(Braga, centro da cidade - 17-06-17)
Os turistas ainda vão pensar que
é uma tradição da cidade de Braga: a exposição de pratos confeccionados.
Pratica desenvolvida por um restaurante do centro da cidade, esta pode ser
observada mesmo nas condições mais adversas, como hoje, aliás, mantendo-se o
prato devidamente aquecido pela exposição aos raios solares. Uns bons 40 graus.
Não se trata nesta, e nas outras vezes, apenas de um desperdício facilmente
evitável, mas de um desperdício devidamente autorizado pelo parque temático, transformando-se
num espectáculo (mais um) que converte a cidade numa projecção de si mesma. Não
passa pela cabeça (não raro, caridosa) de ninguém, que aquela imagem possa ter outro
tipo de influência em alguns estômagos, e respectivos bolsos, que por ali
passam… vazios. Não. Os estômagos, assim como os bolsos vazios, aposto,
aplaudem o espectáculo. Eles sentem-se parte dele e basta. Por mim, recusei
tirar bilhete. Proponho que, no início da próxima exposição, participemos com
as nossas mandíbulas de animais, outrora humanas, tornando o espectáculo ainda
mais apetitoso. A exposição de um prato vazio será certamente aplaudida como
mais uma (inovadora) instalação de arte contemporânea, desenvolvida por algum
artista residente. 
(*Guy Debord)

 
 
 
 
 
 
![Todo o anjo é terrível [e inútil]](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivB2RT9zXGYxO98QtwwIeD9BVq50oIcmvjPxm4excvozNB2t_pxRU7AuoK7v7EoD4377hxQPzUVwDcFDoqA0vmgXSfsVo-z-eqMIaNnkvYbEYQlCJhiUC3cmmbR9k0uIT8oRWdK1gxuIY/s220/Anjo.jpg) 
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