dezembro 18, 2019

A viagem vertical

Wook.pt - A Viagem Vertical

Voltar a Vila- Matas, ainda que a viagem seja vertical, é um voltar a casa. Tem os seus riscos. Conhecemos os meandros, os interstícios, a despensa e os arrumos. Voltar a casa nem sempre é um porto seguro. E isso é bom. Mas a rotina é uma inimiga visceral da imaginação. Continuemos a subir então, rumo ao abismo. Nada menos do que isso. 

dezembro 17, 2019

"London Calling" dos Clash fez 40 anos... e depois?



Como é que se diz? Esta música faz parte do meu imaginário. Do sermão aos peixinhos reza ainda um tal: não vamos para novos. Continuo a escutar isto com gosto, independentemente da sua idade, credo, ou champô hidrante usado. O resto são (outras) cantigas.

dezembro 12, 2019

Dêem-me outra cerveja, por favor


De cada vez que alguém me dirigia a palavra, só me apetecia atirar-me de uma janela, ou apanhar o elevador para me ir embora. Não via qualquer interesse nas pessoas. Talvez fosse assim mesmo que devia ser. Já os animais, os pássaros, até os insectos, eram interessantes. Era uma coisa que escapava ao meu entendimento.

dezembro 08, 2019

Quero cheirar o teu bacalhau, mas em inglês


Como é que se faz? Fácil, basta passar no bacalhau story center. A nossa mundividência poliglota é inesgotável. A forma como sabemos receber os pelintras que nos visitam também. Meu deus (perdoem-me o recurso à providência), este país desperta-nos um desejo absurdo de beber, se é que já não o fazemos, ou sempre o fizemos. Depois respondo a este enigma. Agora vou ali ler um pouco do Bukowski, a ver se ele poderá ajudar.

novembro 30, 2019

"E para que precisamos nós de pregar os mortos?"


Entre um e outro mergulhar da pena no tinteiro, escreve Petrarca - "entre um mergulhar da pena no tinteiro e o rpóximo, o tempo passa: e eu apresso-me, esforço-me, e corro em direcção à morte. Nós estamos sempre a morrer - eu, enquanto escrevo, vós, enquanto estais a ler, e os outros, enquanto estão a ouvir, ou a tapar os ouvidos; eles estão todos a morrer".

novembro 25, 2019

New Order - Elegia



Em plena corrida, obra certamente do acaso, voltei a escutar isto. Poderia ser o genérico longo da meu programa de rádio que apenas existe na minha cabeça, em verdade, não precisaria de passar mais nada. Está por aqui tudo, desde o nascimento do universo até este momento em que escrevo em plena corrida, obra certamente do acaso...

Edição limitada, my ass



Existe por aí um móvel com os embaraços que ficaram a meio, ou no início, outros que se esqueceram, outros que apenas aguardam a sua vez. A minha des(organização) permite-me ser surpreendido a cada momento. Este último veio da generosidade alheia e está em trânsito para a estantina. Diz que é uma edição limitada. É como nós. Ilimitado só mesmo o riso que tudo isto nos causa.  

novembro 16, 2019

work in progress


Nos calhamaços a tiracolo é fundamental uma boa apneia, ainda para mais num asmático dado a cigarradas, por isso a ultrapassagem das duzentas e cinquenta milhas (páginas) é fundamental. É nesse ponto fulcral que o autor inevitavelmente deixa de nos surpreender, começando-se a sentir como nossa, a sua linguagem, a reconhecer os seus trejeitos, é quando surge aqui e acolá uma miudinha desconfiança relativa à montanha de palavras que se acumulam nas páginas, um tempo de decisões sombreadas por um possível enfado. Não é este o caso. Essa meta mental (mental para mim) neste caso particular, foi sinceramente ultrapassada com alguma satisfação, confundindo-se com o prazer de uma prova de fundo. Não são os manejos que o salvam, são as entrelinhas que ditam essa vontade de continuar, um aquecimento da alma muito próximo do cérebro, e algumas frases que nos injetam estupefacientes em quantidade suficiente para continuar sem aguadeiros. Será, sem dúvida, o estilo que mundanamente insinuei como maneios, que nos move, mas igualmente a aventura da reconstituição histórica que não se perde no estilo primevo de alguns nossos confrades que confundem época com lição, não se delimitando em imagens a dar para o filme americano de adereços devidamente homologado em máquinas de imediatismo, ou em devaneios de trazer por casa. Ficamos a degustar um espinho cravado sobre a vida, a política, o manejamento (deixem seguir esta) da palava. Os diálogos são fabulosos. O melhor é tomarmos um comprimido que isso passa. Mais umas milhas (na quatrocentas e tal navegamos) e chegaremos lá. Mas não sabemos bem onde.

novembro 07, 2019

leaving meaning.

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Este álbum é uma banda sonora para um filme ainda não realizado – ia escrever feito, mas não me parece apropriado debater a ignorância. Sem filme, sem grande ou curta metragem, até agora, claro, teremos forçosamente que dar-lhe o benefício da dúvida da realidade, mas qual realidade?, e aqui não falamos de países, de zonas, de hemisférios, mas de algo que, sendo interior, quando se mistura com o ar, forma uma epiderme potencialmente explosiva. À volta dessa epiderme estamos nós; nós e a arte descrita por Maiakowski algures num poema. Maiakowski se tivesse durado mais uns invernos, talvez pudesse visitar incógnito Portugal, talvez, e assim percebesse que a morte é uma inimiga de classe, principalmente daqueles que não comem, e não comem porque não têm comida, nem sabem plantá-la, ou colhê-la, ou procurá-la, nem nada sabem de politica a não ser o que lhes dizem,  seria mais ou menos assim um canto da Europa ainda antes da primeira guerra mundial, um canto rural do esquecimento, e muito depois ainda cheiraria: a dor, sem qualquer arte que a pudesse violentar para acalmar os deuses que desciam dos ceús. Que disco fariam os Swans em Portugal? Sinceramente não sei, sei que uma vez os vi e ouvi sentado em plumas, que é o mesmo que as cadeiras do grande auditório (é assim que se chama?) da casa da música. Ficamos conversados. Perdão, sentados. Maiakowski, olha para Portugal. Deixa-te disso.

novembro 06, 2019

novembro 04, 2019

Homo homini lupus


O homem é lobo do próprio homem

Acrescentava-se muito bem escrito e estaria tudo dito. Fosse a nossa relação com o terra a terra assim e seríamos felizes, aconchegados na nuvem do bem-estar, aquecidos nos claustros da ausência do pensamento, ou isso. Sucede que o que inspira a nossa tormenta é o mesmo que alimenta o nosso devaneio, não se lendo aqui como sonho, já que não há nada para comandar, muito menos a vida, em cujo alicerce caótico fizemos ninho. Foi na FNAC. Estava calor, como, aliás, é o costume dos novos espaços de choco, quando o meu olhar encontrou esta capa, esta, ou a mesma em que se lê: Melhor livro 2009: “A minha primeira escolha é o WOLF HALL” – Vasco Pulido Valente/Público. Ao lado da capa, ou em cima, talvez em cima, assinalava-se uma promoção daquele tipo leve este livro por este preço que mesmo assim não temos prejuízo e se o tivesse comprado antes teria sido roubado. Pensei nisso uns segundos, lembro-me bem. Qual seria o ano? 2014, 2015? Talvez 2015. Por essa altura já esta obra de Mantel de vendia ao desbarato. Anunciada anos antes como vencedor do Booker (aliás não foi a única vez que ganhou), arribou aqui no burgo como um romance histórico cujas vendas seriam copiosas e certas. Todos sabemos como são os ditos romances históricos que por aí tresandam de leitores. Consigo imaginar menos os leitores. Ainda assim faço um esforço. Entretanto, a Civilização Editora seguiu o caminho desta obra de Mantel, o esquecimento. Esta e outros suas obras já não se encontram na maioria dos catálogos dos centros comerciais online: FNAC e WOOK, por exemplo, mas andam por aí em feiras, nos usados, em quiosques esquecidos, onde amigos as reconhecem e, por razões puramente humanitárias, as salvam do olvido fazendo-as chegar até nós. Foi mais ou menos isso que aconteceu recentemente. Daquela primeira vez (mesmo com referências) havia deixado passar a oportunidade. Mas nada sobrevive aos nossos devaneios. Nem mesmo os livros que não lemos. Não necessariamente por essa ordem. 


Coisas que se vão ouvindo por aí: Jonathan Bree



outubro 22, 2019

Coisas que se vão ouvindo por aí: Darkside



Não existe por aí uma estimativa do material que nos chega pelo paquete, atrasa-se, vai-se perdendo em portos decadentes, apodrece em contentores e, às vezes, lá calha. Isto é praí de 2013 e segundo os entendidos, antigo. A nós passou-nos ao lado. A história é fácil: um homem da electrónica encontra um tipo com uma guitarra e cabelo à Jesus And Mary Chain e desenha umas músicas. Talvez chova lá fora. Talvez não. 

outubro 20, 2019

Em que rua fica a Catalunha?

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Ouço falar sobre a Catalunha. As pessoas conhecem Barcelona. Já ouviram falar de Barcelona. Até já foram a Barcelona. Estiveram por lá a ver o estádio do Barça, a Sagrada Família, umas casas do Gaudi, passearam nas ramblas, com alguma sorte espreitaram o bairro Gótico e aproveitaram a piscina do Hotel, bom tempo, um hotel muito jeitoso, excelente piscina, sem dúvida. Fizeram centenas de fotos e alguns vídeos. Se lhes perguntarem onde fica Barcelona responderão Espanha. E estão certos. Ouço falar sobre a Catalunha. Penso (por momentos apenas) na Catalunha republicana, o meu cérebro folheia algumas coisas de história, poucas, sobrevoa alguns jornais, as comparações serôdias com Portugal, algumas barricadas do século XIX (risos), a Escócia de Kilt para as fotografias, decisões judiciais que são obstinações políticas, leio sobre o “Tsunami democrati”, uma suposta arma separatista, quando afinal se trata de mais uma app. Vou lanchar. É o que resta da Catalunha: uma sandes de paio e manteiga. Depois talvez alguém se lembre que um estado federado poderia ser um bom princípio de conversa. Afinal, a Catalunha fica em Barcelona. Toda a gente conhece Barcelona. 

outubro 18, 2019

Jordão (1952 - 2019)

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Lembro-me de ir à bola com o meu pai, aqui a Norte, para ver o Sporting, sempre à procura de ver o Jordão (entre outros), vivendo o futebol com uma alegria indescritível.  Recordo-me de descer as bancadas do 1º de Maio em Braga a correr, com um boné lindo do Sporting,  para ver o Jordão mais de perto. O Jordão seguiu um caminho diferente do futebol. Um artista, dentro e fora do campo. Obrigado.   

outubro 16, 2019

A propósito do Sporting



Falhar outra vez. Falhar melhor.
Samuel Beckett

Falhar melhor
não sei, mas falhar
sempre

exige muita pontaria

Marta Magalhães, Falhar Sempre –  “Limpa Metais Coração”, Alambique, Lisboa, 2019.

outubro 10, 2019

...


As consequências das nossas acções agarram-nos pelos cabelos, independentemente do facto de, entretanto, nos termos "corrigido".

Friedrich Nietzsche, "Para Além do Bem e do Mal". 

outubro 08, 2019

E isto é antes ou depois do pós?



Coisas que se vão ouvindo por aí: The Murder Capital

Escreveram-me num papel esta banda:


Quase ao mesmo tempo, acho, a rádio falava igualmente disto como algo que parecia antigo mas (afinal) não era. No final da passagem do tema, não necessariamente este, a apresentadora (locutora?) salientava a cena pós-punk que este supostamente representava (na sua modesta opinião). Tenho na minha ideia que o Punk nunca finou (uso propositadamente o tempo verbal adequado), não deixando finar a ideia, note-se, da existência do pós-punk, que o prolonga na agonia de continuar(em) a viver. E isso é fodido. Neste caso particular, essa questão não se põe, nem sequer se coloca, isto não parece antigo, é mesmo antigo. O pós é apenas um aneurisma sossegado. 

Nada disto importa



Ligo a televisão. À esquerda de nenhuma direita: falam os entendidos. Quase sempre os mesmos. À direita de esquerda nenhuma: ruminam outros. Quase sempre os mesmos. A sul de nenhum Norte, fico eu e Charles Bukowski. Ando arreliado. Começo livros e rapidamente os deixo num pousio ensurdecedor. Recomeço livros. Vou ali à música. Trabalho como quem transporta um bloco de granito deitado numa nuvem. Às vezes vou correr. Outras vezes não. Pensei em começar um conto em que parte do cérebro de um homem se revolta contra a outra parte, supostamente muito maior. Mas achei a coisa demasiado autobiográfica. Acho que vou beber uma cerveja. Até já.  

outubro 07, 2019

Centrum


É preciso que alguma coisa mude para ficar tudo basicamente na mesma. O partido socialista teve 36,7% dos votos, e o partido social democrata (atendendo apenas à sua sigla, claro) 27,9%. Bom, cento e seis deputados por um lado, e setenta e sete por outro (faltando apurar quatro, penso eu). Tudo somado dá qualquer coisa como cento oitenta e três deputados, faltando os tais quatro. Total do hemiciclo? duzentos e trinta deputados. O que mudou então? Este centro com oscilações nebulosas vai-se revezando no poder desde mil novecentos e setenta e cinco. Caso único nas redondezas, diga-se de passagem. O que mudou então? Algumas cores, uma pintadela de verde aqui, outra ali, as modas do costume chegando no paquete, ou de avião, sempre mais ou menos atrasadas, sempre com a senhora das dores a tiracolo e um bilhete de lotaria, perdão, de raspadinha na mão. É preciso ter sorte. 

outubro 01, 2019

A sangue frio


A aldeia de Holcomb fica situada no meios dos planaltos de trigo, no Oeste do Kansas, numa área isolada a que os demais habitantes do Estado chamam «lá para diante».

Coisas que se vão ouvindo por aí: Fontaines D.C.



Uma das maravilhas da rádio (rádio hoje reduzida a algumas boas escaramuças) é de repente escutarmos uma grande malha, um tema que se perde no trânsito, na voz de um radialista palrador, na música seguinte, enfim, naquele momento em que não percebemos o nome da banda, ou o confundimos com a música, são tantas as variantes do esquecimento que não as devemos nunca abandonar ao sabor de podcasts. Os Fontaines para mim eram uma voz e uma busca. Valeu a pena.


My childhood was small
But I'm gonna be big

setembro 26, 2019

A saga de Frederico*


Tinha saído de um cruzamento com algum tráfego, após se ter perdido numa rotunda, vindo de uma cangosta em terra batida com a ajuda de um GPS. Saiu da viatura a arfar. Olhou em redor. Se olhássemos com atenção víamos mais duas ou três pessoas dentro da viatura. Parece que ninguém o terá acompanhado nessa saída. Estava escuro. Minutos depois voltou a entrar. Um pouco mais à frente encontrou um entroncamento com os semáforos desligados. Deitou à sorte e seguiu com determinação. A noite trazia-lhe agora algumas luzes que lhe deram algum alento. Mas a estrada era secundária e sem grandes referências. Deixou o GPS e urdiu um plano com a cumplicidade dos demais. Não andou muito até encontrar mais uma encruzilhada. Desta vez não hesitou e acelerou. Reconhecia aqueles lugares mas não lhes conseguia dar um nome. Ficou confuso. Já era dia alto quando, finalmente, encontrou o seu labirinto, ficava junto a um promontório que dava para um abismo. Pelo menos não era um beco sem saída.

(* 43º Presidente do Clã Sporting)

[publicado originalmente no Insustentável Leveza de Liedson - deixo igualmente algumas postas anteriores, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui]

Coisas que se vão ouvindo por aí: Viagra Boys



Ainda há esperança. Parece que os tipos estiveram no qualquer coisa primavera sound, mas para mim é impossível hoje em dia analisar com calma o cartaz de um festival, aquilo são palcos atrás de palcos, eventos, sessões gastronómicas enlatadas, o que nos obriga a um GPS e a uma investigação apurada anterior. Tira a tusa toda. Risos. 

Nota: aquele sax é um Morphine fora de água, em plena corrida. Não é?

setembro 20, 2019

Stieg Larsson


Cheguei a Stieg Larsson através de "Os homens que odeiam as mulheres" ou Millenium 01, quero dizer, cheguei primeiro aos filmes e depois ao autor do livro. E não foi logo que cheguei (outra vez?) ao autor do livro, podemos perfeitamente andar por aí a ler um livro sem chegarmos (vamos chamar-lhe a assim) ao seu autor. Quando comecei a ler os "Os homens que odeiam as mulheres" para desopilar de outras matanças do porco, decidi pesquisar sobre Stieg larsson e fi-lo à maneira de Mikael Blomkvist (um dos protagonistas): fui ao GOOGLE. É por aí que o Mikael e a Lisbeth começam sempre, sendo esse o caminho, aliás, que a humanidade toma sempre que quer dar uma voltinha. 

Teclar no GOOGLE pode dar-nos a volta ao estômago, mas encontramos sempre qualquer coisa: wikipédias, biografias disponíveis nos supermercados de livros online, mas também montes de artigos, reportagens, críticas de jornais, neste caso sobre o autor, a sua vida e os seus livros. Ficamos a saber que Stieg Larssen era um jornalista e um investigador, especializado em grupos terroristas e extremistas em geral, da Suécia e da Escandinávia, países com pano para mangas nestes assuntos. Ficamos a conhecer alguns desses panos para mangas, algumas mangas-de-alpaca, alguns costumes sórdidos, cujo estado providência terá, suponho, ajudado a criar de alguma forma. O homem teve a cabeça a prémio por gostar de fuçar nesses meandros. O homem para além disso tudo era escritor.

Durante a leitura de “Os homens que odeiam as mulheres” percebemos os seus conhecimentos nessas áreas do têxtil e dos panos para mangas. Percebemos a sua paixão pelos policiais. Por ali aparecem Dorothy Sayers, Elisabeth Georg, Sue Grafton, Mickey Spillane, Sivar Ahlrud (quem?), que me levaram à loucura de gastar meia tarde a fazer uma listagem de policiais de referência, coisas que havia lido, livros em falta, novos autores, constatando com a mágoa do costume que nos falta traduzir tanta coisa. Ficamos a saber que Stieg investigou seriamente a morte do antigo primeiro ministro sueco Olaf Palme e que, a partir dos seus arquivos, Jan Stocklassa continuou essa investigação publicando “Stieg Larsson. Os Arquivos Secretos e a sua alucinante caça ao assassino de Olof Palme”, com edição portuguesa recente.

Nestas viagens acabamos por encontrar sempre a morte. A do autor em 2004, supostamente de ataque cardíaco após a subida de sete andares no seu prédio. Tinha apenas 50 anos e três livros da série Millenium publicados. Michael Nyqvist, actor que vestia a pele de Mikael Blomkvist na trilogia morreu em 2017 de cancro. Tinha 56 anos. Soube disso ontem. Enquanto bebia um café numa esplanada. A seguir fui ver o Sporting.

setembro 15, 2019

Robert Frank

“New York City, 7 Bleecker Street,” September, 1993.

“Parade – Hoboken, New Jersey,” 1955. (From “The Americans.”)

“Charleston, South Carolina,” 1955. (From “The Americans.”)
Robert Frank (1924-2019)


Fiquei à beira de ser fotógrafo. Falei disso por falar recentemente. Perguntaram-me: de casamentos e baptizados? Mais ou menos, dei por mim a responder. O que recordo mesmo é de andar com as mãos em concha pela cidade do Porto. Por aí lembro-me bem. Lembro-me de sonhar com películas a preto e branco e quartos escuros. Sempre gostei de quartos escuros, sempre não, a partir dos cinco anos. Acho que fotografei o Porto todo em poucas tardes, guardando as películas no cérebro. Devo ter fotografado outros sítios e pessoas, sempre com as mãos em concha, insisti, por razões de trabalho nas máquinas digitais, mas a partir do advento dos telemóveis decidi deixar de guardar as minhas películas numa bagagem no cérebro. Teríamos que inventar uma nova palavra para fotografia: desenhar com luz já não é verdadeiro. 

setembro 14, 2019

A puta da "gravidade" - Linda Martini



Senti um déjà vu saído do burgo tuga. Aquela guitarra é Mão Morta anos oitenta noventa. O roque farfalhudo é dos nossos. Bom, depois começam a tocar os Linda Martini, os Paus, e por aí fora. Tocam bem.

setembro 10, 2019

Os homens que odeiam as mulheres

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Acabado o Livro I (de quatro) de "Guerra e Paz" decidi desopilar. Já andava a bruços com "Napoleão Uma Vida Política", de Steven England, a vasculhar tudo sobre a batalha de Austerlitz, eu sei lá o que mais. O costume. Como escreveu um dia Carlos Patroquim, deve recusar-se (nem que seja momentaneamente) esse calhamaço que dá pelo nome de Guerra e Paz, até porque está demasiadamente bem escrito e o homem é suspeito de laivos nacionalistas. A assim entramos no e agora algo completamente diferente: "Os homens que odeiam as mulheres"ou Millenium 01, de Stieg Larsson, um começo demasiadas vezes adiado, com a visualização dos filmes no bucho. Esqueçam a versão americana. Irei até ao Millennium 03. O resto é mercado de transferências. 

setembro 03, 2019

Apesar de tudo, obrigado mister Keizer

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as suas unhas não fazem pandã com esta guitarra, mas, por favor, leve consigo quem o contratou, vai ver que é uma mais valia... 

agosto 14, 2019

Um punk com ácido úrico


Tinha pensado neste título para um conto. Depois para um pequeno filme, na sua versão Um punk com gota - a doença dos reis. Ficou um punk com ácido úrico que é muito mais moderno, ou pós qualquer coisa, depois de eu ter percebido a ignorância dos mortais comuns nesta (e noutras) maleitas, embora suas conversas sobre elas versem, não raro. Depois de eu ter percebido a ignorância dos mortais comuns comecei a cair e a dormir pouco à noite (de dia não conta), isto pela glória de nada. Demorei a aqui chegar, àquele título também (o meu corpo que o diga), finalmente ficou como nome de um programa de rádio (de autor) que nunca existirá, como tudo que eu sonho, aliás, e muito bem; é assim que tem que ser para um filho de Nietzsche, mas apenas nas horas vagas. Não fiquem desapontados, pior que aquele cliché de velhos são os tratos, é aquele outro que dita em solfejo: a idade não perdoa. Não perdoa o caralho. Neste mundo até a morte é um lugar comum. 

A limpeza da casa dá-me para cada coisa



entre outras...

agosto 02, 2019

O que eu andei para aqui chegar


A "Marcha de Radetzky" levou-me pela mão até aqui:


Foi, talvez, a leitura de "A Lebre de Olhos de Âmbar" que me suscitou uma (ainda) maior curiosidade em ler "A Marcha de Radezky" de Joseph Roth. Eu andava de olho na marcha, ou seja, eu andava (e ando) sempre em cima do Roth (deixem passar, por favor), mas precisava de algo mais. Esse algo surgiu no texto de Edmund de Waal, e na sua demanda sobre os seus antepassados, levando-o a Viena, e a muitas leituras. Isto anda mesmo tudo ligado por fios microscópicos que nos levam, também eles, pela mão.  

julho 28, 2019

Coisas que se vão ouvindo por aí (III): ACTORS



Sei, um déjà vu vindo do baixo (apenas?) que nos aconchega, apesar de tudo. De qualquer forma we don't have to dance. Mas eu às vezes arrisco. Quem os quiser ver poderá ir a Leiria ao Extramuralhas deste ano. Dança quem quiser. 

julho 27, 2019

A marcha de Radetzky


A marcha ainda não acabou, tenho, aliás, uma tendência pueril para enconar quando gosto de alguma coisa, apreciar com deleite, não chegar ao fim. Ainda. Serve para muita coisa. Falar de obra-prima, neste caso, é uma redundância que não trairemos com análises supérfluas. Lê-se de um trago até que a tendência para enconar não nos deixe chegar ao fim. Até à página cento e noventa e cinco, por exemplo, é de um fôlego que se trata, entretanto, algumas descrições levam-nos para estruturas literárias muito próximas das corridas de fundo em atletismo, ou da vertigem dos asmáticos em várias situações nem sempre dignificantes. Já agora, sou asmático. Faltam cerca de cento e oitenta páginas. Com licença:

Naquela época, os costumes eram severos, como se sabe. Mas eles tinham as suas excepções e até as estimavam. Eram daqueles poucos princípios aristocráticos de acordo com os quais os simples cidadãos eram pessoas de segunda classe, mas um ou outro oficial da burguesia tornava-se ajudante-de-campo do Imperador; os judeus não podiam pretender ter  distinções, mas alguns judeus tornavam-se nobres eram amigos de arquiduques; as mulheres viviam segundo os códigos de uma moral tradicional, mas uma ou outra mulher podia amar como um oficial de cavalaria. Eram os princípios que hoje consideramos hipócritas, porque somos muito mais intransigentes; intransigentes, honestos e sem humor.  

julho 22, 2019

Coisas que sa vão ouvindo por aí (II): IDLES



Outro (hipotético) déjà vu que nos dá esperanças redobradas na humanidade que sobrevive nas ilhas Britânicas. Não há Brexit  que nos separe, ou melindre.

Coisas que vão ouvindo por aí: Torche



Tenho uma sensação violentamente agradável de déjà vu a ouvir isto. As minhas sensações de déjà vu são um constante déjà vu. Até já. 

julho 21, 2019

O senhor vem mesmo a calhar



O efeito bola de leve na leitura, para mais, conjugado com acasos mais ou menos alucinados, vertigens, espelhos, e por aí fora, não se sabe nunca como poderá acabar, se alguma vez acabar. Ler é estar permanente em contacto com o além, o além nós, algo suficientemente vago para nos levar no seu dorso, para nos fazer vogar mais ou menos sem destino, em todo o caso, estaremos na presença de um mundo ao qual seremos devedores, tanto como criadores.

Foi mais ou menos isso que aconteceu quando lia “Jakob Von Gunten” de Robert Walser: a páginas tantas, setenta e cinco, creio, Jacob divaga com a solenidade de um criador divino, se fosse rico e tal, sairia para o nevoeiro bafado da rua, onde o frio melancólico do inverno combinaria muito bem com as suas moedas de ouro, e tal, caminharia a pé, como sempre, gosto disso, pensando nisto e naquilo, bom, entretanto, encontraria um homem, observando-o com gentileza e percebendo (não se sabe bem como) que a vida lhe corre mal (uma espécie de sexto sentido?), um homem que, supostamente, teria uma dor profunda e que o confronta perguntando-lhe polidamente o que queria ele. Subitamente saberia quem aquele homem era, abriria a carteira, retiraria dez mil francos em notas de mil, quantia que daria a esse homem, continuando a sua viagem. Acrescentando mais à frente: e um dia iria mendigar, e o sol brilharia(...). Isto já na página setenta e seis, mas na anterior, na setenta e cinco, portanto, já o meu cérebro havia feito a ligação para Roth, Joseph Roth, e a sua “Lenda do Santo Bebedor”.


Neste último, logo a início, Andreas, um vagabundo, um bebedor, um autêntico bêbado, tem o maior piço da sua vida ao encontrar um senhor idoso bem vestido, ali junto às pontes sobre o Sena, onde era seu costume passar as noites. Ao senhor bem vestido coubera-lhe em sorte o milagre da conversão e decidira levar a vida entre os pobres. O encontro entre os dois é uma pequena obra-prima dentro da narrativa. Assim por alto:

- Aonde vai irmão? (…)
- Que eu saiba, não tenho nenhum irmão, e não sei aonde me conduz o caminho?
- Tentarei indicar-lhe o caminho (…) mas não fique aborrecido comigo se lhe pedir um favor invulgar.
- Estou preparado para qualquer serviço – respondeu o desamparado.
- Vejo, de facto, que tem alguns defeitos. Mas Deus pô-lo no meu caminho. Certamente precisa de dinheiro, não me leve a mal esta frase! Eu tenho dinheiro a mais. É capaz de me dizer com sinceridade quanto precisa? Pelo menos por agora?
(…)
- Vinte francos.
-  Isso é certamente demasiado pouco – replicou o senhor. O senhor precisa de duzentos.

O restante li de um trago. Outra vez. A lenda continua.


julho 20, 2019

julho 10, 2019

Camisola às listas


Já fiz listas para tudo. Listar é estar vivo. Tudo bem. Mas interessam-me sobretudo as minhas listas. As listas são uma cena pessoal e intransmissível. É como tomar notas, mas com uma suposta hierarquia. Não gosto de hierarquias. Sou um ser contraditório, quase tanto como anacrónico, o que não abona nada sobre a minha presença na terra. Sobre o resto tenho dúvidas. Nem sempre claras.

Gostei desta imagem:

E cheguei a uma lista. Who cares?

Curriculum Vitae


Jacob von Gunten, abaixo assinado, filho de pais honrados, nascido em tal dia, criado em tal parte, entrou como aluno no Instituto Benjamenta para aí adquirir os parcos conhecimentos necessários para entrar ao serviço de alguém. Não tem da vida esperança alguma. Deseja ser tratado com severidade para assim aprender o significado do aprumo. Jacob von Gunten não promete muito, mas pensa saber comportar-se com honra e probidade. 

Boy Harsher — "Pain"

julho 05, 2019

Coisas muito pequenas e subalternas



Não sei se gosto de Robert Walser. Quando leio Robert Walser começo a minguar a cada palavra, acompanhando, suponho, a sua caligrafia minúscula (tenho informação privilegiada a este respeito), caligrafia essa que já induziria o caminho para o desaparecimento. Acho que foi Vila-Matas que se debruçou sobre isso correndo o risco de cair, não desaparecendo, mas ficando cada vez mais pequeno na queda até se confundir com a escrita de Walser. Walser internou-se voluntariamente numa casa psiquiátrica não para escrever mas para enlouquecer, ou desaparecer, tornando-se cada mais pequeno relativamente ao mundo, fazendo dessa forma, pandã com a sua caligrafia. 

Quando leio Robert Walser sou acolhido por um bidão de melancolia nada minúsculo… errado: sou sobrevoado por uma tristeza que no fundo é uma recusa (digo eu, para me proteger), ou apenas o mundo, o mundo celular transportado para um livro. O nosso mundo (há quem lhe chame qualquer coisa parecida com a realidade) também é isso. Não sei. "Jacob Von Gunten", por exemplo, começa assim:

Aprende-se muito pouco por aqui, há falta de professores, e nós, rapazes do Instituto Benjamenta, nunca seremos ninguém, por outras palavas, nas nossas vidas futuras seremos apenas coisas muito pequenas e subalternas.

junho 29, 2019

O que sabemos que sabemos, isto é, nada


Uma manhã de sábado, quando acontece, pode mesmo ser uma manhã de sábado. Como é sabido, não tenho muitas. Hoje, aconteceu: bebi café, fui comprar tabaco e o expresso por desfastio, lembrei-me que era o último sábado do mês e fui à arcada ver as velharias, as velhacarias, e alguns livros. Estes, mesmo edições recentes e encontráveis, custam tanto como nas livrarias. Encontrei, ou encontraram, um burro a ler (e não eram poucos livros) em barro. Quatrocentos paus, por ser para mim. Fugi. Dei comigo, corpo todo, na feira do livro. É verdade, temos uma feira do livro em Braga. Arranjei isto (antes de ir beber um ginger ale) baratinho:


arrisquei oferecer isto (um grande risco aquela capinha azul, vamos ver):



E agora vou fazer horas para ver Pop Dell´Arte...


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