Diz que foi na baixa idade média
da minha vida – nessa altura as trevas tinham um sabor especial e brevemente
desembocariam em indumentária a preceito – que recebi a minha primeira aparelhagem
a sério: duas bufadeiras de cassetes, gira-discos, rádio digital, garagem para
colocação de material diverso, duas colunas de som fabulosas e seis ou sete
botões que faziam as delícias das pontas dos meus dedos e inveja aos atónitos
parceiros de musicol (quase todos imaginários). Tudo enfarpelado num único
espaço geográfico em forma de caixa,
cor preta, tampo de vidro e… rodinhas. O significado daquele objecto começou a encaixar no mundo como um abraço que se
prolongava do meu corpo, deixando o objecto
de ser objecto para ser sujeito e
suplemento vitamínico, um caso de adição cuja desmama nem queiram saber. A
partir daí as coisas ficaram a mesma merda só que com grande banda sonora e
todos os sonhos do mundo. E a avó lá estava para trocar o objecto por escudos.
Ou contos. Porque as coisas custa(va)m dinheiro. A cereja em cima do bolo medrou
várias vezes, num processo quase evolutivo que descambou no objecto que encima
o outro: um leitor de cassetes com auscultadores. Ali ao virar da esquina
temporal.
[foto GP]
2 comentários:
;)
:))
Postar um comentário