outubro 31, 2008

Novas oportunidades, benefícios e aprendizagens – estou aqui para passar o tempo e não matar ninguém: bruxo!

O sermão para as criancinhas grandes cá no nosso “burgo” ainda vai a sair para o adro. Melancólicos (os avinhados do Eça para não saltarmos mais atrás) julgam-se por estes dias “modernos”, “informados”, “livres”, “sinceros”, “inflamados” e com abertura suficiente, parece-me, para encaixar com glória o repasto que lhes é servido, obviamente porque o merecem. O que mais me impressiona é aquele olhar perdido, húmido e fatídico usado pelas nossas criancinhas grandes nas conversas. É claro que a sua religiosidade é branda e celebrada na instalação fantasmática do sr. Eng., com as propostas adjacentes e os trabalhos a solo das recriações tranquilas, retiradas do estrangeiro e com direito a estrangeirados actuais. O culto recorda-me, para não exagerar muito, a frase bacoca de um viajante estrangeiro no Portugal de setecentos, o sr. Saussure (estes eram muito tendenciosos e “civilizados” mas às vezes…), quando este observava toscamente que os portugueses “embora completamente ignorantes, gostam de se fazer passar por sabedores”. Na padaria, uma velhinha criança, reclamava a nossa atenção para as dádivas “à banca…à banca, com o dinheiro do povo”. Já o sr. José, divagava com primor, pelas avenidas avinagradas da política. Depois da matiné do pãozinho santo recolhi-me sem demora e, contra as prerrogativas em vigor, não enlouqueci. 

outubro 29, 2008

o dia a dias com o Chatwin e outros a tiracolo

Parara de chover e eu imaginava os dinossauros despreocupadamente a calcorrear a terra. Claro que relia "Na Patagónia" de Bruce Chatwin, obra que me acompanha na loucura mais desvairada dos dias, já ensebada na mochila. Retiro-a e leio, na companhia igualmente imaginária de W.G. Sebald, algures numa estação de comboios, talvez em Coimbra, talvez Milão, talvez Zurique, talvez perdido no condado de Suffolk, ou na gare de AUSTERLITZ, de qualquer modo, seguramente ainda longe da Patagónia, leio: 
Parara de chover e chegara o momento de eu partir. As abelhas zumbiam à volta das colmeias do poeta. Os damascos amadureciam com a cor de um sol pálido. Nuvens de lanugem de cardo pairavam no ar, e carneiros brancos felpudos pastavam no campo.
A seguir, eu, ele, acenando ao poeta seguimos caminho: todos os dias, sem a certeza ou a relevância de sabermos a verdade, ou se por aí haverá ainda mais um SUL que nos aconchegue, nas palavras de Cendrars, a nossa tristeza.

outubro 28, 2008

aos amigos e amigas do inútil

Os Brasileiros, inúteis e copofónicos como nós têm coisas destas. Esta (1905 - antes da repressão do  asséptico-com consequências conhecidas) recorda-me uma publicidade da Guiness (muito posterior) que insinuava as propriedades “saudáveis” da cerveja preta (verdadeira) até para as grávidas. Não duvido um segundo. Em outros segundos, sem o “diabo que aconteceu para criar uma montanha”, o inútil reafirma um: cheers

outubro 27, 2008

leva a tua luz e agarra o meu braço

Porreiro era uma passagem, em silêncio feliz, para uma qualquer Índia indefinidamente fora de voga. E já agora, enquanto o tapete rolante dos dias, em versão Barco do Amor, não nos consome a patetice por vozes únicas e passados longínquos, poderíamos formular uma nova história com base nos nossos únicos (e futuros) canastros. Afinal já sabemos muito disto, da margem que nos acolhe em quedas prodigiosas e aventuras que não lembram ao diabo. Por acaso, não recordo onde deixei o chocolate preto muito “valioso”, provavelmente estará adormecido numa estante, com os diabinhos do coro a ronronar os últimos sons de um disco do Espadinha noveleiro e disforme, a remoer-se à pala dos Ornatos. Em todo o caso, um Wagner discreto adormeceu a tarde mais cedo. Eu sabia. No café, o Zézinho desafiava qualquer um para uma onomatopeia em Superbocks ao desbarato: se não fosse o gesso e a perna partida era gajo para desmascarar o engenheiro sem assinatura. Verdade que o Toninho ainda lhe tentou vender uma promoção da TV Cabo, mas foi irremediavelmente corrido com os últimos tremoços da temporada, e nem o Guilherme Pop, nosso senhor, lhe valeu. Não temos onde nascer. 
Estar vivo já encerra espessura temática suficiente para amarmos o irrisório.

outubro 24, 2008

Esqueçam as compilações e concentrem-se nos epílogos românticos da nossa desgraça

Da janela que me impingem, vejo um taipal em constante terapia de imagens e sons, pequenos grupos devidamente estratificados de emblemas prateados e constelações de egos em sintonia com o ruído vigente. Já não ouço. É o burburinho que é silêncio mais vazio (já o escrevi algures). Mais uma bebida entretida entre alguns jornais atrasados e mais recentes. Uma bolha: o sr. Greenspan (presidente da reserva federal americana), aparentemente sem se rir muito (em rigor às gargalhadas) pede desculpa e reconhece que falhou na regulamenção do sistema financeiro dos E.U.A. Parece que acreditava piamente na auto-regulação dos mercados. Neste ponto (sem falso pretensiosismo) está o inútil anjo a rebolar-se de tanto lamber o pêlo. Ali ao lado, afinal, o sr. Haider, líder da extrema-direita (extrema e direita?) austríaca, homofóbico praticante e militante conservador e ultra qualquer coisa, revelou-se uma caixinha de bonecas depois da sua morte. Não interessa para nada a sua inclinação sexual, mas neste particular, a sua relação coloridíssima e de anos com o amigo Petzner, um jornalista de moda na área dos cosméticos é de bradar (e parece saída de uma história introspectiva e mal acabada do Walser), sem contar que em apenas 5 anos, o dito, provavelmente, pelos seus conhecimentos em perfumes e cremes já era o seu nº 2 e o feliz eleito para o suceder. Em tal repasto conservador não se deve meter o extintor. 
Dias antes, sem piedade de nós, o sr. Wolfowitz (amigo não colorido, diga-se, de Bush), presidente do FMI, já havia pedido desculpa por algum mal entendido e favorecimento à sua namorada coloridíssima, sem contar com as borradas coloridas do açougue que representa com “intuição”. 

Na padaria pouco se sabe disto. O Benfica empata na Alemanha em jornada de liga dos cavaleiros de são torcato e mais, só mesmo o sr. Magalhães que afinal é um computador coloridamente situado perto de uma roseira. O sr. Carlos, atempadamente, insurgiu-se com tamanho galanteio e falta de rigor sobre outras demandas de importância inadiável e sob protesto não bebeu o martini. Ficou-se por uma cerveja.  

PS: acabo isto com um raro: José Cardoso Pires, um anjo ancorado

o caso do telegrama e de uma entrevista que não vi e depois cheguei a casa

Já percebi, o sr. Freitas Lobo (a voz do regador) insinua que existiu uma certa e determinada “velocidade vertical”, entre carícias, e um outro fala da identidade da equipa em “regressão transaccional”, mais o “grau de dificuldade” e um “défice de pontuação”, possível; observam estes políticos da bola, com a sensibilidade do granito e do “visto que estamos”que, parece, se observa o espírito de “um jogo” dependente da “prestação” e de um “fechar de espaços”, em suma, de um bloco. Todos estes relatores politizados ministram com a identidade refastelada da fatiota acompanhada de uma t-shirt de gola em bico. Com “personalidade”. De facto. 

outubro 23, 2008

"não desistem...não desistem..."

Devo este último registo a um distúrbio com as horas e, fundamentalmente, a um inócuo transe das (para mim óbvias) transmissões televisivas abertas. Embrulhei-me e percebi tarde que em “Kansas anymore”. Quando cheguei ao jogo, tarde e mal servido, fui recebido com um “estes tipos são russos, não desistem, não desistem…são… russos… são como os indianos ou os …chineses”, dizia o sr. André, de pé, de pé em riste, como bom lampião a afagar a esperança da nossa morte. Queria dizer-lhe que não, que eram “ucranianos” mas não tive vagar. Na TV, assim de frosques, o Sporting não jogava grande coisa e mantinha um low-profile em doses massivas quanto baste para adormecer os ucranianos, um cavalo garrano, e a nós, claro, porquanto em dez minutos já me apetecia uma segunda cerveja. Quando dei por mim estava a pontapear a mesa em jeito de ritual e a ressoar aquela amostra de nadas em teatralidade futeboleira. Parece que é assim que se ganha. E, afinal, o(s) tipo(s) eram “brasileiros…estes tipos não desistem…não desistem…”

outubro 20, 2008

"nunca seremos muitos"- lido algures na baixa-mar

"Dom Quixote atacando um rebanho de ovelhas"(1956)
Candido Portinari
“Baseado em estórias verídicas,o caos insosso em que vivemos pastoreia, sem dúvida, uma vingança futura, pois, para além dos portões, o desviado, o atropelado, voltará, sim voltará, já sem a ternura a carregar o banjo”, dizia o Alfredo à imprensa fraudulenta que o não ouvia, recorrendo-se de um manual manuscrito de teoria suburbana encontrado algures durante a maré baixa. Eu passava perto e lembrei-me daqueles que nos vêm comer à mão, de beicinho, por estradas tão parecidas com as nossas, numa redundância de arrabaldes intermináveis e silêncios que de tanto ensurdecer se tornam maduros e velhos, até que por fim o murmúrio escorre das paredes brancas sem mais arte que uma casa vazia.
Aos passos inflamados injectei alguma ousadia e entrei na padaria com a trova toda a escurecer lá fora. Expressamente para mim, a igreja insinuava-se como uma silhueta recortada em fundo laranja e amarelo, sinal que a noite se avizinhava e a terra continuava a fluir, apesar de naquele oeste o sol morrer de memória, todos os dias. Alimentei a voz com esse aconchego que nada mais é que um lugar sem ninguém, e gritei: deserto! Salvaram-me os sinos, a criptografia das relações sociais e um acrescento: “três pães de água, por favor, torradinhos”…

outubro 18, 2008

outubro 16, 2008

como se diz por aí…uma maneira de estar na vida

Chove (oh diabo!) e a noite é acolhida na doença da música, and i`m lost in the bottom of the world, canta o Tom Waits com permissão para voar. Provavelmente ficarei perdido cá por baixo a acabar um estudo integrado nas horas mortas acerca do vinho tinto maduro. A escolha, baratinha, quase três euros no ponto verde(?), recaiu num Porca de Murça fácil como um domingo de manhã, acompanhado pelas questões mais prementes e irreflectidas acerca dos Diários e a Carta ao Pai de Kafka, pelo menos era nisso que eu pensava enquanto verberava sobre as potencialidades musicais da net (vulgo sacadisses) e mais qualquer coisa entre pataniscas. De resto, adivinhava-se um Olimpo na inspiração divina e amadora do gato, por estes dias de nome Patoca, em semana ou mês, anti literários. Vai daí, apeteceu-me uma Bohemia fresquinha e 200 episódios da Liga dos Cavalheiros (é uma cena inglesa, se não conhecem procurem) já com domingo à tarde incluído. Este último, pasme-se, desejo não atendido. 

Ps- nem uma palavra sobre o orçamento num cenário pequeno com base na ordem de.

é preciso ir...ir

outubro 14, 2008

sem comissão de festas

À minha esquerda um “deixei a cidade” aclimatiza o pensamento. Não deixei. Com a ansiedade de um hipocondríaco, ainda por cima dos pequeninos, regozijo-me com a cidadela indispensável que nos redoma os dias. Parece que o arranjo diário das adições e pessoas decentes nos acotovelam na demanda da padaria. Celebro a entrada com um ênfase destituído de guarda-chuva e ninguém repara. Pudera, apenas três pães de água nos separam da Califórnia climatizada. 
Em passagem, duas tabuletas assinalam duas viperinas filas. Toda a gente se achega à primeira que diz “fila única para trocas”, bem parecida com uma outra ”fila única para carregamentos”. Todos se acercam da primeira, “única” e “fila”, enquanto eu, observando ambas descarrego o carregador em três beatas, uma ninfeta e duas escaxadinhas. Todas analfabetas. Entretanto o Sr. João, ou Carlos, não ouvi bem, arrazoava na fila errada (e certamente vestindo o dominó errado…), aproveitando a serventia do servidor da gleba (conhecido do Sr.) atrás da portinhola de vidro. Não tinha mais balas. Simulei em guarda com a atenção num sapateiro que fazia óculos para cavalos. Mas já era noite e o hábito era uma gravata. Aprumado.

outubro 13, 2008

um processo inútil de chegar a Borges sem passar em Kafka

Antes de recomeçar a morrer, na verdade, um processo sobre o qual nunca se desliga a máquina, gostaria de reafirmar a inspiração, em todo o caso comovedora e por isso confrangedora, que alguns livros nos propiciam. Na verdade não será tanto a inspiração mas um retiro, uma caixinha do mundo em ponto realmente pequeno e voraz. Reconhecer isto e voltar, torna impossível não (o) rebater. Refrear será, à falta de jeito, reflectir. Um saco cama de tormentas. A acreditar no silêncio mais vazio da cerveja e na jura de entremeio, imagina-se uma paranóia de alguém “fazer um chapéu de um [nosso] rim”. Qualquer coisa assim se apanha no invólucro ranhoso da nossa RTP2. Seríamos muito piores se não remoêssemos na crosta da ferida. 

outubro 11, 2008

"a ascensão irremediável das lavas do sobreconsciente"

Um conjunto inusitado de coincidências e espelhos, um encontro fortuito e inesperado com o Alfredo e, um outro não menos estranho com uma estante, levou-me, mais uma vez, à prateleira número 4 referente às obras de língua estrangeira e, por ordem alfabética, inesperadamente, à literatura espanhola. Localizei, sem delongas o Sr. Henrique Vila-Matas, por estas paragens erradamente colocado, já que se encontra disponível um pequeno espaço dedicado à literatura catalã, não necessariamente escrita em catalão, e retirei a “História Abreviada da Literatura Portátil”, edição Campo de letras de 2006, traduzida (e bem) por José Agostinho França. Não mais trabalhei. Comecei a ler. 

Escreveu, parece que escreveu, George Antheil, acerca do seu odradek (talvez Golem, talvez duplo, talvez uma projecção
O inútil é belo porque é menos real que o útil, que se continua e se prolonga; ao passo que o maravilhoso fútil, o glorioso infinitesimal, fica onde está, é apenas o que é, vive livre e independente. Como a mera existência do meu odradek, que é esse alfinete que tenho diante de mim, espetado numa fita
In “História Abreviada da Literatura Portátil”, Henrique Vila-Matas, página 54.

Ps- Dou comigo na rua (sim, parece uma rua), imaginando-me de máquina fotográfica (à minha direita) e fotografando-me. 

outubro 09, 2008

Morte a(o) crédito!

Os Tones sem jeito proliferam agora na política portuguesa. Nem sempre foi assim. É como a falta de gajos com jeito para as gajas. Basta atentar na padaria, na rua e no autocarro. Simplesmente não colam. Relativamente (e nomeadamente) ao assunto da morte a crédito lancei no título um isco literário fácil (sim, é do Céline sem dion). O sistema finalmente come a própria cauda. Já não se trata de um corte (aliás, previsto nas entranhas do sistema), mas de um episódio que já assoma o âmago do bicho. Ora o bicho não é uma estrutura única, mas um conjunto bem calcetado de estruturas (leiam o Baudrillard).
O fundo pintado, julgo, a negro na desmama televisiva (segundo me dizem) não passa já, e ainda, de pasmo. Nem é apenas entretenimento. É o “quem tem cú tem medo”. De resto, como diz em nortenho um tal de Marco António tone, “apraz-me!”. Já agora, sem acaso épico, não deixa de ser vistoso observar os países liberais “ e outros que tais” (vide Visconde da Apúlia) do “menos estado” recorreram ao dito para, “manifestamente com respostas para a crise” injectarem uma cauda fantasmática. E então, não era isso as nacionalizações do PREC?
Como diz o Tim sem se rir: “gosto da praia à hora das gaivotas”. Diga lá Tim?

outubro 07, 2008

A páginas tantas como diria um amigo...

Passeio nos dias a ler sem manual no sapato. A páginas tantas não acordo e releio (ou sonho) uma página do “Meridiano de Sangue” de Cormac McCarthy: 
O desenlace foi o habitual nestas histórias. Confusão e pragas e sangue. Continuaram a beber e o vento soprava nas ruas e as estrelas que haviam estado na cúpula do firmamento jaziam agora a oeste rente à terra e aqueles jovens desentenderam-se com outros e foram ditas palavras que nenhuma outra palavra podia emendar e ao alvorecer o rapaz e o segundo–cabo ajoelharam-se junto ao rapaz do Missouri que se chamava Earl e chamaram-no pelo nome mas ele nada lhes respondeu (…) Não há na taberna alegria comparável ao caminho que lá conduz (…).
Ao caminho, sem sebes e desertos, pode sempre comprar-se por UM euro este e outros desvarios literários. Traduções limpinhas (esta do Paulo Faria está fabulosa e é cortesia da Relógio de Água editores – o sr. até com o autor contactou). As duas obras anteriores também são aconselháveis, para dizer pouco: “ O Pêndulo de Foucault” é um livro fabuloso do Sr. Humberto Eco, com a chancela da Difel, e o anterior “ O amante” da Duras é, disseram-me (a mim a gaja sempre me pareceu uma rosca de padaria velha), para se ler. Espere, proximamente, pelos idiotas. Na revista “Sábado”, às quintas(?). Eu cá não compro a dita e passeio sem mágoa nos dias, entre sebes e outras livrarias.

outubro 02, 2008

The Smiths - There is a light that never goes out



Disco pe(r)dido pelo anjo inútil para dedicar a alguém muito remarkable (e de corrida) num dia que pode parecer, mas não é, igual aos outros.