Sistematicamente, sou alvo de pequenas, eu diria ínfimas, alucinações, as quais me permitem, apesar de tudo, ver uma quantidade de coisas a olho nu e por aí fora com rasgos de realidade (re)forçada. O meu gato acreditaria. Por exemplo, neste preciso momento, estando eu a tentar recordar uma data de coisas supostamente inesquecíveis, isto é, uma data de ideias e projectos supostamente infalíveis e por aí fora, dá-se o caso (incompreensível) de não recordar nadinha da coisa alguma e andar aqui a enredar e voltar a dar na esperança de ninguém perceber. Deu-se o mesmo quando há uns anos atrás depois de uma noite de copos, vinha eu para casa a escrever mentalmente uma data de poemas fabulosos, quando, ao subir umas escadas provisórias de madeira junto ao murinho da escola primária, tombei com todas as forças disponíveis nesse momento, abrindo um lanho jeitoso na canela e inaugurando uma colecção (futura) de escoriações de pele em forma de tampinhas. Vai daí, ainda pensei que foram os melhores poemas que nunca escrevi. No dia seguinte confirmei-o, não me recordando de nada, mas atestando com um sorriso o sangue nos lençois e uma tampinha de carne levantada…eh…eh…na canela.
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