Por acaso estou farto de coisas que não nos fazem falta. E mesmo com os livros, exceptuando uma mochila maior, não pretendo encenar uma grande biblioteca. Conquanto, como é sabido, esta cresça para além do desejável, já que nada há a fazer contra o meu amor aos livros. Apesar disso “tenho todos os sonhos do mundo” e talvez por isso me custa observar o estado de degradação, para não falar de inapelável morte, do famigerado tupperware que nos aconchega e agasalha nestes dias. Nesse sentido, não é inédita a roupagem de algumas palavras. Como “democracia”. Esta à força de tanto ser “mimada”, repetida, aflorada, “sugerida”, defendida e patenteada, tornou-se presa fácil dessas nobres luminárias que nos pastoreiam os dias. Perdeu o sentido, ou ao repetir-se redunda num sinistro nada. Acontece o mesmo com outras, a saber: ambiente, património, desemprego, emprego, felicidade, consumo. Dir-se-ia que, de forma já não velada, se aculturou, parafraseando Baudrillard, o tupperware na totalidade. Vejam bem, a coisa já não é do domínio do fantástico, da ignorância ou da prostituição faminta das actividades. Já não é fantasmática, ou se quisermos, um conto dentro do conto. Já não existem barricadas, pois não?, bem o sabemos, ambos os lados ou mais, incorporados no mesmo invólucro, sofregamente necessários e dependentes, na realidade estruturados (muito bem estruturados) por ligações sanguíneas e jamais os elos de antigamente. Já não se trata de uma projecção. É tudo o que temos. Até isto que escrevo e mais o acrescento: às vezes um homem sente-se emparedado por ruínas.
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