Gosto de entrevistas. Gosto de ler entrevistas a escritores
e a escrevinhadores. Alguns são verdadeiros escritores de entrevistas. Dão bem
com os reposteiros, com o branco das paredes, assentam bem com tal ou tal
soalho. Um António Lobo Antunes fica sempre bem, e já praticamente só o leio em
entrevistas, ou numa ou outra página em que o acaso lírico me visita, fora
isso, quase nada. Deu-me ultimamente para ler dois livros com entrevistas: “O
Crocodilo que voa – entrevistas a Luiz Pacheco”, e “Roberto Bolaño: Últimas
entrevistas”. O primeiro é organizado e introduzido por João Pedro Jorge, o
biógrafo de Pacheco. Nas entrevistas, Luiz Pacheco joga naquela posição de
artilheiro (assim o denomina o português futeboleiro de Brasil), disparando em várias
(quase sempre as mesmas) direções, devidamente ajudado por um meio campo ávido
de sangue. Pacheco daria (na minha modesta imaginação) uma rede social ainda
não inventada, cruzamento do faice
com o buque, uma app Pacheco, que a bombar, seria um caso sério para passar o tempo.
Assim começou ele a escrever. De Bolaño, não sei porquê, gosto dos olhos
tristes, uns olhos que escondem uma ambição desmedida, freak, mas desmedida,
ambição essa que, por exemplo, se projecta na megalomania insano jornalística
de 2666 (que eu fui lendo em casa, na
praia e por aí – livro comprado por 3€ numa feira em Guimarães), livro (ou
livros?) editado após a sua morte, resgatado através de um corte e cose
discutível, claro, defraudando (será?) a ideia do seu autor de o dividir em
cinco postas correspondendo a cinco livros, cinco vezes mais dinheiro, em
princípio, para os seus filhos. Muito mais nos conta Marcela Valdes na sua
pojante introdução, enquanto (imaginamos nós – sem grande deleite), se masturba
com o calhamaço 2666, edição americana, acho. Na sua última entrevista, concedida a
Mónica Maristain (gosto deste nome: Maristain), da Playboy (a sério) edição
mexicana, a páginas tantas, a entrevistadora julgando estar perante um miss
universo, chuta “o mundo tem remédio?”,
sem se rir, tudo isto tem, supostamente, um contexto, e Bolaño calmamente responde:
“o mundo está vivo e nada vivo tem remédio. Essa é a nossa sorte”. A edição da
revista data de Julho de 2003. Bolaño
morre a 15 de Julho de 2003.
Imagem de um crocodilo (na verdade trata-se de um jacaré) a voar. Está visto
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