março 23, 2012

Antes ainda do relâmpago que interpunha “distâncias azuis entre os blocos das montanhas de nuvens”


“A chuva fazia funcionar nos canais a breve engrenagem das rãs, mas o homem de acção, abrandado pela inquietação como se lhe tivessem enfraquecido os ossos e não conseguisse levantar-se, «eu, homem de acção – dizia a si mesmo – permaneço aqui, aqui estou dentro do meu prazo mecânico, palpitando com outro tempo que não é o meu tempo e que me relaxa, diminuindo a precaução. Porque é indubitável que matar um homem é a mesma coisa que degolar um cordeiro, mas não é para os outros, e embora estejam distantes e a minha conduta seja para eles um mistério, este tempo anormal aproxima-os de mim e eu quase não consigo mexer-me, como se eles estivessem ali, na sombra, a espiar-me. Será o tempo de nervos que me inutiliza, ou o Astrólogo subconsciente que reserva as suas ideias e me deixa espremido como uma laranja para conceber pensamento que agora me fazem falta. Todavia, morto Barsut, a vida continuará, como se nada tivesse acontecido… e a verdade é que nada aconteceu se isto não for descoberto»”

“Os sete loucos” (pp.222), Roberto Arlt. Edição Cavalo de Ferro. Tradução de Rui Lagartinho e Sofia Castro Rodrigues.

loucos

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