novembro 25, 2008

estava para aqui sem nada para escrever e a pensar no jogo de amanhã


Mesmo em dias de cozedura incerta, acredito na velocidade do nosso mal-estar: tudo passa. Mesmo assim esboço um incorpóreo sorriso quando me deparo com a “polémica” que dramatiza o “caso” dos professores e não o “estado do ensino”. Brilhante como sempre, o governo, este ou outro qualquer, prima pela relevância da reforma, ou, se quisermos, da pungente necessidade de mudar. Ao arrepio de modernidades sem pança, bracejo contra essa mundana, nas palavras de Baptista “com casa quase à borla em Lisboa” Bastos, idiossincrasia. Primeiro, a metamorfose encaixa um rolo de simplicidades para os putos, com árvores estatísticas que nunca mais acabam. Depois a cena dos profs (como agora se denominam). Lembro-me nos setentas quando os pais de um amigo pedirem “licença” ao Sr. Professor (à época) que era director da escola para julgar a necessidade de um BETA para os filhos, pese o facto de lhes encherem a barriga diariamente com notas de 100 escudos, na altura (uma fortuna) de cor azul. O trajecto foi de 80 a -8. Mas ainda hoje existem os Srs. Professores (oh, da velha guarda!), os professores e os outros, já para não falar da malta das aulas extracurriculares que trabalha para caralho (andando de nenúfar em nenúfar) por tuta-e-meia. O abrir da porta do 25 de Abril trouxe quase logo a liberdade, democracia e o multibanco com o crédito a reboque. Não éramos menos que os outros. A guloseima espirrou um rato. Ainda nesta vida, o professor redundou num repasto de proactividades, eficiências e competências alargadas, devedor de um profundo paradoxo: como acompanhar o comboio europeu (e de leste, acrescento) rapidamente e sem se notar que não irá ter qualquer reflexo no futuro desses putos, como aliás já se verifica? Note-se: já se verifica. Quando os pais ainda arranhados pela liberdade, adormecidos ainda no banho maria da ignorância em grau satisfatório, mas já castigados pelo consumo, repararem que não se verifica o “não somos menos que os outros” e que vivem um logro e que os putos pouco sabem e nem interessa muito o que sabem ou deixam de saber, cá estaremos para ouvir as sentenças soporíferas dos nossos analistas, e já os políticos (actuais) estarão a milhas e virão outros. Não sei se já repararam mas os políticos emanam da sociedade e esta não tem (já agora alguma vez teve?) elites ou coisa parecida. O resultado são uns tipos forjados no marketing e pouco mais (uma fatiota sempre ajuda). E também ajuda alguma burrice para “comunicar” as suas “ideias”. Quanto aos profs (eu não sou prof meus – meu deus o que sou eu afinal que já não me recordo?) mas ainda recentemente me deparei com essa espécie exótica e firme do Sr. Professor (com letra grande), na caixa geral de depósitos e no café, essa raríssima arara à imagem de um Sr. Eng, ou do Sr. Dr., das quantas ainda existe. Ainda existe. Ainda passa à frente dos outros. É que, não sei se sabem, ainda se baixa a bolinha para alguns, ainda se cospe na sopa de outros, e o respeitinho ainda é (para alguns) muito bonito. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem visto! O governo separa a classe em titulares e os outros. A sociedade separa os da velha guarda (com P grande), dos novos, que são apenas meninos, meninas, que tiraram um curso quando toda a gente tirou.
Já agora, não somos das extracurriculares, mas de enriquecimento curricular, o que na prática é a mesma coisa...