dezembro 15, 2018
dezembro 14, 2018
Corpos vis
Lá em cima, no número 12, que é uma suíte consideravelmente imponente, Mr Vexame voltava atrás descendo o percurso de confiança em si próprio que tão laboriosamente escalara.
dezembro 09, 2018
Fake plastic trees
Her green plastic watering can
For her fake Chinese rubber plant
In the fake plastic earth
That she bought from a rubber man
In a town full of rubber bands
To get rid of itself
It wears her out, it wears her out
It wears her out, it wears her out
She lives with a broken man
A cracked polystyrene man
Who just crumbles and burns
He used to do surgery
For girls in the eighties
But gravity always wins
It wears him out, it wears him out
It wears him out, it wears
She looks like the real thing
She tastes like the real thing
My fake plastic love
But I can't help the feeling
I could blow through the ceiling
If I just turn and run
And it wears me out, it wears me out
It wears me out, it wears me out
If I could be who you wanted
If I could be who you wanted all the time
All the time
All the time
Esta nova roupagem de Fake Plastic Trees, um original dos Radiohead, uma das músicas que em determinada altura da minha vida mais ouvi, feita por Scala & Kolacny Brothers, engrandece o original não o desvirtuando nem se limitando a uma reprodução ou simples cópia de plástico. Na verdade, não sei se será da época, mas fiquei com a sensação que este poderia ser uma grande música de Natal. Deve ser impressão minha.
road to nowhere
Continuamos, com gosto evidente,
parece-me, a pagar os combustíveis mais caros do mundo deste lado do mundo.
Parece que são as taxas. Na minha factura da água (responsabilidade da AGERE em
Braga), por exemplo, a grande fatia vai paras taxas e taxinhas, mais de metade
serve para animar os cofres da câmara, com coisas lindíssimas relativas a
separação de resíduos, animando igualmente os bolsos de alguns gestores semi-analfabetos.
A factura da EDP não fica nada atrás, mas sobre a EDP não gosto de falar.
Compreendo mal o mandarim e não quero cometer grandes gaffes. Não tarda nada a
Universidade do Minho lançará a licenciatura em Taxas e Companhia, para juntar
àquelas tipo administração pública, gestão (danosa) e a novíssima Proteção
Civil e gestão do território, uma lateralização eufemística do curso de
geografia e planeamento que vai perdendo gás e empregabilidade (se é que alguma
vez a teve).
Nada disto teria qualquer importância
se estivéssemos perto de um coffee shop na Holanda, ou a visitar os locais dos
crimes da saga Millennium em Estocolomo, ou apenas a passear na rua
Bellmansgatan, mas ficando aqui por Braga a coisa assume alguma relevância, tendo
em conta que um ordenado médio andará à volta de 700 euros (com sorte), e
algumas das rendas T2 já andam perto disso. Nada que preocupe os seres humanos
cá do burgo, desde que possam passar horas no trânsito para chegar a um
qualquer centro comercial, está tudo bem. Só se chateiam quando não há
estacionamento, podendo bater-se barbaramente por um lugar. Tanto sacrifício
para nada, não pode ser. E assim continuamos bem lixados, perdão, taxados.
Adenda (a capa do Libération de ontem):
Adenda (a capa do Libération de ontem):
dezembro 06, 2018
novembro 27, 2018
novembro 23, 2018
Truques de glória
Estou há mais de dois meses para escrever algo sobre o “Paterson”,
um filme de Jim Jarmusch, mas por razões alheias à minha vontade, razões essas absolutamente
indetermináveis, pelo menos até à hora em que escrevo estas linhas, tal não foi possível, ainda
tentei contactar o escriba, isto é, eu próprio, mas tal não foi também, de todo, possível.
Fica para outro dia. O personagem principal deste filme chama-se Paterson, e a
cidade onde a acção se passa também se chama Paterson, razões mais que
suficientes para o filme se chamar Paterson. Paterson é uma espécie de poeta
condutor de autocarros. A sua vida é um rame-rame que apenas nos chama atenção
pelo facto de escrever poesia. Se fosse um rádio amor condutor de autocarros
seria muito mais difícil a sua recepção em Cannes. A mulher de Paterson é uma
idiota com a mania de ser artista, o que é muito comum nos dias de hoje, tanto
uma coisa como a outra. O Jarmusch sabe bem isso, é um diletante, gosta do
Paterson na medida em que este não tem telemóvel, escreve poesia e, às vezes,
lá bebe um copo quando vai passear o cão ou levar o lixo, já não sei, mas fico
com sensação que a acção poderia ser em, digamos, Amarante, também deve por lá
devem haver poetas que gostem de outros poetas, embora sem conhecerem (não vem
mal nenhum ao mundo) o William Carlos Williams. Jim Jarmusch vai-se aborrecendo
ao logo da realização do seu filme ao ponto de fazer com que Paterson, por obra
do demo, fique sem o seu caderninho de poemas, sem ter tido tempo de o
fotocopiar. Ficamos todos muito chateados e solidários. Nós, e a menina que a
páginas tantas lhe lê um poema, ao nível dos dele, ou de qualquer outro
condutor de autocarros poeta, para não dizer de WCW. Todavia, Paterson, embora
chateado (nota-se algum esforço do actor nesse sentido) continua a conduzir o
seu autocarro (não é à toa que o nome do actor é Driver), mas ficamos sem saber
se alguém lhe terá dito que não é o fim do mundo, que também Herberto Helder perdeu
um manuscrito original num comboio, coisa que lhe terá provocado uma profunda
angústia de duração não inferior a seis meses. Não sabemos, ainda, se Paterson
ou mesmo Jarmusch sabem da participação de HH numa curta de 1968. Saberiam?
Saberão? Como reagiria, ou reagirá Cannes? Não sabemos, é um perfeito enigma.
(Paterson a escrever os seus poemas, acho)
novembro 22, 2018
Tourear as pedreiras
Não é, de todo, civilizado, falar
sobre civilização. E com isto teríamos encerrado o assunto, ainda a tempo de
ver o Macgyver no canal memória. Mas não. Quando a ministra (da cultura, dizem)
escorregou no termo civilização, não
se terá recordado (saberia?) que muitas disputas terão começado por muito
menos. Quando invocamos civilização, necessariamente distanciámo-nos do
“outro”, o bárbaro. Já era assim entre gregos e persas, ou entre romanos e os
povos do Norte. É assim entre sportinguistas e benfiquistas. Temos que ter
alguma cautela quando barricamos o nosso pensamento em facções. As barricadas
são lugares inseguros. Temos um ou dois livros que confirmam isso mesmo.
Cheguei às touradas como em tudo
na vida pré-história dos anos oitenta (do século passado): através da RTP. Às
touradas, ao TV Rural, às novelas brasileiras, ao Júlio Isidro, ao Duarte e
Companhia, ao Zé Gato, ao Verão Azul, e ao cinema, muito cinema. Anos setenta
(apanhei o final), oitenta, noventa. E não sou o único a dizê-lo. Das touradas
só sei o que vi na TV. A mesma coisa para os saltos de esqui, coisa que via
religiosamente no ano novo. Não frequento e nunca entrei numa praça. Conheço
alguns touros por percalços da minha imaginação, ou de viagens pelo país. Quase
sempre a Sul. Sei que existiu um tal de campo dos toiros em Barcelos, no século
XIX, provavelmente relacionado com a feira semanal, longe de ser caso único no
Minho. Resquícios de tudo isso se vislumbram na vaca das cordas de Ponte de
Lima. Com travessia para os Açores. Bovinidades sem toureiro a cavalo, sem
forcados, sem bancadas, normalmente integradas em festividades ou em promoção
pecuária. Na minha terra já ninguém se recorda disso, o que não quer dizer que
não tenha existido.
Não gosto de touradas sejam elas
quais forem. Os toiros concordarão comigo. Mas não partilho o endeusamento e a
moda dos bichinhos que se vive por aí. Num filme de 1990, Anjos Caídos, protagonizado por Sean Penn e o Gary Oldman (assim de
cor), a páginas tantas fala-se sobre a apropriação do bairro da sua infância
(descendentes de Irlandeses) pela especulação imobiliária, tomado aos poucos
por yuppies que trazem os seus animais de estimação para dentro dos seus
modernos apartamentos. Um comportamento bárbaro segundo os locals, habituados a animais soltos e não aprisionados em
apartamentos. Para isso temos as pessoas.
Ora, essa moda dos animais em
apartamentos demorou mas chegou cá ao burgo. Poderia dar milhares de exemplos
de animais verdadeiramente abandonados durante todo o dia em marquises,
garagens, terraços, ou simplesmente em salas, alguns a gritar (de felicidade?)
durante todo o dia. Assim vai o amor incondicional pelos animais. Lá chegaremos
ao toiro numa loja de porcelanas, 2º esquerdo. E os preços das habitações continuam
a disparar. Já repararam, ou não é importante?
Parece que as pedreiras não se enquadram na
logística civilizacional. As pedreiras são técnica, antes de serem comércio ou
indústria. E, como tal, devem ser da responsabilidade de técnicos. Ponto. Comunicada
a informação técnica, quando esta existe, a responsabilidade passa a ser
política. Se há uma pedreira e uma estrada, certamente que haverá gente.
Sabemos que não é de estimação, mas podíamos, ao menos, deixar de tentar disfarçar.
Estranha forma de continuar a escrever a mesma coisa (sem que a gente deixe de a ler)
No fim de contas, a minha conferência sobre a «estrutura mítica do herói» - essa tagarelice que vinha a repetir havia anos sempre que me convidavam - tinha-a copiado integralmente do livro de um intelectual português, Manuel da Cunha.
novembro 18, 2018
As touradas e o património da bovinidade
Sobre este assunto tenho a dizer que as casas em Braga estão a ficar muito, mas muito, caras, tanto para alugar como (para quem é louco) comprar, já para não falar de outros preços, coisas de turistas, ou de malta que desagua enganada em terras de terras santa cruz ao contrário. A todos desejo um bom espectáculo. Ou isso.
(Bartoon, de Luís Afonso, 30/07/2010)
(Bartoon, de Luís Afonso, 30/07/2010)
O meu país a saque
(cortesia daqui)
A pouca begonha continua. Mais uma contribuição para o museu da contrafacção: a candidata (única) à liderança da JS com erros no currículo, parece que anda a dividir as hostes. Pudera, estas coisas começam a ter algum eco no rapar do tacho. E o eco é chato.
novembro 16, 2018
Para uma nova taxonomia dos afectos
Tenho um amigo sportinguista que tem sempre teorias sobre tudo. Por isso mesmo não precisa da Netflix para nada. Desta vez engendrou uma teoria da conspiração que dá bem com o seu humor (quando não se fala do Sporting), embora ele não se aperceba. Essa teoria diz mais ou menos o seguinte: a detenção de Bruno de Carvalho (e do Mustafá) a um domingo e perto da hora do jogo foi responsabilidade do próprio (embora não saiba explicar como) e dos seus novos (velhos?) amigos benfiquistas, para (mais uma vez, diz ele) ocultar e deixar passar em claro os e-toupeiras, emails, e por aí fora, até porque hoje tem início a instrução do e-toupeira. Desta forma, o ruído instalado superaria tudo. Quanto ao ruído e às patetices dos jornalistas e comentadores não poderia estar mais de acordo, relativamente ao resto, fico agradecido por vivermos num país onde o humor (e a imaginação) suplantam, em muito (ainda), o horror. Embora o Artur Albarran não o saiba.
Este amigo é um apoiante (enganado, claro está - diz ele) de primeira hora de BdC. Ele e muitos. Os mesmos que agora (recentemente) se juntam em fila indiana, batendo-se por serem os primeiros a atirar a primeira pedra. Não estivéssemos perto do Natal e dir-se-ia que a Páscoa era a época festiva que vivíamos, divertidos, tantas são as crucificações em praça pública, tantos são os que acompanham a via dolorosa, julgando e enxovalhando quem passa (caído em desgraça). Isto é, quem foi detido. Duas ou três passagens pela TV e percebemos que todos o sabiam, ou pressentiam, ou tinham avisado, o que tarde ou mais cedo seria inevitável. Todos os outros: enganados. Vê-se muito disto nos divórcios.
A forma como a imprensa (vamos chamar-lhe assim, à falta de melhor) cobre estas (e outras) detenções, estando previamente nos locais, tendo acesso a informação (supostamente) em segredo de justiça, diz-nos bem da formosa estrebaria (esta foi roubada a um viajante do século XVIII) em que vivemos. Fosse esta imprensa tão avisada noutras situações, fizesse investigação verdadeira e reportagem a sério e seríamos o Bas Dost da imprensa europeia.
Mas não se pense que a imprensa é o melhor disto tudo. Os comentadores (a soldo de quem agora?) são a cereja no topo da estrebaria (já sem tanta formosura). Passe a gritaria, passe a ignorância, o dinheiro a jorrar (não é só para as claques, estes tipos descobriram as claques agora, parece, como se fosse possível assobiar para o lado consoante a cor da camisola), mas o que não passa, ou não pode passar incólume, é aquela velha forma de adaptação ao status quo vigente, seja ele qual for, capacidade apenas disponível ao nível dos invertebrados. O meu amigo deve ter uma teoria para isto. Depois pergunto-lhe.
(originalmente publicado aqui)
novembro 13, 2018
novembro 12, 2018
E assim aconteceu
As leis iam mais longe. Não se tratava de uma mera proibição de outras práticas religiosas. Era a imposição activa do Cristianismo a todos os pagãos pecadores do império. As estradas do erro estavam a ser encerradas pela força. Todos tinham, agora, de se tornar cristãos.
De borla
(na lata)
Sobre o (suposto) trabalho voluntário, uma onda trendy muito em voga, que sustenta a "eventologia" (termo cunhado por Alain Bourdin) que pastoreia os nosso dias, entre festivais, eventos (supostamente) desportivos, sociais, tecnológicos, servidos à mesa por jovens (e menos jovens) de alma vaga, à procura de um lugar ao sol, devidamente peneirados. É um mundo de exploração sustentado pelos impostos de todos. Ou, pelo menos, de alguns. Duas crónicas recentes chamaram-me a atenção:
- Borlas & porreirismo: é a cultura, estúpido!; de João Pedro George
- Não vás ao engano; de Henrique Raposo (sim, do Henrique Raposo)
A minha tese de doutoramento (onde vai ela???), seria sobre isso: o nosso mundo é um evento, ou um parque temático, se quiserem. Talvez um dia. Mas não de borla.
Mau tempo no canal
Na segunda parte não contei um remate enquadrado com a baliza. Pouco importa. O Bas Dost chega e vai sobrando (já o tinha feito na primeira parte) para as encomendas, e o Acuña, vá-se lá saber porquê, tem a mania de dar alguma intensidade ao jogo, ainda que inconsequente. O Bruno Fernandes desde que conviveu em conferências de imprensa com o Cintra (e, quem sabe, com o seu amigo que percebe de futebol) teima em não encarreirar no jogo, pelo menos dentro de campo. Até nisso há mão do Peseiro. O Nani vai-se passeando de peito feito, cabeça levantada, mas sem futebol digno desse nome. A sensação que fica é que o Gudelj até passa por jogador da bola neste conjunto de banalidades, e o Gaspar continua a marcar bem com os olhos. Raramente uma jogada sobrevive, faça chuva ou faça sol, a um ou dois toques com desmazelo à mistura.
Acabamos à toa, contra dez. Talvez por isso terá entrado o Misic, para equilibrar as coisas. Ganhámos, com ou sem casos, lá ganhámos. Mas não conseguimos enganar ninguém, a não ser os próprios. Não há chuva ou vento que nos leve a ilusão. Nem em Lisboa.
(publicado originalmente aqui)
novembro 11, 2018
novembro 04, 2018
Duzentos anos do Prometeu Moderno
Há algo a agitar-se na minha alma que eu não entendo. Sou um homem muito diligente, cuidadoso e perseverante no trabalho, mas, além disso, existe um amor pelo maravilhoso, uma crença no maravilhoso, interligados em todos os meus projectos, que me impelem para fora dos caminhos comuns percorridos pelos homens, até mesmo para o mar revolto e as regiões não visitadas que estou prestes a explorar.
(Nota: já volto com notícias de Barcelona)
outubro 29, 2018
Fui ver do mundo
Perguntei, ninguém sabia (não sei se ainda não sabem), onde
ficava o mundo, uma pergunta em forma de Raul Solnado, ninguém sabia onde raio
ficava esse mundo onde o tal de Bolsonaro (já ouvi falar dele, a sério, mas de onde?) ganhou o jogo do bicho, não achei estranho,
o jogo já criou (leia-se infectou) bicho por todo o lado que não há mundo que
chegue para dar vazão aos bichos que gostam de procriar, ou ganhar bicho, o que
não é bem a mesma coisa. Ninguém sabe onde terá começado o jogo de criar bicho,
ou o jogo do bicho, o que só prova a simplicidade lusa do placard, ou mesmo da
malha, jogatanas que não são indiferentes a nenhum indígena com restos capilares
de inteligência de outras eras. Antigamente é que era bom, embora ninguém saiba
onde fica esse antigamente. Aposto que é perto do jogo do bicho. Dá sempre uma boa
criação. Eu sei disso.
outubro 21, 2018
O que terei feito de mal para as pessoas gostarem do livro?
O meu problema era o
nível da prosa. Até que ponto a minha prosa é boa? E falar da guerra, nesse
sentido também, é muito complicado. E falar de vivência, coisas pessoais. E foi
estranho. Os Cus de Judas teve sucesso imediato. Lembro-me que quis fazer o
lançamento de Memória de Elefante e estavam o editor, uma empregada da editora
e eu. N’Os Cus de Judas já havia uma multidão. Os meus irmãos diziam-me: “Na
praia está toda a gente a ler Memória de Elefante.” Não estava preparado para
aquele sucesso e fiquei desconfiado. O que terei feito de mal para as pessoas
gostarem do livro? (daqui)
Gosto sempre das entrevistas, e vou lendo as suas redacções compridas (para utilizar as palavras do próprio) de forma salteada e ligeira, admito. Separa-nos quase tudo. E isso é sempre estimulante. A páginas tantas, conta isto: Uma vez, eu tinha uns
14 anos, não me apeteceu ir ao liceu e não fui. Ele [o pai]entrou no meu quarto, abriu
a janela, de repente ficou luz e eu acordei. A minha pergunta foi: “Vem
assistir ao acordar de um génio?
Nós somos seguríssimos, não somos?
Está a dizer isso porque os portugueses dizem mal dos outros
portugueses e de Portugal. Mas isso significa que têm a segurança necessária e
suficiente para dizerem mal de Portugal e dos portugueses. Vá arranjar um
húngaro que diga mal da Hungria e dos húngaros! Não arranja um! Pronto, deve
haver um. Isto é um exagero retórico. Encontre um polaco que diga mal da
Polónia como nós dizemos de Portugal... Deve haver poucos. Nós somos
seguríssimos. A coisa mais importante que é preciso ter na Europa nós temos,
que é a nacionalidade. Temos mil anos. Leia o ensaio da Hannah Arendt sobre a
nacionalidade. Se você não tiver nacionalidade não existe.
(imperdível, digo eu - daqui)
outubro 19, 2018
outubro 08, 2018
Sporting: déjà vu?
Factos:
À sétima jornada estamos no 5º
lugar com treze pontos. Temos o 7º melhor ataque e a oitava (por extenso tem
outra pinta) melhor defesa. Sussurram-me
que não sofríamos quatro golos para a liga há cerca de dez anos e picos.
Estamos tristes, diz ele. É um passo atrás, mas nada nos pode perturbar, diz
ele. Ele… é o treinador. Se calhar o
problema é ninguém o perturbar. A ele e aos jogadores. Deixem os bocejos para
nós, tristes adeptos.
Suposições:
Estes tipos não treinam, ou se
treinam tentam disfarçar ao máximo para confundir os adversários. Bom, às vezes
lá treinam, mas fora do país. Como na passada semana, na Ucrânia. Aliás, no
final desse treino disputado ao ritmo de uma marcha fúnebre, uma verdadeira
conspiração cósmica intercedeu, colocando uma mão por debaixo do treinador.
Sucede o mesmo com o menino e o borracho. Até quando?
Questões (zangadas):
Se estes tipos não treinam, o que
fazem durante aquele tempo todo em que estão na academia? Se o treinador é um
especialista em futebol, porque será que nós não temos inveja disso? Se os
jogadores bocejam antes de um jogo, isso será ausência de noites bem dormidas?
A falta de intensidade demonstrada é um resquício (ainda) de traumas
psicológicos? Mesmo daqueles que não estavam na Academia no dia X? A falta de
jeito (súbita em alguns casos) de alguns jogadores é para acompanhar a
qualidade do treinador? A nossa paciência será um poço sem fundo? Entre outras…
Nota:
Já agora, como se sentiu o presidente sentado no
camarote do estádio do Portimonense? O mesmo clube em que o presidente da SAD
recentemente agrediu à cabeçada Rafael Barbosa, jogador emprestado pelo
Sporting, entretanto recambiado
setembro 28, 2018
Deserter's Songs
Já quase não ouço este disco, perdão, álbum, dos Mercury Rev, mas fartei-me de o fazer sem qualquer freio que o valha. Vinte anos nos separam, prova de que não vou para novo, embora o pareça (em determinadas circunstâncias nem sempre determináveis), comparativamente com o maralhal que por aí rosna postas de pescada supostamente recomendáveis (ao ouvido). Mas o "Holes" fica para a história. Nem que seja a minha:
Notícias do meu país
Confesso que continuo a maravilhar-me (quase) diariamente
com este país. A criatividade, nas suas mais variadas formas, sobretudo as não
responsáveis e as irresponsáveis, são um marco indelével e um exemplo para todo
o mundo. Veja-se o caso (um romance para alguns, uma farsa para outros, mais distraídos)
de Tancos. Após um ano e picos de diligências e histórias, finalmente não
chegamos a conclusão nenhuma, mas só até ver. A juntar a Tancos e aos Comandos,
ninguém das forças especiais quis ficar de fora e os Fuzileiros deram um ar da
sua graça (literalmente): fuzileiros perderam caixa de munições e só deram por isso quando um condutor a achou na estrada.
Aqui perto, Pedrogão, ainda arde. Depois de sabermos a
história da malta (criativamente) a tentar receber umas coroas à custa de pretensas
primeiras casas que apenas eram visitadas de lembrança, chegamos agora a mais
uma folia da justiça: autarcas, quadrosda EDP e da Ascendi acusados de homicídio negligente, sem esquecer a
proteção civil. Por fim fiquei a saber que a minha licenciatura pré-bolonha
(ainda tenho algures uma pós graduação e uma tentativa frustrada de receber uma
bolsa de doutoramento – também queria ser filhos de deus e deste Portugal criativo),
já não vai ser equiparada a mestrado como, aliás, havia sido prometido pelo governo. Não fiquei triste. Isto é uma terra de oportunistas, perdão, de
oportunidades e desenrascanço. É como na República Dominicana, olhem lá:
setembro 27, 2018
A chegada das trevas
O estudo não é exaustivo, nem isso era para aqui chamado. Não seguindo o caminho fácil do índice remissivo de factos ou historietas avulsas, nem por isso nos presenteia com floreados e retoques. Não pretendendo ser educativo (embora o seja), nunca se afasta de uma linguagem cuidada embora simples (não arrisco aqui a palavra acessível). A autora é dona e senhora de um sentido de humor que nunca esmaga o texto, antes pincelando-o a espaços, não fosse a temática em causa ainda tabu. As semelhanças com alguma da actualidade não são mera coincidência.
Estes demónios podem ter sido praticamente esquecidos pelos historiadores modernos, que tendem a a passar pelas demonologias com um silêncio que remete eloquentemente para o seu embaraço, mas tais diabos deixavam obcecados, talvez até tivessem possuído, algumas das maiores mentes do início do cristianismo(...)
Estes demónios podem ter sido praticamente esquecidos pelos historiadores modernos, que tendem a a passar pelas demonologias com um silêncio que remete eloquentemente para o seu embaraço, mas tais diabos deixavam obcecados, talvez até tivessem possuído, algumas das maiores mentes do início do cristianismo(...)
setembro 23, 2018
O centro do mundo - epílogo
Para não ser demasiado exaustivo diria que a autora
pesquisou. Isso dá trabalho. Não se pode dizer que o pós-modernismo, embora
alguns críticos o detetem em algumas açoteias (para não fugir muito à geografia
do livro), tenha tido grandes seguidores neste país, quedando-se pelos
modernismos que irradiaram de outro centro do mundo, Lisboa, o verdadeiro,
assim o proclama a província. Ainda hesitei nas primeiras duas ou três páginas,
mas à apologia da metaficção (andava para meter esta cena no texto nem que
fosse de lado), junta-se-lhe uma pena com alguns arrufos clássicos, barrocos
mesmo, ou não estivéssemos na proximidade de falarmos de literatura neste país.
Mais não fosse, ficamos a conhecer Boris Skossyreff, Boris I de Andorra,
Mano-Rei de Olhão, agente dos ingleses, oficial da Wehrmacht (com foto e tudo -
as fotos são Sebald, não são?), preso e condenado aos Gulags; ainda por cima
ficamos a saber da existência de Francisco Fernandes Lopes, de Raul Soares
Figueiredo (o Tamanqueiro), do Sporting Clube de Olhão que foi campeão nacional
e ninguém o recorda, nem disso nem da zanga de décadas com o Sporting Clube de
Portugal a quem pertence o meu coração e futuro pacemaker (para meter o Gabriel
à molhada); de Manuel Zorra, da desaparecida indústria conserveira, da pobreza
e liberdade das gentes de Olhão, dos amantes adúlteros José Belchior e Filismina
Inês, em fuga para o Brasil numa casca de noz (a sério); do manuscrito de João
da Rosa, que lemos de forma condescendente, da geografia imaginária que é o
centro do nosso mundo e nem todos o sabemos, da existência de lugares que são
muito mais do que sítios. Mas sobretudo porque se lê bem até debaixo de água e
nos dá uma vontade estúpida de escrever coisas assim, mas em edições mais
baratas. Acho que é isso. Não tarda volto com um filme que me deu que pensar cerca de um dia e meio, mais ou menos trinta e duas horas, intercaladas, claro, mas não sei bem com o quê.
continuação, para que conste, daqui e daqui.
Notícias do meu país, perdão, pipi
João Ribas garantira (...) que não ia haver “salas especiais” na exposição dedicada ao fotógrafo Robert Mapplethorpe que inaugurou na quinta-feira no Porto.
setembro 22, 2018
Tender Prey
Não estou mesmo a ir para novo: o Tender Prey de Nick Cave &Bad Seeds, fez no dia 19 do corrente...TRINTA anos. Uma das minhas cassetes mais gastas. Deve andar por ai. Vou ver se...
setembro 21, 2018
O centro do mundo, ou isso, uma análise
A autora, Ana Cristina Leonardo, leu (ponho as minhas mãos
no fogo, a sério), e gosta, de Vila-Matas (Vilamatinhas para os irmãos em
universo), gosta, e leu, Sebald, a autora se, por um acaso, não leu ou não
sabe, gosta de Blaise Cendrars (olha aí um rum Jean Galmot) que é o padrasto
disto tudo, já para não falar de Marcel Schwob, nem que seja por intermédio de
Borges, principalmente o Schwob de vidas imaginárias, arrisco, sob pena de
esconjurar a minha reputação de crítico imberbe, ainda assim aposto umas fichas
no Schwob, a autora pode não saber, poderá de facto não o saber, mas leu muitas
coisas, isto anda tudo ligado por fios finíssimos, fios esses que são o veículo
condutor da sua obra, fios que transportam suspensos uma quantidade de super-heróis
desconhecidos, constituindo-se (deixem passar) numa malha nem sempre acessível ao mais
distraído dos leitores com capacidade de retenção de líquidos visuais, entre
outros, incapazes de distinguir a epopeia anónima de uma coincidência
providencial. E depois há que procurar saber. Juntar as pontas, passar numa
loja que tenha cerra-cabos à discrição. Vou beber uma cerveja e já continuo… a
sério, isto é desgastante.
(to be continued - risinhos)
setembro 19, 2018
setembro 16, 2018
O centro do mundo, logo ali
Onde é que eu ia?, ah bom, a tal cena de investir na análise
frondosa (risos) de “O centro do mundo” de Ana Cristina Leonardo. Porque o
merece, claro. Evidentemente. Sem dúvida.
A páginas tantas, isto é, mais ou menos ontem, dou por mim a
pensar no livro objeto, isto para utilizar uma linguagem acessível ao comum dos
mortais que corre o risco de nos ler, bom, aquela capa a dar para o cubismo
leitoso, leitoso porque sim, olhem bem as cores aquilo é Olhão, é Marrocos,
sol, cheiro a peixe (já lá vamos), o cheiro a peixe não aparece na capa mas só à
primeira vista que é sempre a mais lãzuda, impedindo-nos de discernir as várias
dimensões que sub-repticiamente (ou sub-repticiamente, já agora?) alimentam uma
determinada imagem, ainda-por-cima quando esta é coadjuvada pelo crivo do nosso
cérebro, sendo coada à medida que nos esbofeteia pelo ar. Foi mais ou menos
isto que me levou ao livro.
Eu já tinha ouvido falar da Ana Cristina Leonardo, sabia
também que o João Lisboa (ó Gabriel é nestas alturas que tenho de lincar a coisa?) tem
um blogue onde se vai esvaindo em loas (se calhar bem) a “o centro do mundo”,
centro esse que talvez se chame jornal Expresso (risinhos), já para não falar da pressão atmosférica inadmissível
do Gabriel, inútil a início, para o ler. Foi mais ou menos isso que me levou à
sua leitura.
Da cintura para baixo, isto é, como objeto, temos que
realçar alguns aspetos que não contribuem para a nossa felicidade, sem o
recurso à utilização de substâncias químicas, claro, entre os quais, a
existência de um grande números de páginas em branco entre capítulos, duas
três, aqui, duas três e meio, ali, ou mais, tudo somado, das cento e noventa e
tal páginas, umas quarenta e picos estão à espera que alguém lhes dê serventia.
A princípio ainda pensamos neste dito (deixem passar) objecto como uma
instalação em que participaríamos reescrevendo, acrescentando, aniquilando
espaços, desenhando veredas, sei lá, nada disto teria importância se o dito objeto
no final não custasse umas módicas dezasseis buchas e sessenta cêntimos, preço
editor, o que nos remete para áreas interiores à sobrevivência através do
gamanço, entre outras, e custasse apenas umas oito ou nove buchas (sem
desprimor para o autor), os caracteres em tamanho doze valem bem isso e mais.
Nada de novo, dir-me-ão, a autora não é responsável,
escreveu aquilo que escreveu, ok, mas um tipo se se acha, sei lá, em
Inglaterra, e está à beira de um borrachão patibular (Bolano, esta é só para
chatear aquele gajo do blogue do homem de livro ou isso), ambos à espera de um
Bus, e se a coisa se atrasa (o que é raro) um gajo pode entrar num sítio
qualquer comprar uma ou duas latas de cerveja e pelo mesmo preço um Dickens ou
um Thackeray, para apenas referir dois autores que se encontram em “o centro do
mundo”, vir cá para fora malhar a cerveja e ler ao mesmo tempo. Reparem que o
borrachão patibular se optar por apenas um dos autores continuará a beber a sua
dose infinita de cervejas, não tendo a compra do livro quaisquer interferências
nem com o bolsa, nem com a pança.
Posto isto, iremos a avançar, logo que seja humanamente
possível, com a análise do livro lido, e aí temos muitas surpresas boas. A
sério. A sério…
setembro 14, 2018
Da crítica a livros e outros desvarios, já agora
Qualquer análise da minha lavra não poderá, nunca, deixar de
ser vista como um princípio avassalador de incompetência para o efeito. E qual
será o efeito (deixem passar)? O pretendido. Neste limbo paralisante da crítica
a livros (não confundir, por favor, com crítica literária, já que esta pressupõe,
obviamente, a existência de uma literatura e de um crítico devidamente
habilitado para dela nada perceber, mesmo pensando que percebe qualquer coisa) ,
não existe um único estudo, virtual se o desejarem, que vá de encontro às
necessidades mínimas do desconhecimento (geral) sobre esse objecto que (erradamente,
já agora) nomeamos como livro, um livro com coisas escritas lá dentro, capa,
sobrecapa, lombada, e uma branquidão que nos deixa roucos de raiva quando
observamos alguns caracteres por ali perdidos, sem esperança alguma de redenção
pela ascese, ou mesmo pela ingestão de numerosas substâncias devidamente
fermentadas. Posto isto, irei avançar forçosamente, investir é como quem diz,
na análise frondosa de “O centro do mundo” de Ana Cristina Leonardo. Porque o
merece. Brevemente, que agora vou ali ver televisão.
Também tu Marcel?
... ou a arte do furto:
the Iconic Urinal & Work of Art, “Fountain,” Wasn’t
Created by Marcel Duchamp But by the Pioneering Dada Artist Elsa von Freytag-Loringhoven
(furtado aqui)
setembro 12, 2018
Vai ser imperdível, mas o quê?
Na minha primeira posta de pescada cozida com todos, não
posso deixar de assinalar a inutilidade da (deixem passar - sou muito
repetitivo) minha presença neste sítio que é mais um lugar (um lugar é um sítio
com sentido de presença), o Gabriel poderá eventualmente explicar melhor a
coisa, se lhe der para aí, entretanto, já nem me lembro o que me trouxe aqui,
quer dizer, a este posta de pescada com todos, mas nem assim desisto, embora a insistência
em frases longas que se transformam em parágrafos ilegíveis seja, por assim
dizer, a minha imagem de marca, umbiguismos (não é Gabriel?) à parte. Para além
disso, e já não é pouco, gostei da frase que fecha a posta anterior (do Gabriel
que assinala a vertigem de uma nova vida do Inútil sem anjos), que diz mais ou
menos isto (copiado): Ainda subsiste alguma vida inteligente no planeta. Mas não existem provas irrefutáveis disso. Não
seria necessário escrever mais nada nos próximos vinte e dois anos, mas nós
(olhem o plural) insistimos.
Ia começar com uma crítica inócua a livros, não confundir
com crítica literária, trespassada por uma viagem muito concreta e precisa
(deixem passar) a um filme que vi recentemente, filme esse que apenas consegui
ver em duas partes, uma num dia, outra, noutro dia, seguidos, os dias e as
partes, tarefa absolutamente arrasadora ora em termos físicos, ora mentais,
para não dizer cognitivos. Andei todo o dia a braços com esta posta de pescada
com todos, mais o livro, mais a o filme, não tenho mãos a medir na desmesura
rotineira daquilo a que o comum dos mortais chama de dias. E gosto. A sério. Vou voltar.
setembro 11, 2018
Com serenidade
(Mark Knight)
Não sei bem, mas ouvi na Antena
3, na rubrica fricção científica,
algo sobre selfies sexy, um estudo a reter para não possibilitar qualquer
dormência excessiva aos neurónios que nos restam. E são apenas três. Contagem
recente. A Serena tem mais dois. Faz cinco. A cena da Serena sem serenidade não
nos deixa ponta para novelar. Tem dias, mas quase me espanta a vontade de
indignação sobre coisas que normalmente nos passariam ao largo. O mesmo para a
defesa, intrépida, dessas coisas (nada de melhor me ocorre) que nos sobrevoam
ao largo. E são tantas. A moça, serenamente, fez azo do seu melhor conhecimento
do envolvimento aos árbitros, formação disponível no sítio do Futebol clube do
Porto, com seguimento in situ, Sport Lisboa e Benfica, sem arredores. Resta-nos,
à tangente, o desenlace das retribuições às vítimas de Pedrogão. Um fartote de
estudos à borla. Mas não com tanta piada.
Ainda subsiste alguma vida inteligente no planeta. Mas não existem
provas irrefutáveis disso.
setembro 10, 2018
Inútil
Cai o anjo (a pique), fica a sua inutilidade (re)conhecida.
Longe vai esse tempo (quanto?) em que, por obra e graça de
um conjunto de coincidências (não para aqui chamadas), criei este blogue. Não
devedor (já agora) do fado homónimo cantado por Amália (e não só), escrito por
Luís de Macedo (acho), carece mais de um agradecimento (pretensioso) a Rilke (que
não tem culpa nenhuma) e a um postal, cuja imagem (ou parte desta) poderão contemplar
na barra do lado direito do blogue. Aí mesmo, ao fundo.
Umbiguista quanto baste, tentei, sem disso me lembrar sempre,
obedecer ao editorial, respeitoso de seu prefácio. Diz que o tempo passou. É
chegada a altura de dividir o pouso (e o famélico espólio) com alguém. Ninguém
melhor que o Gerónimo… quer dizer, o Cão, para o efeito.
Não se trata de uma contratação, antes de uma constatação: é
bicho raro na bloga enfastiante. Umbiguista militante (é ele quem o diz),
Sportinguista (não podia ser de outra forma), animou um blogue (Diário de um Cão), de forma absolutamente original, e praticamente sem recurso a imagens. Dois
mil e doze e dois mil e treze terá sido o seu tempo áureo, coincidindo com o
desemprego e/ou trabalhos precários, coisa que, aliás, não terá mudado assim
tanto. De diário passou a semanário, depois a mensal, trimensal, bla, bla, bla.
A partir de agora seremos dois no Inútil.
Mais inútil não poderia ser.
setembro 04, 2018
julho 29, 2018
julho 20, 2018
julho 17, 2018
julho 16, 2018
Página seiscentos e trinta (cerca de seiscentas gramas e picos)
Desta vez trouxera comigo, disfarçado de guarda-chuva, um daqueles Faustpatronen que nos últimos dias da guerra costumávamos passar aos homens mais velhos da Guarda Patriótica; esta arma de tiro único fora concebida para abater tanques, e a minha intenção era dispará-la contra os dois pianos de Chostakovich, na esperança de lhe imobilizar finalmente o coração.
julho 10, 2018
julho 06, 2018
Eu também sou candidato e prometo falhar
Em pouco mais de um mês passamos do fim do mundo para a
circulação de bo(r)la. Com gosto, continuamos a marcar na própria baliza:
proponho uma escola de formação em auto-golos. Com gosto, continuamos a
escancarar as portas de casa, uns era no faice, outros é a dar a outra face em
qualquer ecrã por perto: proponho uma casa dos segredos à vista de todos. Com
gosto, continuamos a negociar com a imprensa, com a praça pública, com os
comentadeiros a soldo da justiça (dizem-nos): proponho uma residência artística
para trabalharmos estas temáticas ainda mais em conjunto. Com gosto, e
requinte, negociamos com esses empreendedores que representam os jogadores que
por eles são (supostamente) representados, ou familiares que representam
jogadores por eles paridos, não necessariamente por esta ordem: proponho
contratos de palavra dada, almoçaradas entre gente de bem, e quando alguém se
sentir afrontado poderá livremente seguir o seu caminho.
Proponho o livre mercado desde que não prejudique os clubes
rivais, apenas o nosso, se for caso disso. Proponho uma nova academia do quase,
a criação de um falhódromo, uma SAD cuja abertura a CMVM distinga com um
pontapé bem assente no nosso cu. Proponho um rugido mais baixo para não
incomodar ninguém. Proponho uma tríade de treinadores que englobe o (tal) que
já foi, o (tal) que aqui está e o outro que certamente virá no sorteio de
Setembro. Proponho a redução do número de lugares disponíveis no estádio, para
não termos que passar outra vez pela humilhação de ter uma média de
espectadores superior à do campeão nacional. Proponho-me prometer uma cláusula
de assistência às variantes psicológicas que possam, de alguma forma, perturbar
o livre arbítrio dos profissionais do nosso clube, mas apenas no futebol. Aos
outros digo: prometam falhar. Sem isso não se ganha.
(originalmente publicado aqui)
Pergunta:
Talvez nos sapatinhos à foda-se no canto inferior direito? Na rendinha da calça (calção?)? Nos aplausos que se escutam, sem grande esforço de imaginação, rodeando a arena? Esqueçam a arena, esqueçam o PAN, o Bloco, os esfomeados de causas fracturantes. Concentrem-se na imagem. Obrigado. Agora podem ir sossegados passear o cãozinho.
(imagem daqui)
(imagem daqui)
julho 04, 2018
julho 01, 2018
O nosso mundo é um parque temático
Os Xutos foram
definitivamente institucionalizados. Não tarda serão uma t-shirt da primark. Em
versão portuguesa, claro. Numa feira perto de si e do presidente.
E assim acontece
O Marcelo foi à Rússia no intervalo entre dois abraços. O
neto do Fernando Santos também. A selecção de todos nós por lá andou a espalhar
o seu perfume de um futebol sem balizas, jogando muito mal sem bola, segundo
informação privilegiada de Rui Santos. O Sporting tem um novo treinador a prazo.
Bruno de Carvalho, de certeza, vai andar por aí, para que não nos falte nada em
matéria de segurança nacional. Hoje a PJ não efectuou quaisquer buscas no
estádio da Luz, apenas no google. Assim não dá: não tarda e temos mesmo que começar
a falar de coisas realmente importantes para o destino do país e da humanidade.
Ainda bem que a silly season está à porta. Obrigado.
junho 24, 2018
junho 18, 2018
Um espantalho oficial, submerso em si mesmo
Trezentas e ... setenta e nove páginas (até ver sem problemas de maior), cerca de quatrocentas e tal gramas, mais coisa menos coisa, quantas palavras?, não se sabe bem, e a procissão anda vai mais ou menos com o adro ao alcance da vista. Central Europa continua a deslumbrar sem forçar muito. É claro que entremeei esta leitura (até ver) com alguma angústia, trabalho, outras leituras (caminhos desaguados, ou ali entroncados), e alguma ginástica (o livro ultrapassa bem um quilograma). E agora vou para ali continuar na frente leste, nas duas frentes, quero dizer, está tudo virado do avesso.
junho 12, 2018
junho 08, 2018
Anthony Bourdain (1956 - 2018)
Com ele percebi alguns dos significados para essa palavra nómada que (normalmente) conhecemos como "cultura".
maio 20, 2018
maio 18, 2018
maio 16, 2018
O último a sair que feche a porta
A páginas tantas, em "Central Europa", Vollmann escreve
(através de um dos seus personagens sem nome – conseguimos imaginar a sua pérfida
profissão) o seguinte: estou disposto a
aceitar a tese segundo a qual é preferível uma política coerente a política
nenhuma. Vollmann dota esta personagem (melhor dizendo narrador - uns dos vários) de uma fina ironia, tão fina que por
vezes nos cortamos na leitura. Tão fina que não vou sequer (vos) tentar
contextualizar.
Aproveito apenas para friamente assinalar que, esta época, o
Sporting teve uma dose de coerência que em tudo se assemelha a uma política. A
equipa, de forma coerente, não jogou nada. Jorge Jesus, de forma coerente, foi
mantendo a sua ideia. Esta coerência apenas foi ligeiramente alterada após o
jogo com o Atlético (por razões que todos sabemos: a posta do Presidente e o
desgaste da equipa com lesões, castigos, cansaço). E, por fim, o Presidente (e
toda a sua equipa se é que existe uma equipa) foi coerente no seu caminho para
o abismo. Até ontem ainda havia a possibilidade de recuarmos. Hoje a queda livre
não permite pensar sequer em milagres.
E teria bastado alguma imprevisibilidade, alguma (porque
não?) incoerência, tanto na equipa e no treinador para chegarmos a outro porto.
Quanto ao Presidente, não sei se já se inventou uma palavra para o sucedido.
Talvez suicídio. Mas não quero ser coerente.
maio 10, 2018
Danilo Kiš
O cortejo silencioso comandado por Bandoura só arvorou as bandeiras, vermelhas e negras, na proximidade dos bairros operários, e os estandartes desfraldaram-se ao vento produzindo um ruído funesto, vermelho-fogo e negro-nocturno - símbolos próximos da linguagem das flores, mas não desprovidos de contexto social.
"Honras Fúnebres", Danilo Kiš
Danilo Kiš? Os seus livros estão esgotados. Quero dizer: fora do mercado. Sem novas edições, ainda se consegue arranjar qualquer coisa online. Como cheguei a Danilo Kiš? Por portas travessas do Vollmann. A odisseia Vollmann terá começado com aquela coisas do Vós, luminosos e tal, espalhando-se como uma doença até (vejam bem) ao Cão. Espelhos, acasos, ressonâncias que se propagam desde as primeiras leituras. A abertura de um livro: "Central Europa", as mãos em concha (mas aquilo é muito peso), uma, duas páginas e lê-se que Central Europa é dedicado à memória de Danilo Kiš, cuja obra- prima "Uma tumba para Boris Davidovich" me acompanhou [sim, sim, ao Vollmann] durante os anos em que me preparava para escrever este livro. Danilo é nome de jogador da bola, mas Kiš é outra coisa. Pesquisei. Voltei a pesquisar. Já sei do paradeiro de Uma tumba para Boris Davidovich, mas cheguei primeiro à Enciclopédia dos mortos (algures no depósito de uma biblioteca - é para isso que elas servem). Dá para desenfastiar de Vollmann. A digestão de Vollmann é para se ir fazendo. Sem tréguas.
maio 08, 2018
O rei vai nu
Ou, só não vê quem não quer: este pensamento tem (fundamentalmente) retroactividade. É só o que me apraz dizer sobre Sócrates (e não me refiro, obviamente, ao filósofo).
maio 05, 2018
maio 04, 2018
Central Europa
Cerca de um quilo (a passar). Novecentas e dezanove páginas. Quase duas semanas para chegar a casa. A Fnac (sem comentários) informava que demoraria dois a quatro dias (encomenda ao editor). Mesmo tendo em conta o fim-de- semana e feriados demorou sete dias úteis. Quase duas semanas. Começa assim:
O minúsculo telefone preto, o polvo, quero eu dizer, o deus da nossa Divisão de Comunicações, possui um esconderijo secreto algures em Berlim (o mais provável é que este seja a própria cidade de Moscovo, que um dia um general Alemão apelidou de "centro nevrálgico do inimigo").
maio 02, 2018
L'imagination au pouvoir
O Jornal I hoje faz capa com os cinquenta anos do início do Maio de 68. Durou um mês, mais coisa, menos coisa, mas o seu
espírito (dizem alguns) chegou até nós. Como espírito não sei, como slogan
publicitário de certeza, aliás devidamente empacotado (e domesticado) na
estrutura do sistema capitalista. Como as calças rotas do Punk que se podem
comprar por aí, ou as t-shirts dos Ramones na primark.
Parece que foi Roger Scruton que disse
ter visto no Maio de 68 meninos burgueses a atirar pedras a polícias oriundos
do povo. Estes polícias (supostamente) oriundos do povo são uma forma de
contornar a questão e antecipam em muitos anos as t-shirts dos Ramones da
primark. Não fosse a polícia o braço mandado de qualquer elite e estaríamos
conversados. Charles de Gaulle terá aplaudido. Sucede que esses meninos
burgueses, pelo menos, ainda tinham capacidade para se entediar, ou mesmo para
se indignar. Nada, de resto, que fosse possível hoje. A não ser num qualquer
púlpito indignatório de uma rede social.
Debord e os situacionistas, nas
suas críticas à sociedade do espectáculo, foram absolutamente visionários. Longe
de transparecerem (apenas) a realidade de uma época (e eles surgem como
movimento ainda nos anos cinquenta) criam, isso sim, um movimento (sobretudo) artístico,
absolutamente embrionário na perceção da sociedade que se estava a criar e que
desaguou naquilo que somos hoje. E isto em
termos de urbanismo, arte, economia, sociedade.
A parque tematização da nossa
sociedade radica na parque tematização do pensamento. Não sei se a sociedade do espetáculo de Debord
serve para compreender tudo. Não servirá. Nem Debord nos seus devaneios mais
bem bebidos terá sonhado com isso e com isto. E se sonhou, em breve teremos uma t-shirt ou
um vídeo numa rede social a confirmarem-no.
Nota: temos que reconhecer que a imaginação terá mesmo chegado ao poder: basta observar a forma como o ex Ministro Pinho (entre muitos outros) toureou de forma criativa a nossa democracia, para reconhecermos a nossa reiterada burrice.
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