Candido Portinari
“Baseado em estórias verídicas,o caos insosso em que vivemos pastoreia, sem dúvida, uma vingança futura, pois, para além dos portões, o desviado, o atropelado, voltará, sim voltará, já sem a ternura a carregar o banjo”, dizia o Alfredo à imprensa fraudulenta que o não ouvia, recorrendo-se de um manual manuscrito de teoria suburbana encontrado algures durante a maré baixa. Eu passava perto e lembrei-me daqueles que nos vêm comer à mão, de beicinho, por estradas tão parecidas com as nossas, numa redundância de arrabaldes intermináveis e silêncios que de tanto ensurdecer se tornam maduros e velhos, até que por fim o murmúrio escorre das paredes brancas sem mais arte que uma casa vazia.
Aos passos inflamados injectei alguma ousadia e entrei na padaria com a trova toda a escurecer lá fora. Expressamente para mim, a igreja insinuava-se como uma silhueta recortada em fundo laranja e amarelo, sinal que a noite se avizinhava e a terra continuava a fluir, apesar de naquele oeste o sol morrer de memória, todos os dias. Alimentei a voz com esse aconchego que nada mais é que um lugar sem ninguém, e gritei: deserto! Salvaram-me os sinos, a criptografia das relações sociais e um acrescento: “três pães de água, por favor, torradinhos”…
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