Para não ser demasiado exaustivo diria que a autora
pesquisou. Isso dá trabalho. Não se pode dizer que o pós-modernismo, embora
alguns críticos o detetem em algumas açoteias (para não fugir muito à geografia
do livro), tenha tido grandes seguidores neste país, quedando-se pelos
modernismos que irradiaram de outro centro do mundo, Lisboa, o verdadeiro,
assim o proclama a província. Ainda hesitei nas primeiras duas ou três páginas,
mas à apologia da metaficção (andava para meter esta cena no texto nem que
fosse de lado), junta-se-lhe uma pena com alguns arrufos clássicos, barrocos
mesmo, ou não estivéssemos na proximidade de falarmos de literatura neste país.
Mais não fosse, ficamos a conhecer Boris Skossyreff, Boris I de Andorra,
Mano-Rei de Olhão, agente dos ingleses, oficial da Wehrmacht (com foto e tudo -
as fotos são Sebald, não são?), preso e condenado aos Gulags; ainda por cima
ficamos a saber da existência de Francisco Fernandes Lopes, de Raul Soares
Figueiredo (o Tamanqueiro), do Sporting Clube de Olhão que foi campeão nacional
e ninguém o recorda, nem disso nem da zanga de décadas com o Sporting Clube de
Portugal a quem pertence o meu coração e futuro pacemaker (para meter o Gabriel
à molhada); de Manuel Zorra, da desaparecida indústria conserveira, da pobreza
e liberdade das gentes de Olhão, dos amantes adúlteros José Belchior e Filismina
Inês, em fuga para o Brasil numa casca de noz (a sério); do manuscrito de João
da Rosa, que lemos de forma condescendente, da geografia imaginária que é o
centro do nosso mundo e nem todos o sabemos, da existência de lugares que são
muito mais do que sítios. Mas sobretudo porque se lê bem até debaixo de água e
nos dá uma vontade estúpida de escrever coisas assim, mas em edições mais
baratas. Acho que é isso. Não tarda volto com um filme que me deu que pensar cerca de um dia e meio, mais ou menos trinta e duas horas, intercaladas, claro, mas não sei bem com o quê.
continuação, para que conste, daqui e daqui.
2 comentários:
Muito obrigada! Só uma nota. Também li muito Tolstoi e não, não pesquisei assim tanto. :)
Eu é que agradeço a visita:)
Viver é pesquisar. Acho que o Tolstoi concordaria, não sei...
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