele se referia…
junho 23, 2009
junho 22, 2009
Escritores do Não - II
“A literatura por muito que nos apaixone negá-la, permite resgatar do esquecimento tudo isso sobre o qual o olhar contemporâneo, cada dia mais imoral, pretende deslizar com a mais absoluta indiferença.”
"Bartleby & Companhia", Enrique Vila-Matas, Assírio & Alvim, tradução de José Agostinho Baptista
junho 21, 2009
Escritores do Não
"Bartleby & Companhia", Enrique Vila-Matas, Assírio & Alvim, tradução de José Agostinho Baptista
junho 19, 2009
As minhas cassetes 44...e afins
Nem todos os dias são "o dia a dias"
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
junho 18, 2009
junho 17, 2009
Os virgens não suicidas
junho 16, 2009
junho 14, 2009
As minhas cassetes 41: para ouvir sempre
Fez ontem 25 anos que morreu o António Variações (3 de Janeiro de 1944/13 de Junho de 1984). Para ouvir sempre...por exemplo, hoje, 14 de Junho, o day after.
junho 13, 2009
“Saúdo-te, meu irmão em Universo”
“Nunca houve mais princípio do que agora,
Nem mais juventude ou velhice do que agora,
E nunca haverá mais perfeição do que agora,
Nem mais Céu ou Inferno do que agora.”
Walt Whitman,“Canto de Mim Mesmo", Assírio&Alvim, tradução de José Agostinho Baptista
Adenda: a frase título é retirada de um poema de Álvaro de Campos denominado “Saudação a Walt Whitman”
Prémio "Vale e Azevedo" - II
Vai para João Rendeiro, ex. Presidente do BPP. Parece que depois do barco afundar, o Sr. tem um “plano” para salvar os destroços. Sem se rir quase nada, lá balbuciou (num telejornal com cheiro a sardinha) a sua “responsabilização” sem “intenção” e, quando muito, algum “desconhecimento”. Só faltou mesmo a suposta “ingenuidade” da praxe. Cuidado Vale e Azevedo.
junho 12, 2009
junho 08, 2009
Das eleições e reflexões
- E, digam-me os senhores, se as coisas correrem de modo que meu amo perca a vontade de ser imperador e antes queira ser arcebispo, que é que costumam dar os arcebispos andantes aos escudeiros?
- Costumam dar-lhes – respondeu o cura – algum benefício simples: curato ou sacristia, de que auferem renda vitalícia, sem falar no pé-de-altar que rende bem outro tanto.”
D. Quixote de La Mancha, Miguel de Cervantes, tradução de Aquilino Ribeiro
Fechado o estaminé eleitoral, fazem-se contas e escondem-se cartas. Duques ou ternos, fundamentalmente. Os mais refractários ainda simulam beber um último copo para as televisões verem, ao som de “jota” qualquer coisa. Não é “jota” é “dá cá” qualquer coisa, em linguagem politico partidária. Entretanto, lá fora, nessa tal de Europa, a extrema-direita (a racista e a xenófoba) saltita mais umas pocinhas e, de nenúfar em nenúfar, do Reino Unido à Holanda, passando pelos países de Leste, lá vai ganhando uma cadeirinha nessa Europa que desdenha. Berlusconi dança. Carla Bruni, presumo, canta para o seu amado. Mas isso tudo fica longe… Entretanto, lá como cá, ninguém foi votar, e os votos em branco, no caso português, dariam para eleger um deputado; Entretanto, esse “povo” de que todos falam (e juram defender) mete férias: vai a banhos, nem que seja de chuva, ou esconde-se em casa para depois dizer que foi de vacances. Pelas ruas, o ar irrespirável da cidade recorda-nos que nada mudou. Compro o jornal. De passagem, ouço à porta da padaria que o “Quique já rescindiu com o Benfica” e que vem aí um tal de “Jesus”. Bem estamos precisados…
junho 07, 2009
junho 06, 2009
Dia de reflexão? III - a caminho das urnas...
Já que não posso falar sobre o que ando a reflectir (se é que ando a reflectir), vou escrever algo sobre aquilo em que seguramente não ando a reflectir. Bom, poderia ser (ainda assim) sobre política, ou as eleições no Sporting ou a atmosfera glacial com que o sr. Manuel Sapateiro foi recebido na padaria, após não ter convidado grande parte dos “seus conhecidos” (foi de homem ter aguentado a pressão até ao fim do Martini com cerveja) para o casamento do filho com a “desaparecida” dos “Cunhas” (consta-se que já de pipo). Convenhamos: um “dia para reflectir” soa assim como o dia internacional das cidades sem automóveis, ou o dia mundial do vizinho, ou ainda o dia do lince da Malcata, com a agravante de a malta depois se esquecer que há eleições no dia seguinte, já que está habituada aos “tempos de antena” espalhados por todo o lado, aos brindes e a um ou outro frigorifico. Penso até que este dia de reflexão, num pais que não está habituado (como no caso do dia sem carros, a andar a pé) a reflectir, e podendo dar-se o caso das cabecinhas darem tilt, contribui, em última instância, para as pessoas optarem por não pensar mais nisso e simplesmente não porem lá os pés, nessa última etapa (sinistra) da reflexão. Contribui, estou seguro, ainda mais que a praia (não se dando o caso de chover), ou os piqueniques com panadinhos no pinhal, ou ainda que o compacto dos “morangos” para a desmobilização e desmotivação geral. O facto da caixinha onde se coloca o voto se chamar urna também é mal interpretado…
junho 03, 2009
Amanheceu assim mas a coisa já vinha de trás
Viver sempre também cansa!
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima, os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe, automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas por mim, meu amor do Norte.
"Viver sempre também cansa!", José Gomes Ferreira, 1931
junho 02, 2009
Mas…em que rua fica essa tal de Europa?
Desde o nosso século XIX que brincamos às eleições, umas mais livres que outras. As actuais (supostamente), do mais livre que pode haver, não fogem à regra nem à tradição: devassa, boato, caciquismo, ignorância, indiferença, cagaço, cobiça e algumas pauladas, umas com cacete, outras de bengala, mas todas, sem excepção, muito longe dessa tal de Europa…