Não é, de todo, civilizado, falar
sobre civilização. E com isto teríamos encerrado o assunto, ainda a tempo de
ver o Macgyver no canal memória. Mas não. Quando a ministra (da cultura, dizem)
escorregou no termo civilização, não
se terá recordado (saberia?) que muitas disputas terão começado por muito
menos. Quando invocamos civilização, necessariamente distanciámo-nos do
“outro”, o bárbaro. Já era assim entre gregos e persas, ou entre romanos e os
povos do Norte. É assim entre sportinguistas e benfiquistas. Temos que ter
alguma cautela quando barricamos o nosso pensamento em facções. As barricadas
são lugares inseguros. Temos um ou dois livros que confirmam isso mesmo.
Cheguei às touradas como em tudo
na vida pré-história dos anos oitenta (do século passado): através da RTP. Às
touradas, ao TV Rural, às novelas brasileiras, ao Júlio Isidro, ao Duarte e
Companhia, ao Zé Gato, ao Verão Azul, e ao cinema, muito cinema. Anos setenta
(apanhei o final), oitenta, noventa. E não sou o único a dizê-lo. Das touradas
só sei o que vi na TV. A mesma coisa para os saltos de esqui, coisa que via
religiosamente no ano novo. Não frequento e nunca entrei numa praça. Conheço
alguns touros por percalços da minha imaginação, ou de viagens pelo país. Quase
sempre a Sul. Sei que existiu um tal de campo dos toiros em Barcelos, no século
XIX, provavelmente relacionado com a feira semanal, longe de ser caso único no
Minho. Resquícios de tudo isso se vislumbram na vaca das cordas de Ponte de
Lima. Com travessia para os Açores. Bovinidades sem toureiro a cavalo, sem
forcados, sem bancadas, normalmente integradas em festividades ou em promoção
pecuária. Na minha terra já ninguém se recorda disso, o que não quer dizer que
não tenha existido.
Não gosto de touradas sejam elas
quais forem. Os toiros concordarão comigo. Mas não partilho o endeusamento e a
moda dos bichinhos que se vive por aí. Num filme de 1990, Anjos Caídos, protagonizado por Sean Penn e o Gary Oldman (assim de
cor), a páginas tantas fala-se sobre a apropriação do bairro da sua infância
(descendentes de Irlandeses) pela especulação imobiliária, tomado aos poucos
por yuppies que trazem os seus animais de estimação para dentro dos seus
modernos apartamentos. Um comportamento bárbaro segundo os locals, habituados a animais soltos e não aprisionados em
apartamentos. Para isso temos as pessoas.
Ora, essa moda dos animais em
apartamentos demorou mas chegou cá ao burgo. Poderia dar milhares de exemplos
de animais verdadeiramente abandonados durante todo o dia em marquises,
garagens, terraços, ou simplesmente em salas, alguns a gritar (de felicidade?)
durante todo o dia. Assim vai o amor incondicional pelos animais. Lá chegaremos
ao toiro numa loja de porcelanas, 2º esquerdo. E os preços das habitações continuam
a disparar. Já repararam, ou não é importante?
Parece que as pedreiras não se enquadram na
logística civilizacional. As pedreiras são técnica, antes de serem comércio ou
indústria. E, como tal, devem ser da responsabilidade de técnicos. Ponto. Comunicada
a informação técnica, quando esta existe, a responsabilidade passa a ser
política. Se há uma pedreira e uma estrada, certamente que haverá gente.
Sabemos que não é de estimação, mas podíamos, ao menos, deixar de tentar disfarçar.
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