setembro 11, 2009

Estudos na minha terra - parte II: o "nosso político"

“Os políticos da geração moderna compreenderam e aceitaram a lição (…) O sistema da violência foi abandonado como inútil, e começou, com êxito, o dúctil método da habilidade. O Conde d` Abranhos, com a sua alta intuição, sentiu que se estava preparando uma nova política, que, condizendo com o seu temperamento, seria o elemento natural em que a sua fortuna medraria como num terreno propício. Ele bem sabia que o governo nada perdia do seu poder discricionário – mas que apenas o disfarçava. Em vez de uma forte patada no país, clamando com força: - Para aqui! Eu quero! – os governos democráticos conseguem tudo, com mais segurança própria e toda a admiração da plebe, curvando a espinha com doçura: - Por aqui, se fazem favor! Acreditem que é o bom caminho!
Tomemos um exemplo: o eleitor que não quer votar com o governo. Ei-lo, aí, junto da urna da oposição, com o seu voto hostil na mão, inchado do seu direito. Se, para o obrigar a votar com o Governo o empurrarem às coronhadas e às cacetadas, o homem volta-se, puxa de uma pistola – e aí temos a guerra civil. Para que este brutalidade obsoleta? Não o espanquem, mas, pelo contrário, acompanhem-no ao café ou `taberna (…)paguem-lhe bebidas generosamente, perguntem-lhe pelo pequerruchos, metam-lhe uma placa de cinco tostões na mão e levem-no pelo braço, de cigarro na boca, trauteando o hino, até junto da urna do Governo, vaso do Poder , taça da Felicidade! Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um País, com o aplauso do cidadão e em nome da liberdade."

“O Conde d`Abranhos – Notas biográficas de Z. Zagalo –“ Eça de Queirós.
Obra apenas publicada postumamente (1925). Recorde-se que o autor morreu em Paris corria o ano de 1900.

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