“Fugir para quê? – continuava a filosofar. – Aqui está tudo tão poeirento, o ar tão abafado, esta casa está tão emporcalhada; nestas instituições por onde vagueio, por entre toda esta gente de negócios, há tanta azáfama dos ratos, as pessoas andam tão preocupadas e acotovelam-se tanto; em todas estas pessoas que ficaram na cidade, em todas estas caras que passam diante dos nossos olhos de manhã à noite está escrito de modo tão ingénuo e aberto todo o egoísmo, todo o descaramento simplório, toda a cobardia das suas almas mesquinhas, todos os seus corações de galinhas, que, francamente e para falar a sério, isto é um paraíso para o hipocondríaco. Tudo às claras, aberto, ninguém acha sequer necessário encobrir-se, como entre as senhoras por essas casas de campo ou essas termas no estrangeiro – portanto, graças à mera franqueza e simplicidade, tudo é muito mais digno de respeito…Não vou para lado nenhum! Nem que rebente aqui, não vou!...”
"O Eterno Marido", Fiódor Dostoiévski, Editorial Presença, Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra
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