novembro 11, 2009

Desencontros

Num desses intermináveis passeios que me costumam aconchegar os dias, dei por mim num local já largamente fora da cidade onde, para todos os efeitos, eu era um incógnito num sítio desconhecido. “Que boa oportunidade para desaparecer”, pensei então, recordando o escritor Andrés Pasavento que à chegada a Sevilha aproveita que um homem de fato às ricas apanhe o seu táxi para desaparecer, supostamente sem deixar rasto, convertendo-se no Doutor Pasavento, descobrindo depois que ninguém deu pela sua falta. Nesse romance, Doutor Pasavento, Enrique Vila-Matas recorda Robert Walser, esse grande escritor, desaparecido toda a vida, e que depois de entrar no manicómio de Herisau na Suiça, nunca mais escreveu, preferindo dar uns intermináveis passeios solitários, até que a morte chegou num dia de natal precisamente durante um deles. Pensei na encruzilhada de caminhos que por vezes se cruzam sem, provavelmente, nós sequer notarmos. Curiosamente, quando voltava, veio-me à cabeça, não sei bem porquê que, se uns desaparecem outros simplesmente não aparecem. Um exemplo dos que não aparecem é visível na ausência (neste caso penso que notada) de Obama durante as comemorações da queda do (tal) muro da vergonha em Berlim. Talvez por vergonha. Um desses muros (da vergonha), embora travestido de (supostas) boas intenções cresce a olhos vistos na fronteira dos E.U.A com o México. Outros erguem-se como cogumelos sempre imbuídos de um espírito altruísta e não segregador: na fronteira de Israel com a Palestina; no Rio de Janeiro; nos gigantescos condomínios fechados adornados de arame farpado em São Paulo; entre as duas Coreias; na ilha de Chipre e aqui ao lado em Ceuta, entre outros. Estuguei o passo com receio que não dessem pela minha curta ausência. Todavia, desaparecer neste mundo em que cada muro tem um significado distinto pareceu-me então uma excelente ideia. 

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