julho 05, 2019

Coisas muito pequenas e subalternas



Não sei se gosto de Robert Walser. Quando leio Robert Walser começo a minguar a cada palavra, acompanhando, suponho, a sua caligrafia minúscula (tenho informação privilegiada a este respeito), caligrafia essa que já induziria o caminho para o desaparecimento. Acho que foi Vila-Matas que se debruçou sobre isso correndo o risco de cair, não desaparecendo, mas ficando cada vez mais pequeno na queda até se confundir com a escrita de Walser. Walser internou-se voluntariamente numa casa psiquiátrica não para escrever mas para enlouquecer, ou desaparecer, tornando-se cada mais pequeno relativamente ao mundo, fazendo dessa forma, pandã com a sua caligrafia. 

Quando leio Robert Walser sou acolhido por um bidão de melancolia nada minúsculo… errado: sou sobrevoado por uma tristeza que no fundo é uma recusa (digo eu, para me proteger), ou apenas o mundo, o mundo celular transportado para um livro. O nosso mundo (há quem lhe chame qualquer coisa parecida com a realidade) também é isso. Não sei. "Jacob Von Gunten", por exemplo, começa assim:

Aprende-se muito pouco por aqui, há falta de professores, e nós, rapazes do Instituto Benjamenta, nunca seremos ninguém, por outras palavas, nas nossas vidas futuras seremos apenas coisas muito pequenas e subalternas.

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