agosto 23, 2009

A matéria invisível

“Cuidado com os micróbios, pequeno” - grita uma senhora empoleirada na janela às coisas cá de baixo. Mais à frente, encontro a manquinha a entrar na padaria e noto, sem grande pesar, que tudo está na mesma. Por isso mesmo, ando escondido a escutar coisas antiquíssimas como o 1º álbum dos Clair Obscur, o “Counterpoint” dos In The Nursery, e uma merda que me faz confusão como é que lá cheguei de tão fraquinha: os Negativland. Na verdade, ao fundo da rua já estou a mudar a paparoca para o velhinho “A Um Deus desconhecido” e a preparar uma investida caseira baseada nas (minhas e próprias – assim mesmo) conclusões sobre “A sociedade de consumo” de Jean Baudrillard. Entretanto não acabo os contos da senhora dos pavões, não vou à pesca, não jogo futebol com os amigos e não me lembro de ir à missa. Por outro lado, consumo carradas de obras sobre a temática deslumbrante: cidades e urbanismo; viajo por catedrais góticas e encontro em cada esquina variadíssimos escritores a dar a sua esmolinha para a causa. Descubro outra e outra vez que tudo está ligado quando encontro o Marx perto do Camillo Sitte e o Corbusier num engarrafamento com Hugo (não é o do circo) e Wells.
Acresce ainda que, finalmente, consegui livrar-me de uma das minhas (muitas) alergias (e reacções extemporâneas), esta última resultando em cerca de 325 borbulhas, dispostas, ora em camadas nas pernas, ora aleatoriamente nos braços e na barriga (soube por um espelho que também as carregava às costas). Parece que a coisa foi o resultado de 3 ou 4 dias de sol, colhido entre as 17h e as 19h, maioritariamente preenchidos na água. Odeio areia quente e odeio sol. Mas gosto de água. Gosto de água. Vai daí conclui-se, não vejo outra cena, que esta alergia, e temo que muitas outras, será causada pela denominada matéria invisível, uma cena que o Thomas Browne, segundo parece, já se debruçava…


Imagem: "Sunrise with Sea Monsters", John Mallord William Turner, (1775-1851)

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