Tenho um amigo sportinguista que tem sempre teorias sobre tudo. Por isso mesmo não precisa da Netflix para nada. Desta vez engendrou uma teoria da conspiração que dá bem com o seu humor (quando não se fala do Sporting), embora ele não se aperceba. Essa teoria diz mais ou menos o seguinte: a detenção de Bruno de Carvalho (e do Mustafá) a um domingo e perto da hora do jogo foi responsabilidade do próprio (embora não saiba explicar como) e dos seus novos (velhos?) amigos benfiquistas, para (mais uma vez, diz ele) ocultar e deixar passar em claro os e-toupeiras, emails, e por aí fora, até porque hoje tem início a instrução do e-toupeira. Desta forma, o ruído instalado superaria tudo. Quanto ao ruído e às patetices dos jornalistas e comentadores não poderia estar mais de acordo, relativamente ao resto, fico agradecido por vivermos num país onde o humor (e a imaginação) suplantam, em muito (ainda), o horror. Embora o Artur Albarran não o saiba.
Este amigo é um apoiante (enganado, claro está - diz ele) de primeira hora de BdC. Ele e muitos. Os mesmos que agora (recentemente) se juntam em fila indiana, batendo-se por serem os primeiros a atirar a primeira pedra. Não estivéssemos perto do Natal e dir-se-ia que a Páscoa era a época festiva que vivíamos, divertidos, tantas são as crucificações em praça pública, tantos são os que acompanham a via dolorosa, julgando e enxovalhando quem passa (caído em desgraça). Isto é, quem foi detido. Duas ou três passagens pela TV e percebemos que todos o sabiam, ou pressentiam, ou tinham avisado, o que tarde ou mais cedo seria inevitável. Todos os outros: enganados. Vê-se muito disto nos divórcios.
A forma como a imprensa (vamos chamar-lhe assim, à falta de melhor) cobre estas (e outras) detenções, estando previamente nos locais, tendo acesso a informação (supostamente) em segredo de justiça, diz-nos bem da formosa estrebaria (esta foi roubada a um viajante do século XVIII) em que vivemos. Fosse esta imprensa tão avisada noutras situações, fizesse investigação verdadeira e reportagem a sério e seríamos o Bas Dost da imprensa europeia.
Mas não se pense que a imprensa é o melhor disto tudo. Os comentadores (a soldo de quem agora?) são a cereja no topo da estrebaria (já sem tanta formosura). Passe a gritaria, passe a ignorância, o dinheiro a jorrar (não é só para as claques, estes tipos descobriram as claques agora, parece, como se fosse possível assobiar para o lado consoante a cor da camisola), mas o que não passa, ou não pode passar incólume, é aquela velha forma de adaptação ao status quo vigente, seja ele qual for, capacidade apenas disponível ao nível dos invertebrados. O meu amigo deve ter uma teoria para isto. Depois pergunto-lhe.
(originalmente publicado aqui)
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