dezembro 30, 2009
dezembro 28, 2009
dezembro 24, 2009
dezembro 21, 2009
Entretanto soou um telefone...
dezembro 20, 2009
dezembro 16, 2009
As ruínas não circulares
Estava a tentar ver televisão quando me sobreveio dos confins da memória o meu antigo recreio. Na minha primeira escola primária, em verdade, uma escola proveniente do aproveitamento de uma antiga casa do século XIX, em pleno centro da cidade, e em que orgulhosamente participei no seu encerramento na década de 1970, no final da segunda classe, deparei com meu primeiro recreio. Não seria propriamente um pátio, no sentido a que este normalmente está associado, mas um campo de terra rectangular, para onde nos levavam umas escadarias de pedra que desciam de ambos os lados das traseiras do edifício. Um gigantesco rectângulo parecia-me à época, já infestado nas margens de arbustos e ervas daninhas, com um centro pelado pelas correrias e jogatinas de futebol e, à margem, junto à casa, igualmente desgastado pelas meninas, nos seus jogos. Nessas incursões, vi jorrar sangue a primeira vez a sério, e não posso esquecer as tentativas frustradas de fuga à reguada conectadas por um medo miudinho que (ainda) ultrapassava o respeito. Para além disso, podia-se sonhar à tripa forra, não apenas na escola e no recreio, mas no caminho de casa, cheio de curvas que o adiassem, gelados de coca-cola e batoques e, depois, finalmente o rio. Encontrei igualmente um recreio, ou melhor um pátio, no romance de Vila-Matas, “Doutor Pasavento”, uma “pérola condensada do tédio escolar”, diz-nos Vila Matas, adoptando Robert Walser em Jacob von Gunten, quanto este escreve que «O pátio ficou abandonado como uma eternidade rectangular». De um lado a recreação e do outro o tédio, a terra versus o cinzentismo? Não me parece tão simples. De qualquer forma, a esta distância, e segundo o arquétipo actual, toda a gente iria querer um pátio, limpinho; todavia, creio ainda assim que, a minha antiga escola primária, e não apenas o edifício, ficaram abandonados na sua eternidade rectangular.dezembro 13, 2009
dezembro 11, 2009
Momentos Ferrero Rocher: apetece-me algo
Soube apenas hoje que o sr. Vara foi à televisão para ser entrevistado pela sra. Judite. Viva o luxo. O senhor em causa, que se saiba, não tem (de momento) nenhum cargo público ou político, seja ele qual for, achando-se pendente a sua qualidade de administrador de BCP, antes que as necessidades especiais o potenciem para algo. Então? Uma conferência em horário nobre, uma cadeira disponível na televisão pública, a propósito de quê? E os outros arguidos ou interessados neste e noutros processos? Silêncio. A propósito, o ex. ministro da agricultura, Jaime Silva, depois de um trabalho memorável à frente e atrás do ministério (e como aluno bem comportado), já foi absorvido pela cooperativa europeia das necessidades especiais: chefe de gabinete do comissário europeu para a Agricultura e Desenvolvimento Rural. Número dois. Pelo mesmo caminho vai o inexcedível sr. Constâncio do banco de Portugal, exímio regulador de bacoradas e taxices (e tachices) mais ou menos incontroláveis, em trânsito para: putativo vice-presidente do BCE, candidatura apresentada pelo sr Eng. Entretanto, escrevem-se livros: jornalistas; ex polícias; gajos da bola; actrizes e actoras; seguranças; amigos do amigo; gajos com experiências…
Onde será que já vimos (e vivemos) este filme?
dezembro 10, 2009
Abancado como um anjo no barbeiro
(adenda: Este texto, curiosamente, desapareceu por momentos num desfalecer momentâneo do velhinho computador. Entretanto, saído do seu coma, presumivelmente por pouco tempo, ainda assiste mais um destes inúteis momentos, talvez o último, e exulta, com barulhinhos tremendos, ao lado dos seus irmãos mais novos, máquinas portáteis, em actualização. Gosto deste velhinho computador.)
dezembro 08, 2009
dezembro 06, 2009
dezembro 04, 2009
Pere Ubu se quiserem
para escutar com o volume alto...e já agora ver a merda do clip.........................................
dezembro 03, 2009
Da ignorância filosófica inefável
Sendo certo que, dá a ideia que o Sporting não está na sua casa doméstica.
Rui Santos, a comentar, mesmo agora, o Sporting-Heerenveen na SIC. Sendo que, nomeadamente, no sentido em que…
dezembro 02, 2009
dezembro 01, 2009
Papas de sarrabulho e rojões
Ontem, as senhoras primeiras damas passearam-se por Sintra. Os jornalistas fizeram perguntinhas. Hoje, daqui a bocadinho, acaba a cimeira ibero-americana. A questão fulcral: será que a Shakira canta?, entretém os últimos entusiastas. Mais logo, ali ao lado, o tratado de Lisboa é, digamos, inaugurado, depois de devidamente imposto pela democracia. O sr. Zapateiro vai estar por lá. Sussurram-me a questão fulcral: será que o sr. Eng. irá evocar o dia de hoje a Zapateiro?... Não sabemos.Entrementes, tudo isto se passa por Lisboa e arredores. A norte, para que se saiba, é dia de papas.
novembro 30, 2009
Ir para fora cá dentro
novembro 27, 2009
Enquanto na blogosfera se discutem amiúde política e anonimato
Eu por acaso ia a passar quando o sr. Rodrigues disse aquilo. Aquilo para aqui não interessa. De qualquer maneira decidi-me por entrar na padaria, que não sendo a outra, é sua irmã aproximada na roupagem e conteúdo, não esquecendo o jornal Record que vela com assiduidade o balcão da dita. Quanto à falta da Sãozinha, crepita por lá uma morena anafada, mas respeitadora dos pães de água e do pãozinho de saúde, que não destoa, mas faltam as senhoras empoleiradas na varanda, as manquinhas a obstruir a passage e as mesas repletas de galões com a máquina dos cigarros em cima, para dar cor ao local. Ainda não tive vagar de espreitar os martinis (nas palavras do Careca) grossos, mas lá escutei a valsa programática do fim-de-semana: sábado dá-se o caso de uma prova de vinhos e passeata entre a tasca e a porta da tasca para fumar. Depois, temos noite de gala com o Sporting-Benfica, sem o “cheirinho de outros tempos” segundo o sr.Matias que trabalha nas finanças, e que por acaso é sportinguista. Domingo, caça ao tordo e malha no salão das máquinas, para ganhar vontade para um almoço lanche ajantarado sem final à vista. Queria comprar umas senhas, mas notei a ausência de sorteios para se ganhar um presunto ou um bacalhau à casa. Aguarda-se, pelo menos, um cabaz de Natal…novembro 24, 2009
Ler outros blogues
Um novo blogue, ao que tudo indica, ainda em período de instalação, com o sugestivo nome de Diário de Um Cão, cujo canino (presume-se que seja apenas um) residente tem uma pena de se lhe tirar o chapéu. Façam favor de entrar.
novembro 22, 2009
novembro 20, 2009
Fiquei de fora
novembro 17, 2009
Nem sei que diga
primeira apresentação mundial dos...
novembro 16, 2009
Um poema de um poeta às vezes lembrado
"Onde é que te nasceu" – dizia-me ela às vezes –
"O horror calado e triste às coisas sepulcrais?
"Porque é que não possuis a verve dos Franceses
"E aspiras em silêncio os frascos dos meus sais?
"Porque é que tens no olhar, moroso e persistente,
"As sombras dum jazigo e as fundas abstracções,
"E abrigas tanto fel no peito, que não sente
"O abalo feminil das minhas expansões?
"Há quem te julgue um velho. O teu sorriso é falso;
"Mas quando tentas rir parece então, meu bem,
"Que estão edificando um negro cadafalso
"E ou vai alguém morrer ou vão matar alguém!
"Eu vim – não sabes tu? – para gozar em Maio,
"No campo, a quieteação banhada de prazer!
"Não vês, ó descarado, as vestes com que saio,
"E os júbilos que Abril acaba de trazer?
"Não vês, como a campina é toda embalsamada
"E como nos alegra em cada nova flor?
"Então porque é que tens na fronte consternada
"Um não sei quê tocante e de enternecedor?
E eu só lhe respondia: - "Escuta-me. Conforme
"Tu vibras os cristais da boca musical,
"Vai-nos minando o tempo, o tempo - o cancro enorme
"Que te há-de corromper o corpo de vestal.
"E eu calmamente sei, na dor que me amortalha,
"Que a tua cabecinha ornada à Rabagas,
"A pouco e pouco há-de ir tornando-se grisalha
"E em breve ao quente sol e ao gás alvejará!
"E eu que daria um rei por cada teu suspiro,
"Eu que amo a mocidade e as modas fúteis vãs,
"Eu morro de pesar, talvez, porque prefiro
"O teu cabelo escuro às veneráveis cãs!"
"Ironias do desgosto", Cesário Verde, Lisboa, 1874.
novembro 15, 2009
É definitivo: passou a chamar-se sportingue
novembro 14, 2009
Sportingueee
Enquanto degustava um filete de solha panado em farinha e ovo, acompanhado galantemente de arroz branco e salada de alface e de um tinto reserva de porte grosseiro a dar com o preço recomendado, assisti placidamente a mais um momento musical da autoria da selecção portuguesa sob a batuta do inenarrável prof. Queirós. Nada a obstar, recapitulando uma exibição de fino teor de lugares comuns, atravessando solenemente este fim-de-semana de horrores futeboleiros com passagens artísticas que começaram dias atrás na chafurda sportinguista a ruminar um profissionalismo de casa de putas semi-ambulante. O denominado projecto roquette, ele mesmo uma ideia ambulante e dissimulada sem qualquer afecto digno (sequer) de uma revista cor-de-rosa, trouxe-nos à fronteira do abismo com direito a montra de vaidades e projecção de egos para a eira. O bom ar dos intervenientes não apenas ressalva a sua condição de gente de bem como assegura a multiplicação da prole por muitos anos, e seguramente (como bons profissionais), augura algo de positivo num quadro de trabalho problemático e condicionado por factores, entre outros, exteriores e alheios…e exteriores e alheios.Como diria (ainda hoje) um jornalista da TVI, “dá-me ideias”; a mim dá-me ideias que está tudo fodido no Sportingue. Spooortingueee!
novembro 13, 2009
É outra vez aquela coisa das “lavas do sobreconsciente”
novembro 11, 2009
Desencontros
Num desses intermináveis passeios que me costumam aconchegar os dias, dei por mim num local já largamente fora da cidade onde, para todos os efeitos, eu era um incógnito num sítio desconhecido. “Que boa oportunidade para desaparecer”, pensei então, recordando o escritor Andrés Pasavento que à chegada a Sevilha aproveita que um homem de fato às ricas apanhe o seu táxi para desaparecer, supostamente sem deixar rasto, convertendo-se no Doutor Pasavento, descobrindo depois que ninguém deu pela sua falta. Nesse romance, Doutor Pasavento, Enrique Vila-Matas recorda Robert Walser, esse grande escritor, desaparecido toda a vida, e que depois de entrar no manicómio de Herisau na Suiça, nunca mais escreveu, preferindo dar uns intermináveis passeios solitários, até que a morte chegou num dia de natal precisamente durante um deles. Pensei na encruzilhada de caminhos que por vezes se cruzam sem, provavelmente, nós sequer notarmos. Curiosamente, quando voltava, veio-me à cabeça, não sei bem porquê que, se uns desaparecem outros simplesmente não aparecem. Um exemplo dos que não aparecem é visível na ausência (neste caso penso que notada) de Obama durante as comemorações da queda do (tal) muro da vergonha em Berlim. Talvez por vergonha. Um desses muros (da vergonha), embora travestido de (supostas) boas intenções cresce a olhos vistos na fronteira dos E.U.A com o México. Outros erguem-se como cogumelos sempre imbuídos de um espírito altruísta e não segregador: na fronteira de Israel com a Palestina; no Rio de Janeiro; nos gigantescos condomínios fechados adornados de arame farpado em São Paulo; entre as duas Coreias; na ilha de Chipre e aqui ao lado em Ceuta, entre outros. Estuguei o passo com receio que não dessem pela minha curta ausência. Todavia, desaparecer neste mundo em que cada muro tem um significado distinto pareceu-me então uma excelente ideia. novembro 09, 2009
novembro 07, 2009
Nós por cá ainda ficamos com o Bento da mercearia
novembro 06, 2009
Qual é a coisa qual é ela: arrogância num leito de imbecilidade?
Finalmente foi-se.É seguro que arranjará (se é que já não arranjou) um nenúfar propício às suas qualidades.
Estou a ficar farto: é o Público é o Sporting é o estado da tijoleira da cozinha
Ivone Rocha (advogada); Pedro Rosa Ferro (economista); José Assis (advogado). Eis o Espaço Público do jornal Público. A opinião, pois claro. Acresce um editorial sem erros ortográficos, correctíssimo, do ponto de vista da rectidão e do correcto, devidamente não assinado e lavrado por todos os silêncios que o acompanham. É claro que temos o resto do jornal, cada vez mais apagado e menos buscão. Temos a avançados ( e em idade avançada) o Vasco Pulido Valente, o (agora sóbrio) Esteves Cardoso, e (por enquanto) o Bartoon do Luís Afonso. Hoje aqui a carcaça inchou um euro e cinquenta pelo pasquim. Valha-nos alguma (cada vez mais rara) literatura no Ipsilon. Dava um conto para a liga de defesa dos leitores para que voltasse o Mil Folhas. O suplemento e o bolo.
novembro 05, 2009
A caminho
“Doutor Pasavento”, Enrique Vila-Matas, Teorema (pp. 59)
novembro 04, 2009
E eu que pensava que ele já tinha morrido
Morreu o Claude Lévi-Strauss, o tal que a tal pensava que era o gajo das calças. Tinha 100 anos, e esta terra já não o merecia. É desta, Tristes Trópicos. É desta.
Tendências

Adenda: (Case studies) sucatas case; freeport case; sobreiros case
novembro 02, 2009
novembro 01, 2009
António Sérgio (1950-2009)
outubro 30, 2009
As minhas cassetes 59: curtam-me o cabelo destes gajos
e curtam estes gajos a dançar no meio das gajas…e curtam a música e as gajas saídas de um sarcófago dos anos oitenta. Curtam o gajo de fato…curtam…o gajo a seu lado num tapete rolante...
Como os sonhos e os espelhos

outubro 29, 2009
outubro 27, 2009
Dias de árvore
outubro 26, 2009
dos dias a dias
Estás aqui comigo à sombra do sol
escrevo e oiço certos ruídos domésticos
e a luz chega-me humildemente pela janela
e dói-me um braço e sei que sou o pior aspecto do que sou
Estás aqui comigo e sou sumamente quotidiano
e tudo o que faço ou sinto como que me veste de um pijama
que uso para ser também isto este bicho
de hábitos manias segredos defeitos quase todos desfeitos
quando depois lá fora na vida profissional ou social só sou um nome e sabem
o que sei o
que faço ou então sou eu que julgo que o sabem
e sou amável selecciono cuidadosamente os gestos e escolho as palavras
e sei que afinal posso ser isso talvez porque aqui sentado dentro de casa sou
outra coisa
esta coisa que escreve e tem uma nódoa na camisa e só tem de exterior
a manifestação desta dor neste braço que afecta tudo o que faço
bem entendido o que faço com este braço
Estás aqui comigo e à volta são as paredes
e posso passar de sala para sala a pensar noutra coisa
e dizer aqui é a sala de estar aqui é o quarto aqui é a casa de banho
e no fundo escolher cada uma das divisões segundo o que tenho a fazer
Estás aqui comigo e sei que só sou este corpo castigado
passado nas pernas de sala em sala. Sou só estas salas estas paredes
esta profunda vergonha de o ser e não ser apenas a outra coisa
essa coisa que sou na estrada onde não estou à sombra do sol
Estás aqui e sinto-me absolutamente indefeso
diante dos dias. Que ninguém conheça este meu nome
este meu verdadeiro nome depois talvez encoberto noutro
nome embora no mesmo nome este nome
de terra de dor de paredes este nome doméstico
Afinal fui isto nada mais do que isto
as outras coisas que fiz fi-Ias para não ser isto ou dissimular isto
a que somente não chamo merda porque ao nascer me deram outro nome
que não merda
e em princípio o nome de cada coisa serve para distinguir uma coisa das
outras coisas
Estás aqui comigo e tenho pena acredita de ser só isto
pena até mesmo de dizer que sou só isto como se fosse também outra coisa
uma coisa para além disto que não isto
Estás aqui comigo deixa-te estar aqui comigo
é das tuas mãos que saem alguns destes ruídos domésticos
mas até nos teus gestos domésticos tu és mais que os teus gestos domésticos
tu és em cada gesto todos os teus gestos
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como
a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas
perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
perdoa eu revelar que há muito pagas tão alto preço por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui
"Tu estás aqui", Ruy Belo, in "Toda a Terra"
outubro 24, 2009
outubro 23, 2009
E se perdêssemos tempo com outras coisas?

outubro 21, 2009
Gosto bestialmente deste gajo
“Nunca contem nada a ninguém. Se contam, acabam por ter saudades de toda a gente”
Gosto bestialmente deste gajo, o Holden, quer dizer, o Salinger. Gosto mesmo do Holden.
outubro 19, 2009
“E o que eu tenho de fazer é ficar à espera no centeio e apanhar todos os que desatarem a correr para o abismo”

Mas afinal como se chega ao Salinger, um gajo com nome de pistoleiro fatela? Chega-se à boleia do Enrique Vila-Matas, esse parasita literário que eu considero mais do que o meu gato. Na verdade, o gato não é bem meu, mas não interessa para o caso. Se eu escrevesse, isto é, se eu alguma vez abandonasse os graffitis no meu fato de treino Converse (de cor cinzenta), gostaria de escrevinhar como o gajo. Muito mais, muito mais mesmo, do que rabiscar como o Lobo Antunes nos seus cadernos de receitas do hospital Júlio de Matos. O Salinger ermitão é um gajo difícil de (lá) chegar. É um gajo americano, mas com o caralho de uma alma meio mexicana, ou coisa pior. É um bicho sem mato que o valha. O gajo é mesmo bom. Ou era. Quando o encontrei, por um acaso, não estava em Nova Yorque. Estava em casa (numa das trezentas em que já vivi) a aturar o meu vizinho louco barrido do 2ºandar, espécime rançoso a dar para o coleccionador de garrafas de plástico que juntava religiosamente na sacada entre latas de atum vazias, e, diz-se, tratados de economia política anacrónicos, forjados na pastelaria editora da rua. Era cruel. Mas eu nem sequer tinha pena do gajo, afinal até lhe achava graça enfiado no seu sobretudo nojento, ou (no verão) naquele fatinho de fino corte, igualmente nojento. Mas lá que estava presente quando eu cheguei ao J.D. Salinger lá isso estava.
Adenda: frase título retirada da obra "À Espera no Centeio", J.D. Salinger, Difel, 2005,pp.187.
Ah! Tinha-me olvidado: O cristianinho está a milhas disto
O Maradona não pisca nada de nada de transições, sejam elas quais forem, mas, pelo menos (pelo menos), não rumina artificialidades de cepa duvidosa como o professor Queirós. À parte disso (à parte disso), não esconde a costela pornográfica, o que não é assim tão pouco. Abram-se os armários. É abrir os armários…
outubro 18, 2009
outubro 17, 2009
outubro 11, 2009
outubro 09, 2009
Estava a pensar em literatura contemporânea mas não resisto ao registo boçal nem ao húmus
Lamenta-se a insuficiência de espaço (na capa) para aceder a todos os protagonistas que, de uma forma ou de outra, mas sempre com trabalho e responsabilidade, contribuíram para o estado de gangsterização (é assim mesmo que se escreve) em que se encontra o país chamado, e bem, Portugal. Leia-se o deprimido e visionário (que ninguém lê, nem lembra ao diabo), Raul Brandão. Leia-se:Roubar já não se chama roubar. Este homem que comanda uma frota da Baía a Tunis, é um financeiro e um poeta [Atente-se, por ex, no Paulo Teixeira Pinto, ex Millennium]. Faz a fome e a fartura. Arruína um povo – e enriquece. Uma revolução, dois, três navios vão pelos ares…Mais negócio, melhor negócio. Este médico, este advogado, este honrado comerciante, exploram-te. Enriquecem. Desçamos na escala: ali à esquina levam-te a carteira com uma nota de dez mil réis. A isto se chama roubar.
Sacado do “Húmus” (1917) de Raul Brandão que por vezes, não raras, assoma a bocas de esgoto armadas em picheleiros da mudança.
outubro 08, 2009
Olha ali na estante o prémio Nobel da literatura: Herta Müller
Por acaso temos por cá um exemplar da obra de Herta Müller. Trata-se de “A Terra das ameixas Verdes”, editado com a chancela Difel, conseguido algures num supermercado PLUS, ao quilo. Ainda ninguém o leu. Na hierarquia de leituras anda para aí perdido mas sem escoriações a assinalar. A sua compra terá resultado, dizem-nos, de alguma “visão”, ou quem sabe, femininamente, “intuição”. Em todo o caso, e mesmo não determinando as nossas leituras pelos prémios que recebem, e sabendo-nos anacrónicos, assinale-se inutilmente e em primeira-mão (estamos sempre em directo com Estocolmo), a nova Prémio Nobel da Literatura, Romena de nascimento , vivendo desde 1987 na Alemanha. A Terra das Ameixas Verdes começa assim:“Emudecemos e tornamo-nos desagradáveis, disse Edgar, falamos e tornamo-nos ridículos”
Entretanto, vou ali tentar colocar um calço na máquina de lavar que abana por todos os lados…
outubro 07, 2009
outubro 06, 2009
outubro 05, 2009
outubro 03, 2009
setembro 29, 2009
Já começou
ainda o sangue não chegou ao rio e as bandeirinhas já se desfraldam ao vento que passa. Extravagâncias se anunciam. No café Portugal e na padaria, pelo menos, já se desanuviou o ambiente...
setembro 27, 2009
setembro 26, 2009
setembro 25, 2009
setembro 22, 2009
Também me parece
À hora X, no café Portugal
À mesa Z, é sempre a mesma cena:
Uma toupeira ergue a mãozinha e acena…
Dois pica-paus querelam, muito entusiasmados:
Que a dita dura dura que não dura
A dita dita ditadura – dura desdita!
Um pássaro canta diz isto assim é pena
E um senhor avestruz engole ovos estrelados.
"Rua 1º de Dezembro", Mário Cesariny
setembro 21, 2009
As transições defensivas em campanha eleitoral

setembro 20, 2009
setembro 17, 2009
Vai ficar lindo à grande vitesse
setembro 15, 2009
setembro 12, 2009
setembro 11, 2009
Estudos na minha terra - parte II: o "nosso político"
“Os políticos da geração moderna compreenderam e aceitaram a lição (…) O sistema da violência foi abandonado como inútil, e começou, com êxito, o dúctil método da habilidade. O Conde d` Abranhos, com a sua alta intuição, sentiu que se estava preparando uma nova política, que, condizendo com o seu temperamento, seria o elemento natural em que a sua fortuna medraria como num terreno propício. Ele bem sabia que o governo nada perdia do seu poder discricionário – mas que apenas o disfarçava. Em vez de uma forte patada no país, clamando com força: - Para aqui! Eu quero! – os governos democráticos conseguem tudo, com mais segurança própria e toda a admiração da plebe, curvando a espinha com doçura: - Por aqui, se fazem favor! Acreditem que é o bom caminho!Tomemos um exemplo: o eleitor que não quer votar com o governo. Ei-lo, aí, junto da urna da oposição, com o seu voto hostil na mão, inchado do seu direito. Se, para o obrigar a votar com o Governo o empurrarem às coronhadas e às cacetadas, o homem volta-se, puxa de uma pistola – e aí temos a guerra civil. Para que este brutalidade obsoleta? Não o espanquem, mas, pelo contrário, acompanhem-no ao café ou `taberna (…)paguem-lhe bebidas generosamente, perguntem-lhe pelo pequerruchos, metam-lhe uma placa de cinco tostões na mão e levem-no pelo braço, de cigarro na boca, trauteando o hino, até junto da urna do Governo, vaso do Poder , taça da Felicidade! Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um País, com o aplauso do cidadão e em nome da liberdade."
“O Conde d`Abranhos – Notas biográficas de Z. Zagalo –“ Eça de Queirós.
Obra apenas publicada postumamente (1925). Recorde-se que o autor morreu em Paris corria o ano de 1900.
setembro 05, 2009
O voto inútil
Já rabeia na padaria o bichinho das eleições. Um conjecturável comunista (filho de um verdadeiro marxista), rapaz de pedinchices e de pouco trabalho, aceitou (presume-se que) abnegadamente, dois bonezinhos e uma bolsinha com as cores de uma lista (nos antípodas do seu pensamento filosófico político) candidata à junta de freguesia. Cheira a vitória e não convém defraudar os “amigos”. Recebida a lembrança, avança com um sorrisinho e sentencia humildemente: “voto nas pessoas, não nas cores”. Ele presumivelmente nem vota. Mas carece, precisa muito, de continuar a gravitar perto daquelas mesas, a aparar as migalhas, cuidadosamente, e a receber vitupérios pela frente e à canzana. E para quê? Neste caso particular, pasme-se, apenas para poder andar por aí. Sentir-se entre afeiçoados. Digno. Mais próximo do centro da mesa, balofos avinhados em álcoois mais ou menos respeitáveis, esses sim, correm por dentro, farejando o bolo, a possível sinecura. A escudela pode ser sua. Estes, quanto a social-democracia, socialismo ou física nuclear, apenas lhe adivinhando os dentes rebolam de imediato para outro assunto: bola, o preferido; o Liedson na selecção (continua a ser bola, mas de carácter histórico filosófico); ou a possível lambidela política no encerramento do jornal das sextas na TVI (a rubrica da actualidade). Três segundos após o início de qualquer destes temas, pode advir um quarto ou quinto, de preferência começado por:” diz que” ou “ouvi na televisão” ou “como diz o outro”, ou ainda, quando (na melhor das hipóteses) assoma um pensamento efectivamente próprio, ou é intransmissível ou principia com o creditado “vi num documentário”. Foi assim que um tipo de andar aligeirado pelo Favaios, improvisou que qualquer um que se naturalize português, deveria, para além dos pressupostos legais (a versão original era: “as cenas que têm que ser cumpridas”), fazer um teste sobre cultura e história portuguesa, “como fazem na América” (esta é a parte do documentário). Assentimos. Mas talvez fosse interessante começar por fazer os testes aos nativos. Teríamos um país mais esvaziado. E, como explicava outro dia na padaria um Ucraniano a dois papagaios de ventre dilatado e semblante abigodado:”porra, vocês não sabem nada da vossa história. Até eu estudei os descobrimentos portugueses, e outras coisas”. O ventre maior, generoso, condescende com um sorriso de néscia bonomia, ao mesmo tempo que coloca as mãozinhas gordurosas em concha atestando: “ah…ah, a minha escola já foi há muito tempo..eh…eh…há muiiito tempo, fiu”. setembro 02, 2009
Estudos na minha terra - parte I: o povo vota no povo
"Estudando desapaixonadamente a nossa vida social, revelam-se-nos nela os seguintes sintomas, entre outros, pouco lisonjeiros:Falta de iniciativa; espírito quase constante de hesitação, que não exclui alguns raros impulsos energéticos no começo, mas seguidos em breve de abandono da empresa começada (excitabilidade esgotável). – Incapacidade progressiva para o trabalho e sobretudo para o trabalho intelectual persistente, a que se liga muitas vezes a consciência de inaptidão (an instinctive consciousness of inadequacy before us, Beard). – Pusilanimidade na vida pública manifestando-se principalmente na incapacidade de ter opinião independente; ou ao contrário, afirmação exagerada de ideias revolucionárias, de que se está longe de conhecer os fundamentos. – Grande pressa em chegar às posições mais altas a que se pode aspirar; como que se receia (para empregar a frase vulgar) que o mundo fuja. – Predomínio dos sentimentos egoístas sobre os colectivistas; falta de espírito de generalidade. – Espírito excessivo de imitação (tipificado é a neurose de imitação, latah dos malaios ). Insânia moral frequente, manifestando-se em formas múltiplas. – Pessimismo, hipocondria e fatalismo social; o primeiro levando a nação a considerar-se como irremediavelmente perdida; o segundo fazendo-a considerar a sua sorte como dependente de condições fora da sua vontade. – Alternando com esse pessimismo e a desconfiança de todos e de tudo a que ele leva, confiança momentânea, que faz aceitar como salvador o primeiro charlatão ou a primeira nulidade que se impõe por quaisquer circunstâncias externas; sonhos absurdos de grandeza, que tornam mais dolorosa a triste realidade quando ela se impõe com a brutalidade dos factos (…)"
Francisco Adolfo Coelho, “Esboço de um programa para o estado Antropológico, Patológico e Demográfico do Povo Português (1890), in Adolfo Coelho, Obra Etnográfica;
Adenda: Estudos para o preâmbulo insano que nos acompanhará durante a carniça da campanha eleitoral até às urnas, sempre com o pensamento em mente - pleonasmo em gracejo do Alfredo – de que os governantes, e agora mais que nunca, emanam desse tal de povo.
agosto 31, 2009
agosto 28, 2009
Belíssimo Alfredo
agosto 26, 2009
O triunfo dos porcos
Andam por aí indivíduos cheios de "princípios". E, à parte disso, decididos a governar; ou, pelo menos, a ter poder. Qualquer poder. Nem que seja um número três para a junta de freguesia, sempre são uns trocos e uma roupagem para laborar nas azenhas e subterrâneos da tachice. Esse poder meus caros, o tal poder, o status loja dos trezentos, contamina as deambulações erráticas do nativo, pega-se, com a força, assim mesmo, da epidemia (sem linha 24 que a valha), até contaminar os derradeiros refúgios da inteligência. É uma minúscula (e suposta?) vantagem de expressar o “eu”, a sublimação derradeira do cacique até às entranhas da fístula social. O fim da linha da cagadeira. E ainda assim, assemelhando-se, muito de perto, ao culto do (pseudo)canudo, do veículo com estofos de cabedal (último a sair), cunhado ou irmão da viagem imprescindível à punta das canas, da casa a 25 anos; sinónimos, aliás, do mais selvagem dos individualismos europeus, alicerçado na insipiência nativa: a sobeja da malga de sopa a escorrer pela camisa; o olhar baço e cobarde que assiste à sua putrefacção; (muito) bacalhau a encher o prato e a substituir o ruído cognoscível da sardinha para dois (naquele tempo!). Naquele tempo é hoje. Um século XIX (para não recuar mais), reconhecível nos urinóis políticos e nos debates abstémicos. Um enfado prazenteiro. A inexistência de qualquer mundo. E, no fundo, como uma onda, ou se quiserem, uma vaga de fundo, à benfica, essa inexplicável ténia que escuta fado, vai à tourada, e termina com dores nas cruzes… agosto 23, 2009
A matéria invisível
“Cuidado com os micróbios, pequeno” - grita uma senhora empoleirada na janela às coisas cá de baixo. Mais à frente, encontro a manquinha a entrar na padaria e noto, sem grande pesar, que tudo está na mesma. Por isso mesmo, ando escondido a escutar coisas antiquíssimas como o 1º álbum dos Clair Obscur, o “Counterpoint” dos In The Nursery, e uma merda que me faz confusão como é que lá cheguei de tão fraquinha: os Negativland. Na verdade, ao fundo da rua já estou a mudar a paparoca para o velhinho “A Um Deus desconhecido” e a preparar uma investida caseira baseada nas (minhas e próprias – assim mesmo) conclusões sobre “A sociedade de consumo” de Jean Baudrillard. Entretanto não acabo os contos da senhora dos pavões, não vou à pesca, não jogo futebol com os amigos e não me lembro de ir à missa. Por outro lado, consumo carradas de obras sobre a temática deslumbrante: cidades e urbanismo; viajo por catedrais góticas e encontro em cada esquina variadíssimos escritores a dar a sua esmolinha para a causa. Descubro outra e outra vez que tudo está ligado quando encontro o Marx perto do Camillo Sitte e o Corbusier num engarrafamento com Hugo (não é o do circo) e Wells.Acresce ainda que, finalmente, consegui livrar-me de uma das minhas (muitas) alergias (e reacções extemporâneas), esta última resultando em cerca de 325 borbulhas, dispostas, ora em camadas nas pernas, ora aleatoriamente nos braços e na barriga (soube por um espelho que também as carregava às costas). Parece que a coisa foi o resultado de 3 ou 4 dias de sol, colhido entre as 17h e as 19h, maioritariamente preenchidos na água. Odeio areia quente e odeio sol. Mas gosto de água. Gosto de água. Vai daí conclui-se, não vejo outra cena, que esta alergia, e temo que muitas outras, será causada pela denominada matéria invisível, uma cena que o Thomas Browne, segundo parece, já se debruçava…
Imagem: "Sunrise with Sea Monsters", John Mallord William Turner, (1775-1851)
agosto 22, 2009
Por aqui também não faltam candidatos a figurantes seja lá para o que for
«Eles lá têm tantas raparigas bonitas de que não precisam que lhes chamam figurantes e não as usam para nada que não seja darem coisas às pessoas e depois tirarem fotografias com elas. Tiraram-me uma fotografia com ela. Não. Eram duas. Eu no centro com uma de cada lado e eu com os braços à volta da cintura delas e a cintura delas não era maior do que uma moeda de cinco cêntimos.»
agosto 21, 2009
É provável que nos voltemos a encontrar
A coisa havia começado assim: “É por um acaso que escrevo quando o copo de cerveja está (já) a meio”. Minutos antes desta enigmática sentença, recordo-o bem, estava eu a reflectir na problemática sempre pertinente da disposição táctica do Sporting, sem esquecer a inusitada e deslumbrante ausência de laterais com o mínimo de categoria, quando uma luz, a início, dir-se-ia, um lampejo praticamente imperceptível, mas depois insinuando-se frenética e ofuscante, pulsou no meu cérebro. Curiosamente, agora que a tento recordar (a pulsão logo aí terá degenerado em ideia – é sempre assim), recorrendo a meios pouco ortodoxos, destapo, não sem algum desnorte, a capinha de sombras verdadeiramente tenebrosas que nos salpicam os dias. Nem o percebemos. Entretanto, nesta reconstituição histórica recente para chegar à tal ideia, recordo essoutros momentos fatídicos em que tudo se ganha e tudo se perde num segundo: uma ideia assombrosa; um poema irrepreensível; um reconciliamento intimo; uma palavra desencaminhada; um projecto grandioso a três fases; um capítulo inteirinho da tese. Seguidamente, tudo se esfuma, entre uma antiga passagem estreita que culmina numa escadaria de madeira que dá passagem para a cangosta, e uma queda, nocturna e grave, que esfacela uma canela. Chegados à marquise, alguém ressona, e o vento dá de mansinho nas vidraças forradas a cortinados com renda, evocando todas essas vozes que já não recordamos. No dia seguinte talvez cheire a rosca e café com leite. Está tudo em camadas no mundo. É provável que nos voltemos a encontrar. imagem: "A persistência da memória", Salvador Dali, 1931
agosto 17, 2009
Na Jamaica os Ferraris são assim

Este senhor, de nome Usain Bolt, correu os 100 metros em Berlim em 9.58 (nove segundos e cinquenta e oito centésimos! – assim mesmo, com o tal ponto de exclamação que alguns querem correr daqui para fora) e, no final, sem qualquer pejo, terá pedido para soprar ao balão. Note-se, note-se bem, que praticamente nenhum órgão (excluindo o meu fígado), seja de informação, seja de recreio imediato, salientou a façanha, preferindo os lamparinas e o futebol clube pinto da costa como vitrina para os nativos e emigras de fancaria lusitana que vestem a famosa camisolinha de alças, vulgo, sport. A excepção foi o meu pasquim Público, onde o sr. Fernandes rumina uns editoriais e deixa passar tudo que tenha boa figuração (desde que não seja contra o seu armário liberal maciço). Da volta a Portugal nadinha, que os lamparinas já não correm, enfarpelados de Ferraris, com canastro de caracóis. Ganhou o Nuno e ainda por cima português Ribeiro. Mais a mais, só Jamaica:









