fevereiro 29, 2012
O conto ao vigário, a pré irmandade e o culturalismo quase rafaelita
fevereiro 27, 2012
fevereiro 26, 2012
As aventuras
fevereiro 24, 2012
fevereiro 23, 2012
fevereiro 22, 2012
Bênção por engano
É evidente que estes jovens recrutas nada sabem de tudo isto. São dizimados porque não distinguem os estilhaços dos explosivos potentes, e são ceifados aos molhos porque ouvem, aterrorizados, os ruídos dos grandes projécteis do tipo «caixa de carvão» – que não são perigosos porque caem muito para trás de nós –, mas não ouvem o silvo, o sibilar baixo daqueles pequenos estupores de pouca envergadura. Amontoam-se como ovelhas, em vez de se afastarem, e até os feridos são caçados como coelhos pelos aviões de combate!
As suas caras pálidas, de nabos; os miseráveis punhos cerrados; a deplorável bravura destes pobres diabos, que, apesar de tudo, avançam e atacam…Pobres diabos ousados, tão massacrados que já nem se atrevem a gritar, apenas gemem suavemente os nomes das mães no meio do chão – com os peitos, as tripas e os braços desfeitos – e calam-se quando alguém se aproxima!
As suas caras esquálidas, pubescentes, mortas, têm aquela horrível ausência de expressão que se vê nas crianças mortas.
Ficamos com um nó na garganta quando os vemos. A forma como saltam para fora da trincheira e correm e caem…Apetece-nos desancá-los por serem tão descuidados e pegar neles e levá-los daqui, afastá-los deste lugar, onde não pertencem! Envergam uniformes de combate – calças, botas da tropa… –, mas os uniformes são demasiado grandes para a maioria deles e ficam-lhes largos, pois os seus ombros são demasiado estreitos e os seus corpos demasiado franzinos. Não se fazem uniformes para estes tamanhos de criança…"
“A oeste nada de novo”, Erich Maria Remarque. Edições Saída de Emergência.
Para além da adopção das regras do novo acordo ortográfico (neste pequeno excerto, obviamente, não respeitadas), a tradução (de Luís Miguel Coutinho) é feita a partir de uma versão inglesa , o que manifestamente não se compreende a necessidade. Em vez de baixarmos as calcinhas reiteradamente aos alemães noutras situações, mais valia honrar a sua literatura com traduções do original. Não falta para aí quem o faça e que precisa de trabalho.
fevereiro 20, 2012
fevereiro 17, 2012
fevereiro 16, 2012
Em busca do tempo perdido...
“No final de 1916, o governo [francês] «autoriza» os condenados de delito comum a irem para a frente; em Outubro, a lei Dalbiez obriga todos os soldados dos serviços auxiliares e os reformados a serem submetidos a nova inspecção médica. É a caça aos que tinham conseguido escapar ao serviço militar, que Gallieni reclamava em 1914. «Convocam-se mesmo os cegos», conta Paul Morand. «Marcel Proust aguarda ser convocado. Se a convocação vier de dia, o que é provável, não poderá apresentar-se à inspecção pois está a dormir. Teme ser considerado desertor. Pede então a Lucien Daudet se o seu irmão Léon lhe poderia fazer um grande favor de conseguir uma inspecção para a meia-noite» ”.
“A Grande Guerra 1914-1918”, Marc Ferro. Edições 70. Tradução de Stella Lourenço.
fevereiro 15, 2012
fevereiro 14, 2012
O crepúsculo em todo o lado
“Se eu fosse de férias à Grécia, pensava comigo, iria a Estágira inclinar-me perante a memória de Aristóteles, que ali nasceu, se eu fosse à Grécia, então, certamente, nem que fosse de ceroulas com atacadores junto dos tornozelos, correria a volta de honra, em memória de todos os vencedores de todos os Jogos Olímpicos, se eu fosse à Grécia…Se eu fosse à Grécia com aquela brigada socialista de trabalho, far-lhes-ia uma conferência sobre todos os suicidas, sobre Demóstenes, sobre Platão, sobre Sócrates (…) Mas já começou uma nova época, um mundo novo, os jovens pensam noutras coisas, talvez já tudo seja bem diferente neste mundo.”
“Uma Solidão Demasiado Ruidosa” (pp. 85/86), Bohumil Hrabal, Edição Afrontamento.Tradução de Ludmila Dismánova e Mário Gomes
fevereiro 13, 2012
fevereiro 11, 2012
Radicais em solilóquio?
fevereiro 10, 2012
Amanheceu e depois o anjo abancou
"Amava o deserto, os hortos queimados, as lojas decadentes, as bebidas amornadas. Arrastava-me pelas ruelas fétidas e, de olhos fechados, oferecia-me ao sol, deus de fogo.
«General, se ainda tens um velho canhão nas muralhas da tua fortaleza em ruínas, bombardeia-nos com torrões de terra. Aos vidros dos estabelecimentos sumptuosos! nos salões! Obriga a cidade a comer essa poeira. Oxida as gárgulas. Enche os toucadores de pó de rubi ardente...»
Oh! o mosquito ébrio no urinol do albergue, apaixonado pela borragem, e que dispersa um raio de luz!"
Arthur Rimbaud, in "Uma temporada no Inferno" (Ulmeiro, Tradução de Margarida Gil Moreira)
fevereiro 09, 2012
fevereiro 08, 2012
A sorte é ser frio seco
Na padaria, entre o pãozinho santo e a sopinha não se falava de outra coisa, “que sim, o Vasquinho fazia muito bem…”, e a Arminda “tão ansiosa pelo novo Lobo Antunes”. Da filha da Inácia, entrevadinha, já pouco se falava, letra morta, e duvidava-se da astúcia do Passos Coelho na Questão Coimbrã actual: o feriado de carnaval. O Esteves, gazeteiro de todos os dias, insurgia-se contra as palavras do primeiro-ministro - “piegas nunca!”, e o aumento dos martinis cerveja, e “não me venham para cá com ivas”, sentenciava...a conversa e o martini. Já de saída ainda escutei, “que trinque a língua dele e vá trabalhar para as obras” e, num último bafejo, uma vozinha, “a sorte é ser frio seco”, pareceu-me, mas posso estar enganado.
fevereiro 07, 2012
Como viver
fevereiro 06, 2012
A infâmia como uma das belas artes
«Sobre toda a frente do cabeço de Souain, desde Setembro de 1915, os soldados de infantaria ceifados pelas metralhadoras jazem estendidos de barriga para baixo, alinhados como num exercício.
A chuva cai sobre eles, inexorável, e as balas partem os seus ossos embranquecidos.
Uma noite, Jacques, durante uma patrulha, viu sob os seus capotes descoloridos ratazanas a fugir, ratazanas enormes, engordadas a carne humana. Com o coração a bater, ele rastejava em direcção a um morto. O capacete tinha caído. O homem apresentava a cabeça contorcida, vazia de carne: o crânio à vista, as órbitas vazias, os olhos comidos. A dentadura tinha deslizado sobre a camisa podre e da boca escancarada saltou um bicho imundo».
Testemunho de Raymond Naegelen (combatente francês), in “A Grande Guerra 1914-1918”, Marc Ferro (pp.126). (Tradução Stella Lourenço, Edições 70).
fevereiro 04, 2012
Isto a propósito do frio e dos sem-abrigo
Ficamos descansados, ora essa. Parece que existem por aí uns albergues jeitosos e a sopa dos pobres; como parecem existir por aí uns empregos. Verdade que ninguém sabe o número exacto dos sem-abrigo - ou dos que para lá caminham - e dos desempregados, isto apesar das estatísticas oficiais e do nosso sincero amor pelos números, mas isso serão apenas questiúnculas e devaneios de um vulgo pouco competitivo.
Escutando o Sr. Machado e outros consórcios nacionais, ficamos a saber que só dorme na rua quem quer, só não come quem não quer e só não trabalha quem não gosta de vergar a mola, de sorte que só lá não vamos se não quisermos.
Escutando o(s) Sr(s). Machado(s) do nosso cantinho, ocorre-me logo um livrinho do Alberto Pimenta: chama-se o “discurso sobre o filho-da-puta”. A edição que tenho é da 7 Nós (2010).
fevereiro 03, 2012
Basicamente
fevereiro 02, 2012
Continuar a maravilhar-se
«Compreendi então o que já sabia: o que podemos imaginar existe sempre, noutra escala, noutro tempo, nítido e distante, como num sonho.»
“O último leitor”, Ricardo Piglia
Edição Teorema (2007). Tradução Jorge Fallorca