novembro 16, 2019

work in progress


Nos calhamaços a tiracolo é fundamental uma boa apneia, ainda para mais num asmático dado a cigarradas, por isso a ultrapassagem das duzentas e cinquenta milhas (páginas) é fundamental. É nesse ponto fulcral que o autor inevitavelmente deixa de nos surpreender, começando-se a sentir como nossa, a sua linguagem, a reconhecer os seus trejeitos, é quando surge aqui e acolá uma miudinha desconfiança relativa à montanha de palavras que se acumulam nas páginas, um tempo de decisões sombreadas por um possível enfado. Não é este o caso. Essa meta mental (mental para mim) neste caso particular, foi sinceramente ultrapassada com alguma satisfação, confundindo-se com o prazer de uma prova de fundo. Não são os manejos que o salvam, são as entrelinhas que ditam essa vontade de continuar, um aquecimento da alma muito próximo do cérebro, e algumas frases que nos injetam estupefacientes em quantidade suficiente para continuar sem aguadeiros. Será, sem dúvida, o estilo que mundanamente insinuei como maneios, que nos move, mas igualmente a aventura da reconstituição histórica que não se perde no estilo primevo de alguns nossos confrades que confundem época com lição, não se delimitando em imagens a dar para o filme americano de adereços devidamente homologado em máquinas de imediatismo, ou em devaneios de trazer por casa. Ficamos a degustar um espinho cravado sobre a vida, a política, o manejamento (deixem seguir esta) da palava. Os diálogos são fabulosos. O melhor é tomarmos um comprimido que isso passa. Mais umas milhas (na quatrocentas e tal navegamos) e chegaremos lá. Mas não sabemos bem onde.

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